Os campeões olímpicos e os clubes
Ainda a entrevista de Pichardo.
Os chamados grandes clubes – Benfica, Sporting e FC Porto - são determinantes para a alta competição em Portugal. São os principais financiadores do desporto luso, sem os quais o modelo existente no nosso pais seria muito diferente. O desporto de alta competição em Portugal vive neste paradoxo: Clubes que têm como principal foco o futebol são os financiadores das modalidades olímpicas.
Sempre foi assim no nosso país e, apesar de existirem importantes clubes que não tem futebol, esta é uma realidade que não irá mudar mesmo com um papel cada vez mais importante do Comité olímpico de Portugal e das federações desportivas em todo o processo da formação (iniciação) à alta competição.
Posto isto, coloco a seguinte questão: será inevitável os conflitos entre os atletas, quando atingem um elevado nível, e os clubes que representam?
Os problemas que existem entre Pichardo e o Benfica tem particularidades que o individualizam. Mas quando olhamos para o passado assistimos a um padrão de roturas "atleta -clubes" que atingiu, em momentos e realidades diferentes, todos os nossos cinco campeões olímpicos.
Termino com duas questões: será estas roturas inevitáveis, tendo em conta o perfil de atletas e clubes, ou esta conflitualidade é reveladora de uma ideia de alta competição em Portugal?
Carlos Lopes. WikiSporting, 11 de novembro de 2022: «A temporada de 1986 ficou marcada pelo fim de uma ligação de quase 20 anos entre o Sporting Clube de Portugal e Carlos Lopes, que à beira dos 39 anos de idade resolveu continuar a correr, mas passou a representar o Imortal de Albufeira, não deixando de se justificar perante os sportinguistas, explicando que as suas motivações não tinham nada a ver com questões de dinheiro.
Rosa Mota. Estatística atletismo, Arons de Carvalho: «ingressou no FC Porto, em 1978 onde competiu até 1980. Na origem da saída para o CAP, o facto de os dirigentes do clube a quererem obrigar a deixar de treinar com Pompílio Ferreira para passar a ser orientada por um técnico do clube. O CAP- Centro de Atletismo do Porto é um pequeno clube dirigido por atletas, nascido a seguir ao 25 de Abril de 1974 de uma cisão no atletismo do F.C. Porto.»
Fernanda Ribeiro. Expresso 01 de setembro de 2018: «Nunca me zanguei com o FCP. Eu não me entendi com o diretor do FCP, Fernando Oliveira. Ele vem para o FCP e se calhar até foi importante para a modalidade, mas também prejudicou em muitas coisas. Sempre defendi os atletas que lá estavam. Até que esse senhor um dia vem-me fazer uma proposta em que praticamente eu é que pagava para ficar no FCP. E fui embora para o Valença. Mas não tenho problema nenhum com o FCP.»
Nelson Évora. Record e DN: 31 de julho de 2017: «O Benfica tratou mal um símbolo do clube e tentou tapar buracos a qualquer custo. Tenho pena de que o estejam a fazer porque existem valores. Não estou a falar do clube, mas de uma pessoa, mas cada um faz o que sabe e o que pode.»
Pablo Pichardo. DN 20 de dezembro 2023: «A recente entrevista ao jornal Record pode ter precipitado a saída a mal e não a bem como o atleta do triplo salto disse pretender. Nessa entrevista, Pichardo queixou-se de falta de apoio do clube e de ter verbas a receber em atraso. Uma revelação que deixou o Benfica, e em especial a secção de atletismo revoltada, e surpreendeu os dois dirigentes, que viram nas declarações do atleta um ataque ao Benfica. Daí que ponderam agora avançar para a rescisão unilateral do contrato do atleta.»
14h40 de 22/12/2023
Os chamados grandes clubes – Benfica, Sporting e FC Porto - são determinantes para a alta competição em Portugal. São os principais financiadores do desporto luso, sem os quais o modelo existente no nosso pais seria muito diferente. O desporto de alta competição em Portugal vive neste paradoxo: Clubes que têm como principal foco o futebol são os financiadores das modalidades olímpicas.
Sempre foi assim no nosso país e, apesar de existirem importantes clubes que não tem futebol, esta é uma realidade que não irá mudar mesmo com um papel cada vez mais importante do Comité olímpico de Portugal e das federações desportivas em todo o processo da formação (iniciação) à alta competição.
Posto isto, coloco a seguinte questão: será inevitável os conflitos entre os atletas, quando atingem um elevado nível, e os clubes que representam?
Os problemas que existem entre Pichardo e o Benfica tem particularidades que o individualizam. Mas quando olhamos para o passado assistimos a um padrão de roturas "atleta -clubes" que atingiu, em momentos e realidades diferentes, todos os nossos cinco campeões olímpicos.
Termino com duas questões: será estas roturas inevitáveis, tendo em conta o perfil de atletas e clubes, ou esta conflitualidade é reveladora de uma ideia de alta competição em Portugal?
Carlos Lopes. WikiSporting, 11 de novembro de 2022: «A temporada de 1986 ficou marcada pelo fim de uma ligação de quase 20 anos entre o Sporting Clube de Portugal e Carlos Lopes, que à beira dos 39 anos de idade resolveu continuar a correr, mas passou a representar o Imortal de Albufeira, não deixando de se justificar perante os sportinguistas, explicando que as suas motivações não tinham nada a ver com questões de dinheiro.
Rosa Mota. Estatística atletismo, Arons de Carvalho: «ingressou no FC Porto, em 1978 onde competiu até 1980. Na origem da saída para o CAP, o facto de os dirigentes do clube a quererem obrigar a deixar de treinar com Pompílio Ferreira para passar a ser orientada por um técnico do clube. O CAP- Centro de Atletismo do Porto é um pequeno clube dirigido por atletas, nascido a seguir ao 25 de Abril de 1974 de uma cisão no atletismo do F.C. Porto.»
Fernanda Ribeiro. Expresso 01 de setembro de 2018: «Nunca me zanguei com o FCP. Eu não me entendi com o diretor do FCP, Fernando Oliveira. Ele vem para o FCP e se calhar até foi importante para a modalidade, mas também prejudicou em muitas coisas. Sempre defendi os atletas que lá estavam. Até que esse senhor um dia vem-me fazer uma proposta em que praticamente eu é que pagava para ficar no FCP. E fui embora para o Valença. Mas não tenho problema nenhum com o FCP.»
Nelson Évora. Record e DN: 31 de julho de 2017: «O Benfica tratou mal um símbolo do clube e tentou tapar buracos a qualquer custo. Tenho pena de que o estejam a fazer porque existem valores. Não estou a falar do clube, mas de uma pessoa, mas cada um faz o que sabe e o que pode.»
Pablo Pichardo. DN 20 de dezembro 2023: «A recente entrevista ao jornal Record pode ter precipitado a saída a mal e não a bem como o atleta do triplo salto disse pretender. Nessa entrevista, Pichardo queixou-se de falta de apoio do clube e de ter verbas a receber em atraso. Uma revelação que deixou o Benfica, e em especial a secção de atletismo revoltada, e surpreendeu os dois dirigentes, que viram nas declarações do atleta um ataque ao Benfica. Daí que ponderam agora avançar para a rescisão unilateral do contrato do atleta.»
14h40 de 22/12/2023
Jogos Olímpicos Masters
MASTERS - Europeu Madeira 2023. 19 a 25 de novembro.
Eu acredito que um dia haverá Jogos Olímpico para Masters. Europeus e Mundiais existem já em todos os desportos. O tempo me dirá se esta previsão se concretiza. A ciência pode dar uma ajuda. A população europeia regista uma esperança e qualidade de vida mais alargada que nunca. O desporto para pessoas com mais de 40 anos está em evolução e cada vez tem mais impacto social e económico. A verdade é que os atletas veteranos há muito se impõem na elite mundial. Apesar de Portugal apresenta um dos mais baixos índices de atividade física e desporto, é nestes escalões que verificamos um maior crescimento, tanto ao nível de atividade física como de prática federada. Em 2021, a esperança média de vida à nascença na UE era de 80,1 anos. O país com a maior esperança de vida é a Espanha, com uma média de 83,3 anos, seguido pela Suécia (83,1 anos), Luxemburgo, e Itália (ambos 82,7 anos). A previsão de esperança de vida mais baixa regista-se na Bulgária (71,4 anos), Roménia (72,8 anos), e Letónia (73,1 anos). Em Portugal a esperança média de vida em 2021 foi de 81,5 anos. Estamos a viver mais tempo - e mais saudáveis - devido a uma série de fatores. O desporto deverá/poderá dar o seu contributo não só no aumento da atividade física como fator de saúde e qualidade de vida da população. Os masters (veteranos) vivem a competição mais do uma prática desportiva saudável, uma atividade de superação. Competir, nadar, correr, saltar, jogar… é uma forma de estar na vida. É um estado de espírito. PS: Pena é que, como em todas as áreas, alguns poucos não queiram perceber isso e se limitem a exorcizar frustrações mal resolvidas da juventude. 26/11/2023 |
O conforto da “cultura da mediocridade” no desporto
Os resultados de excelência no desporto de alta competição – medalhas em europeus, mundiais e jogos olímpicos – são extremamente difíceis de alcançar por um conjunto vasto e complexo de razões.
Os atletas e os seus treinadores, sofrendo de uma enorme solidão, nunca estão sós neste processo.
Havendo exceções, que as há, os resultados refletem sempre, de alguma maneira, o meio, o pais, a cultura em que estão inseridos.
O fenómeno não será diferente de outras áreas de grande exigência como a ciência ou música.
Essa excelência está sempre dependente de fatores de ordem económica, social, política e cultural. Que se entrecruzam e influenciam.
Os atletas e os seus treinadores, focados nos resultados de excelência, vivem nesse meio e são limitados por todas estas ordem de razões, naquilo que é o mais básico do seu trabalho: planos de apoio financeiro e de estruturas para treinar e competir; políticas de desenvolvimento desportivas; infraestruturas de qualidade.
Não haverá área mais avaliada que o resultado desportivo. Em simultâneo, o desporto e os atletas de alta competição são os que mais sofrem com a “cultura da mediocridade”.
Porque o atleta e o seu treinador não podem, nem conseguem, depender apenas de eles próprios num conjunto enorme de questões que os limitam nas suas ações.
A “cultura de mediocridade”, quando instalada num sistema, seja ele desportivo ou empresarial, não permite o desenvolvimento do resultado de excelência, porque esse resultado de excelência é ele contrário e coloca em causa essa “cultura de mediocridade”.
Por isso, também, os resultados são tão difíceis de alcançar e tão difíceis de manter num mundo globalizado e competitivo.
Conviver com a “cultura mediocridade” empurra-nos para o supérfluo para o banal para o acessório, para o folclórico, para “o ficar bem”, e desfoca-nos do essencial que é: a superação, a obtenção do resultado.
O resultado de excelência retira o “conforto” de ficar pela primeira eliminatória, de ficar pela obtenção dos “mínimos”, do “participar por participar”.
O treinador questiona-se sempre, após a obtenção de um recorde e de uma medalha: “e agora... com estas condições de treino, como podemos melhorar, como podemos evoluir?”
Ao contrário, a “cultura da mediocridade”, confortavelmente instalada, a primeira coisa que faz é colocar em causa o bom resultado e não como o replicar.
Já que sucesso no desporto é sempre a excecionalidade e exige muito trabalho.
Houve modalidades em Portugal que levaram décadas até atingir a primeira medalha olímpica. Outras só o conseguiram recentemente, e sofrem, permanentemente, com o travar da “cultura de mediocridade”.
Outras, ainda, só agora estão a desbravar o seu caminho, com muito esforço e determinação, mas a sua verdadeira luta é contra a instalada “cultura da mediocridade”.
08/08/2023
Os atletas e os seus treinadores, sofrendo de uma enorme solidão, nunca estão sós neste processo.
Havendo exceções, que as há, os resultados refletem sempre, de alguma maneira, o meio, o pais, a cultura em que estão inseridos.
O fenómeno não será diferente de outras áreas de grande exigência como a ciência ou música.
Essa excelência está sempre dependente de fatores de ordem económica, social, política e cultural. Que se entrecruzam e influenciam.
Os atletas e os seus treinadores, focados nos resultados de excelência, vivem nesse meio e são limitados por todas estas ordem de razões, naquilo que é o mais básico do seu trabalho: planos de apoio financeiro e de estruturas para treinar e competir; políticas de desenvolvimento desportivas; infraestruturas de qualidade.
Não haverá área mais avaliada que o resultado desportivo. Em simultâneo, o desporto e os atletas de alta competição são os que mais sofrem com a “cultura da mediocridade”.
Porque o atleta e o seu treinador não podem, nem conseguem, depender apenas de eles próprios num conjunto enorme de questões que os limitam nas suas ações.
A “cultura de mediocridade”, quando instalada num sistema, seja ele desportivo ou empresarial, não permite o desenvolvimento do resultado de excelência, porque esse resultado de excelência é ele contrário e coloca em causa essa “cultura de mediocridade”.
Por isso, também, os resultados são tão difíceis de alcançar e tão difíceis de manter num mundo globalizado e competitivo.
Conviver com a “cultura mediocridade” empurra-nos para o supérfluo para o banal para o acessório, para o folclórico, para “o ficar bem”, e desfoca-nos do essencial que é: a superação, a obtenção do resultado.
O resultado de excelência retira o “conforto” de ficar pela primeira eliminatória, de ficar pela obtenção dos “mínimos”, do “participar por participar”.
O treinador questiona-se sempre, após a obtenção de um recorde e de uma medalha: “e agora... com estas condições de treino, como podemos melhorar, como podemos evoluir?”
Ao contrário, a “cultura da mediocridade”, confortavelmente instalada, a primeira coisa que faz é colocar em causa o bom resultado e não como o replicar.
Já que sucesso no desporto é sempre a excecionalidade e exige muito trabalho.
Houve modalidades em Portugal que levaram décadas até atingir a primeira medalha olímpica. Outras só o conseguiram recentemente, e sofrem, permanentemente, com o travar da “cultura de mediocridade”.
Outras, ainda, só agora estão a desbravar o seu caminho, com muito esforço e determinação, mas a sua verdadeira luta é contra a instalada “cultura da mediocridade”.
08/08/2023
A falácia no Atletismo
O termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa enganar. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro.
(Desculpem voltar ao tema, mas é mais forte que eu)
Persiste a ideia, divulgada por pessoas com responsabilidade no “nosso” Atletismo, que a ausência de resultados de elite obtidos pelo meio fundo e fundo português advêm de uma profunda mudança social e económica que o país (felizmente) viveu nos últimos 30 anos. Essa evolução económica e social teria retirado da pobreza uma parte substancial da população, onde eram recrutados os nossos melhores atletas. Assim, e por essa melhoria social e económica, o nosso meio-fundo e fundo teria perdido base de recrutamento nas classes mais desfavorecidas, as únicas capazes de se submeter a níveis de sacrifício compatível com os resultados de alta competição.
Esta tese tem servido como uma luva às instituições responsáveis, como é obvio, para justificar a ausência de resultados, e por inerência justificar a “demissão silenciosa” a inércia, a falta de estratégias, a proposta de uma ideia, um plano de recuperação para o sector do Atletismo que mais medalhas deu ao desporto português. A ideia final é: os resultados do meio fundo e fundo derivavam da pobreza dos nossos atletas. Hoje não havendo a pobreza de outros tempos, não há atletas com talento capazes de se dedicarem com sacrifício às corridas de longas distâncias. Portanto, segundo esta tese, não vale a pena investir recursos numa área que não tem potencial de desenvolvimento. «Não vale a pena pensar que vamos ter um atleta nos 10.000 metros dos jogos de 2028», como ouvi recentemente em público de um dirigente.
A falácia – um raciocínio errado com aparência de verdadeiro – como supervalorizar uma causa quando há várias ou um sistema de causas.
É verdade que o país mudou, como mudou a europa e o mundo. É verdade que são necessárias doses elevadas de (não direi sacrifício) paixão, dedicação e trabalho para chegar ao topo da alta competição, como em qualquer área de actividade.
Agora, não é verdade que os atletas de topo de meio-fundo e fundo tenham de ter uma proveniência social pobre. Como não é verdade que os atletas das disciplinas ditas técnicas tenham uma proveniência social de classe média ou rica. A maioria dos fundistas espanhóis, franceses, noruegueses, norte americanos ou ingleses têm uma proveniência social pobre? Ou os melhores atletas do ciclismo, canoagem, triatlo, ou de outras competições de resistência tenham de ter uma origem social pobre? (teremos que redefinir pobreza).
Domingos Castro – medalha de prata no Mundial 1987 e 4.º lugar nos Jogos Olímpicos de 1988 - na sua emocionante intervenção na cerimónia dos 100 anos de homenagem a Moniz Pereira, na Faculdade de Motricidade Humana, respondeu a esta e a outras questões quando recordou a sua carreira e a relação com o seu treinador e o Sporting. Claro que Domingo referiu e reforçou as suas origens humildes. Mas também falou na OPORTUNIDADE que Moniz Pereira lhe deu ao convida-lo para vir para o Sporting quando tinha 21 anos e ainda não tinha provado nada como atleta (1983: 3.48,46 (1500 m) 8.06,3 (3000) 13.48,52 (5000) 30.29,1 (10.000).
Essa aposta a médio prazo, com estabilidade dos clubes (Sporting e Benfica e mais tarde Maratona Clube e Conforlimpa) em jovens promessas era um factor determinante para o sucesso do meio fundo e fundo. Castro recorda o contrato de 17 contos (cerca de 500 euros à época mais do que ganhava como ordenado na fábrica onde trabalhava), mais estadia e alimentação em Alvalade, quando se transferiu do CCD Lameirinho para o Sporting em 1984.
Entre a multiplicidade de fatores, a verdade é que os clubes deixaram há muito de investir nessas áreas de forma consistente (é mais fácil as naturalizações). A Federação, no seu autismo e oportunismo entregue a uma “demissão silenciosa”, como já referi, esfrega as mãos de contentamento. As medalhas vão continuar a surgir por essa via.
Portugal mudou e o atletismo mudou. O papel interventivo das federações desportivas em Portugal também mudou como bem entende a Canoagem, o Triatlo, a Natação, o Judo. No Atletismo, as instituições continuam imobilizadas, agarradas a uma ideia da modalidade e do pais que ficou no século XX. Os nossos vizinhos europeus há muito que olham para o futuro. E os resultados começam a surgir. Nós continuamos agarrados ao passado e a desculparmo-nos com a sociedade.
FOTO: Sporting, 1.º Campeonato Nacional de Estrada - Lisboa 1990: Eduardo Henriques, Fernando Mamede, Dionísio Castro, Domingo Castro, Carlos Patrício e Fernando Couto.
12(02/2023
(Desculpem voltar ao tema, mas é mais forte que eu)
Persiste a ideia, divulgada por pessoas com responsabilidade no “nosso” Atletismo, que a ausência de resultados de elite obtidos pelo meio fundo e fundo português advêm de uma profunda mudança social e económica que o país (felizmente) viveu nos últimos 30 anos. Essa evolução económica e social teria retirado da pobreza uma parte substancial da população, onde eram recrutados os nossos melhores atletas. Assim, e por essa melhoria social e económica, o nosso meio-fundo e fundo teria perdido base de recrutamento nas classes mais desfavorecidas, as únicas capazes de se submeter a níveis de sacrifício compatível com os resultados de alta competição.
Esta tese tem servido como uma luva às instituições responsáveis, como é obvio, para justificar a ausência de resultados, e por inerência justificar a “demissão silenciosa” a inércia, a falta de estratégias, a proposta de uma ideia, um plano de recuperação para o sector do Atletismo que mais medalhas deu ao desporto português. A ideia final é: os resultados do meio fundo e fundo derivavam da pobreza dos nossos atletas. Hoje não havendo a pobreza de outros tempos, não há atletas com talento capazes de se dedicarem com sacrifício às corridas de longas distâncias. Portanto, segundo esta tese, não vale a pena investir recursos numa área que não tem potencial de desenvolvimento. «Não vale a pena pensar que vamos ter um atleta nos 10.000 metros dos jogos de 2028», como ouvi recentemente em público de um dirigente.
A falácia – um raciocínio errado com aparência de verdadeiro – como supervalorizar uma causa quando há várias ou um sistema de causas.
É verdade que o país mudou, como mudou a europa e o mundo. É verdade que são necessárias doses elevadas de (não direi sacrifício) paixão, dedicação e trabalho para chegar ao topo da alta competição, como em qualquer área de actividade.
Agora, não é verdade que os atletas de topo de meio-fundo e fundo tenham de ter uma proveniência social pobre. Como não é verdade que os atletas das disciplinas ditas técnicas tenham uma proveniência social de classe média ou rica. A maioria dos fundistas espanhóis, franceses, noruegueses, norte americanos ou ingleses têm uma proveniência social pobre? Ou os melhores atletas do ciclismo, canoagem, triatlo, ou de outras competições de resistência tenham de ter uma origem social pobre? (teremos que redefinir pobreza).
Domingos Castro – medalha de prata no Mundial 1987 e 4.º lugar nos Jogos Olímpicos de 1988 - na sua emocionante intervenção na cerimónia dos 100 anos de homenagem a Moniz Pereira, na Faculdade de Motricidade Humana, respondeu a esta e a outras questões quando recordou a sua carreira e a relação com o seu treinador e o Sporting. Claro que Domingo referiu e reforçou as suas origens humildes. Mas também falou na OPORTUNIDADE que Moniz Pereira lhe deu ao convida-lo para vir para o Sporting quando tinha 21 anos e ainda não tinha provado nada como atleta (1983: 3.48,46 (1500 m) 8.06,3 (3000) 13.48,52 (5000) 30.29,1 (10.000).
Essa aposta a médio prazo, com estabilidade dos clubes (Sporting e Benfica e mais tarde Maratona Clube e Conforlimpa) em jovens promessas era um factor determinante para o sucesso do meio fundo e fundo. Castro recorda o contrato de 17 contos (cerca de 500 euros à época mais do que ganhava como ordenado na fábrica onde trabalhava), mais estadia e alimentação em Alvalade, quando se transferiu do CCD Lameirinho para o Sporting em 1984.
Entre a multiplicidade de fatores, a verdade é que os clubes deixaram há muito de investir nessas áreas de forma consistente (é mais fácil as naturalizações). A Federação, no seu autismo e oportunismo entregue a uma “demissão silenciosa”, como já referi, esfrega as mãos de contentamento. As medalhas vão continuar a surgir por essa via.
Portugal mudou e o atletismo mudou. O papel interventivo das federações desportivas em Portugal também mudou como bem entende a Canoagem, o Triatlo, a Natação, o Judo. No Atletismo, as instituições continuam imobilizadas, agarradas a uma ideia da modalidade e do pais que ficou no século XX. Os nossos vizinhos europeus há muito que olham para o futuro. E os resultados começam a surgir. Nós continuamos agarrados ao passado e a desculparmo-nos com a sociedade.
FOTO: Sporting, 1.º Campeonato Nacional de Estrada - Lisboa 1990: Eduardo Henriques, Fernando Mamede, Dionísio Castro, Domingo Castro, Carlos Patrício e Fernando Couto.
12(02/2023
O legado de Moniz Pereira
O desporto português tem uma divida imensa para com Moniz Pereira. O trabalho desenvolvido por aquele que é considerado “o grande inventor das medalhas de ouro” olímpicas para Portugal é, ainda hoje, um dos pilares de sucesso do atletismo e mesmo do desporto em Portugal.
Se houve área de atividade onde Portugal, de forma sistemática, teve sucesso internacional foi no atletismo dos anos 70, 80 e 90 do século passado. Estranhamente (ou não), e apesar das homenagens, o legado de Moniz Pereira continua por estudar, por ser entendido de forma mais profunda. Uma investigação que as instituições, que ele representou, não promovem nem divulgam, ficando a ideia, para as gerações mais jovens, que foi efetivamente uma personalidade que marcou uma época, mas num tempo bem distante que nada tem a ver com a realidade de hoje. Um homem pragmático, “do terreno”, mas pouco científico (1). Um homem determinado, de convicções, mas afastado do pensamento aprofundado sobre o desporto.
Nada de mais errado.
Há uma tendência (a que o próprio não é alheio), de quando se homenageia ou recorda o trabalho desenvolvido por Moniz Pereira contarmos uns episódios (ele era um excelente contador de “estórias”) que ilustram a sua personalidade, a sua forma de estar na vida, o seu trabalho, passando uma imagem simplista do que foi o seu legado (2).
Moniz Pereira mudou, nos anos 50 e 60 do século passado, o “paradigma do trabalho” no desporto, para chegar às medalhas (treino, treino, treino); mudou mentalidades para formar campeões (somos tão bons ou melhores que os outros); criou e exigiu condições de trabalho (no Sporting e nas seleções). Mas também estudou, mudou e melhorou metodologias de treino (adaptando-as a realidade portuguesa) a que deram o nome de Escola Portuguesa de Meio Fundo e Fundo (3). Com as poucas ferramentas que tinha para a época (uma pista, um cronómetro, um bloco de notas e uma contagem de pulsações) foi capaz de conquistar medalhas olímpicas e bater recordes mundiais.
A revolução de mentalidades – o “paradigma do trabalho” foi realizado no atletismo por Moniz Pereira e está a ser aplicado em outras modalidades. Importa que se estude e se divulgue.
A revolução científica, e a sua aplicação prática no desporto, essa está por fazer.
A exposição do 100.º aniversário de Mário Moniz Pereira foi inaugurada na Faculdade de Motricidade Humana (FMH), no Jamor, Oeiras, terça-feira, 31 de janeiro de 2023, da qual o “Senhor Atletismo” foi aluno e integrou o corpo docente durante 27 anos.
1. Moniz Pereira. Carlos Lopes e a Escola Portuguesa de Meio Fundo. Ed. Sá da Costa (1981).
2. Fernando Correia. Valeu a Pena ter vivido o que vivi. Ed. Sete Caminhos (2004).
3. Mário Paiva. Escola Portuguesa de meio fundo e fundo, mito ou realidade? Ed. Faculdade Desporto UP (1995).
01/02/2023
Se houve área de atividade onde Portugal, de forma sistemática, teve sucesso internacional foi no atletismo dos anos 70, 80 e 90 do século passado. Estranhamente (ou não), e apesar das homenagens, o legado de Moniz Pereira continua por estudar, por ser entendido de forma mais profunda. Uma investigação que as instituições, que ele representou, não promovem nem divulgam, ficando a ideia, para as gerações mais jovens, que foi efetivamente uma personalidade que marcou uma época, mas num tempo bem distante que nada tem a ver com a realidade de hoje. Um homem pragmático, “do terreno”, mas pouco científico (1). Um homem determinado, de convicções, mas afastado do pensamento aprofundado sobre o desporto.
Nada de mais errado.
Há uma tendência (a que o próprio não é alheio), de quando se homenageia ou recorda o trabalho desenvolvido por Moniz Pereira contarmos uns episódios (ele era um excelente contador de “estórias”) que ilustram a sua personalidade, a sua forma de estar na vida, o seu trabalho, passando uma imagem simplista do que foi o seu legado (2).
Moniz Pereira mudou, nos anos 50 e 60 do século passado, o “paradigma do trabalho” no desporto, para chegar às medalhas (treino, treino, treino); mudou mentalidades para formar campeões (somos tão bons ou melhores que os outros); criou e exigiu condições de trabalho (no Sporting e nas seleções). Mas também estudou, mudou e melhorou metodologias de treino (adaptando-as a realidade portuguesa) a que deram o nome de Escola Portuguesa de Meio Fundo e Fundo (3). Com as poucas ferramentas que tinha para a época (uma pista, um cronómetro, um bloco de notas e uma contagem de pulsações) foi capaz de conquistar medalhas olímpicas e bater recordes mundiais.
A revolução de mentalidades – o “paradigma do trabalho” foi realizado no atletismo por Moniz Pereira e está a ser aplicado em outras modalidades. Importa que se estude e se divulgue.
A revolução científica, e a sua aplicação prática no desporto, essa está por fazer.
A exposição do 100.º aniversário de Mário Moniz Pereira foi inaugurada na Faculdade de Motricidade Humana (FMH), no Jamor, Oeiras, terça-feira, 31 de janeiro de 2023, da qual o “Senhor Atletismo” foi aluno e integrou o corpo docente durante 27 anos.
1. Moniz Pereira. Carlos Lopes e a Escola Portuguesa de Meio Fundo. Ed. Sá da Costa (1981).
2. Fernando Correia. Valeu a Pena ter vivido o que vivi. Ed. Sete Caminhos (2004).
3. Mário Paiva. Escola Portuguesa de meio fundo e fundo, mito ou realidade? Ed. Faculdade Desporto UP (1995).
01/02/2023
A difícil escolha entre a exceção e a norma
«O ser humano tem o desejo básico de se auto realizar. Isto é, atingir o nível mais elevado possível do seu potencial, tendo para tal, necessidade de ser rodeado por condições adequadas.» Carl Rogers (1902-1987).
Um atleta de alta competição é na sua essência uma excecionalidade. Ele incorpora uma individualidade que não pode ser replicada. Por isso se torna tão difícil para as instituições – famílias, clubes, escolas, federações, associações - lidarem com o sucesso.
Quando se procura replicar modelos, regras, a essa excecionalidade, os resultados quase sempre são desastrosos. A verdade é que não estamos preparados para lidar com a exceção, mas com a norma, a regra, o padrão. Isso acontece em todas as áreas de atividade e no desporto de alta competição em particular. Não nos espanta assim que a abordagem dos “especialistas” – médicos, psicólogos, nutricionistas, fisiologistas - seja virada para o fracasso (o que correu mal?) e não para o sucesso (como vencer?).
Com a exceção dos treinadores - o foco é a procura do sucesso. Mesmo cometendo erros, procurando cumprir o desígnio de Samuel Beckett: “Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor”, - as questões são quase sempre colocadas pelos "especialistas" ao nível de: porque falhou? E não: porque teve sucesso?
Isso está bem patente em frases como: «Nestas idades não podemos pensar em resultados»; «A paixão do treinador também mata e pode levar ao 'burnout' no atleta».
Quando verifico que os nossos “especialistas” não estão preparados para lidar com o atleta de alta competição, afirmo-o no sentido em que «a abordagem é virada para «os cuidados a ter com os jovens (claro que isso também é importante)» e não como ajudar um jovem a chegar ao sucesso» - o grande objetivo da alta competição.
PS: Todos os medalhados olímpicos foram excelentes juniores, mas nem todos os excelentes juniores serão campeões.
Decorreu no Jamor o Encontro Nacional de Esperanças Olímpicas (ENEO) foi organizado pelo Comité Olímpico de Portugal no Centro de Alto Rendimento, com a presença de uma centena de jovens atletas aspirantes a participar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 e Brisbane 2032.
FOTO: Suresnes (França) , 2-2-29, Camille Foucaux , gagnant du cross cylo-pédestre
24/01/2023
Um atleta de alta competição é na sua essência uma excecionalidade. Ele incorpora uma individualidade que não pode ser replicada. Por isso se torna tão difícil para as instituições – famílias, clubes, escolas, federações, associações - lidarem com o sucesso.
Quando se procura replicar modelos, regras, a essa excecionalidade, os resultados quase sempre são desastrosos. A verdade é que não estamos preparados para lidar com a exceção, mas com a norma, a regra, o padrão. Isso acontece em todas as áreas de atividade e no desporto de alta competição em particular. Não nos espanta assim que a abordagem dos “especialistas” – médicos, psicólogos, nutricionistas, fisiologistas - seja virada para o fracasso (o que correu mal?) e não para o sucesso (como vencer?).
Com a exceção dos treinadores - o foco é a procura do sucesso. Mesmo cometendo erros, procurando cumprir o desígnio de Samuel Beckett: “Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor”, - as questões são quase sempre colocadas pelos "especialistas" ao nível de: porque falhou? E não: porque teve sucesso?
Isso está bem patente em frases como: «Nestas idades não podemos pensar em resultados»; «A paixão do treinador também mata e pode levar ao 'burnout' no atleta».
Quando verifico que os nossos “especialistas” não estão preparados para lidar com o atleta de alta competição, afirmo-o no sentido em que «a abordagem é virada para «os cuidados a ter com os jovens (claro que isso também é importante)» e não como ajudar um jovem a chegar ao sucesso» - o grande objetivo da alta competição.
PS: Todos os medalhados olímpicos foram excelentes juniores, mas nem todos os excelentes juniores serão campeões.
Decorreu no Jamor o Encontro Nacional de Esperanças Olímpicas (ENEO) foi organizado pelo Comité Olímpico de Portugal no Centro de Alto Rendimento, com a presença de uma centena de jovens atletas aspirantes a participar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 e Brisbane 2032.
FOTO: Suresnes (França) , 2-2-29, Camille Foucaux , gagnant du cross cylo-pédestre
24/01/2023
Os quenianos o doping e os seus empresários
O Quénia apresenta 55 atletas listados como suspensos na última atualização publicada pela Unidade de Integridade Atlética (UIA). Outros oito estão listados como suspensos provisoriamente. Apesar deste cenário, o Quénia evitou esta semana ser suspenso da World Athletics devido aos repetidos problemas de doping.
Nada disto surpreende quem acompanha os resultados dos atletas africanos nos últimos 30 anos. O que nos surpreende é a total impunidade de dirigentes, empresários e treinadores em todo este processo, como em outros similares, quando a regulamentação da Agência Mundial Antidopagem e as respetivas legislações dos países Integrados nas federações internacionais preveem essa corresponsabilização e punição prevista na lei.
Por tudo isso, que os quenianos e os atletas, em geral, sejam penalizados segundo a regulamentação vigente é a legislação que o exige. Que todos os agentes que com eles se relacionam e das suas vitórias retiram grandes dividendos económicos sejam ilibados de todo este processo parece-nos obsceno.
Há muito que assistimos a um controlo do atletismo queniano pelos empresários que colocam às dezenas esses atletas a "render" nas grandes e pequenas competições internacionais. Sem querer desresponsabilizar os atletas quenianos, esta utilização massificada de doping, como se verifica pelos casos de suspensão (apenas a ponta do icebergue) é, entre outros fatores, o resultado de uma rivalidade levada ao limite pelo mercado dos prémios em grandes competições em proveito dos respetivos empresários. A quase totalidade destes atletas vivem grandes temporadas fora do Quénia e tem empresários que os representam em grandes eventos internacionais. O mercado é cada vez mais apertado para a quantidade de atletas africanos que todos os anos surgem a competir fora de África.
Esta decisão da World Athletics de não suspender o Quénia, como já havia acontecido com a Jamaica, é a legitimação da massificação da utilização do doping em que vale tudo desde que não seja apanhado.
Sebastian Coe, presidente da World Athletics, saudou a promessa do governo queniano na criação de um pacote financeiro para combater o doping, no que ele chamou de «uma longa jornada» para construir confiança.
O governo queniano prometeu 25 milhões de dólares (24,20 milhões de euros) ao longo de cinco anos para ajudar a financiar mais técnicos nos testes antidoping, aumentar os testes e investigações, reforçar os programas de educação e também «mergulhar mais fundo nas comitivas».
Sebastian Coe ao ignorar toda a realidade em troca de mais uns Euros deu assim mais uma oportunidade ao doping no Quénia.
A lei antidopagem em Portugal para o desporto, 81/2021, de 30 de novembro, adotando na ordem jurídica interna as regras estabelecidas no Código Mundial Antidopagem e revogando a Lei 38/2012, de 28 de agosto, é clara na responsabilização de atletas como é para dirigentes, empresários, treinadores ou familiares.
Artigo 58.º - Administração de substâncias e métodos proibidos
Quem administrar qualquer substância ao praticante desportivo em competição, com ou sem o seu consentimento, ou facultar o recurso a método proibido, ou quem administrar qualquer substância ao praticante desportivo fora da competição, com ou sem o seu consentimento, ou facultar o recurso a método que seja proibido fora de competição, ou quem assistir, encorajar, auxiliar, permitir o encobrimento, ou qualquer outro tipo de cumplicidade envolvendo uma violação de norma antidopagem, é punido com pena de prisão de 6 meses a 3 anos, salvo quando exista uma autorização de utilização terapêutica.
Artigo 59.º - Associação criminosa
Quem promover, fundar, participar ou apoiar grupo, organização ou associação cuja, finalidade ou atividade seja dirigida à prática de um ou mais crimes previstos na presente lei é punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos.
01/12/2022
FOTO: World Athletics - O queniano Kenneth Kipkemoi
Nada disto surpreende quem acompanha os resultados dos atletas africanos nos últimos 30 anos. O que nos surpreende é a total impunidade de dirigentes, empresários e treinadores em todo este processo, como em outros similares, quando a regulamentação da Agência Mundial Antidopagem e as respetivas legislações dos países Integrados nas federações internacionais preveem essa corresponsabilização e punição prevista na lei.
Por tudo isso, que os quenianos e os atletas, em geral, sejam penalizados segundo a regulamentação vigente é a legislação que o exige. Que todos os agentes que com eles se relacionam e das suas vitórias retiram grandes dividendos económicos sejam ilibados de todo este processo parece-nos obsceno.
Há muito que assistimos a um controlo do atletismo queniano pelos empresários que colocam às dezenas esses atletas a "render" nas grandes e pequenas competições internacionais. Sem querer desresponsabilizar os atletas quenianos, esta utilização massificada de doping, como se verifica pelos casos de suspensão (apenas a ponta do icebergue) é, entre outros fatores, o resultado de uma rivalidade levada ao limite pelo mercado dos prémios em grandes competições em proveito dos respetivos empresários. A quase totalidade destes atletas vivem grandes temporadas fora do Quénia e tem empresários que os representam em grandes eventos internacionais. O mercado é cada vez mais apertado para a quantidade de atletas africanos que todos os anos surgem a competir fora de África.
Esta decisão da World Athletics de não suspender o Quénia, como já havia acontecido com a Jamaica, é a legitimação da massificação da utilização do doping em que vale tudo desde que não seja apanhado.
Sebastian Coe, presidente da World Athletics, saudou a promessa do governo queniano na criação de um pacote financeiro para combater o doping, no que ele chamou de «uma longa jornada» para construir confiança.
O governo queniano prometeu 25 milhões de dólares (24,20 milhões de euros) ao longo de cinco anos para ajudar a financiar mais técnicos nos testes antidoping, aumentar os testes e investigações, reforçar os programas de educação e também «mergulhar mais fundo nas comitivas».
Sebastian Coe ao ignorar toda a realidade em troca de mais uns Euros deu assim mais uma oportunidade ao doping no Quénia.
A lei antidopagem em Portugal para o desporto, 81/2021, de 30 de novembro, adotando na ordem jurídica interna as regras estabelecidas no Código Mundial Antidopagem e revogando a Lei 38/2012, de 28 de agosto, é clara na responsabilização de atletas como é para dirigentes, empresários, treinadores ou familiares.
Artigo 58.º - Administração de substâncias e métodos proibidos
Quem administrar qualquer substância ao praticante desportivo em competição, com ou sem o seu consentimento, ou facultar o recurso a método proibido, ou quem administrar qualquer substância ao praticante desportivo fora da competição, com ou sem o seu consentimento, ou facultar o recurso a método que seja proibido fora de competição, ou quem assistir, encorajar, auxiliar, permitir o encobrimento, ou qualquer outro tipo de cumplicidade envolvendo uma violação de norma antidopagem, é punido com pena de prisão de 6 meses a 3 anos, salvo quando exista uma autorização de utilização terapêutica.
Artigo 59.º - Associação criminosa
Quem promover, fundar, participar ou apoiar grupo, organização ou associação cuja, finalidade ou atividade seja dirigida à prática de um ou mais crimes previstos na presente lei é punido com pena de prisão de 6 meses a 5 anos.
01/12/2022
FOTO: World Athletics - O queniano Kenneth Kipkemoi
A Meia da Nazaré e a qualidade dos resultados dos fundistas portugueses
Meia Maratona Nazaré 1975 – 1.ª edição 1.º - 1.11,59 - Anacleto Pinto (Benfica). (Segundo fonte bem informada, que participou nesta primeira edição, esta teria cerca de 2km a mais que os 21.097 km oficiais. A verdade é que Anacleto Pinto venceria em 1977 com 1.06.04 e em 1978 com 1.05,29.) 2.º - 1.13,46 - Tavares da Silva (CAP) 3.º - 1.14,22 - José Simões (Benfica) 20.º - 1.24,06 Carlos Rodrigues (CFB) 100.º- 1.35,18 - Eugénio Domingos (Individual) 1982 – 8.ª edição 1.º - 1.06,15 - Luís Horta (Benfica) 20.º - 1.09,51 – Bernardo Silva (Ardegães) 100.º - 1.14,48 - Jorge Calhada (CEFA) 1989 – 15.ª edição 1.º - 1.04,26 - Joaquim Murraças (Vidais) 20.º 1.06.53 – Jorge Costa (Belenenses) 100.º – 1.11,29 – José Inácio (Sorefame). 2001 – 27.ª edição 1.º - 1.02,42 - Elija Yathor (Quénia) 2.º 1.04,40 - Aires Sousa (Salgueiros) 20.º 1.11,15 – João Gomes (Barreira) 100.º 1.17,41 – Fernando Antunes (Braguinhas) 2010 - 36.ª edição 1.º 1.09,39 - Luís Ginja (Reboleira) 20.º - 1.16,44 - João Inocêncio (Vale Silêncio) 100.º 1.23,53 - Joaquim Antunes (Monte Caparica) 2022 – 46.ª edição 1.º 1.07,28 – Filipe Vitorino (CN Rio Maior) 20.º - 1.21,25 - Carlos Correia (Peniche) 100.º - 1.34,46 – Jorge Moreira (individual) |
A Meia da Nazaré, com 46 edições, é a mais antiga meia maratona realizada em Portugal. Para percebermos como está efetivamente o “estado da Nação” no que diz respeito às corridas de fundo masculinas de estrada em Portugal, nada melhor que analisarmos alguns dos resultados obtidos na meia da Nazaré ao longo da sua história de 46 anos.
Desafiados por um amigo que correu na década de oitenta do século passado e inspirado pelas palavras do atual presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Jorge Vieira que pretende colocar "Portugal a Correr" afirmando no 'I Running Summit: «Os atletas profissionais são uma minoria dos nossos afiliados. A Federação e o Atletismo português são para todos», recordamos alguns aspetos do passado da Meia da Nazaré. A edição de 1975 é considerada a primeira prova do movimento da corrida que se seguiu ao 25 de Abril de 1974. Os 21.097 metros da Nazaré acompanharam por isso toda a evolução das corridas populares em Portugal. Apesar de nunca terem atribuído prémios monetários de valor comparável a outras provas nacionais, o seu carisma e importância levou a que pelas ruas da Nazaré passassem praticamente todos os melhores fundistas nacionais, muitos deles até discretamente integrados no pelotão a treinar. Na primeira edição, o triunfo foi para Anacleto Pinto e Isolina Pinhel. A chamada “mãe das meias” voltou este ano à estrada, no dia 13 de novembro de 2022, após dois anos de paragem devido à pandemia, com a vitória a sorrir a Filipe Vitorino (CN Rio Maior), com 1.07,28. A possível ideia, penso que apenas para os menos atentos, de que o problema da (falta) de qualidade do meio fundo e fundo se verifica “apenas” na elite (e na pista) cai por terra, ao analisarmos as marcas do 20.º e 100.º classificados das amostras que consultamos. Apesar de um aumento significativo de “runners” a participar nas corridas de estrada nos últimos anos em Portugal, esse fator quantitativo não se reflete na qualidade da média dos resultados em termos de profundidade das marcas. Nesta última edição, o resultado do 20.º e o 100.º classificado - hoje com outros meios, alimentação, treino, calçado e tecnologia - está ao nível da primeira edição em 1975, quando a maioria dos participantes se estrearam numa meia maratona no pós 25 de Abril de 1974 e tudo indica que estaria mal medida: teria cerca de mais 2 km que os 21.097 km. Já a edição de 1989 (poderia ser outra edição dos anos 80), em que o vencedor foi Joaquim Murraças (1.04,26), o 20.º concluiu em 1.06,53, menos 15 minutos que o 20.º de 2022 e o 100.º em 1.11,29, deixando o 100.º de 2022 a 23 minutos de diferença. Partilho aqui alguns resultados: Junto resultados da Meia Maratona Lisboa 1991 – 1.ª edição 1.º - 1.01,44 - Paul Evans 2.º - 1.01,45 - António Pinto 20.º - 1-04,17 – Jacinto Barroso 100.º - 1.09,42 - José Sá 2022 1.º português 7.º - 1.04,57 Rui Pinto 20.º - 1.15,18 – Rui Alves 100.º - 1.22,14 – Steven Sá Maratona ranking anual 1982 1.º - 2.12,54 Delfim Moreia (Benfica) 20.º - 2.32,15 Adelino Oliveira (CDD) 50.º - 2.39,57 João Rolim 1989 1.º - 2.09,43 Manuel Matias (Benfica) 20.º - 2.22,36 Carlos Ferreira (Madalena) 50.º - 2.29,14 Armando Aldegalega (Sporting) 2022 1.º - 2.13,57 Hermano Ferreira (Casaense) 10.º - 2.33,59 Carlos Cardoso (Individual) 18/11/2022 FOTOS: a preto e branco - Luís Horta vencedor em 1982 e a cores a partida de 2016. |
Assim vai o desporto de alta competição em Portugal
* Quando me perguntam: como vão as coisas no desporto em Portugal?
Respondo: uma atleta de alta competição, na sua excecionalidade, “procura a iniciativa, a perseverança, a intensidade, a perfeição, desafia o perigo”, citando Coubertin. Por cá, ainda não percebemos isso.
A conflitualidade entre atletas de alta competição e as instituições que representam (clubes e federações) são, em muitos aspetos, bem demonstrativas das contradições do modelo desportivo de apoio à alta competição em Portugal.
Ele assenta na ideia do empregado, do funcionário, que cumpre horários, normas, regulamentos, responde a hierarquias, sem perturbar o funcionamento da instituição, tudo contrário à ideia de excecionalidade que o atleta procura todos os dias. Quando assim não é abre-se um inquérito disciplinar.
O recente diferendo entre um grupo de judocas olímpicos e o presidente da Federação Portuguesa de Judo não é apenas uma divergência pontual entre atletas e dirigentes. É mais um capítulo de um longo historial de conflitos assentes numa relação de poder, numa hierarquia, em que «uns mandam e outros obedecem».
Os diferendos manifestam-se sempre a vários níveis, mas há uma linha comum: gestão da carreira dos atletas, preparação, definição de objetivos e… financiamento.
“O caso Rosa Mota” foi o mais mediático, ao nível da gestão de carreira e definição de objectivos. Um conflito em que opunha a atleta e o seu treinador à direção técnica da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), liderada por Fernando Mota. Rosa Mota pretendia focar-se na maratona e não participar no Mundial de estrada em 1997, argumentando que estava a preparar-se para Jogos Olímpicos de Seul'1988. A FPA não atendeu as razões invocadas pela atleta, que esteve sob alçada disciplinar. A fundista chegou a estar impedida de competir. O assunto transitou até às mais altas instâncias envolvendo o ministro da Educação e o presidente da República. Rosa Mota sagrou-se campeã olímpica em Seul 1988 e nunca mais foi “obrigada” a integrar qualquer outro tipo de seleção. Pouco se aprendeu com este “caso”.
Muitos outros casos, antes e depois de Rosa Mota, haveria para enumerar na área da “gestão de carreira”, mas os problemas estendiam-se ao nível dos “apoios monetários”.
Quando, após os Jogos de Atenas 2004 (em março de 2005), foi celebrado o primeiro contrato programa entre o governo português e Comité Olímpico de Portugal, para a preparação olímpica, Pequim 2008, multiplicavam-se até aí os conflitos entre atletas treinadores e instituições, com reflexo na imprensa. Federações haviam que atrasavam em meses os pagamentos das bolsas a atletas e treinadores. Foram esses conflitos que levaram o governo da altura a assinar um protocolo com o COP e a transferir para esse comité a gestão das bolsas de apoio dos atletas. E, assim resolvia-se o problema mediático. Só que, mais uma vez à boa maneira portuguesa, transferiu-se o pagamento das bolsas dos atletas para o COP, mas deixou o pagamento das bolsas dos treinadores (em 2016 passaram a receber pelo COP) e as verbas de preparação na alçada das federações.
A solução encontrada permitiu que nunca mais um atleta visse as suas bolsas pagas com atrasos, mas quanto às “verbas de preparação” os problemas continuaram.
Recordemos, apenas um exemplo. Em agosto de 2016 a comunicação social escrevia: «Rio 2016: houve atrasos no pagamento da bolsa a Rui Bragança. «A federação recebia uma bolsa para a preparação do atleta e uma parte significativa dessa bolsa não chegou atempadamente ao atleta.»
Para encurtar, chegamos a 2022, e há federações e clubes que não querem perceber que "o foco é no atleta" e como ajuda-lo a chegar ao topo. Ao contrário continuam a tratar estes como funcionários, como pessoas incapazes de tomar decisões; A não perceber que os atletas de alta competição, aqueles que ambicionam lutar por finais e medalhas olímpicas, são verdadeira exceções que não se enquadram no atual modelo, em que dependem de demasiadas instituições, que o espartilham e condicionam na sua atividade básica: treinar e competir.
*Telma Monteiro: Quando me perguntam como vão as coisas com a federação...
22/10/2022
Respondo: uma atleta de alta competição, na sua excecionalidade, “procura a iniciativa, a perseverança, a intensidade, a perfeição, desafia o perigo”, citando Coubertin. Por cá, ainda não percebemos isso.
A conflitualidade entre atletas de alta competição e as instituições que representam (clubes e federações) são, em muitos aspetos, bem demonstrativas das contradições do modelo desportivo de apoio à alta competição em Portugal.
Ele assenta na ideia do empregado, do funcionário, que cumpre horários, normas, regulamentos, responde a hierarquias, sem perturbar o funcionamento da instituição, tudo contrário à ideia de excecionalidade que o atleta procura todos os dias. Quando assim não é abre-se um inquérito disciplinar.
O recente diferendo entre um grupo de judocas olímpicos e o presidente da Federação Portuguesa de Judo não é apenas uma divergência pontual entre atletas e dirigentes. É mais um capítulo de um longo historial de conflitos assentes numa relação de poder, numa hierarquia, em que «uns mandam e outros obedecem».
Os diferendos manifestam-se sempre a vários níveis, mas há uma linha comum: gestão da carreira dos atletas, preparação, definição de objetivos e… financiamento.
“O caso Rosa Mota” foi o mais mediático, ao nível da gestão de carreira e definição de objectivos. Um conflito em que opunha a atleta e o seu treinador à direção técnica da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), liderada por Fernando Mota. Rosa Mota pretendia focar-se na maratona e não participar no Mundial de estrada em 1997, argumentando que estava a preparar-se para Jogos Olímpicos de Seul'1988. A FPA não atendeu as razões invocadas pela atleta, que esteve sob alçada disciplinar. A fundista chegou a estar impedida de competir. O assunto transitou até às mais altas instâncias envolvendo o ministro da Educação e o presidente da República. Rosa Mota sagrou-se campeã olímpica em Seul 1988 e nunca mais foi “obrigada” a integrar qualquer outro tipo de seleção. Pouco se aprendeu com este “caso”.
Muitos outros casos, antes e depois de Rosa Mota, haveria para enumerar na área da “gestão de carreira”, mas os problemas estendiam-se ao nível dos “apoios monetários”.
Quando, após os Jogos de Atenas 2004 (em março de 2005), foi celebrado o primeiro contrato programa entre o governo português e Comité Olímpico de Portugal, para a preparação olímpica, Pequim 2008, multiplicavam-se até aí os conflitos entre atletas treinadores e instituições, com reflexo na imprensa. Federações haviam que atrasavam em meses os pagamentos das bolsas a atletas e treinadores. Foram esses conflitos que levaram o governo da altura a assinar um protocolo com o COP e a transferir para esse comité a gestão das bolsas de apoio dos atletas. E, assim resolvia-se o problema mediático. Só que, mais uma vez à boa maneira portuguesa, transferiu-se o pagamento das bolsas dos atletas para o COP, mas deixou o pagamento das bolsas dos treinadores (em 2016 passaram a receber pelo COP) e as verbas de preparação na alçada das federações.
A solução encontrada permitiu que nunca mais um atleta visse as suas bolsas pagas com atrasos, mas quanto às “verbas de preparação” os problemas continuaram.
Recordemos, apenas um exemplo. Em agosto de 2016 a comunicação social escrevia: «Rio 2016: houve atrasos no pagamento da bolsa a Rui Bragança. «A federação recebia uma bolsa para a preparação do atleta e uma parte significativa dessa bolsa não chegou atempadamente ao atleta.»
Para encurtar, chegamos a 2022, e há federações e clubes que não querem perceber que "o foco é no atleta" e como ajuda-lo a chegar ao topo. Ao contrário continuam a tratar estes como funcionários, como pessoas incapazes de tomar decisões; A não perceber que os atletas de alta competição, aqueles que ambicionam lutar por finais e medalhas olímpicas, são verdadeira exceções que não se enquadram no atual modelo, em que dependem de demasiadas instituições, que o espartilham e condicionam na sua atividade básica: treinar e competir.
*Telma Monteiro: Quando me perguntam como vão as coisas com a federação...
22/10/2022
AI, PORTUGAL, PORTUGAL...
Quando um campeão do mundo e medalhado olímpico tem de fazer provas de acesso à PSP e um ministro obtém uma licenciatura em Ciência Politica, em apenas um ano, depois de ter beneficiado de equivalências, o resultado é este:
CAMPEÃO DO MUNDO FALHA ACESSO À PSP
Jorge Fonseca, judoca de 29 anos que conquistou dois títulos mundiais e uma medalha de bronze olímpica para Portugal, chumbou nas provas culturais de acesso ao curso de formação de agentes da Polícia de Segurança Pública.
PS: algumas questões: seria necessário humilhar o atleta com esta situação? não seria possível uma preparação mínima para estas provas? é possível um atleta de alto rendimento entrar em medicina de forma direta com o 12.º e não na PSP? Qual o papel das instituições - Federação, IPDJ, COP neste processo?
20/09/2022
CAMPEÃO DO MUNDO FALHA ACESSO À PSP
Jorge Fonseca, judoca de 29 anos que conquistou dois títulos mundiais e uma medalha de bronze olímpica para Portugal, chumbou nas provas culturais de acesso ao curso de formação de agentes da Polícia de Segurança Pública.
PS: algumas questões: seria necessário humilhar o atleta com esta situação? não seria possível uma preparação mínima para estas provas? é possível um atleta de alto rendimento entrar em medicina de forma direta com o 12.º e não na PSP? Qual o papel das instituições - Federação, IPDJ, COP neste processo?
20/09/2022
Quanto vale uma medalha…
Diogo Ribeiro não é apenas um nadador de grande nível mundial que, para surpresa dos portugueses, sempre mais atentos ao futebol, conquista três medalhas de ouro no Mundial de juniores, lidera as listas mundiais, e bate um recorde mundial, depois do bronze no Europeu absoluto. Diogo Ribeiro representa toda uma mudança de paradigma numa modalidade tão difícil como a Natação. Representa que é possível em Portugal chegar ao topo do desporto mundial. Claro que é um fora de série como são todos os campeões. E existem mais na Natação em Portugal. Mas para se chegar ao sucesso é preciso muito mais que isso e o jovem nadador de 17 anos, com uma maturidade invulgar, tem-no dito com insistência, ao longo destes dias de glória no Mundial do Peru: muito trabalho, boas condições de treino, uma equipa técnica multidisciplinar de grande nível, estabilidade e apoios institucionais. Parece fácil, mas não é. Não tenhamos dúvidas, como dira um amigo: «Em Portugal, uma medalha de ouro vale muito, mas muito mais, que uma medalha de ouro nos EUA, em Inglaterra ou na Noruega». 04/0972022
O Estádio Nacional
Porque é que o Estádio Nacional nunca foi uma prioridade das políticas desportivas no Portugal democrático? Um espaço mal-amado pelo futebol, mas não só, que, ao contrário do Olympiastadion Berlim ou do Stadio Olimpico di Roma, espaços conotados com o fascismo italiano ou o nazismo alemão, foram reabilitados pelas democracias. Estas e outras questões em torno do mais importante espaço desportivo nacional – O Centro Desportivo Nacional do Jamor.
O Estádio Olímpico de Amsterdão, o Los Angeles Memorial Coliseum, o Olympiastadium Berlim, o Estádio Olímpico de Helsínquia, e o Stadio Olimpico di Roma são exemplos de como é possível preservar a história, ou a memoria desta, com um olhar virado para o futuro. Todos estes espaços receberam edições dos Jogos Olímpicos no passado e hoje são recintos de valor histórico, mas também de valor desportivo, continuando a acolher, após importantes remodelações, grandes eventos internacionais, como é o caso do Los Angeles Memorial Coliseum que irá sediar, pela terceira vez, os jogos Olímpicos, em 2028.
Independentemente da sua raiz ideológica – como é o caso do nazismo alemão ou o fascismo italiano – tanto a democracia alemã como a democracia italiana foram capazes de reconverter os seus estádios olímpicos construídos em ditadura, em modernos recintos desportivos, em democracia.
E aqui chegados a estes exemplos, questionamos: o que fazemos nós com o "nosso" Estádio Nacional, integrado no mais importante complexo desportivo do país?
Após um Europeu de futebol em 2004, onde foram gastos 650 milhões de euros em estádios – o investimento total ultrapassa os mil milhões –, sobretudo na construção e remodelação de um número (10) não exigido pela UEFA, o Estádio Nacional não foi prioridade.
Apesar do esforço dos últimos anos da sua direção, em dar-lhe alguma dignidade com obras de cosmética, o Estádio Nacional continuou esquecido, subalternizado, pelo poder político e desportivo, transformado num sempre criticado recinto de final de taça de futebol. Apesar dessas envergonhadas obras de cosmética, continua a ser atacado por todos os dirigentes dos grandes clubes e desvalorizado pelas federações que o deveriam dignificar – a federação de futebol, que o Estado permitiu a construção de uma denominada “Cidade de Futebol”, a 500 metros de um estádio nacional… abandonado; e a federação de atletismo, que durante décadas deixou cair a utilização da pista para eventos nacionais e internacionais. Agora, mesmo com a recente remodelação de um novo piso sintético (não regulamentar) continua a não ser utilizado para eventos nacionais ou internacionais.
Chegados aqui, se não há capacidade para uma remodelação como o estádio olímpico de Berlim, de Los Angeles ou de Roma, então tenhamos a coragem e faça-se o que fizeram os japoneses – implodiram o estádio olímpico de Tóquio 1964 e contruíram, no mesmo local, um moderno estádio olímpico de Tóquio 2020. (Claro que estamos a delirar).
Fazemos agora um pequeno exercício de memória do que foram e do que são estes recintos desportivos até agora referenciados, e as múltiplas possibilidades encontradas para que continuassem a ser espaços de utilização desportiva.
O Estádio Olímpico de Amsterdão, o Los Angeles Memorial Coliseum, o Olympiastadium Berlim, o Estádio Olímpico de Helsínquia, e o Stadio Olimpico di Roma são exemplos de como é possível preservar a história, ou a memoria desta, com um olhar virado para o futuro. Todos estes espaços receberam edições dos Jogos Olímpicos no passado e hoje são recintos de valor histórico, mas também de valor desportivo, continuando a acolher, após importantes remodelações, grandes eventos internacionais, como é o caso do Los Angeles Memorial Coliseum que irá sediar, pela terceira vez, os jogos Olímpicos, em 2028.
Independentemente da sua raiz ideológica – como é o caso do nazismo alemão ou o fascismo italiano – tanto a democracia alemã como a democracia italiana foram capazes de reconverter os seus estádios olímpicos construídos em ditadura, em modernos recintos desportivos, em democracia.
E aqui chegados a estes exemplos, questionamos: o que fazemos nós com o "nosso" Estádio Nacional, integrado no mais importante complexo desportivo do país?
Após um Europeu de futebol em 2004, onde foram gastos 650 milhões de euros em estádios – o investimento total ultrapassa os mil milhões –, sobretudo na construção e remodelação de um número (10) não exigido pela UEFA, o Estádio Nacional não foi prioridade.
Apesar do esforço dos últimos anos da sua direção, em dar-lhe alguma dignidade com obras de cosmética, o Estádio Nacional continuou esquecido, subalternizado, pelo poder político e desportivo, transformado num sempre criticado recinto de final de taça de futebol. Apesar dessas envergonhadas obras de cosmética, continua a ser atacado por todos os dirigentes dos grandes clubes e desvalorizado pelas federações que o deveriam dignificar – a federação de futebol, que o Estado permitiu a construção de uma denominada “Cidade de Futebol”, a 500 metros de um estádio nacional… abandonado; e a federação de atletismo, que durante décadas deixou cair a utilização da pista para eventos nacionais e internacionais. Agora, mesmo com a recente remodelação de um novo piso sintético (não regulamentar) continua a não ser utilizado para eventos nacionais ou internacionais.
Chegados aqui, se não há capacidade para uma remodelação como o estádio olímpico de Berlim, de Los Angeles ou de Roma, então tenhamos a coragem e faça-se o que fizeram os japoneses – implodiram o estádio olímpico de Tóquio 1964 e contruíram, no mesmo local, um moderno estádio olímpico de Tóquio 2020. (Claro que estamos a delirar).
Fazemos agora um pequeno exercício de memória do que foram e do que são estes recintos desportivos até agora referenciados, e as múltiplas possibilidades encontradas para que continuassem a ser espaços de utilização desportiva.
O Estádio Nacional do Jamor, também designado de Estádio de Honra do Centro Desportivo Nacional do Jamor, constitui um estádio multiusos localizado no vale do rio Jamor, no município de Oeiras, Distrito de Lisboa. “Propriedade do Estado Português, é o Estádio Nacional de Portugal”, é referido no www.monumentos.gov.pt.
Para que o projecto do ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, fosse uma realidade, inaugurado a 10 de Junho de 1944, foram consultados diversos arquitectos, entre os quais, Francisco Caldeira Cabral, Konrad Wiesner, Jorge Segurado e Miguel Jacobetty Rosa. É deste último a paternidade do projecto do Estádio de Honra. A edificação do Estádio Nacional levou cinco anos a ser concluída - desde a planificação (1939) até à sua construção -, sendo, mais tarde, inserido no Complexo Desportivo do Jamor, uma ilha verde no seio da Área Metropolitana de Lisboa.
Arquitetos: Konrad Wiesner; Miguel Simões Jacobetty Rosa. Arquiteto paisagista: Francisco Caldeira Cabral.
Arquitectura desportiva, modernista. Estádio construído segundo a concepção grega, isto é, edificação integrada na paisagem e tudo em pedra. Caldeira Cabral contesta a proposta pré-existente do arquitecto Jorge Segurado, registando a ignorância do regime dos ventos, o carácter divisório de uma avenida projectada até ao mar e o desajuste entre escala e função. Após um elaborado estudo, puxa o Estádio do vale do Rio Jamor, evitando o encanamento do rio, para uma concavidade existente na meia encosta orientada a Oeste, abrigada dos ventos dominantes e aberta sobre a paisagem possibilitando ter uma vista de conjunto de qualquer desfile ou parada,
Caldeira Cabral: “Criamos assim um recinto natural, formado pelas encostas e que nos permite apreciar verdadeiramente a grandeza do vale." E ainda "Podemos apontar como principais características do Estádio de Lisboa as seguintes: 1 - É o primeiro grande estádio moderno situado em plena natureza e que se abre sobre uma paisagem grandiosa. " 2 - Pela primeira vez nos tempos modernos se constrói segundo a concepção grega isto é edificação integrada na paisagem e tudo em pedra. 3 - É o primeiro grande estádio completamente construído em escavação numa depressão natural do terreno. 4 - Diremos ainda que é o único estádio moderno na Europa que só tem lugares sentados.
O Estádio Nacional é o estádio oficial da Seleção Portuguesa de Futebol. Normalmente os jogos da Seleção são realizados nos estádios de clubes da Liga Portuguesa de Futebol, mais modernos e equipados. O Estádio do Jamor é poucas vezes usado, dado encontrar-se obsoleto para os requisitos da FIFA no que diz respeito a jogos oficiais. No entanto, a final da Taça de Portugal é ainda aí realizada todos os anos. O último jogo da Seleção no Jamor foi frente à Grécia, na preparação para o Mundial 2014.
http://www.monumentos.gov.pt
Para que o projecto do ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, fosse uma realidade, inaugurado a 10 de Junho de 1944, foram consultados diversos arquitectos, entre os quais, Francisco Caldeira Cabral, Konrad Wiesner, Jorge Segurado e Miguel Jacobetty Rosa. É deste último a paternidade do projecto do Estádio de Honra. A edificação do Estádio Nacional levou cinco anos a ser concluída - desde a planificação (1939) até à sua construção -, sendo, mais tarde, inserido no Complexo Desportivo do Jamor, uma ilha verde no seio da Área Metropolitana de Lisboa.
Arquitetos: Konrad Wiesner; Miguel Simões Jacobetty Rosa. Arquiteto paisagista: Francisco Caldeira Cabral.
Arquitectura desportiva, modernista. Estádio construído segundo a concepção grega, isto é, edificação integrada na paisagem e tudo em pedra. Caldeira Cabral contesta a proposta pré-existente do arquitecto Jorge Segurado, registando a ignorância do regime dos ventos, o carácter divisório de uma avenida projectada até ao mar e o desajuste entre escala e função. Após um elaborado estudo, puxa o Estádio do vale do Rio Jamor, evitando o encanamento do rio, para uma concavidade existente na meia encosta orientada a Oeste, abrigada dos ventos dominantes e aberta sobre a paisagem possibilitando ter uma vista de conjunto de qualquer desfile ou parada,
Caldeira Cabral: “Criamos assim um recinto natural, formado pelas encostas e que nos permite apreciar verdadeiramente a grandeza do vale." E ainda "Podemos apontar como principais características do Estádio de Lisboa as seguintes: 1 - É o primeiro grande estádio moderno situado em plena natureza e que se abre sobre uma paisagem grandiosa. " 2 - Pela primeira vez nos tempos modernos se constrói segundo a concepção grega isto é edificação integrada na paisagem e tudo em pedra. 3 - É o primeiro grande estádio completamente construído em escavação numa depressão natural do terreno. 4 - Diremos ainda que é o único estádio moderno na Europa que só tem lugares sentados.
O Estádio Nacional é o estádio oficial da Seleção Portuguesa de Futebol. Normalmente os jogos da Seleção são realizados nos estádios de clubes da Liga Portuguesa de Futebol, mais modernos e equipados. O Estádio do Jamor é poucas vezes usado, dado encontrar-se obsoleto para os requisitos da FIFA no que diz respeito a jogos oficiais. No entanto, a final da Taça de Portugal é ainda aí realizada todos os anos. O último jogo da Seleção no Jamor foi frente à Grécia, na preparação para o Mundial 2014.
http://www.monumentos.gov.pt
O Estádio Olímpico de Amsterdão - Olympisch Stadion é um estádio multiuso localizado na capital dos Países Baixos, na província da Holanda do Norte. Desenhado pelo arquiteto Jan Wils, foi construído para a realização dos Jogos Olímpicos de 1928. Uma vez terminado, o estádio tinha uma capacidade de 34.000 espectadores. Após os Jogos Olímpicos foi usado para sediar variados eventos esportivos, como atletismo, hóquei e ciclismo. A demolição do estádio estava planeada, porém pouco antes de isto acontecer, o estádio recebeu o título de monumento nacional neerlandês (Rijksmonument). Então foi reconstruído, demolindo-se o segundo anel e deixando-o em sua forma original, sendo reinaugurado no ano 2000.
O Los Angeles Memorial Coliseum foi sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 1932 e 1984, e será a sede dos Jogos de Los Angeles 2028. O Coliseu, encomendado em 1921 como um memorial aos veteranos de LA da Primeira Guerra Mundial, inaugurado em 1923, possui capacidade para 92.516 espectadores desde 1995 (durante 60 anos, contou com mais de 100 000 lugares).
O estádio foi designado, em 27 de julho de 1984, um Marco Histórico Nacional. Além de dois Jogos Olímpicos, recebeu o primeiro Super Bowl em 1967 e o de 1973.
Em outubro de 2015, a University of Southern California (USC) anunciou os planos de reforma e renovação do Los Angeles Memorial Coliseum. O plano de 270 milhões de dólares é parte do contrato de longa duração da USC.
O Los Angeles Memorial Coliseum foi sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 1932 e 1984, e será a sede dos Jogos de Los Angeles 2028. O Coliseu, encomendado em 1921 como um memorial aos veteranos de LA da Primeira Guerra Mundial, inaugurado em 1923, possui capacidade para 92.516 espectadores desde 1995 (durante 60 anos, contou com mais de 100 000 lugares).
O estádio foi designado, em 27 de julho de 1984, um Marco Histórico Nacional. Além de dois Jogos Olímpicos, recebeu o primeiro Super Bowl em 1967 e o de 1973.
Em outubro de 2015, a University of Southern California (USC) anunciou os planos de reforma e renovação do Los Angeles Memorial Coliseum. O plano de 270 milhões de dólares é parte do contrato de longa duração da USC.
O Estádio Olímpico – Olympiastadion Berlim, localizado em Charlottenburg, distrito de Berlim, desenhado pelo arquiteto alemão Werner March, foi construído entre 1934 e 1936 para os Jogos Olímpicos de Verão de 1936. O Estádio Olímpico foi a sede do Mundial de Futebol de 1974 e em 2006 também recebeu o Mundial. A sua capacidade é de 76.000 espectadores.
Em 2006 foi totalmente remodelado, mantendo todas as suas características, intervenções com um investimento de 242 milhões de euros. Equipado com o mais moderno sistema tecnológico de som e iluminação artificial, a sua pista de atletismo azul recebeu a 12.ª edição do Campeonato Mundial de Atletismo de 2009 e 24.ª edição do Campeonato da Europa de 2018.
Em 2006 foi totalmente remodelado, mantendo todas as suas características, intervenções com um investimento de 242 milhões de euros. Equipado com o mais moderno sistema tecnológico de som e iluminação artificial, a sua pista de atletismo azul recebeu a 12.ª edição do Campeonato Mundial de Atletismo de 2009 e 24.ª edição do Campeonato da Europa de 2018.
O Estádio Olímpico de Roma - Estádio Olímpico di Roma é a principal e a maior estrutura esportiva de Roma, localizado no complexo esportivo do Foro Itálico, na parte norte da cidade. O estádio, de propriedade do Comité Olímpico Nacional Italiano (CONI), é destinado principalmente ao futebol - recebe os jogos de AS Roma e SS Lazio, além da final da Taça de Itália - e ao atletismo.
Ao longo do tempo, o Estádio Olímpico sofreu três substanciais mudanças e uma total revitalização. 1937. Na sua primeira forma o estádio (à época chamado Estádio dos Ciprestes) foi projetado e construído no âmbito do mais amplo projeto da Cidade do Desporto, chamada Foro Mussolini (renomeada Foro Itálico depois da guerra). Os trabalhos começaram em 1928 e terminaram em 1937.
1953, o Estádio dos Cem-mil; 1960, o Estádio Olímpico. Em dezembro de 1950 deu-se início à reconstrução do Estádio Olímpico aumentando a sua capacidade para 100 mil pessoas (por este motivo Stadio dei Centomila, como era chamado até 1960) com vistas às XVII Olimpíadas. Durante os Jogos de 1960 o estádio foi a sede das cerimónias de abertura e encerramento e das competições de atletismo. Para o Campeonato Mundial de futebol de 1990 o Estádio Olímpico foi inteiramente demolido, à exceção da Tribuna Tevere, e reconstruído em cimento armado. Para receber a final da Liga dos Campeões em 2009, o estádio voltou a recebeu alguns melhoramentos.
Ao longo do tempo, o Estádio Olímpico sofreu três substanciais mudanças e uma total revitalização. 1937. Na sua primeira forma o estádio (à época chamado Estádio dos Ciprestes) foi projetado e construído no âmbito do mais amplo projeto da Cidade do Desporto, chamada Foro Mussolini (renomeada Foro Itálico depois da guerra). Os trabalhos começaram em 1928 e terminaram em 1937.
1953, o Estádio dos Cem-mil; 1960, o Estádio Olímpico. Em dezembro de 1950 deu-se início à reconstrução do Estádio Olímpico aumentando a sua capacidade para 100 mil pessoas (por este motivo Stadio dei Centomila, como era chamado até 1960) com vistas às XVII Olimpíadas. Durante os Jogos de 1960 o estádio foi a sede das cerimónias de abertura e encerramento e das competições de atletismo. Para o Campeonato Mundial de futebol de 1990 o Estádio Olímpico foi inteiramente demolido, à exceção da Tribuna Tevere, e reconstruído em cimento armado. Para receber a final da Liga dos Campeões em 2009, o estádio voltou a recebeu alguns melhoramentos.
O Estádio Olímpico de Tóquio também conhecido como Estádio Nacional de Tóquio foi inaugurado em 1958 e sediou os Jogos Asiáticos daquele ano, o Campeonato Mundial de Atletismo de 1991, a Taça Intercontinental (disputa entre o vencedor da Liga dos Campeões da UEFA e da Copa Libertadores da América) de 1980 até 2001, as finais da J-League até 1998 e sediou a primeira final, em jogo único da Liga dos Campeões da Ásia, em 2009. Além das finais da Taça do Imperador e Taça da Liga Japonesa. Em fevereiro de 2012 foi confirmado que o estádio seria demolido e reconstruído. Foi demolido em 2015, e as obras do novo estádio iniciaram-se oficialmente em 2016. Construído no local onde estava o antigo Estádio Nacional, o Novo Estádio Olímpico foi o que passou por mais mudanças. A única similaridade com o antigo estádio é a localização. O preço da construção foi fixado 149.000 milhões de ienes (1,3 milhões de euros).
25/08/2022
25/08/2022
Amadorismo
Tenho um amigo com um sentido de realidade muito especial. Um dia, na iminência de fazer mínimos para os Jogos Olímpicos de Seul desabafou: “se eu fizer mínimos não preciso da bolsa de preparação para nada. Recuso essa bolsa e sou eu que pago ao Estado essa verba para não me chatearem”.
Veio-me à memória esta frase, que recordo com frequência, quando assisto às recorrentes polémicas em Portugal entre atletas e federações. Quando um atleta atinge um nível elevado de resultados, ou seja, por exemplo, a participação olímpica, o que se torna difícil para as instituições que o integram - clubes, associações, federações, universidades, comités olímpicos, entidades governamentais - é não complicarem, não prejudicarem, não atrapalharem naquilo que é o básico para um atleta e o seu treinador - a preparação. As contradições de todo o sistema desportivo nacional são férteis em promover o “atrapalhar” dessa preparação. Quando um atleta já atingiu um patamar elevado, como uma medalha ou uma final olímpica, o que pede é que não o "chateiem". Que lhe paguem o que tem direito. Que o deixem treinar descansado. Um dos problemas é que há gente a mais envolvida no processo. Gente que tem legítimas aspirações a beneficiar do resultado do atleta: os clubes e os seus denominados projetos olímpicos, porque são ainda o principal financiador do desporto de alta competição em Portugal; as federações porque são, a maior parte delas, a base de toda esse apoio; o comité olímpico porque é responsável pela missão e o gestor dos apoios à preparação; o Estado porque financia as federações e a alta competição. Nem vou colocar aqui as câmaras municipais, as universidades, as forças armadas e os empresários, que quando podem vêm a terreiro afirmar a sua importância nos resultados dos atletas. Ou seja, muita gente a interferir nos processos de decisão. O problema agudiza-se quando estas entidades tratam os atletas como seus funcionários, empregados ou colaboradores. Sobre os quais podem selecionar, ou não, independentemente dos critérios divulgados; podem decidir onde e com quem treinam os atletas; que competições são obrigados a realizar; podem retirar ou atribuir apoios de forma arbitrária; decidir que tipo de preparação devem realizar… Por incrível que pareça, todos os nossos campeões olímpicos passaram por isto num determinado momento das suas carreiras. O "profissionalismo" que se exige aos atletas, a avaliação constante, o retirar de apoios, não é diretamente proporcional ao que se deveria exigir aos responsáveis por essas instituições. Há um amadorismo atroz no dirigismo desportivo no que diz respeito à alta competição. O problema é que estamos em 2022 e a alta competição, mais do que nunca, não se compadece com amadorismos. 15/08/2022 Pintura de Steve Huston |
Mimar ou não mimar eis a questão*
Os altos níveis de exigência para se chegar ao sucesso no desporto de alta competição são por si só um dos fatores que desmobilizam os jovens da prática desportiva. O abandono precoce é identificado há muito como fator determinante para perceber a realidade do desporto em Portugal. E somos todos nós – família, clubes, escola, universidades, federações - que, de uma forma ou outra lhes dizemos para abandonarem que não vale a pena tanto sacrifício para se ser atleta de alta competição.
«Até que ponto devemos ir na proteção dos jovens e cidadãos? Devemos proteger as pessoas de comportamentos de risco, como beber álcool, fumar ou conduzir veículos? Ou, pelo contrário, o valor essencial deve ser a liberdade individual? Nas escolas e universidades, devemos proteger os jovens de todos os riscos físicos e emocionais, ou aceitar um certo nível de risco e pressão psicológica que resulta de um ensino exigente?», estas e outras questões foram levantadas por Arlindo Oliveira, professor do IST, no seu artigo de opinião no diário PÚBLICO, a propósito do “assédio moral” em universidades portuguesas relacionado com o «nível de exigência que é razoável no ensino superior».
Será que um nível de exigência que conduz a uma taxa de insucesso global de 30% (valor típico das escolas de engenharia europeias) corresponde a assédio moral e implica riscos psicológicos inaceitáveis para os estudantes? Ou, pelo contrário, faz parte de um processo educativo exigente e que filtra aqueles cuja capacidade de trabalho não se adapta a um ensino exigente?
As questões levantadas pelo articulista podem e devem ser também colocadas no mundo do desporto de alta competição? O tema está na ordem do dia, tendo em conta a ausência de políticas concretas em Portugal para o desenvolvimento do desporto de rendimento, mas também as inúmeras barreias, sociais familiares, económicas e escolares, criadas a montante nas carreiras dos nossos jovens praticantes, num mundo cada vez mais competitivo.
A ideia generalizada que o esforço individual e a exigência institucional são essenciais para o sucesso do processo educativo tem encontrado, nas últimas décadas alguma oposição, que resulta da mudança generalizada de atitudes da sociedade perante o risco físico e emocional.
Ao contrário do que verificamos na maioria dos nossos parceiros da União Europeia, onde o desporto de alta competição e em particular as modalidades de maior exigência física (desportos de resistência) tem uma crescente aceitação por parte dos jovens, não só na prática generalizada, como no nível de alta competição (veja-se os resultados do Mundial de Atletismo, em Oregon), nós, em Portugal, continuamos a empurrar, ou a promover, uma cultura de excessiva proteção, para tentar evitar a pressão psicológica e física, com o objetivo de evitar stress, criando uma ideia nos jovens de que o esforço físico e mental é só por si algo negativo, refletido nos baixos níveis de consumo de produtos culturais, mas também da prática desportivo, acompanhado de elevados níveis de sedentarismo, mesmo quando os jovens mostram alguma disponibilidade para o desporto.
No desporto federado assistimos a um desmobilizar dos jovens praticantes - apenas o futebol contraria essa tendência com o mito de que todos podem ser "Cristianos Ronaldos" -, numa natural incompatibilidade entre as exigências e os compromissos necessários para chegar aos objetivos propostos, e a pressão social, familiar, institucional para não assumir esses compromissos.
O artigo de Arlindo Oliveira termina defendendo: «o que é importante é darmos aos nossos jovens as condições para serem bem-sucedidos, numa sociedade cada vez mais competitiva e onde o conhecimento é a melhor arma. Para isso, temos de ter universidades fortes, conscientes e competitivas, algo que não tem feito parte das prioridades da Assembleia da República nas últimas décadas».
Eu não diria melhor quanto ao Desporto.
*titulo de artigo de opinião de Arlindo Oliveira no diário o PÚBLICO.
22/07/2022
::::
O meio fundo espanhol está de regresso e em qualidade como assistimos no Mundial de Oregon 2022. Bateu no fundo com a Operação Galgo em 2010, mas trabalho de recuperação está a ser feito e os resultados começam a surgir com é o caso das presenças de atletas nascidos em Espanha em várias finais neste mundial.
Mundial de Oregon 2022
RESULTADOS – Fundistas espanhóis:
10.000 metros - 13.º Carlos Mayo, 27.50,61.
3000 obst. – 9.º Daniel Arce, 8.30,05; 14.º Sebastián Martos, 8.36,66.
1500 metros - 3.º Mohamed Katir, 3.29,90; 4.º Mário Garcia, 3.30,20; 11.º Ignacio Fontes, 3.34,71.
5000 metros - 22.º Adel Mechaal, 13.36,48.
800 metros - 15.º Álvaro de Arriba, 1.46,30; 19.º Mariano Garcia, 1.46,70.
RESULTADOS COMPLETOS: https://worldathletics.org/.../world.../oregon22/timetable
27/07/2022
Mundial de Oregon 2022
RESULTADOS – Fundistas espanhóis:
10.000 metros - 13.º Carlos Mayo, 27.50,61.
3000 obst. – 9.º Daniel Arce, 8.30,05; 14.º Sebastián Martos, 8.36,66.
1500 metros - 3.º Mohamed Katir, 3.29,90; 4.º Mário Garcia, 3.30,20; 11.º Ignacio Fontes, 3.34,71.
5000 metros - 22.º Adel Mechaal, 13.36,48.
800 metros - 15.º Álvaro de Arriba, 1.46,30; 19.º Mariano Garcia, 1.46,70.
RESULTADOS COMPLETOS: https://worldathletics.org/.../world.../oregon22/timetable
27/07/2022
Assim não vamos lá...
Tenho andado ocupado com o que verdadeiramente me interessa no Desporto - competições, campeonatos, recordes, atletas. Sem grande esperança na mudança, numa verdadeira aposta neste sector por parte do poder político, acabei por não pensar nas possibilidades para o nome do novo secretário de estado para o Desporto.
A verdade é que a tomada de posse do Governo não prometia nada de novo quanto ao Desporto. Ainda assim, tinha alguma curiosidade em saber quem sucederia a João Paulo Rebelo no XXIII Governo Constitucional.
Conheço bem o programa do PS sobre o Desporto, mas queria perceber até que ponto o Governo de António Costa, com um novo secretário de estado, daria um sinal de que alguma coisa pretendia mudar na realidade desportiva nacional: – aquele que é um dos países da Europa mais atrasado nos índices da prática de atividade física e desportiva, com um modelo de alta competição cheio de contradições que não permite a uma grande parte dos nossos melhores atletas chegar ao topo das grandes competições.
Quando saiu o nome de João Paulo Correia para secretário de estado da juventude e do desporto confesso que senti, não direi vergonha mas um sentimento de "assim não vamos lá". Um gestor sucede a um gestor na liderança do Desporto, que passa da alçada do Ministério da Educação para a dos Assuntos Parlamentares (?). É isto. ninguém sabe explicar qual a vantagem (fica mais próximo do primeiro ministro? ), mas é isto.
Depois de João Paulo Rebelo, pergunto-me como é possível não existir ninguém na área desportiva com pensamento sobre a matéria, com percurso na área – universidade, federações, confederação, IPDJ, clubes – com perfil para assumir este cargo? respondem-me: não é forçoso que tenha de perceber de desporto. Pois não. Assim como não é forçoso eu perceber de lagares de azeite. Até tenho uma oliveira no quintal.
Perguntam-me, mas quem é João Paulo Correia? Licenciado em Organização e Gestão de Empresas, é líder da União das Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso, em Vila Nova de Gaia, de onde diz "levar experiência como autarca" para as funções que irá desempenhar. Foi até aqui vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Socialista e deputado da Assembleia da República desde 2009. Exerceu ainda as funções de presidente do Oliveira do Douro, clube da Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto, entre 2012 e 2018. É muito pouco. "É boa pessoa, interessado e ouve bem", diz, quem o conhece. É escasso.
O movimento desportivo, e as instituições que o integram, ao contrário do sector cultural, nunca foi capaz de se assumir como força política capaz de reivindicar, de defender aquilo que no seu entender tem direito no quadro de uma democracia europeia - Um um desígnio nacional no pleno acesso à prática desportiva e uma aposta séria nas nossas participações olímpicas.
Bem... resta-nos o futebol. Entre outras coisas, o novo secretário de estado irá acompanhar a eventual organização do Mundial 2030.
Enquanto isso, eu vou ali ao Jamor assistir a umas competições de natação, de ténis, de atletismo.
05/04/2022.
A verdade é que a tomada de posse do Governo não prometia nada de novo quanto ao Desporto. Ainda assim, tinha alguma curiosidade em saber quem sucederia a João Paulo Rebelo no XXIII Governo Constitucional.
Conheço bem o programa do PS sobre o Desporto, mas queria perceber até que ponto o Governo de António Costa, com um novo secretário de estado, daria um sinal de que alguma coisa pretendia mudar na realidade desportiva nacional: – aquele que é um dos países da Europa mais atrasado nos índices da prática de atividade física e desportiva, com um modelo de alta competição cheio de contradições que não permite a uma grande parte dos nossos melhores atletas chegar ao topo das grandes competições.
Quando saiu o nome de João Paulo Correia para secretário de estado da juventude e do desporto confesso que senti, não direi vergonha mas um sentimento de "assim não vamos lá". Um gestor sucede a um gestor na liderança do Desporto, que passa da alçada do Ministério da Educação para a dos Assuntos Parlamentares (?). É isto. ninguém sabe explicar qual a vantagem (fica mais próximo do primeiro ministro? ), mas é isto.
Depois de João Paulo Rebelo, pergunto-me como é possível não existir ninguém na área desportiva com pensamento sobre a matéria, com percurso na área – universidade, federações, confederação, IPDJ, clubes – com perfil para assumir este cargo? respondem-me: não é forçoso que tenha de perceber de desporto. Pois não. Assim como não é forçoso eu perceber de lagares de azeite. Até tenho uma oliveira no quintal.
Perguntam-me, mas quem é João Paulo Correia? Licenciado em Organização e Gestão de Empresas, é líder da União das Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso, em Vila Nova de Gaia, de onde diz "levar experiência como autarca" para as funções que irá desempenhar. Foi até aqui vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Socialista e deputado da Assembleia da República desde 2009. Exerceu ainda as funções de presidente do Oliveira do Douro, clube da Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto, entre 2012 e 2018. É muito pouco. "É boa pessoa, interessado e ouve bem", diz, quem o conhece. É escasso.
O movimento desportivo, e as instituições que o integram, ao contrário do sector cultural, nunca foi capaz de se assumir como força política capaz de reivindicar, de defender aquilo que no seu entender tem direito no quadro de uma democracia europeia - Um um desígnio nacional no pleno acesso à prática desportiva e uma aposta séria nas nossas participações olímpicas.
Bem... resta-nos o futebol. Entre outras coisas, o novo secretário de estado irá acompanhar a eventual organização do Mundial 2030.
Enquanto isso, eu vou ali ao Jamor assistir a umas competições de natação, de ténis, de atletismo.
05/04/2022.
A carreira dual e o pós-carreira
A “carreira dual” e o “pós-carreira” dos atletas de alta competição são dois temas (conceitos) que têm estado na agenda discursiva das organizações desportivas, académicas e políticas em Portugal.
“Carreira dual”, um conceito, aparentemente obvio, mas que a sua contradição e incapacidade está no cerne do atraso que Portugal verifica no que diz respeito ao desporto de alta competição.
Escolas, universidades, clubes, federações, comité olímpico, confederação, IPDJ, partidos, Governo, comissão e associação de atletas olímpicos, umas com mais responsabilidades que outras, têm defendido a conciliação da carreira académica com a carreira de alta competição.
Em síntese, o que se pretende é que os atletas de alta competição devem estudar e competir, ter condições nas escolas, universidades, nos clubes, nas federações para que possam conciliar essas duas atividades: “atleta-estudante” ou “estudante-atleta”.
Associado à “carreira dual” e às suas dificuldades e constrangimentos, surge com todos os problemas inerentes o “pós-carreira”, com muitos atletas em final de carreira totalmente inadaptados e impreparados para a nova vida que os espera.
No terreno os problemas entram em contradição com o discurso. Se para um atleta que tem como objetivo máximo na sua carreira uma participação olímpica, conciliar um curso superior com a presença nos Jogos será já muito difícil, mas perfeitamente viável.
Já para aqueles que, com mais ambição, pretendem chegar a um lugar de finalista olímpico, ou mesmo lutar por uma medalha, a realidade diz-nos que isso é quase impossível em Portugal.
Se não, vejamos: numa fácil pesquisa, verificamos que o velejador Nuno Barreto, os judocas Nuno Delgado e Telma Monteiro são os únicos atletas que terminaram cursos universitários em Portugal, entre os 19 portugueses que subiram aos pódios olímpicos (21 medalhas) após o 25 de Abril de 1974.
Recorde-se que Portugal soma no total 28 medalhas (cinco ouro, nove prata e catorze bronze) nas 25 participações olímpicas do nosso país entre Estocolmo 1912 e Tóquio 2020.
Nuno Delgado, bronze no judo -81 kg em Sydney 2000, é licenciado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana. Nuno Barreto, medalha de bronze na classe 470 de vela com Hugo Rocha, nos Jogos de Atlanta 1996 é licenciado em Engenharia do Ambiente pela Universidade Nova de Lisboa. E Telma Monteiro é Licenciada em Educação Física no Ramo de Treino Desportivo na Universidade Lusófona.
Mas se analisarmos, de uma forma um pouco mais aprofundada, o Atletismo, a modalidade que em Portugal obteve os melhores resultados em Jogos Olímpicos – cinco medalhas de ouro, três prata e quatro bronze – verificamos que dos 27 finalistas (8 primeiros) – apenas três atletas concluíram um curso superior em Portugal: José Carvalho em Educação Física – 5.º nos 400 metros dos jogos de Montreal 1976; Eduarda Coelho, Doutorada em Ciências do Desporto, e Elsa Amaral, em Educação Física - 8.ªs na estafeta 4x400 metros dos Jogos de Barcelona 1992. Há que referir que alguns destes campeões terminaram as licenciaturas após terminarem as carreiras.
Ser atleta olímpico e estudante universitário já não é raro entre a elite do desporto nacional. Na comitiva portuguesa de 77 atletas para os Jogos de Londres 2012, 25 frequentavam cursos universitários.
É verdade que a frequência de cursos superiores por atletas olímpicos tem vindo a aumentar nos últimos anos, fruto da melhoria do nível médio da escolaridade entre os jovens portugueses, mas também beneficiando das facilidades de acesso ao ensino superior com o estatuto de atleta de alta competição.
Todavia, os melhores atletas quando atingem o nível para integrar o plano de preparação olímpica congelam as suas inscrições nas universidades não passando dos primeiros anos dos cursos. Alguns poucos conseguem terminar as licenciaturas em prazos mais dilatados.
Outros, a maioria, quando entram para a universidade pura e simplesmente abandonam de seguida a alta competição, sabendo que não conseguem conciliar as duas atividades.
Mas também são vitimas da injustiça provocada pelo não cumprimento da lei por parte das instituições universitárias que leva alguns professores a dizerem aos alunos: "tem que escolher entre o desporto e os estudos".
O problema não é apenas português: a nível europeu de 30% dos alunos-atletas, com 12 a 19 anos, abandonarem o desporto de alto rendimento por dificuldade de conciliação com essas medidas estruturais na própria escola”.
Todavia, em Portugal o problema é mais grave e os resultados estão à vista. A pergunta que se deveria fazer sobre a participação olímpica é saber se Portugal quer ou não ter atletas a discutir medalhas em Jogos?
Caso afirmativo, verificamos que o atual modelo serve em parte aos atletas que querem participar nos Jogos (tudo bem) mas não os que vão lá com ambição de lugares de finalistas e medalhados. Esse nunca irão conseguir conciliar o estudo com a competição.
Nesse sentido, para que não assistamos a degradação social desses campeões, só há uma saída para esta contradição, caso as entidades responsáveis e os atletas medalhados o queiram: garantir que após terminada a carreira desportiva aos atletas lhe seja atribuída uma bolsa para concluir os seus estudos num período de licenciatura, ou profissionalmente sejam integrados em atividades compatíveis com a sua experiencia de desportista.
PS: Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal (AAOP) organiza um convívio com o lema – «Juntos vamos celebrar os valores que nos unem». Ao longo de três dias, 24, 25 e 26 de março, a vila da Cascais será ponto de encontro de atletas olímpicos de várias gerações, num programa diversificado com destaque para a gala de 26 de março em que serão distinguidos alguns atletas olímpicos portugueses.
A AAOP foi fundada em 8 de julho de 2003 com a missão e objetivo de defender, divulgar e promover os “Valores do Movimento Olímpico”, entre todos os Atletas Olímpicos de Portugal. «É o projeto de vocação social que nos move». Na AAOP trabalhamos para todos os olímpicos, mas queremos que os nossos atletas sejam uma bandeira para a sociedade.
Segundo Luís Monteiro, Presidente da AAOP, "a Associação tem um propósito bem definido assente em 3 pilares estratégicos: para os atletas, pelos atletas e para a Sociedade.
28/02/2022
Fotos - Estádio Panatenaico.
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“Carreira dual”, um conceito, aparentemente obvio, mas que a sua contradição e incapacidade está no cerne do atraso que Portugal verifica no que diz respeito ao desporto de alta competição.
Escolas, universidades, clubes, federações, comité olímpico, confederação, IPDJ, partidos, Governo, comissão e associação de atletas olímpicos, umas com mais responsabilidades que outras, têm defendido a conciliação da carreira académica com a carreira de alta competição.
Em síntese, o que se pretende é que os atletas de alta competição devem estudar e competir, ter condições nas escolas, universidades, nos clubes, nas federações para que possam conciliar essas duas atividades: “atleta-estudante” ou “estudante-atleta”.
Associado à “carreira dual” e às suas dificuldades e constrangimentos, surge com todos os problemas inerentes o “pós-carreira”, com muitos atletas em final de carreira totalmente inadaptados e impreparados para a nova vida que os espera.
No terreno os problemas entram em contradição com o discurso. Se para um atleta que tem como objetivo máximo na sua carreira uma participação olímpica, conciliar um curso superior com a presença nos Jogos será já muito difícil, mas perfeitamente viável.
Já para aqueles que, com mais ambição, pretendem chegar a um lugar de finalista olímpico, ou mesmo lutar por uma medalha, a realidade diz-nos que isso é quase impossível em Portugal.
Se não, vejamos: numa fácil pesquisa, verificamos que o velejador Nuno Barreto, os judocas Nuno Delgado e Telma Monteiro são os únicos atletas que terminaram cursos universitários em Portugal, entre os 19 portugueses que subiram aos pódios olímpicos (21 medalhas) após o 25 de Abril de 1974.
Recorde-se que Portugal soma no total 28 medalhas (cinco ouro, nove prata e catorze bronze) nas 25 participações olímpicas do nosso país entre Estocolmo 1912 e Tóquio 2020.
Nuno Delgado, bronze no judo -81 kg em Sydney 2000, é licenciado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana. Nuno Barreto, medalha de bronze na classe 470 de vela com Hugo Rocha, nos Jogos de Atlanta 1996 é licenciado em Engenharia do Ambiente pela Universidade Nova de Lisboa. E Telma Monteiro é Licenciada em Educação Física no Ramo de Treino Desportivo na Universidade Lusófona.
Mas se analisarmos, de uma forma um pouco mais aprofundada, o Atletismo, a modalidade que em Portugal obteve os melhores resultados em Jogos Olímpicos – cinco medalhas de ouro, três prata e quatro bronze – verificamos que dos 27 finalistas (8 primeiros) – apenas três atletas concluíram um curso superior em Portugal: José Carvalho em Educação Física – 5.º nos 400 metros dos jogos de Montreal 1976; Eduarda Coelho, Doutorada em Ciências do Desporto, e Elsa Amaral, em Educação Física - 8.ªs na estafeta 4x400 metros dos Jogos de Barcelona 1992. Há que referir que alguns destes campeões terminaram as licenciaturas após terminarem as carreiras.
Ser atleta olímpico e estudante universitário já não é raro entre a elite do desporto nacional. Na comitiva portuguesa de 77 atletas para os Jogos de Londres 2012, 25 frequentavam cursos universitários.
É verdade que a frequência de cursos superiores por atletas olímpicos tem vindo a aumentar nos últimos anos, fruto da melhoria do nível médio da escolaridade entre os jovens portugueses, mas também beneficiando das facilidades de acesso ao ensino superior com o estatuto de atleta de alta competição.
Todavia, os melhores atletas quando atingem o nível para integrar o plano de preparação olímpica congelam as suas inscrições nas universidades não passando dos primeiros anos dos cursos. Alguns poucos conseguem terminar as licenciaturas em prazos mais dilatados.
Outros, a maioria, quando entram para a universidade pura e simplesmente abandonam de seguida a alta competição, sabendo que não conseguem conciliar as duas atividades.
Mas também são vitimas da injustiça provocada pelo não cumprimento da lei por parte das instituições universitárias que leva alguns professores a dizerem aos alunos: "tem que escolher entre o desporto e os estudos".
O problema não é apenas português: a nível europeu de 30% dos alunos-atletas, com 12 a 19 anos, abandonarem o desporto de alto rendimento por dificuldade de conciliação com essas medidas estruturais na própria escola”.
Todavia, em Portugal o problema é mais grave e os resultados estão à vista. A pergunta que se deveria fazer sobre a participação olímpica é saber se Portugal quer ou não ter atletas a discutir medalhas em Jogos?
Caso afirmativo, verificamos que o atual modelo serve em parte aos atletas que querem participar nos Jogos (tudo bem) mas não os que vão lá com ambição de lugares de finalistas e medalhados. Esse nunca irão conseguir conciliar o estudo com a competição.
Nesse sentido, para que não assistamos a degradação social desses campeões, só há uma saída para esta contradição, caso as entidades responsáveis e os atletas medalhados o queiram: garantir que após terminada a carreira desportiva aos atletas lhe seja atribuída uma bolsa para concluir os seus estudos num período de licenciatura, ou profissionalmente sejam integrados em atividades compatíveis com a sua experiencia de desportista.
PS: Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal (AAOP) organiza um convívio com o lema – «Juntos vamos celebrar os valores que nos unem». Ao longo de três dias, 24, 25 e 26 de março, a vila da Cascais será ponto de encontro de atletas olímpicos de várias gerações, num programa diversificado com destaque para a gala de 26 de março em que serão distinguidos alguns atletas olímpicos portugueses.
A AAOP foi fundada em 8 de julho de 2003 com a missão e objetivo de defender, divulgar e promover os “Valores do Movimento Olímpico”, entre todos os Atletas Olímpicos de Portugal. «É o projeto de vocação social que nos move». Na AAOP trabalhamos para todos os olímpicos, mas queremos que os nossos atletas sejam uma bandeira para a sociedade.
Segundo Luís Monteiro, Presidente da AAOP, "a Associação tem um propósito bem definido assente em 3 pilares estratégicos: para os atletas, pelos atletas e para a Sociedade.
28/02/2022
Fotos - Estádio Panatenaico.
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«É a realidade do desporto em Portugal!»
Questionei um amigo jurista, com mestrado em direito do Desporto, sobre os acontecimentos do clássico FC Porto - Sporting. Como sei que gosta de futebol, queria saber o que pensava sobre o tema, a violências, as causas, a forma como os clubes a federação, a liga, e o poder politico lidam com esta e outras situações recorrentes no futebol português.
Resposta rápida: «é a realidade do desporto em Portugal!»
«A realidade do futebol português, queres tu dizer…», atalhei.
«Nada disso. Isto é, em concreto, um problema do Desporto em Portugal.
«Mas isso não é desculpabilizar o futebol?», questionei.
Há quanto tempo não vais ver um jogo de andebol, basquetebol ou hóquei em patins?», perguntou.
«Tenho assistido mais a competições de desportos individuais, mas até fui recentemente ao hóquei em patins, (no qual houve confusão entre jogadores, treinadores e adeptos).
Em silêncio, acabei por lhe dar razão.
O meu amigo deu-me exemplos, casos concretos de «confusões» criadas nas modalidades coletivas que, à escala, mas menos mediatizadas, são tudo iguais ao que se passa no futebol.
O problema não é, portanto do futebol em concreto. É, sim, de uma clubite estúpida de adeptos, alimentada, muitas vezes por treinadores, dirigentes e comunicação social (televisões), que leva a uma ausência de cultura desportiva generalizada, de uma população em que 60% nunca praticou qualquer atividade física ou desporto.
«Com esta realidade, o que esperas que aconteça?», questiona-me.
Nada.
PS: Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses, realizado pelo Instituto de Ciências Sociais com a Fundação Calouste Gulbenkian, mostra que no ano de 2020, 61% dos portugueses não leram qualquer livro impresso e 27% leram apenas entre um e cinco livros. 90% das pessoas vê televisão mas apenas 28% frequenta museus e só 6% vai a concertos de música erudita.
https://gulbenkian.pt/publication/inquerito-as-praticas-culturais-dos-portugueses/
FOTOS: Jogo futebol nas Salésias, anos 40/50 do século passado. Autor desconhecido.
Resposta rápida: «é a realidade do desporto em Portugal!»
«A realidade do futebol português, queres tu dizer…», atalhei.
«Nada disso. Isto é, em concreto, um problema do Desporto em Portugal.
«Mas isso não é desculpabilizar o futebol?», questionei.
Há quanto tempo não vais ver um jogo de andebol, basquetebol ou hóquei em patins?», perguntou.
«Tenho assistido mais a competições de desportos individuais, mas até fui recentemente ao hóquei em patins, (no qual houve confusão entre jogadores, treinadores e adeptos).
Em silêncio, acabei por lhe dar razão.
O meu amigo deu-me exemplos, casos concretos de «confusões» criadas nas modalidades coletivas que, à escala, mas menos mediatizadas, são tudo iguais ao que se passa no futebol.
O problema não é, portanto do futebol em concreto. É, sim, de uma clubite estúpida de adeptos, alimentada, muitas vezes por treinadores, dirigentes e comunicação social (televisões), que leva a uma ausência de cultura desportiva generalizada, de uma população em que 60% nunca praticou qualquer atividade física ou desporto.
«Com esta realidade, o que esperas que aconteça?», questiona-me.
Nada.
PS: Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses, realizado pelo Instituto de Ciências Sociais com a Fundação Calouste Gulbenkian, mostra que no ano de 2020, 61% dos portugueses não leram qualquer livro impresso e 27% leram apenas entre um e cinco livros. 90% das pessoas vê televisão mas apenas 28% frequenta museus e só 6% vai a concertos de música erudita.
https://gulbenkian.pt/publication/inquerito-as-praticas-culturais-dos-portugueses/
FOTOS: Jogo futebol nas Salésias, anos 40/50 do século passado. Autor desconhecido.
Somos as instituições que representamos
Há alguns anos, um professor amigo, numa conversa bem acalorada, atirou: “quer você queira quer não, nós somos as instituições que representamos.” Na altura, a afirmação pareceu-me excessiva, mas fiquei a matutar no que essa frase tinha de verdade. O tempo acabou por me levar a acreditar que as instituições que representamos marcam sem dúvida a nossa existência como indivíduos, assim como a imagem que refletimos nos outros. Um professor é um professor dentro e fora da escola. Um polícia é um polícia e um médico é um médico em qualquer circunstância. Um jornalista, se tem carteira profissional, é sempre jornalista. Digo eu. A verdade é que já não escrevo no DN há mais de sete anos mas ainda hoje muitas pessoas me associam ao jornal onde trabalhei mais de 20 anos. É compreensível. O mesmo acontece quando procuro saber quem é esta ou aquela figura desconhecida, fazendo as perguntas: qual a sua formação? O que faz? Onde trabalha? para melhor poder enquadrar a sua opinião. Por tudo isso, é-me difícil perceber as pessoas que vivem em vários registos em simultâneo na esfera pública e privada em função do momento e das circunstâncias. Sim, vivemos tempos de globalização num individualismo levado ao limite. Mas onde começa a praça pública e acaba o espaço privado? Onde acaba a representação institucional e começa a vida pessoal? O “eu” é manifestado em todas as áreas da comunicação? Seja nas redes sociais, nos jornais, nas televisões? De manhã são presidentes de câmara, de tarde são comentadores de futebol? Hoje dão uma entrevista como dirigente político partidário, amanhã escrevem um artigo de opinião pessoal. Hoje escrevem como professores universitários, logo apresentam-se como jornalistas. Bem, é verdade que temos um presidente da República que continua a atuar como comentador político. Portanto, é já tudo normal.
13/02/2022
13/02/2022
Rankings em Arte
“Vertigo" ou "Citizen Kane"? Hitchcock ou Orson Welles? já agora, Picasso ou Dali? Michelangelo ou Leonardo da Vinci? Os Beatles ou os Rolling Stones? Walt Whitman ou Rainer Maria Rilke? Guerra e Paz, Lev Tolstoi ou Ulisses, James Joyce? e por cá, José Saramago ou Lobo Antunes? quem é o melhor? Lista, rankings, balanços... sobre artistas, obras, épocas... comparações, com que critérios? com que objectividade?
“Vertigo – A Mulher que Viveu Duas Vezes”, de Alfred Hitchcock, foi eleito o melhor filme de todos os tempos pela revista 'Sight and Sound', publicação do British Film Institute, deixando para trás “Citizen Kane - O Mundo a seus Pés”, de Orson Welles, que estava há 50 anos no top.
"Na corrida para os 25 Melhores Realizadores de Todos os Tempos, Hitchcock ocupa o primeiro lugar seguido de Jean-Luc Godard e Orson Welles", escreveram na altura os especialistas.
"Na corrida?" Corridas? rankings? conheço alguns, como por exemplo o dos 100 metros onde Usain Bolt lidera com 9,58 segundos. Agora rankings no cinema nas artes em geral ?...
Na estreia, Vertigo foi recebido apenas como "mais um filme de Hitchcock" Não se converteu num imediato sucesso de público nem de crítica. Hoje é considerado um dos filmes mais expressivos da História do Cinema. O amor platónico de James Stewart e Kim Novak é uma referência iconográfica do Cinema dos anos 50. E alguns locais de S. Francisco são visitados por fãs de todo o mundo num ritual de celebração.
12/02/2022 - Publicado no FB a 12 de fevereiro de 2013
A síndrome de Peter Pan nos desportistas
A “síndrome de Peter Pan" manifesta-se de forma cada vez mais visível na área do desporto. A sua exposição torna-se recorrente nas redes sociais onde a construção de uma identidade, à margem do real, é muito mais fácil.
A "síndrome do homem que nunca cresce", aceite na área da Psicologia desde a publicação de um livro escrito em 1983, The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up, escrito pelo norte americano Dan Kiley, caracteriza-se por comportamentos imaturos em aspectos comportamentais, psicológicos, sexuais ou sociais.
Talvez porque a actividade desportiva de alta competição é de curta duração - ao contrário dos músicos, escritores ou artistas plásticos - encontramos em alguns antigos atletas, uma nostalgia do passado, uma fixação no “EU juvenil”, uma incapacidade de crescerem, de saírem do papel de atletas que foram na juventude, de criarem novas experiências profissionais de sucesso - treinadores, professores, dirigentes, etc. - que os levem a assumirem um nova “persona” social e profissional, contribuindo assim, de forma clara, para a realização do presente.
Esta síndrome, esta infantilização, torna-se muito mais complexa quando essas pessoas utilizam o seu “EU juvenil” (que muitas vezes só existe nas suas cabeças) para analisar tudo à sua volta, um padrão nostálgico, sempre crítico em relação ao presente e em concreto aos jovens (neste caso desportistas): "No meu tempo é que era...", “Eu fiz… eu fui… eu consegui. EU! EU! EU!”
Não seria grave se essas pessoas não tivessem cargos de responsabilidade, visibilidade mediática, ou poder. Ou se essas pessoas fossem apenas adultos crianças. E nós nos pudéssemos rir com gosto das suas opiniões de crianças, ou jovens, que querem continuar a ser. Nada de mal viria dai ao mundo, como acontece com tantos músicos de rock, ou actores de cinema que teimam em não crescer. Infelizmente não é assim e o que fica das suas palavras, dos seus comportamentos, é de uma tristeza confrangedora.
A síndrome de Peter Pan descreve a incapacidade de alguém acreditar que é mais velho ou de se envolver em um comportamento geralmente associado à idade adulta. Esta síndrome afeta pessoas que não querem ou se sentem incapazes de crescer, pessoas com corpo de adulto, mas mente de criança. Não sabem ou não querem deixar de ser crianças. O termo vem da personagem infantil fictícia Peter Pan, que nunca envelhece.
15/12/2021
Foto: 22/06/1913, André Colombes, championnats de France.
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A "síndrome do homem que nunca cresce", aceite na área da Psicologia desde a publicação de um livro escrito em 1983, The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up, escrito pelo norte americano Dan Kiley, caracteriza-se por comportamentos imaturos em aspectos comportamentais, psicológicos, sexuais ou sociais.
Talvez porque a actividade desportiva de alta competição é de curta duração - ao contrário dos músicos, escritores ou artistas plásticos - encontramos em alguns antigos atletas, uma nostalgia do passado, uma fixação no “EU juvenil”, uma incapacidade de crescerem, de saírem do papel de atletas que foram na juventude, de criarem novas experiências profissionais de sucesso - treinadores, professores, dirigentes, etc. - que os levem a assumirem um nova “persona” social e profissional, contribuindo assim, de forma clara, para a realização do presente.
Esta síndrome, esta infantilização, torna-se muito mais complexa quando essas pessoas utilizam o seu “EU juvenil” (que muitas vezes só existe nas suas cabeças) para analisar tudo à sua volta, um padrão nostálgico, sempre crítico em relação ao presente e em concreto aos jovens (neste caso desportistas): "No meu tempo é que era...", “Eu fiz… eu fui… eu consegui. EU! EU! EU!”
Não seria grave se essas pessoas não tivessem cargos de responsabilidade, visibilidade mediática, ou poder. Ou se essas pessoas fossem apenas adultos crianças. E nós nos pudéssemos rir com gosto das suas opiniões de crianças, ou jovens, que querem continuar a ser. Nada de mal viria dai ao mundo, como acontece com tantos músicos de rock, ou actores de cinema que teimam em não crescer. Infelizmente não é assim e o que fica das suas palavras, dos seus comportamentos, é de uma tristeza confrangedora.
A síndrome de Peter Pan descreve a incapacidade de alguém acreditar que é mais velho ou de se envolver em um comportamento geralmente associado à idade adulta. Esta síndrome afeta pessoas que não querem ou se sentem incapazes de crescer, pessoas com corpo de adulto, mas mente de criança. Não sabem ou não querem deixar de ser crianças. O termo vem da personagem infantil fictícia Peter Pan, que nunca envelhece.
15/12/2021
Foto: 22/06/1913, André Colombes, championnats de France.
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A cultura do rigor no Atletismo
Havia um treinador português nos anos 90 do século passado que, quando um atleta não conseguia evoluir, afirmava: “Se não vale menos de 14 minutos aos 5000 metros como querem que ele faça 13.20. Impossível!”
Recordo esta frase com um sorriso em muitas circunstâncias da vida. Ideia que me tem permitido não exigir demasiado das pessoas. Cada um terá os seus limites. O mesmo acontece com as instituições.
O Atletismo, ao contrário de outras modalidades, não tem notas artísticas, nem bolas ao poste ou vitórias morais. É uma modalidade da ‘performance’ do segundo, do metro. Quem chega primeiro ganha, que lança e salta mais também. E é precisamente por isso que gosto tanto dela. Formei-me nesta cultura de rigor e já não irei mudar.
Vem isto a propósito da Gala do Centenário da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) a 18 de dezembro, onde “serão homenageadas instituições e personalidades que contribuíram decisivamente para o sucesso da modalidade no nosso país”.
Para isso, a FPA colocou em votação, através da ligação https://bit.ly/PersonalidadesCentenarioFPA, a lista de nomeados “elaborada pela sua direção da FPA”, a partir da qual serão apurados quatro finalistas para cada uma das categorias treinador, atleta masculino e atleta feminino, possibilitando a participação dos adeptos, através da divulgação da plataforma para votação nas suas redes sociais.
Nada contra a “participação dos adeptos”, mas tenho alguma dificuldade em perceber esta iniciativa da direção FPA e da metodologia como está a ser realizada (tipo BIG BROTHER?). Se querem mais polémicas e críticas é uma boa ideia. Para além da metodologia, atentem aos nomeados e as ausências. É uma falta de respeito pelos atletas e treinadores que não surgem nas listas como pelos que lá figuram.
O Atletismo poderia evitar esta competição (votação) de notas artísticas ou emocionais (eu gosto, eu não gosto. Eu acho ou não acho). Repito, somos uma modalidade do rigor. No seu centenário devemos orgulhamo-nos da sua história, uma data importante para congregar a família do Atletismo. Mas não é desta forma que homenageamos quem contribui “decisivamente” para o sucesso da modalidade.
22/11/2021
foto - 01 - 02- 1936. 1ª Pequena Maratona, organizada pelo jornal Os Sports.
Recordo esta frase com um sorriso em muitas circunstâncias da vida. Ideia que me tem permitido não exigir demasiado das pessoas. Cada um terá os seus limites. O mesmo acontece com as instituições.
O Atletismo, ao contrário de outras modalidades, não tem notas artísticas, nem bolas ao poste ou vitórias morais. É uma modalidade da ‘performance’ do segundo, do metro. Quem chega primeiro ganha, que lança e salta mais também. E é precisamente por isso que gosto tanto dela. Formei-me nesta cultura de rigor e já não irei mudar.
Vem isto a propósito da Gala do Centenário da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) a 18 de dezembro, onde “serão homenageadas instituições e personalidades que contribuíram decisivamente para o sucesso da modalidade no nosso país”.
Para isso, a FPA colocou em votação, através da ligação https://bit.ly/PersonalidadesCentenarioFPA, a lista de nomeados “elaborada pela sua direção da FPA”, a partir da qual serão apurados quatro finalistas para cada uma das categorias treinador, atleta masculino e atleta feminino, possibilitando a participação dos adeptos, através da divulgação da plataforma para votação nas suas redes sociais.
Nada contra a “participação dos adeptos”, mas tenho alguma dificuldade em perceber esta iniciativa da direção FPA e da metodologia como está a ser realizada (tipo BIG BROTHER?). Se querem mais polémicas e críticas é uma boa ideia. Para além da metodologia, atentem aos nomeados e as ausências. É uma falta de respeito pelos atletas e treinadores que não surgem nas listas como pelos que lá figuram.
O Atletismo poderia evitar esta competição (votação) de notas artísticas ou emocionais (eu gosto, eu não gosto. Eu acho ou não acho). Repito, somos uma modalidade do rigor. No seu centenário devemos orgulhamo-nos da sua história, uma data importante para congregar a família do Atletismo. Mas não é desta forma que homenageamos quem contribui “decisivamente” para o sucesso da modalidade.
22/11/2021
foto - 01 - 02- 1936. 1ª Pequena Maratona, organizada pelo jornal Os Sports.
Espirito de sacrifício
“Se um sacrifício é uma tristeza para ti e não uma alegria então não o faças não és digno dele.” Roman Roland.
A palavra “sacrifício” foi a que mais ouvimos da boca dos atletas portugueses durante a participação nos Jogos olímpicos de Tóquio 2020:
“Espirito de sacrifício”
“Valeu a pena o sacrifício”
“Inúmeros sacrifícios”
“Intensos e sacrifícios para chegar a esta medalha olímpica”
“Sacrifício de estar longe da família”
“Lembrando os muitos sacrifícios”
É nestes momentos que recordo Nanni Moretti em "Palombella Rossa", um dos primeiros mas mais conhecidos filmes do realizador italiano, quando a sua personagem gritava para uma jornalista: “AS PALAVRAS SÃO IMPORTANTES!!!”.
No significado mais puro da palavra (renuncia ou privação voluntária), utilizar o termo “sacrifício” em alta competição, por um maratonista, um nadador, um canoísta ou um judoca, é tão estranho, tão paradoxal, como a utilização do termo “sacrifício” por um bailarino de bailado clássico, ou de um violinista, ou um escritor, por mais que as condições exigidas para realizar as suas performances sejam difíceis e que levem à dor física e psicológica.
Porque o Desporto não faz sentido sem Cultura recordo as palavras do encenador Tiago Rodrigues em recente entrevista à RTP: “Quando temos o privilégio de fazer o que amamos, de fazer aquilo de que gostamos, temos de respeitar essa alegria, porque a esmagadora maioria da humanidade, ao longo da história e ainda hoje, não vive esse privilégio. Fazer o que se ama.”
Por isso, e por respeito pelos mineiros, pelos emigrantes, pelos trabalhadores das caixas dos supermercados, pelos trabalhadores da construção civil que todos os dias se levantam de madrugada para ganhar salários de miséria a fim de colocar comida nas mesas das suas famílias (sem outra opção), por favor, caros amigos atletas não nos falem em sacrifícios quando praticam uma atividade que decidiram de livre vontade desenvolver, por mais dificuldades que encontrem, porque “se um sacrifício é uma tristeza para vocês e não uma alegria então não o façam não são dignos dele.”
Sacrifício: Ação ou efeito de sacrificar (-se). Oferenda de animal, produto de colheita ou de qualquer coisa de valor, feita a uma divindade para lhe tributar homenagens ou para reconhecimento do seu poder. A pessoa ou coisa sacrificada. Renúncia ou privação voluntária por motivos morais, religiosos ou práticos. Privação financeira em benefício de alguém.
23/09/2021
A palavra “sacrifício” foi a que mais ouvimos da boca dos atletas portugueses durante a participação nos Jogos olímpicos de Tóquio 2020:
“Espirito de sacrifício”
“Valeu a pena o sacrifício”
“Inúmeros sacrifícios”
“Intensos e sacrifícios para chegar a esta medalha olímpica”
“Sacrifício de estar longe da família”
“Lembrando os muitos sacrifícios”
É nestes momentos que recordo Nanni Moretti em "Palombella Rossa", um dos primeiros mas mais conhecidos filmes do realizador italiano, quando a sua personagem gritava para uma jornalista: “AS PALAVRAS SÃO IMPORTANTES!!!”.
No significado mais puro da palavra (renuncia ou privação voluntária), utilizar o termo “sacrifício” em alta competição, por um maratonista, um nadador, um canoísta ou um judoca, é tão estranho, tão paradoxal, como a utilização do termo “sacrifício” por um bailarino de bailado clássico, ou de um violinista, ou um escritor, por mais que as condições exigidas para realizar as suas performances sejam difíceis e que levem à dor física e psicológica.
Porque o Desporto não faz sentido sem Cultura recordo as palavras do encenador Tiago Rodrigues em recente entrevista à RTP: “Quando temos o privilégio de fazer o que amamos, de fazer aquilo de que gostamos, temos de respeitar essa alegria, porque a esmagadora maioria da humanidade, ao longo da história e ainda hoje, não vive esse privilégio. Fazer o que se ama.”
Por isso, e por respeito pelos mineiros, pelos emigrantes, pelos trabalhadores das caixas dos supermercados, pelos trabalhadores da construção civil que todos os dias se levantam de madrugada para ganhar salários de miséria a fim de colocar comida nas mesas das suas famílias (sem outra opção), por favor, caros amigos atletas não nos falem em sacrifícios quando praticam uma atividade que decidiram de livre vontade desenvolver, por mais dificuldades que encontrem, porque “se um sacrifício é uma tristeza para vocês e não uma alegria então não o façam não são dignos dele.”
Sacrifício: Ação ou efeito de sacrificar (-se). Oferenda de animal, produto de colheita ou de qualquer coisa de valor, feita a uma divindade para lhe tributar homenagens ou para reconhecimento do seu poder. A pessoa ou coisa sacrificada. Renúncia ou privação voluntária por motivos morais, religiosos ou práticos. Privação financeira em benefício de alguém.
23/09/2021
Vontade política!
Há uma pergunta que me fazem, com alguma frequência, agora que terminaram os Jogos Olímpicos: o que podemos fazer para que os atletas portugueses conquistem mais medalhas?
Geralmente costumo brincar, respondendo: “queres uma resposta (opinião) curta, média ou longa? Se queres a versão longa, estamos aqui horas a falar sobre o tema”.
Claro que querem sempre a resposta curta.
Sabendo da minha ligação ao desporto, por via do jornalismo, do dirigismo, do treino, os meus amigos fora do desporto, pensam que eu possa ter uma resposta simples que os leve a entender esta nossa acentuada “decalagem” em relação aos países com que nós nos devíamos comparar, não só no plano geográfico, político, económico, cultural, demográfico mas também desportivo.
E a resposta simples (que não a é), em duas palavras, atiro-a:
“Vontade política!”
Uma resposta que poderá dizer tudo, mas que levanta, de imediato, outras questões (defeito de jornalista – fazer perguntas) levando a resposta, inevitavelmente, para a “versão longa” do problema que ninguém está interessado em atacar. Porque o caminho é complexo e exige esforço, determinação, profissionalismo, estratégia, organização, avaliação, tempo e, claro, dinheiro. Tudo fatores escassos no tecido desportivo.
Sem uma forte vontade política (e não apenas político-partidária), sem uma determinação nacional (e não apenas uma questão de mais dinheiro, nem de mais legislação), assumida por todos os envolvidos – escola, universidades, clubes, associações, federações - no processo desportivo da tão exigente alta competição não há “vontade politica” que resista.
Podemos continuar a encomendar e consultar todos os estudos (que não faltam por aí), todos os diagnósticos (área onde somos mesmo bons), ou a tentar copiar modelos estrangeiros (nórdicos ou outros), que nunca sairemos da realidade em que vivemos e que, apesar do alto potencial do nosso desporto e das quatro medalhas olímpicas em Tóquio, nos mantém num lugar bem secundário no panorama do desporto mundial.
As perguntas surgem quase como que respostas:
Os políticos, com poder de decisão na área, querem mesmo que os atletas portugueses conquistem medalhas?
Sinceramente, não me parece que estejam muito interessados. Nem sequer é um objetivo para eles. Os discursos não colam com a prática. Consultem os programas dos partidos políticos sobre o desporto em geral e da alta competição em particular. Tirem as vossas conclusões.
Todavia, sem querer ir para a “resposta longa”, quando procuramos abordar o problema com alguma profundidade, percebemos rapidamente que não é só uma questão de “vontade política”. Ele apresenta-se como uma doença que contagia toda as estruturas, todas as entidades, que nos envergonha, provocando como que um pacto de silêncio, em que todos, de forma fragmentada do cada um por si - desporto escolar, universitário, federado, militar, popular - procuram desresponsabilizar-se pelo fracasso ou colocar-se em bicos dos pés na fotografia da medalha.
É muito confrangedor ouvir dirigentes, há longos anos à frente de várias instituições desportivas, analisarem a realidade nacional sem um pingo de autocrítica, sem apontarem uma estratégia, um caminho, como se tivessem acabado de assumir responsabilidades nas suas respetivas áreas.
E as perguntas sucedem-se…
Estão mesmo as famílias interessadas em investir nas carreiras desportivas dos seus filhos, durante anos, colocando em causa o futuro, sem uma rede mínima de segurança?
No Desporto Escolar e no Desporto Universitário estão os seus responsáveis, mesmo preocupados com os atletas estudantes (ou estudantes atletas) na participação portuguesa nos Jogos Olímpicos?
Estão os nossos responsáveis militares mesmo interessados em integrar e apoiar os atletas na alta competição desportiva?
Estão os nossos autarcas mesmo interessados no desporto e nos atletas nascidos nos seus concelhos?
Estão os dirigentes dos grandes clubes (os grandes patrocinadores do desporto nacional) preocupados com os atletas que vestem as suas cores e com os resultados nos Jogos Olímpicos?
Estão as federações, com estruturas de um amadorismo primário, interessadas em assumir as suas responsabilidades num papel central do processo de preparação dos atletas e não apenas organizar um quadro competitivo e umas seleções (o que bem feito já não seria mau de todo)?
Infelizmente, tudo me leva a crer que NÃO!!!
Por tudo isso, quatro medalhas… muito bom!
25/08/2021
Geralmente costumo brincar, respondendo: “queres uma resposta (opinião) curta, média ou longa? Se queres a versão longa, estamos aqui horas a falar sobre o tema”.
Claro que querem sempre a resposta curta.
Sabendo da minha ligação ao desporto, por via do jornalismo, do dirigismo, do treino, os meus amigos fora do desporto, pensam que eu possa ter uma resposta simples que os leve a entender esta nossa acentuada “decalagem” em relação aos países com que nós nos devíamos comparar, não só no plano geográfico, político, económico, cultural, demográfico mas também desportivo.
E a resposta simples (que não a é), em duas palavras, atiro-a:
“Vontade política!”
Uma resposta que poderá dizer tudo, mas que levanta, de imediato, outras questões (defeito de jornalista – fazer perguntas) levando a resposta, inevitavelmente, para a “versão longa” do problema que ninguém está interessado em atacar. Porque o caminho é complexo e exige esforço, determinação, profissionalismo, estratégia, organização, avaliação, tempo e, claro, dinheiro. Tudo fatores escassos no tecido desportivo.
Sem uma forte vontade política (e não apenas político-partidária), sem uma determinação nacional (e não apenas uma questão de mais dinheiro, nem de mais legislação), assumida por todos os envolvidos – escola, universidades, clubes, associações, federações - no processo desportivo da tão exigente alta competição não há “vontade politica” que resista.
Podemos continuar a encomendar e consultar todos os estudos (que não faltam por aí), todos os diagnósticos (área onde somos mesmo bons), ou a tentar copiar modelos estrangeiros (nórdicos ou outros), que nunca sairemos da realidade em que vivemos e que, apesar do alto potencial do nosso desporto e das quatro medalhas olímpicas em Tóquio, nos mantém num lugar bem secundário no panorama do desporto mundial.
As perguntas surgem quase como que respostas:
Os políticos, com poder de decisão na área, querem mesmo que os atletas portugueses conquistem medalhas?
Sinceramente, não me parece que estejam muito interessados. Nem sequer é um objetivo para eles. Os discursos não colam com a prática. Consultem os programas dos partidos políticos sobre o desporto em geral e da alta competição em particular. Tirem as vossas conclusões.
Todavia, sem querer ir para a “resposta longa”, quando procuramos abordar o problema com alguma profundidade, percebemos rapidamente que não é só uma questão de “vontade política”. Ele apresenta-se como uma doença que contagia toda as estruturas, todas as entidades, que nos envergonha, provocando como que um pacto de silêncio, em que todos, de forma fragmentada do cada um por si - desporto escolar, universitário, federado, militar, popular - procuram desresponsabilizar-se pelo fracasso ou colocar-se em bicos dos pés na fotografia da medalha.
É muito confrangedor ouvir dirigentes, há longos anos à frente de várias instituições desportivas, analisarem a realidade nacional sem um pingo de autocrítica, sem apontarem uma estratégia, um caminho, como se tivessem acabado de assumir responsabilidades nas suas respetivas áreas.
E as perguntas sucedem-se…
Estão mesmo as famílias interessadas em investir nas carreiras desportivas dos seus filhos, durante anos, colocando em causa o futuro, sem uma rede mínima de segurança?
No Desporto Escolar e no Desporto Universitário estão os seus responsáveis, mesmo preocupados com os atletas estudantes (ou estudantes atletas) na participação portuguesa nos Jogos Olímpicos?
Estão os nossos responsáveis militares mesmo interessados em integrar e apoiar os atletas na alta competição desportiva?
Estão os nossos autarcas mesmo interessados no desporto e nos atletas nascidos nos seus concelhos?
Estão os dirigentes dos grandes clubes (os grandes patrocinadores do desporto nacional) preocupados com os atletas que vestem as suas cores e com os resultados nos Jogos Olímpicos?
Estão as federações, com estruturas de um amadorismo primário, interessadas em assumir as suas responsabilidades num papel central do processo de preparação dos atletas e não apenas organizar um quadro competitivo e umas seleções (o que bem feito já não seria mau de todo)?
Infelizmente, tudo me leva a crer que NÃO!!!
Por tudo isso, quatro medalhas… muito bom!
25/08/2021
"The show must go on"
Positividade tóxica, pressão e depressão
Simone Biles revelou que a renúncia à participação em Tóquio 2020 se deveu à dificuldade de execução de acrobacias e ao risco de impacto associado. Biles, tetra-campeã de ginástica artística no Rio 2016, explicou que não consegue competir porque sente “uma espécie de desconexão entre o corpo e a mente”.
"Acho que as pessoas não sabem o quão perigoso isto é numa superfície dura de competição. Honestamente é petrificante tentar uma acrobacia, mas não ter a mente e corpo em sintonia", referiu Biles, através do Instagram.
O anúncio foi feito após comentários que Biles fez no início desta semana, onde disse que sentia uma enorme pressão para ter um bom desempenho o tempo todo. “Eu realmente sinto que às vezes tenho o peso do mundo sobre os meus ombros. Eu sei que ignoro e faço parecer que a pressão não me afecta, mas às vezes é difícil”, escreveu.
A comunicação social apressou-se a titular “Desistiu em nome da saúde mental”, depois da federação de ginástica dos EUA ter admitido um "problema médico". “Apoiamos de todo o coração a decisão de Simone e aplaudimos a sua bravura em dar prioridade ao seu bem-estar. A sua coragem mostra, mais uma vez, por que é um modelo para todos nós”, escreveu a equipa no Twitter.
Alguns factos:
1. Simone Biles chegou ao Japão longe da sua melhor forma física e psicológica. Algo que assumiu antes dos Jogos de Tóquio 2020. O que pode acontecer a qualquer atleta… até aos melhores.
2. Os EUA são o país que melhores condições de preparação e competição proporcionam aos seus atletas, tanto ao nível material como humano – instalações, treinadores, apoio médico, psicológico, apoio material. Portanto, os antecedentes desta decisão da atleta eram bem conhecidos da estrutura do comité olímpico dos EUA.
3. A rede americana de televisão NBC pagou milhões pelos direitos de transmissão dos Jogos. Promovendo Simone Biles como cabeça de cartaz. A sua ausência anunciada antecipadamente seria um desastre promocional.
4. Os patrocinadores - VISA, Uber Eats, Athleta, United Airlines, Core Power Protein - que são muito rigorosos nos seus contratos, apressaram-se a apoiar publicamente a atleta e a capitalizar o que podem em termos de promoção mediática: “decisão incrivelmente corajosa.” "Desejamos-lhe tudo de bom nos próximos dias". "Demonstra a todos nós que a sua coragem e força vão muito para além do tapete".
5. O Presidente do COI também sentiu necessidade de comentar o caso, afirmando que Biles foi corajosa ao assumir os problemas. "Por um lado, admitiu os seus problemas, o que é um acto de coragem, e, por outro, esteve presente a apoiar as suas companheiras de competição", afirmou Thomas Bach, durante uma conferência de imprensa, destacando a coragem da norte-americana.
PS: "The Show Must Go On" é uma canção do álbum Innuendo, da banda de rock inglesa Queen.
The show must go on
The show must go on, yeah
Inside my heart is breaking
My make up may be flaking
But my smile
Still stays on
"Acho que as pessoas não sabem o quão perigoso isto é numa superfície dura de competição. Honestamente é petrificante tentar uma acrobacia, mas não ter a mente e corpo em sintonia", referiu Biles, através do Instagram.
O anúncio foi feito após comentários que Biles fez no início desta semana, onde disse que sentia uma enorme pressão para ter um bom desempenho o tempo todo. “Eu realmente sinto que às vezes tenho o peso do mundo sobre os meus ombros. Eu sei que ignoro e faço parecer que a pressão não me afecta, mas às vezes é difícil”, escreveu.
A comunicação social apressou-se a titular “Desistiu em nome da saúde mental”, depois da federação de ginástica dos EUA ter admitido um "problema médico". “Apoiamos de todo o coração a decisão de Simone e aplaudimos a sua bravura em dar prioridade ao seu bem-estar. A sua coragem mostra, mais uma vez, por que é um modelo para todos nós”, escreveu a equipa no Twitter.
Alguns factos:
1. Simone Biles chegou ao Japão longe da sua melhor forma física e psicológica. Algo que assumiu antes dos Jogos de Tóquio 2020. O que pode acontecer a qualquer atleta… até aos melhores.
2. Os EUA são o país que melhores condições de preparação e competição proporcionam aos seus atletas, tanto ao nível material como humano – instalações, treinadores, apoio médico, psicológico, apoio material. Portanto, os antecedentes desta decisão da atleta eram bem conhecidos da estrutura do comité olímpico dos EUA.
3. A rede americana de televisão NBC pagou milhões pelos direitos de transmissão dos Jogos. Promovendo Simone Biles como cabeça de cartaz. A sua ausência anunciada antecipadamente seria um desastre promocional.
4. Os patrocinadores - VISA, Uber Eats, Athleta, United Airlines, Core Power Protein - que são muito rigorosos nos seus contratos, apressaram-se a apoiar publicamente a atleta e a capitalizar o que podem em termos de promoção mediática: “decisão incrivelmente corajosa.” "Desejamos-lhe tudo de bom nos próximos dias". "Demonstra a todos nós que a sua coragem e força vão muito para além do tapete".
5. O Presidente do COI também sentiu necessidade de comentar o caso, afirmando que Biles foi corajosa ao assumir os problemas. "Por um lado, admitiu os seus problemas, o que é um acto de coragem, e, por outro, esteve presente a apoiar as suas companheiras de competição", afirmou Thomas Bach, durante uma conferência de imprensa, destacando a coragem da norte-americana.
PS: "The Show Must Go On" é uma canção do álbum Innuendo, da banda de rock inglesa Queen.
The show must go on
The show must go on, yeah
Inside my heart is breaking
My make up may be flaking
But my smile
Still stays on
Desporto Mitos e Arquétipos
Francisco Sobral apresentou recentemente na Faculdade de Motricidade Humana o seu último livro “Desporto mitos e arquétipos - Da idade das trevas à modernidade”.
O autor de uma vastíssima obra sobre a educação física e o desporto, neste seu livro de síntese conduz-nos por uma reflexão profunda sobre o desporto como fenómeno multidisciplinar, procurando responder à questão – qual o verdadeiro significado do desporto?
Entre as inúmeras pistas que Francisco Sobral nos deixou sobre o seu livro – que voltaremos a abordar após leitura mais atenta – destacamos na sua apresentação as seguintes afirmações:
- “o desporto moderno, à escala planetária, começa com o movimento olímpico.”
- “o desporto é empático, ritualista, mágico, como o teatro.”
- “o desporto alimenta-se de mitos e cria outros mitos.”
- “o atleta vive o desporto, fixa objetivos, mas não tem voz. Não deixa testemunho das suas realizações.”
Esta sua última afirmação foi a que nos deixou mais perplexos pela sua intemporalidade, pela sua atualidade.
PS: há dois dias, 5 de julho, decorreu a cerimónia de apresentação de cumprimentos da missão portuguesa aos Jogos Olímpicos Tóquio2020, em Lisboa. Discursou o presidente da Republica, Marcelo Rebelo de Sousa, O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues e o presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino.
07/06/2021
O autor de uma vastíssima obra sobre a educação física e o desporto, neste seu livro de síntese conduz-nos por uma reflexão profunda sobre o desporto como fenómeno multidisciplinar, procurando responder à questão – qual o verdadeiro significado do desporto?
Entre as inúmeras pistas que Francisco Sobral nos deixou sobre o seu livro – que voltaremos a abordar após leitura mais atenta – destacamos na sua apresentação as seguintes afirmações:
- “o desporto moderno, à escala planetária, começa com o movimento olímpico.”
- “o desporto é empático, ritualista, mágico, como o teatro.”
- “o desporto alimenta-se de mitos e cria outros mitos.”
- “o atleta vive o desporto, fixa objetivos, mas não tem voz. Não deixa testemunho das suas realizações.”
Esta sua última afirmação foi a que nos deixou mais perplexos pela sua intemporalidade, pela sua atualidade.
PS: há dois dias, 5 de julho, decorreu a cerimónia de apresentação de cumprimentos da missão portuguesa aos Jogos Olímpicos Tóquio2020, em Lisboa. Discursou o presidente da Republica, Marcelo Rebelo de Sousa, O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues e o presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino.
07/06/2021
Francisco Lázaro – “como ganhei a maratona”
Francisco Lázaro: “nunca vi fugirem-me os primeiros prémios.” As suas primeiras corridas foram realizadas no ano de 1907 [teria então 19 anos], como o próprio recorda, em pequeno depoimento, após a sua vitória na maratona de 1910 para a primeira edição d’Os Sports Ilustrados, de 11 de junho de 1910: “Há três anos que corro a pé. Tive sempre especial predileção pelo pedestrianismo, e sempre que se me oferecia ensejo de avaliar a minha forma e recursos, aproveitava, inscrevendo-me nas corridas que me pareciam mais difíceis. Os resultados animavam-me, porque nunca vi fugirem-me os primeiros prémios, e assim, de corrida para corrida, aumentava o meu entusiasmo.” (...) Foto: partida da comitiva portuguesa para Estocolmo na Praça do Comércio em Lisboa: António Stromp, Armando Luzarte-Cortesão e Francisco Lázaro no Atletismo, Fernando Correia na Esgrima e António Pereira e Joaquim Victal na Luta Greco-Romana. |
Partilhamos aqui uma pequena parte do artigo publicado na edição da revista INSIDE do verão de 2019.
https://www.tuningyourrunning.com/category/inside Francisco Lázaro foi o primeiro grande fundista português. A sua trágica morte no decorrer dos Jogos Olímpicos de Estocolmo 1912 perdura no imaginário nacional como um dos mitos mais traumáticos do desporto português. Muito já foi escrito sobre as causas da primeira morte em Jogos olímpicos da era moderna. Insolação, estricnina, colapso cardíaco, meningite e, até, problemas intestinais são algumas das razões apontadas que levaram o atleta a colapsar durante a prova e a desfalecer perto dos 30 km, acabando por morrer na madrugada do dia seguinte. Após a leitura atenta sobre o que se escreveu sobre o malogrado campeão português, não iremos aqui refletir sobre as causas profundas da morte do maratonista. Para nós, Francisco Lázaro foi, em última instância, vítima da sua própria cultura e da prática desportiva em Portugal do início do século. A tese oficialmente aceite sobre a sua humilde experiência desportiva; a sua ousadia em sonhar com o ouro olímpico; a pressão social que sobre os seus ombros foi colada pela comunicação social e pelo país; a sua ignorância, que alegadamente o levou a colocar uma substância gordurosa sobre a pele antes de partir para a maratona, continuam a ser justificações apresentadas ainda hoje e que na época acolheu a todos os que se envolveram nessa aventura que foi a primeira participação lusa em Jogos Olímpicos. Todavia, ao apresentarem estes argumentos os companheiros de comitiva, dirigentes, políticos e jornalistas limitaram-se a responsabilizar o atleta pela sua morte, ficando assim de consciência tranquila. Estratégia ainda hoje utilizada quando os resultados dos atletas ficam aquém das expectativas. A responsabilidade é do atleta e do seu treinador. Nunca da realidade politica, social, desportiva que o envolve e condiciona. Quando estão passados 107 anos da sua morte (15 de julho de 1912), o que procuramos partilhar com os leitores da INSIDE não são novas teses sobre a sua morte ou razões que a justifiquem, mas procurar dar a conhecer quem foi o atleta Francisco Lázaro no Portugal do inicio do século XX: em que circunstâncias decidiu iniciar a sua carreira desportiva e a vencer as três primeiras maratonas realizadas em território nacional, na altura com a distância de 42,800 metros (1910, 1911 e 1912); as suas motivações profundas para a corrida; como vivia e se preparava Francisco Lázaro para as provas em que participava. Essa busca obrigou-nos a percorrer as fontes primárias, os jornais da época e as declarações daqueles que com ele partilharam os momentos de gloria e de tragédia. No fundo, procurar entender a cultura desportiva da época e das corridas populares em particular. (...) Francisco Lázaro: “fui para a maratona cheio de esperança e alinhei-me, com o propósito firme de procurar fazer uma corrida boa e bem conduzida.” Será Francisco Lázaro, em discurso direto para a revista os Sports Ilustrados, a fazer a análise da forma como lhe correu os 42.800 metros em 1910. A forma como se expressa foi já considerada demasiado elaborada para um jovem carpinteiro. Ainda assim, esta sua análise da maratona é bem revelador da experiência do jovem de 22 anos tinha já nas corridas de longa distância: “Chegou a maratona de 1910, e eu sentia-me apto e cheio de vontade para correr. Treinei-me com afinco. Todos as noites durante mês e meio, fiz percursos que comecei com 5 quilómetros e terminei com 15. O meu melhor treino, porém, no sentido de me dar a medida exata das minhas forças, foi a corrida eliminatória promovida pelo Velo-Club, para apurar a sua equipa. Foram 33 quilómetros que percorri à vontade, chegando em primeiro lugar. Esta prova deu-me novo alento e confiança em mim próprio.” Sem treinador, nem metodologia de treino, com um baixo volume de quilómetros, como nós o entendemos hoje, o jovem atletas, revela ainda assim um conhecimento de si e da distância que contrariam em muito as versões sobre a sua perspetiva das corridas longas. Mais à frente, continuando a sua análise da vitória nos 42.800 metros de 1910, confidência: “Fui para a maratona cheio de esperança e alinhei-me, com o propósito firme de procurar fazer uma corrida boa e bem conduzida.” Uma ideia perfeitamente atual, sobre a abordagem tática à maratona: “uma corrida bem conduzida.” Então acrescenta o que é para si uma corrida bem conduzida: “Ao principio deixei-me ficar na retaguarda dos corredores. Duas vantagens eu via nisso: não me fatigar inutilmente logo no inicio do percurso, e ter ensejo de apreciar a corrida de todos os meus competidores.” Um acto de inteligência determinante numa corrida de maratona, controlado o rito e os adversários, para quem não tem relógios, nem cronómetros, nem indicadores quilométricos, para controlar tempo de passagem como os atletas de hoje dispõem, mas que muitas vezes não os utilizam pagando um preço demasiado elevado. “No entanto, não deixei aumentar a distância que os outros concorrentes alcançaram sobre mim, nem tão pouco quis diminui-la. Limitei-me a conserva-la, mantendo passo idêntico ao dos mais avançados do pelotão, confiando em que o esforço inicial por eles produzido, breve faria sentir os seus efeitos, fatigando-os e facultando-me então a vantagem de, alargando metodicamente o meu passo, ganhar terreno, sem fadiga e sem pressa. E assim aconteceu”, acrescenta Lázaro, naquela que é a sua única entrevista conhecida, onde desenvolve a sua ideia sobre a maratona. “Um quilómetro depois da partida era eu já dos primeiros. Corria ao lado dos meus ‘equipiers’ senhores Mathias de Carvalho e Armando Cruz. As primeiras três quartas partes da corrida foram assim percorridas. A vitória do meu clube parecia-me certa. Restava-me alcançar para mim a primeira classificação. Até essa altura, tinha apenas diligenciado acompanhar os meus companheiros, sem procurar passa-los, mas dai em diante comecei a apertar o passo. Pouco a pouco me fui distanciando, até conseguir separar-me deles por muitas centenas de metros. À chegada a Loures senti que as pernas me eram tomadas por caibras, mas não desanimei. A distância enorme que já me separava dos primeiros corredores dava-me garantia de que poderia fazer mesmo a passo resto do percurso, sem ser alcançado por eles. Fiz o indispensável tratamento, tomei novo alento e continuei a corrida, agora mais devagar. A Calçada de Carriche subia-a descansadamente a passo. É claro que perdia terreno, mas não me incomodava por isso. Tinha a corrida ganha, podia termina-la sem esforço, e assim fiz. Ao cimo da Calçada de Carriche, acelerei então um pouco, e minutos depois chegava ao termo da prova, com uns 15 minutos de avanço sobre o segundo classificado. E eis o que são as minhas impressões sobre a Maratona de 1910. Alarguei-me talvez um pouco em falar das provas antigas, mas eu achava preciso explicar como me fui preparando para corridas de responsabilidade como a da Maratona.” 24/06/2021 |
As seleções de futebol e o desporto
O Futebol em Portugal representa um modelo de sucesso único no nosso país. Um sucesso que nos coloca, como em poucos outros sectores, a par das potências europeias ao nível de seleções.
Portugal é campeão europeu em seniores num torneio que hoje arranca. Mas nos escalões jovens tem mostrado um elevado nível competitivo.
No domingo, 6 de junho, a equipa nacional sub-21 disputou a final do Europeu, perdendo frente à Alemanha (0-1) naquela que foi a terceira presença de Portugal numa final deste escalão. Apesar de não conseguir vencer um troféu europeu sub-21 - perdeu em 1994 com a Itália (0-1) e em 2015 frente à Suécia (nas grandes penalidades, após 0-0), a presença em finais permite confirmar a vitalidade do futebol português ao nível de seleções, num país que é campeão da Europa em seniores e conquistou títulos internacionais e continentais nos sub-20, sub-19 e sub-17.
Sem querer 'meter foice em seara alheia', este sucesso leva-nos a questionar: estes resultados permitem-nos ou não realizar um paralelismo ou comparação com outras modalidades? ou: se o futebol consegue bons resultados, porque é que outras modalidades colectivas (e individuais) não conseguem? e, já agora, que significado representam estes resultados para o desporto português?
Quanto à primeira questão, lembro sempre aquela rábula do presidente Marcelo: "é proibido mas pode-se fazer".
Não é novidade para ninguém que o futebol português (seleções) é uma das áreas de maior sucesso em Portugal, uma realidade que vai muito para além do plano desportivo, das "quatro linhas", como dizem os entendidos. O elevado nível competitivo dos seus praticantes; os bons resultados das seleções (apesar de falhar o apuramento olímpico em Tóquio); a formação de jovens jogadores (dos 23 jogadores de 2015, 13 estão na seleção principal); as presenças em fases finais; o considerável número de jogadores em equipas das primeiras ligas estrangeiras; a qualidade dos treinadores portugueses em Portugal e no estrangeiro; podem levar-nos a constatar que não há paralelo com outras modalidades desportivas ou mesmo em outros sectores de atividade. E isso não deve ser escamoteado. O Futebol em Portugal prova todos os dias que é possível competir com os melhores do mundo.
Mas então porque pensamos que não podemos/devemos comparar com outras modalidades? Porque num país com o nível de desenvolvimento como Portugal, nenhuma atividade dispõe de forma obscena de tantos meios económicos, materiais e humanos como o Futebol. Veja-se a recente candidatura ibérica à organização do Mundial de 2030, realizada num unanimismo, sem qualquer escrutínio e debate público ou desportivo, ignorando o que foi o impacto económico negativo com a organização do Europeu 2004; O Futebol vive num verdadeiro regime de exceção tanto no plano político, económico como social, bem patente no estatuto que a Federação e os grandes clubes têm em Portugal; na "cultura clubística" dos portugueses, em vez de desportiva; na ditadura do Futebol na comunicação social; na subserviência do poder político ao futebol - recorde-se o que foi a final da Liga dos Campeões no Porto ou a fase final da mesma competição em Lisboa.
Num país que apresenta os mais baixos índices de prática desportiva e de atividade física da Europa, o Futebol é de longe a modalidade que apresenta mais praticantes, mais clubes, criando uma base de recrutamento que permite a captação de jovens jogadores como em nenhuma outra modalidade; O Futebol dispõe de uma rede de infraestruturas a nível nacional como não existe em mais nenhuma modalidade; O Futebol movimenta valores económicos que o coloca num nível do espectáculo que nenhuma outra modalidade pode ambicionar; O Futebol apresenta um nível de profissionalismo - jogadores, treinadores, dirigentes - que não tem paralelo em outras actividades.
Por tudo isso, entendemos que os bons resultados das seleções de Futebol justificam plenamente os elevados investimentos que realiza. Sem querer diabolizar o Futebol - como fazem, por vezes, alguns presidentes federativos para justificar a sua incompetência -, estes excelentes resultados das seleções não representam nada, mas mesmo nada, para o modelo de desenvolvimento do desporto português (se é que existe). Porque o Futebol, como hoje o vivemos, há muito abandonou a dimensão desportiva.
08/06/2021, atualizado a 11/06/2021
foto - seleção de futebol nos Jogos de Amesterdão 1928
Portugal é campeão europeu em seniores num torneio que hoje arranca. Mas nos escalões jovens tem mostrado um elevado nível competitivo.
No domingo, 6 de junho, a equipa nacional sub-21 disputou a final do Europeu, perdendo frente à Alemanha (0-1) naquela que foi a terceira presença de Portugal numa final deste escalão. Apesar de não conseguir vencer um troféu europeu sub-21 - perdeu em 1994 com a Itália (0-1) e em 2015 frente à Suécia (nas grandes penalidades, após 0-0), a presença em finais permite confirmar a vitalidade do futebol português ao nível de seleções, num país que é campeão da Europa em seniores e conquistou títulos internacionais e continentais nos sub-20, sub-19 e sub-17.
Sem querer 'meter foice em seara alheia', este sucesso leva-nos a questionar: estes resultados permitem-nos ou não realizar um paralelismo ou comparação com outras modalidades? ou: se o futebol consegue bons resultados, porque é que outras modalidades colectivas (e individuais) não conseguem? e, já agora, que significado representam estes resultados para o desporto português?
Quanto à primeira questão, lembro sempre aquela rábula do presidente Marcelo: "é proibido mas pode-se fazer".
Não é novidade para ninguém que o futebol português (seleções) é uma das áreas de maior sucesso em Portugal, uma realidade que vai muito para além do plano desportivo, das "quatro linhas", como dizem os entendidos. O elevado nível competitivo dos seus praticantes; os bons resultados das seleções (apesar de falhar o apuramento olímpico em Tóquio); a formação de jovens jogadores (dos 23 jogadores de 2015, 13 estão na seleção principal); as presenças em fases finais; o considerável número de jogadores em equipas das primeiras ligas estrangeiras; a qualidade dos treinadores portugueses em Portugal e no estrangeiro; podem levar-nos a constatar que não há paralelo com outras modalidades desportivas ou mesmo em outros sectores de atividade. E isso não deve ser escamoteado. O Futebol em Portugal prova todos os dias que é possível competir com os melhores do mundo.
Mas então porque pensamos que não podemos/devemos comparar com outras modalidades? Porque num país com o nível de desenvolvimento como Portugal, nenhuma atividade dispõe de forma obscena de tantos meios económicos, materiais e humanos como o Futebol. Veja-se a recente candidatura ibérica à organização do Mundial de 2030, realizada num unanimismo, sem qualquer escrutínio e debate público ou desportivo, ignorando o que foi o impacto económico negativo com a organização do Europeu 2004; O Futebol vive num verdadeiro regime de exceção tanto no plano político, económico como social, bem patente no estatuto que a Federação e os grandes clubes têm em Portugal; na "cultura clubística" dos portugueses, em vez de desportiva; na ditadura do Futebol na comunicação social; na subserviência do poder político ao futebol - recorde-se o que foi a final da Liga dos Campeões no Porto ou a fase final da mesma competição em Lisboa.
Num país que apresenta os mais baixos índices de prática desportiva e de atividade física da Europa, o Futebol é de longe a modalidade que apresenta mais praticantes, mais clubes, criando uma base de recrutamento que permite a captação de jovens jogadores como em nenhuma outra modalidade; O Futebol dispõe de uma rede de infraestruturas a nível nacional como não existe em mais nenhuma modalidade; O Futebol movimenta valores económicos que o coloca num nível do espectáculo que nenhuma outra modalidade pode ambicionar; O Futebol apresenta um nível de profissionalismo - jogadores, treinadores, dirigentes - que não tem paralelo em outras actividades.
Por tudo isso, entendemos que os bons resultados das seleções de Futebol justificam plenamente os elevados investimentos que realiza. Sem querer diabolizar o Futebol - como fazem, por vezes, alguns presidentes federativos para justificar a sua incompetência -, estes excelentes resultados das seleções não representam nada, mas mesmo nada, para o modelo de desenvolvimento do desporto português (se é que existe). Porque o Futebol, como hoje o vivemos, há muito abandonou a dimensão desportiva.
08/06/2021, atualizado a 11/06/2021
foto - seleção de futebol nos Jogos de Amesterdão 1928
O respeito pelos atletas do presente e... do passado
Melhores marcas ano a ano |
Arons de Carvalho escreveu recentemente na Revista Atletismo sobre os Jogos Olímpicos de Tóquio: «Para já, uma certeza: apesar do mínimo [maratona] ter sido bem acessível (2 h 11m 30s) em comparação com a generalidade das provas (só na marcha são igualmente acessíveis), Portugal não terá ninguém na maratona masculina, o que acontece pela primeira vez nos últimos 50 anos (desde 1968)!»
Esta afirmação, daquele que para mim é um jornalista de referência, conhecedor profundo do Atletismo (ver site “ATLETISMO ESTATISTICA”), suscitou algumas reações criticas mais ou menos indignadas sobre a realidade do sector do atletismo (fundo) e da maratona masculina em particular. Não deixa de ser interessante as reações a esta afirmação, bem elucidativas de que continuamos em “negação”, “desvalorização” e “desresponsabilização” sobre os fracos resultados de um sector do atletismo que mais medalhas deu ao desporto português. Mais dramático com o passar dos anos, quando muitos dos países europeus já iniciaram processos de recuperação do sector. Por mais discutíveis que sejam as posições de Arons de Carvalho – ao longo da sua carreira foi sempre acusado de ser muito critico mesmo quando Portugal apresentava campeões olímpicos e mundiais – deveríamos contesta-las ou defende-las de forma objetiva, contribuído, assim, para melhorarmos aquela que é a modalidade da nossa eleição e não procurarmos justificações que melhor se ajeitam às nossas posições do momento. O Atletismo sempre se distinguiu das outras modalidades pela forma exigente como atletas e treinadores assumiram os seus objetivos – isso foi um dos nossos “segredos” para o sucesso. Hoje temos tendência para justificar o injustificável para nos desculparmos e atribuirmos as culpas aos outros ou a algo do qual não fazemos parte. Mas voltemos à maratona olímpica, e à ausência de atletas portugueses masculinos em Tóquio, após 50 anos de participações consecutivas na maratona olímpica. Para os Jogos de Tóquio, que se realizam de 23 de julho a 8 de agosto, garantem vaga os 10 primeiros nos Mundiais do Doha2019 (o 10.º terminou com 2.12.15), bem como os 10 melhores nas principais maratonas, de Tóquio, Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova Iorque (o 10.º terminou a 2.12.07), respetivamente. O top-5 nas maratonas com selo ouro também engrossam o grupo, tal como o vencedor das provas deste nível a realizar de 1 de dezembro a 31 de maio de 2021. Assegurado ainda um lugar para os 10 primeiros do selo platina. Pela primeira vez, o COI criou uma cota de 80 atletas em cada maratona (masculina e feminina) - com cerca de metade das vagas preenchidas por atletas que alcançaram os novos e mais rígidos padrões de tempo. Os atletas mais bem classificados do ranking mundial receberão as vagas restantes. O prazo para a maratona vai até 31 de maio de 2021. Em bom rigor, quanto à marca de 2.11.30 horas, recordamos que antes da pandemia, em 2019, a nível mundial, 368 atletas baixaram desse registo (23 europeus), em 2020, 240 fundistas (24 europeus) melhoraram essa marca, e em 2021, foram 146. Provavelmente, foi baseado nestes dados que Arons de Carvalho considerou um mínimo “bem acessível”. Em Portugal 15 atletas correram os 42.195 metros 35 vezes abaixo das 2.11.30 horas. É impressionante a quantidade de atletas olímpicos de bom nível que ficam fora desta marca. Desde 2006, com Luís Jesus (2.08.55), os fundistas portugueses não voltaram a melhorar este registo de 2.11.30. Passaram já 15 anos. Em 2021 Hermano Ferreira lidera o ranking nacional com 2.13.57, atleta que tem como melhor 2.13,28 em 2010. Temos escrito, que os atletas acabam por ser os menos culpados pelos fracos resultados no sector de meio fundo em Portugal. O modelo que levou aos grandes resultados internacionais dos portugueses ruiu e em sua substituição nada foi ou a está a ser construído. Não acreditamos que tenha existido uma mudança genética nos portugueses que justifique a ausência de bons resultado no fundo, nem entendemos que seja por falta de espirito de sacrifício, ou outras questões sociais. Por isso sempre defendemos que para respeitarmos os atletas e treinadores do presente, temos que respeitar também os atletas e treinadores do passado. E não é a isso que temos assistido. Carlos Lopes: «Claro que há hoje jovens com qualidade para atingir resultados de bom nível no atletismo. Saibam eles, e os seus treinadores, desenvolver um treino de qualidade com tempo e paciência.» 22/05/2021 Foto - Renato Graça e Armando Aldegalega - Campeonato de Lisboa de Fundo, Estádio Nacional 1977. ::::: |
Jogos Olímpicos em risco? nós desenrascamos...
Em tempo de pandemia, Portugal transformou-se num paraíso para um grande número de importantes competições desportivas internacionais. Para além do bom clima, das infraestruturas desportivas de qualidade, da alimentação deliciosa, da simpatia lusa, somos bons a desenrascar e a realizar eventos sobre pressão. Somos muito bons a fazer um ‘jeitinho’. Somos excelentes a fazer aquilo que os outros não querem ou não podem fazer.
Em ano olímpico, nos últimos dois meses, mais de uma quinzena de grandes eventos internacionais realiza-se em Portugal em período de desconfinamento. Por isso, diz-me uma amiga com alguma ironia: “perante tantas dificuldades, os japoneses podem sempre, até à última hora, desistir de organizar os Jogos Olímpicos. Basta o Comité Olímpico Internacional dar-nos meio ano, que nós cá estamos para desenrascar a coisa”.
É assim com a Formula 1, MotoGP, final da Liga dos Campeões e será assim com um número inesperado de provas de qualificação para os Jogos Olímpicos.
No passado recente, Portugal perdeu por culpa própria, mas também para a concorrência endinheirada, um grande numero de organização de eventos.
Os Grandes Prémios de Fórmula 1 e MotoGP não se realizavam em Portugal desde 1996 e 2012, respetivamente, depois do Autódromo do Estoril ter perdido a organização para outras paragens, mais apetecíveis economicamente. Numa primeira fase, disputaram-se no Circuito da Boavista (Porto), em 1958 e 1960, com a prova de 1959 a realizar-se no Circuito do Monsanto. Durante 13 edições (de 1984 até 1996), o Estoril abrigou o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1.
No seu ano no Estoril, em 1984, o austríaco Niki Lauda conquistou o tricampeonato. Em 1985, o brasileiro Ayrton Senna obteve a primeira pole e vitória na categoria, e em 1993 o francês Alain Prost conquistou o tetracampeonato. Na despedida, em 1996, o canadiano Jacques Villeneuve (Williams-Renault) encerrou com vitória o circuito do Estoril para a Fórmula 1.
A construção do circuito de Portimão ficou concluída em outubro de 2008 e homologado pela F.I.M a 11 de outubro de 2008 e pela FIA dois dias depois. Mas a Fórmula 1 regressou a Portugal “apenas” com o confinamento em outubro de 2020, ao Autódromo Internacional do Algarve, após 24 anos de ausência do Mundial, na sequência da reorganização dos calendários devido à pandemia de COVID-19.
Quanto a motos, o circuito deixou de estar presente no calendário da MotoGP após o ano de 2012 quando o o australiano Casey Stoner venceu ao comando de uma Honda. A pista no sul de Portugal estava como reserva desde 2017 e com entrada agendada no calendário para 2022, entrada essa antecipada após os cancelamentos motivados pela pandemia do Covid 19.
Quanto a futebol, temos de recuar a 1966/67 para assistir à vitória do Celtic frente ao Inter (2-1) na final da Liga dos Campeões no Estádio Nacional. Depois o estádio da Luz recebeu a final em 2013/14. Com a pandemia, a final da Liga dos campeões, regressou ao Estádio da Luz e em 2021. Agora, será realizada no Estádio do Dragão, após o anúncio do governo britânico de colocar a Turquia na 'lista vermelha' devido aos casos de Covid-19. A escolha de Portugal também terá sido feita por aquilo que sucedeu há um ano, quando Lisboa surgiu como salvadora para a disputa das partidas decisivas.
Foto de Pedro Mónica: GP de Portugal 1986 - o vencedor Ayrton Senna Lotus-Renault
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Em ano olímpico, nos últimos dois meses, mais de uma quinzena de grandes eventos internacionais realiza-se em Portugal em período de desconfinamento. Por isso, diz-me uma amiga com alguma ironia: “perante tantas dificuldades, os japoneses podem sempre, até à última hora, desistir de organizar os Jogos Olímpicos. Basta o Comité Olímpico Internacional dar-nos meio ano, que nós cá estamos para desenrascar a coisa”.
É assim com a Formula 1, MotoGP, final da Liga dos Campeões e será assim com um número inesperado de provas de qualificação para os Jogos Olímpicos.
No passado recente, Portugal perdeu por culpa própria, mas também para a concorrência endinheirada, um grande numero de organização de eventos.
Os Grandes Prémios de Fórmula 1 e MotoGP não se realizavam em Portugal desde 1996 e 2012, respetivamente, depois do Autódromo do Estoril ter perdido a organização para outras paragens, mais apetecíveis economicamente. Numa primeira fase, disputaram-se no Circuito da Boavista (Porto), em 1958 e 1960, com a prova de 1959 a realizar-se no Circuito do Monsanto. Durante 13 edições (de 1984 até 1996), o Estoril abrigou o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1.
No seu ano no Estoril, em 1984, o austríaco Niki Lauda conquistou o tricampeonato. Em 1985, o brasileiro Ayrton Senna obteve a primeira pole e vitória na categoria, e em 1993 o francês Alain Prost conquistou o tetracampeonato. Na despedida, em 1996, o canadiano Jacques Villeneuve (Williams-Renault) encerrou com vitória o circuito do Estoril para a Fórmula 1.
A construção do circuito de Portimão ficou concluída em outubro de 2008 e homologado pela F.I.M a 11 de outubro de 2008 e pela FIA dois dias depois. Mas a Fórmula 1 regressou a Portugal “apenas” com o confinamento em outubro de 2020, ao Autódromo Internacional do Algarve, após 24 anos de ausência do Mundial, na sequência da reorganização dos calendários devido à pandemia de COVID-19.
Quanto a motos, o circuito deixou de estar presente no calendário da MotoGP após o ano de 2012 quando o o australiano Casey Stoner venceu ao comando de uma Honda. A pista no sul de Portugal estava como reserva desde 2017 e com entrada agendada no calendário para 2022, entrada essa antecipada após os cancelamentos motivados pela pandemia do Covid 19.
Quanto a futebol, temos de recuar a 1966/67 para assistir à vitória do Celtic frente ao Inter (2-1) na final da Liga dos Campeões no Estádio Nacional. Depois o estádio da Luz recebeu a final em 2013/14. Com a pandemia, a final da Liga dos campeões, regressou ao Estádio da Luz e em 2021. Agora, será realizada no Estádio do Dragão, após o anúncio do governo britânico de colocar a Turquia na 'lista vermelha' devido aos casos de Covid-19. A escolha de Portugal também terá sido feita por aquilo que sucedeu há um ano, quando Lisboa surgiu como salvadora para a disputa das partidas decisivas.
Foto de Pedro Mónica: GP de Portugal 1986 - o vencedor Ayrton Senna Lotus-Renault
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Processo identitário
O atleta representa o seu clube, a sua aldeia, a sua federação, o comité olímpico, o seu país, mas também a sua família, os seus amigos, a sua escola, o seu treinador, o seu empresário, o seu patrocinador. O atleta representa-se, antes de tudo, a si próprio.
Nós, cidadãos, queremos que o atleta nos represente, independentemente da sua cor de pele, da religião ou do local onde nasceu. Desenvolvemos uma relação identitária com esse campeão que decorre dos seus feitos desportivos, mas também da linguagem, dos seus gostos, da sua personalidade.
Os ídolos dos tempos modernos continuam a projetar a sua energia e nós sofremos e vibramos com os seus recordes, as suas vitórias, as medalhas, como se nos pertencessem.
A necessidade identitária é tão forte com os atletas como com artistas, políticos, mas também com clubes, aldeias, países. Por isso, se torna tão frustrante quando esse 'intercâmbio' identitário não funciona na nossa mente.
O processo de naturalização de atletas, mas também de músicos, cientistas etc, de forma rápida, previsto por lei em poucos meses - por "ter prestado ou ser chamado a prestar serviços relevantes ao Estado Português ou à comunidade nacional" -, muitas vezes não permite realizar a tempo, no imaginário do cidadão comum, esses "transfers" identitários, assentes na unidade, constância e reconhecimento.
Muitos argumentam na necessidade de uma projeção que passe pela formação, integração, e crescimento desses atletas na esfera que consideram mínima para que essa identificação se realize como um processo de construção da identidade como um fenómeno social, cultural e fundamentalmente nacional. A nossa relação comos outros atua na dimensão coletiva das identidades pessoal e social. Por isso a imprescindibilidade da socialização com os outros para, assim, nos construirmos e construirmos os outros.
A aceleração dos processos globais leva a que as identidades se tornam desvinculadas de tempo, lugar, história e tradições de um país. Num mundo instável as identidades também são instáveis. Num mundo em que o tempo de longa duração perdeu importância, as identidades podem ser adotadas ou descartadas.
Um construtor de identidades, como diria o antropólogo Claude Lévi-Strauss, «é como um "bricoleur" que constrói todo o tipo de coisas com o material que tem à mão».
Em 1994 a cidade de Berlim apresentava um cartaz nas suas ruas que colocava em causa a estrutura identitária como nós a herdamos do passado, hoje fragmentada pelo processo de globalização – «O seu Cristo é judeu. O seu carro é japonês. A sua pizza é italiana. A sua democracia é grega. A sua cerveja é alemã. O seu café é brasileiro. Os seus algarismos árabes. As suas letras latinas. Só o seu vizinho é estrangeiro.»
Na antiga Grécia, com a vitória olímpica, o atleta colhia prestígio para si próprio e, através da sua pessoa, para a família a que estava ligado e para a cidade a que pertencia. Todos participavam do êxito obtido: a família, pelo que transmite de dons naturais; mas como é de um estado que depende a sobrevivência e projeção das famílias, a cidade está presente no contributo elementar que também ela dá para a formação e para o enobrecimento do indivíduo. Por isso, a comunidade social se empenha, por todas as vias, em manifestar ao herói o seu reconhecimento. Distinções materiais, por vezes preciosas, podem contribuir para o bem-estar imediato e concreto do vencedor; mas mais do que o provento material, são os sinais honoríficos os que se multiplicam e brilham com fulgor particular.
Nélson Évora: "É importante mudar a mentalidade, fazer os atletas acreditarem que, com trabalho, podem chegar longe. Não passa por comprar atletas, naturalizar atletas... Isso é ridículo!"
Processo (do latim procedere) é um termo que indica a ação de avançar, ir para frente (pro+cedere) e é um conjunto sequencial e particular de ações com objetivo comum. Pode ter os mais variados propósitos: criar, inventar, projetar, transformar, produzir, controlar, manter e usar produtos ou sistemas.
Identidade, para a sociologia, é o compartilhar de várias ideias e ideais de um determinado grupo. Alguns autores, como Karl Mannheim, elaboram um conceito em que o indivíduo forma a sua personalidade, mas também a recebe do meio onde realiza sua interação social.
Foto: Provided CHO Parisienne de Photographie. Biard, runner, on August 24, 1913.
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Nós, cidadãos, queremos que o atleta nos represente, independentemente da sua cor de pele, da religião ou do local onde nasceu. Desenvolvemos uma relação identitária com esse campeão que decorre dos seus feitos desportivos, mas também da linguagem, dos seus gostos, da sua personalidade.
Os ídolos dos tempos modernos continuam a projetar a sua energia e nós sofremos e vibramos com os seus recordes, as suas vitórias, as medalhas, como se nos pertencessem.
A necessidade identitária é tão forte com os atletas como com artistas, políticos, mas também com clubes, aldeias, países. Por isso, se torna tão frustrante quando esse 'intercâmbio' identitário não funciona na nossa mente.
O processo de naturalização de atletas, mas também de músicos, cientistas etc, de forma rápida, previsto por lei em poucos meses - por "ter prestado ou ser chamado a prestar serviços relevantes ao Estado Português ou à comunidade nacional" -, muitas vezes não permite realizar a tempo, no imaginário do cidadão comum, esses "transfers" identitários, assentes na unidade, constância e reconhecimento.
Muitos argumentam na necessidade de uma projeção que passe pela formação, integração, e crescimento desses atletas na esfera que consideram mínima para que essa identificação se realize como um processo de construção da identidade como um fenómeno social, cultural e fundamentalmente nacional. A nossa relação comos outros atua na dimensão coletiva das identidades pessoal e social. Por isso a imprescindibilidade da socialização com os outros para, assim, nos construirmos e construirmos os outros.
A aceleração dos processos globais leva a que as identidades se tornam desvinculadas de tempo, lugar, história e tradições de um país. Num mundo instável as identidades também são instáveis. Num mundo em que o tempo de longa duração perdeu importância, as identidades podem ser adotadas ou descartadas.
Um construtor de identidades, como diria o antropólogo Claude Lévi-Strauss, «é como um "bricoleur" que constrói todo o tipo de coisas com o material que tem à mão».
Em 1994 a cidade de Berlim apresentava um cartaz nas suas ruas que colocava em causa a estrutura identitária como nós a herdamos do passado, hoje fragmentada pelo processo de globalização – «O seu Cristo é judeu. O seu carro é japonês. A sua pizza é italiana. A sua democracia é grega. A sua cerveja é alemã. O seu café é brasileiro. Os seus algarismos árabes. As suas letras latinas. Só o seu vizinho é estrangeiro.»
Na antiga Grécia, com a vitória olímpica, o atleta colhia prestígio para si próprio e, através da sua pessoa, para a família a que estava ligado e para a cidade a que pertencia. Todos participavam do êxito obtido: a família, pelo que transmite de dons naturais; mas como é de um estado que depende a sobrevivência e projeção das famílias, a cidade está presente no contributo elementar que também ela dá para a formação e para o enobrecimento do indivíduo. Por isso, a comunidade social se empenha, por todas as vias, em manifestar ao herói o seu reconhecimento. Distinções materiais, por vezes preciosas, podem contribuir para o bem-estar imediato e concreto do vencedor; mas mais do que o provento material, são os sinais honoríficos os que se multiplicam e brilham com fulgor particular.
Nélson Évora: "É importante mudar a mentalidade, fazer os atletas acreditarem que, com trabalho, podem chegar longe. Não passa por comprar atletas, naturalizar atletas... Isso é ridículo!"
Processo (do latim procedere) é um termo que indica a ação de avançar, ir para frente (pro+cedere) e é um conjunto sequencial e particular de ações com objetivo comum. Pode ter os mais variados propósitos: criar, inventar, projetar, transformar, produzir, controlar, manter e usar produtos ou sistemas.
Identidade, para a sociologia, é o compartilhar de várias ideias e ideais de um determinado grupo. Alguns autores, como Karl Mannheim, elaboram um conceito em que o indivíduo forma a sua personalidade, mas também a recebe do meio onde realiza sua interação social.
Foto: Provided CHO Parisienne de Photographie. Biard, runner, on August 24, 1913.
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Desporto produto
"A vitória" no desporto de alta competição é uma criação, uma performance, que supera muito a materialidade física. O resultado final, seja ele no atletismo, na ginástica, na natação ou no futebol, ultrapassa a dimensão do produto.
Sem querer utilizar o significado sagrado que os antigos gregos atribuíam aos Jogos Olímpicos, hoje, qualquer que seja a sua motivação, toda a performance desportiva está transformada em produto. Qualquer que seja o seu nível, é atribuído um valor, um preço: quanto custa uma medalha?, quanto vale uma taça? um campeonato? E esse valor é que passa a ser o destaque e não o significado da performance em si.
A transformação em consumidores de todos aqueles que se tornam praticantes, desportistas, atletas ou espectadores é muito apelativa a um sistema que procura uma lógica de lucro. As instituições desportivas são geridas como empresas, numa sociedade onde os grupos financeiros decidem se vão patrocinar um atleta, um clube de futebol, uma modalidade ou um torneio desportivo. No final querem retorno económico, prestígio e poder.
Por outro lado, os grandes clubes, ainda uma célula base dos desporto em Portugal, são hoje muito menos livres, porque são muito mais um espaço de de consumo, que um espaço desportivo de aprendizagem, de superação, de conhecimento e de excelência. Daí as lojas, os restaurantes, as camisolas e t-shirts com as cores, os símbolos, os emblemas dos clubes transformadas em produtos.
Nada disto é novo, dizem-me: os jogos olímpicos na antiga Grécia constituíram, durante séculos, um padrão elevado do espírito grego, mas a caducidade, em tudo inevitável, lançou-os numa crise que os encaminhou para a extinção. Já no séc. IV a. C., a mercantilização do desporto, que se vinha registando de tempos anteriores, demoliu a noção de ideal de honra que lhes dava o brilho principal e manchou, da baixeza do lucro, o ambiente sacro.
O que também não é novo em Portugal é o desporto ser visto como um produto de consumo imediato sem antes ser encarado como um investimento a longo prazo.
Produto é um conjunto de atributos, tangíveis ou intangíveis, constituído através do processo de produção, para atendimento de necessidades reais ou simbólicas, e que pode ser negociado no mercado, mediante um determinado valor de troca, quando então se converte em mercadoria.
Desempenho (ou performance) é um conjunto de características ou capacidades de comportamento e rendimento de um indivíduo, de uma organização ou grupo de seres humanos.
11/03/2021
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Sem querer utilizar o significado sagrado que os antigos gregos atribuíam aos Jogos Olímpicos, hoje, qualquer que seja a sua motivação, toda a performance desportiva está transformada em produto. Qualquer que seja o seu nível, é atribuído um valor, um preço: quanto custa uma medalha?, quanto vale uma taça? um campeonato? E esse valor é que passa a ser o destaque e não o significado da performance em si.
A transformação em consumidores de todos aqueles que se tornam praticantes, desportistas, atletas ou espectadores é muito apelativa a um sistema que procura uma lógica de lucro. As instituições desportivas são geridas como empresas, numa sociedade onde os grupos financeiros decidem se vão patrocinar um atleta, um clube de futebol, uma modalidade ou um torneio desportivo. No final querem retorno económico, prestígio e poder.
Por outro lado, os grandes clubes, ainda uma célula base dos desporto em Portugal, são hoje muito menos livres, porque são muito mais um espaço de de consumo, que um espaço desportivo de aprendizagem, de superação, de conhecimento e de excelência. Daí as lojas, os restaurantes, as camisolas e t-shirts com as cores, os símbolos, os emblemas dos clubes transformadas em produtos.
Nada disto é novo, dizem-me: os jogos olímpicos na antiga Grécia constituíram, durante séculos, um padrão elevado do espírito grego, mas a caducidade, em tudo inevitável, lançou-os numa crise que os encaminhou para a extinção. Já no séc. IV a. C., a mercantilização do desporto, que se vinha registando de tempos anteriores, demoliu a noção de ideal de honra que lhes dava o brilho principal e manchou, da baixeza do lucro, o ambiente sacro.
O que também não é novo em Portugal é o desporto ser visto como um produto de consumo imediato sem antes ser encarado como um investimento a longo prazo.
Produto é um conjunto de atributos, tangíveis ou intangíveis, constituído através do processo de produção, para atendimento de necessidades reais ou simbólicas, e que pode ser negociado no mercado, mediante um determinado valor de troca, quando então se converte em mercadoria.
Desempenho (ou performance) é um conjunto de características ou capacidades de comportamento e rendimento de um indivíduo, de uma organização ou grupo de seres humanos.
11/03/2021
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Os dirigentes dos clubes só desestabilizam...
“Os grandes clubes são, neste momento, um problema para as modalidades olímpicas… só desestabilizam”, diz um.
“Não, ao contrário: as modalidades são, neste momento, um problema para os grandes clubes… só desestabilizam”, contrapõem outro.
Vem esta troca de mensagens entre dois amigos a propósito da recente demissão do coordenador do gabinete olímpico dos Sporting, Paulo Malico de Sousa, após o clube de Alvalade ter decidido terminar com a canoagem, quando estamos a oito meses dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Esta dupla abordagem sobre a importância das modalidades (principalmente as individuais olímpicas) nos três grandes clubes – Sporting, Benfica e FC Porto – é bem reveladora do atual papel "bipolar", que os clubes desempenham, no nosso país em relação a essas modalidades, em concreto, e ao desporto de alta competição, em particular.
Já lá vai o tempo em que os três grandes clubes de futebol em Portugal eram decisivos em todos o processo de desenvolvimento, apoio e consolidação da carreira de jovens campeões.
Na ausência de apoios do estado, Sporting, Benfica e FC Porto desempenhavam um papel determinante no inicio de carreiras dos nossos quatro campeões Olímpicos – Carlos Lopes, Fernanda Ribeiro, Rosa Mota e Nelson Évora.
Atletas que vestiram as camisolas desses clubes quando ainda nem sonhavam com o ouro olímpico. E levaram mais de 10 anos (!) até subirem ao lugar mais alto do pódio olímpico.
Hoje tudo é bem diferente: os atletas integrados nos chamados projetos olímpicos, na sua maioria, chegam a esses clubes já depois de se terem afirmado no plano internacional e vivem em permanente instabilidade, provocada pela deriva nas politicas de apoios a esses atletas e a essas modalidades, agora acentuada com o covid-19 – “hoje é para apostar amanhã é para mandar embora”.
Por seu lado, as jovens esperanças, aqueles que estão ainda numa fase de iniciação, ou percurso, rapidamente são descartadas, apresentado o nosso país um índice de abandono precoce incompatível com uma carreira de logo prazo em alta competição.
É evidente, que os dirigentes federativos ficam em pânico cada vez que "os grandes" ameaçam acabar com uma modalidade. Porque sabem que mesmo na precaridade, estes ainda são importantes "patrocinadores" do alto rendimento em Portugal.
A visão economicista desses dirigentes e adeptos de futebol - “o Benfica gasta fortunas com a canoagem, o atletismo, e outras modalidades” – ou que essas modalidades se devem autossustentar-se – “se dão prejuízo, se não conseguem pagar-se. Então finito” –, quando nem o futebol o consegue fazer, leva-nos a questionar se hoje os grandes clubes devem ter modalidades? Ou se não deveriam assumir, de vez, o fim do chamado ecletismo? Já que não percebem (ou não querem perceber) que o investimento na carreira de um atleta de alta competição não se compadece com visões economicistas.
Bem, mas mais demissão menos demissão, mais modalidade menos modalidade, para os dirigentes do Sporting, em ano olímpico, o que interessa é que a equipa de futebol lidera a primeira liga com mais quatro pontos.
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Foto: FP Canoagem
05/01/2021
“Não, ao contrário: as modalidades são, neste momento, um problema para os grandes clubes… só desestabilizam”, contrapõem outro.
Vem esta troca de mensagens entre dois amigos a propósito da recente demissão do coordenador do gabinete olímpico dos Sporting, Paulo Malico de Sousa, após o clube de Alvalade ter decidido terminar com a canoagem, quando estamos a oito meses dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Esta dupla abordagem sobre a importância das modalidades (principalmente as individuais olímpicas) nos três grandes clubes – Sporting, Benfica e FC Porto – é bem reveladora do atual papel "bipolar", que os clubes desempenham, no nosso país em relação a essas modalidades, em concreto, e ao desporto de alta competição, em particular.
Já lá vai o tempo em que os três grandes clubes de futebol em Portugal eram decisivos em todos o processo de desenvolvimento, apoio e consolidação da carreira de jovens campeões.
Na ausência de apoios do estado, Sporting, Benfica e FC Porto desempenhavam um papel determinante no inicio de carreiras dos nossos quatro campeões Olímpicos – Carlos Lopes, Fernanda Ribeiro, Rosa Mota e Nelson Évora.
Atletas que vestiram as camisolas desses clubes quando ainda nem sonhavam com o ouro olímpico. E levaram mais de 10 anos (!) até subirem ao lugar mais alto do pódio olímpico.
Hoje tudo é bem diferente: os atletas integrados nos chamados projetos olímpicos, na sua maioria, chegam a esses clubes já depois de se terem afirmado no plano internacional e vivem em permanente instabilidade, provocada pela deriva nas politicas de apoios a esses atletas e a essas modalidades, agora acentuada com o covid-19 – “hoje é para apostar amanhã é para mandar embora”.
Por seu lado, as jovens esperanças, aqueles que estão ainda numa fase de iniciação, ou percurso, rapidamente são descartadas, apresentado o nosso país um índice de abandono precoce incompatível com uma carreira de logo prazo em alta competição.
É evidente, que os dirigentes federativos ficam em pânico cada vez que "os grandes" ameaçam acabar com uma modalidade. Porque sabem que mesmo na precaridade, estes ainda são importantes "patrocinadores" do alto rendimento em Portugal.
A visão economicista desses dirigentes e adeptos de futebol - “o Benfica gasta fortunas com a canoagem, o atletismo, e outras modalidades” – ou que essas modalidades se devem autossustentar-se – “se dão prejuízo, se não conseguem pagar-se. Então finito” –, quando nem o futebol o consegue fazer, leva-nos a questionar se hoje os grandes clubes devem ter modalidades? Ou se não deveriam assumir, de vez, o fim do chamado ecletismo? Já que não percebem (ou não querem perceber) que o investimento na carreira de um atleta de alta competição não se compadece com visões economicistas.
Bem, mas mais demissão menos demissão, mais modalidade menos modalidade, para os dirigentes do Sporting, em ano olímpico, o que interessa é que a equipa de futebol lidera a primeira liga com mais quatro pontos.
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Foto: FP Canoagem
05/01/2021
Quando um velho morre é uma biblioteca que arde
Portugal é um país envelhecido. Neste momento, somos já o quinto país do mundo com a população mais idosa depois do Japão, Itália, Grécia e Finlândia. Portugal é também, segundo a organização Mundial de Saúde (OMS), o quinto país que pior trata os mais velhos, logo depois da Sérvia, Áustria, Israel e Macedónia.
Portanto não é de admirar a forma como nos relacionamos com um grupo da população ao qual todos nós nos aproximamos rapidamente em termos etários. Mas, ainda assim, é impressionante a forma com todos nós e as instituições que integramos – universidades, autarquias, clubes, federações – se relacionam com os mais velhos e com a sua memoria.
Essa relação de ignorância e desvalorização é ainda mais dramática quando assistimos a um desinteresse pelo conhecimento que essas pessoas produzem ao longo das suas vidas e que se perde quando nos deixam.
Vem esta minha partilha de reflexão a propósito da quantidade de informação acumulada pelos treinadores e os atletas que se perde cada vez que um deles se afasta da sua atividade sem nos deixar nenhum legado, nenhum registo, nenhuma publicação, nada.
Onde estão os trabalhos académicos realizados sobre os treinados de campeões olímpicos e mundiais? Onde estão as memórias desses treinadores? Onde estão as biografias de percurso até ao sucesso?
Portugal soma 24 medalhas olímpicas, quatro delas de ouro no atletismo – Carlos Lopes (maratona Los Angeles 1984), Rosa Mota (maratona Seul 1988), Fernanda Ribeiro (10.000 m Atlanta 1988) e Nelson Évora (triplo Pequim 2008). Nenhum deles têm uma biografia que dignifique as suas carreiras, nem os seus treinadores publicaram, de forma cientifica, os planos, ou as estratégias que os levaram ao sucesso. Ou as universidades se interessaram por estudar os seus percursos.
Mas o mesmo poderia dizer de outros medalhados olímpicos, mundiais ou europeus, que atingiram níveis de excelência nas respetivas modalidades.
Poderia falar de todas as modalidades olímpicas mas destaco de memória no atletismo, que melhor conheço, treinadores mais velhos, de grande dedicação ao desporto, que ajudaram os seus atletas a atingir nível internacionais, como João Campos, Fonseca e Costa, Sameiro Araújo, Pompílio Ferreira, José Pedrosa, João Ganço, José Carvalho, Lara Ramos, Luís Aguiar, Jorge Ramiro, António Campos, Alfredo Barbosa, António Ascensão, Mário Machado, Eduardo Cunha, Fernando Ferreira, Bernardo Manuel (talvez uma exceção com um doutoramento), Fausto Ribeiro, Jorge Miguel, Júlio Cirino, Bernardino Pereira, Rafael Marques, Alfredo Pinheiro, Abreu Matos, António Gromicho, Carlos Sustelo, Raposo Borges, José Dias, Alcino Pereira, Jorge Proença… entre outros.
Claro que estes treinadores também têm responsabilidades na sua «invisibilidade», dir-me-ão. Na forma silenciosa como se afastaram (ou os afastaram), na excessiva modéstia, no pouco cuidado com a sua produção académica…
Por isso me vem sempre há memoria aquela frase «quando um velho morre é uma biblioteca que arde» do escritor Amadou Hampâté Bâ.
PS: não coloco aqui Mário Moniz Pereira porque considero que o próprio disponibilizou algum do seu conhecimento em publicações. Ainda assim pouco estudado no meio académico. Talvez com a exceção de «Escola Portuguesa de Meio fundo e Fundo, Mito ou Realidade?» de Mário Casimiro da Anunciação Paiva.
Fotos: Campeonato Regional de Lisboa de Crosse, Jockey Clube, 1940 e primeiro curso de treinadores de atletismo, grau 1, em 1974.
4/12/2020
Portanto não é de admirar a forma como nos relacionamos com um grupo da população ao qual todos nós nos aproximamos rapidamente em termos etários. Mas, ainda assim, é impressionante a forma com todos nós e as instituições que integramos – universidades, autarquias, clubes, federações – se relacionam com os mais velhos e com a sua memoria.
Essa relação de ignorância e desvalorização é ainda mais dramática quando assistimos a um desinteresse pelo conhecimento que essas pessoas produzem ao longo das suas vidas e que se perde quando nos deixam.
Vem esta minha partilha de reflexão a propósito da quantidade de informação acumulada pelos treinadores e os atletas que se perde cada vez que um deles se afasta da sua atividade sem nos deixar nenhum legado, nenhum registo, nenhuma publicação, nada.
Onde estão os trabalhos académicos realizados sobre os treinados de campeões olímpicos e mundiais? Onde estão as memórias desses treinadores? Onde estão as biografias de percurso até ao sucesso?
Portugal soma 24 medalhas olímpicas, quatro delas de ouro no atletismo – Carlos Lopes (maratona Los Angeles 1984), Rosa Mota (maratona Seul 1988), Fernanda Ribeiro (10.000 m Atlanta 1988) e Nelson Évora (triplo Pequim 2008). Nenhum deles têm uma biografia que dignifique as suas carreiras, nem os seus treinadores publicaram, de forma cientifica, os planos, ou as estratégias que os levaram ao sucesso. Ou as universidades se interessaram por estudar os seus percursos.
Mas o mesmo poderia dizer de outros medalhados olímpicos, mundiais ou europeus, que atingiram níveis de excelência nas respetivas modalidades.
Poderia falar de todas as modalidades olímpicas mas destaco de memória no atletismo, que melhor conheço, treinadores mais velhos, de grande dedicação ao desporto, que ajudaram os seus atletas a atingir nível internacionais, como João Campos, Fonseca e Costa, Sameiro Araújo, Pompílio Ferreira, José Pedrosa, João Ganço, José Carvalho, Lara Ramos, Luís Aguiar, Jorge Ramiro, António Campos, Alfredo Barbosa, António Ascensão, Mário Machado, Eduardo Cunha, Fernando Ferreira, Bernardo Manuel (talvez uma exceção com um doutoramento), Fausto Ribeiro, Jorge Miguel, Júlio Cirino, Bernardino Pereira, Rafael Marques, Alfredo Pinheiro, Abreu Matos, António Gromicho, Carlos Sustelo, Raposo Borges, José Dias, Alcino Pereira, Jorge Proença… entre outros.
Claro que estes treinadores também têm responsabilidades na sua «invisibilidade», dir-me-ão. Na forma silenciosa como se afastaram (ou os afastaram), na excessiva modéstia, no pouco cuidado com a sua produção académica…
Por isso me vem sempre há memoria aquela frase «quando um velho morre é uma biblioteca que arde» do escritor Amadou Hampâté Bâ.
PS: não coloco aqui Mário Moniz Pereira porque considero que o próprio disponibilizou algum do seu conhecimento em publicações. Ainda assim pouco estudado no meio académico. Talvez com a exceção de «Escola Portuguesa de Meio fundo e Fundo, Mito ou Realidade?» de Mário Casimiro da Anunciação Paiva.
Fotos: Campeonato Regional de Lisboa de Crosse, Jockey Clube, 1940 e primeiro curso de treinadores de atletismo, grau 1, em 1974.
4/12/2020
Os dirigentes federativos
Há dirigentes desportivos em Portugal que procuram há muito mudar o paradigma de toda a atividade das federações que representam. Motivados pelos resultados dos atletas, pela dinâmica organizativa, ou/e forçados pela realidade, essa nova geração de dirigentes desportivos percebeu há muito que:
- atletas, treinadores e clubes são os seus principais ativos e é focado nesses elementos que têm de estruturar toda a sua ação. E não em atividades/ações apenas para «preencher» orçamento.
- têm de assumir, de uma forma objetiva no terreno, o estatuto de utilidade publica desportiva: “promover, regulamentar e dirigir a prática de uma modalidade desportiva.” E não «apenas» elaborarem e apresentarem relatórios para justificar orçamentos que não espelham o desenvolvimento da modalidade.
- o seu papel no tecido desportivo nacional não pode continuar a ser de um elemento passivo perante a realidade, limitando-se a distribuir umas verbas recebidas do Estado sem avaliação; a organizar um quadro competitivo desinteressante; e a convocar seleções com duvidosos critérios para representação nacional. Agravado hoje por um momento histórico singular, condicionado por uma pandemia com os clubes impossibilitados de realizar em pleno as suas atividades.
- têm de se assumir como motor de desenvolvimento das respetivas modalidades, não ficando de braços cruzados na retaguarda à espera que os clubes realizem o trabalho que lhes devia competir a elas.
- é importante o contributo dos ditos grandes clubes de futebol (Benfica, Sporting e FC Porto) mas que a total dependência desses clubes hipoteca qualquer estratégia de médio/longo prazo nas áreas de formação e alta competição.
- não podem continuar a gastar quase 50% do seu orçamento na máquina administrativa.
- têm de formar e profissionalizar não só os treinadores, mas também os dirigentes e isso não significa apenas uma remuneração compatível com o cargo, mas uma total entrega à modalidade.
- devem criar as suas próprias fontes de financiamento, não ficando de mão estendida para o Estado.
- a politica de naturalização de atletas tem de ser encarada de uma forma equilibrada e positiva, mas não como tabua salvadora para os resultados de excelência. Sim como mola de promoção e desenvolvimento da modalidade, acompanhada da aposta na formação/iniciação desportiva.
- o doping não deve ser encarado como tabu, como algo inexistente ou como um problema de «este ou aquele atleta» mas como um problema do desporto nacional, como um problema de um ineficaz ou inexistente acompanhamento e apoio médico aos atletas.
- a promoção da prática desportiva é também um dos seus objetivos prioritários e que o aumento numero de filiados deve ser encarado não só como um contributo para a saúde publica mas também como base de recrutamento de novos valores.
- a importância que a imagem que passa para os portugueses depende muito do trabalho realizado pelas próprias federações nas áreas de marketing e comunicação (como se verifica nesta foto).
Infelizmente estes dirigentes são uma pequena minora em Portugal.
- atletas, treinadores e clubes são os seus principais ativos e é focado nesses elementos que têm de estruturar toda a sua ação. E não em atividades/ações apenas para «preencher» orçamento.
- têm de assumir, de uma forma objetiva no terreno, o estatuto de utilidade publica desportiva: “promover, regulamentar e dirigir a prática de uma modalidade desportiva.” E não «apenas» elaborarem e apresentarem relatórios para justificar orçamentos que não espelham o desenvolvimento da modalidade.
- o seu papel no tecido desportivo nacional não pode continuar a ser de um elemento passivo perante a realidade, limitando-se a distribuir umas verbas recebidas do Estado sem avaliação; a organizar um quadro competitivo desinteressante; e a convocar seleções com duvidosos critérios para representação nacional. Agravado hoje por um momento histórico singular, condicionado por uma pandemia com os clubes impossibilitados de realizar em pleno as suas atividades.
- têm de se assumir como motor de desenvolvimento das respetivas modalidades, não ficando de braços cruzados na retaguarda à espera que os clubes realizem o trabalho que lhes devia competir a elas.
- é importante o contributo dos ditos grandes clubes de futebol (Benfica, Sporting e FC Porto) mas que a total dependência desses clubes hipoteca qualquer estratégia de médio/longo prazo nas áreas de formação e alta competição.
- não podem continuar a gastar quase 50% do seu orçamento na máquina administrativa.
- têm de formar e profissionalizar não só os treinadores, mas também os dirigentes e isso não significa apenas uma remuneração compatível com o cargo, mas uma total entrega à modalidade.
- devem criar as suas próprias fontes de financiamento, não ficando de mão estendida para o Estado.
- a politica de naturalização de atletas tem de ser encarada de uma forma equilibrada e positiva, mas não como tabua salvadora para os resultados de excelência. Sim como mola de promoção e desenvolvimento da modalidade, acompanhada da aposta na formação/iniciação desportiva.
- o doping não deve ser encarado como tabu, como algo inexistente ou como um problema de «este ou aquele atleta» mas como um problema do desporto nacional, como um problema de um ineficaz ou inexistente acompanhamento e apoio médico aos atletas.
- a promoção da prática desportiva é também um dos seus objetivos prioritários e que o aumento numero de filiados deve ser encarado não só como um contributo para a saúde publica mas também como base de recrutamento de novos valores.
- a importância que a imagem que passa para os portugueses depende muito do trabalho realizado pelas próprias federações nas áreas de marketing e comunicação (como se verifica nesta foto).
Infelizmente estes dirigentes são uma pequena minora em Portugal.
O que significa o 4.º lugar de João Almeida no Giro 2020
"Desde o início da época que mostrei que tinha qualidades e quando me destacaram para fazer o Giro, fizemos uma preparação o melhor possível (...). Tínhamos um objetivo ambicioso que era fazer um top 10 na geral e acabou por ser bem maior que isso."
Algumas ilações (óbvias) sobre o 4.º lugar de João Almeida no Giro:
- João Almeida é um excelente ciclista. Confirma em Itália os títulos de campeão de Portugal nos escalões jovens. Assim como Rúben Guerreiro ao sagrar-se 'rei da montanha' no Giro.
- Independentemente do nível competitivo do Giro, da Vuelta, ou do Tour em 2020, os resultados obtidos por estes dois ciclistas só são possíveis com grande qualidade atlética individual e de muito, muito treino.
- Ao contrário de muitas opiniões (mal fundamentadas), Portugal continua hoje a produzir excelentes desportistas em modalidades de resistência: ciclismo, canoagem, corridas de fundo, triatlo, marcha atlética; e em modalidades onde a endurance também tem um papel importante como o judo e o ténis.
- As novas gerações são tão boas ou melhores que as do passado. A existência de bons resultados internacionais nunca dependeu de “boas ou más" gerações, de “mais ou menos” espirito de sacrifício, mas sim das condicionantes próprias de cada modalidade e do trabalho desenvolvido, ou não, pelos clubes, associações territoriais, federações.
- O ciclismo e os desportos de resistência vivem momentos de profunda transformação. O que em nosso entender poderá ser uma oportunidade para os atletas portugueses, caso estes queiram apostar nas suas carreiras e lhes sejam dadas condições para isso.
- A maioria dos portugueses – incluindo políticos e jornalistas – desconhece a realidade do desporto nacional. A “futebolização” da linguagem e da analise desportiva; A forma como “acordam” para os feitos dos nossos atletas como para uma realidade desconhecida; A incapacidade para analisar os resultados e coloca-los na devida escala de valor é reveladora de uma total falta de cultura desportiva.
Algumas ilações (óbvias) sobre o 4.º lugar de João Almeida no Giro:
- João Almeida é um excelente ciclista. Confirma em Itália os títulos de campeão de Portugal nos escalões jovens. Assim como Rúben Guerreiro ao sagrar-se 'rei da montanha' no Giro.
- Independentemente do nível competitivo do Giro, da Vuelta, ou do Tour em 2020, os resultados obtidos por estes dois ciclistas só são possíveis com grande qualidade atlética individual e de muito, muito treino.
- Ao contrário de muitas opiniões (mal fundamentadas), Portugal continua hoje a produzir excelentes desportistas em modalidades de resistência: ciclismo, canoagem, corridas de fundo, triatlo, marcha atlética; e em modalidades onde a endurance também tem um papel importante como o judo e o ténis.
- As novas gerações são tão boas ou melhores que as do passado. A existência de bons resultados internacionais nunca dependeu de “boas ou más" gerações, de “mais ou menos” espirito de sacrifício, mas sim das condicionantes próprias de cada modalidade e do trabalho desenvolvido, ou não, pelos clubes, associações territoriais, federações.
- O ciclismo e os desportos de resistência vivem momentos de profunda transformação. O que em nosso entender poderá ser uma oportunidade para os atletas portugueses, caso estes queiram apostar nas suas carreiras e lhes sejam dadas condições para isso.
- A maioria dos portugueses – incluindo políticos e jornalistas – desconhece a realidade do desporto nacional. A “futebolização” da linguagem e da analise desportiva; A forma como “acordam” para os feitos dos nossos atletas como para uma realidade desconhecida; A incapacidade para analisar os resultados e coloca-los na devida escala de valor é reveladora de uma total falta de cultura desportiva.
O desporto em tempos de pandemia
«Toda a informação se tornou uma arma, toda a comunicação se tornou performativa. Quando as pessoas tem medo de falar é sempre grave.» Sam Harris
O covid-19 deixou claro que o atual modelo do desporto português é insustentável. A pandemia veio revelar de forma mais nítida as fragilidades há muito evidenciadas pelas organizações desportivas nacionais. Por isso, a pergunta: será esta mais uma oportunidade perdida para se realizarem as tão necessárias reformas?
Os sucessivos governos, as federações, as associações territoriais, os clubes há muito que se revelam incapazes de uma estratégia conjunta que coloque Portugal num nível superior do meio da tabela dos índices da prática desportiva, assim como dos resultados de excelência em grandes competições internacionais.
Na recente cimeira, 39 federações, o Comité Olímpico (COP), o Comité Paralímpico (CPP) e a Confederação (CDP) reafirmaram (o que as federações e o próprio COP vem dizendo há anos) que o Governo “desvaloriza o desporto”.
É uma realidade de sempre: os Governos de Portugal nunca se interessaram pelo desporto de alta competição nem pela massificação da prática desportiva. Isso é claro não só pela qualidade do financiamento mas pela baixa qualidade dos programas de politicas desportivas dos vários quadrantes políticos assim como pela fraca qualidade dos nomeados para o cargo de secretário de estado da juventude e do desporto.
Desde sempre, o poder político apenas alimentou a idolatria ao futebol de forma vergonhosa para chegarmos à atual realidade desportiva nacional: Portugal é um dos países da UE onde menos se pratica atividade física’, ‘exercício físico’ e ‘desporto’. Cerca de 80% da população não pratica atividade física suficiente para cumprir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Agora, sejamos claros, a eficácia do modelo desportivo nacional não passa apenas por injetar mais dinheiro no sistema desportivo. Uma grande parte desse dinheiro nunca chegaria à atividade e aos seus principais protagonistas (atletas treinadores, clubes, associações) como acontece hoje, ficando perdido pelas malhas apertadas das suas pesadas estruturas.
O movimento desportivo deveria anexar às propostas ao Governo as medidas concretas que já estão a desenvolver no terreno para os que verdadeiramente sofre com a pandemia (atletas, treinadores e clubes) e as que pretende realizar no contexto atual de pandemia.
Por isso, as suas organizações perdem credibilidade quando se colocam fora do problema, incapazes de uma autoanálise, numa posição passiva de mão estendida para o Governo, face aos problemas concretos que a pandemia deixou a descoberto no desporto nacional.
No sentido em que fomos levados a encarar o combate ao covid-19 como uma guerra, recordo que no terreno a maioria dos dirigentes das organizações desportivas (tirando algumas poucas honrosas exceções) após tudo encerrarem, deixaram completamente ao abandono os seus praticamente, dos jovens aos atletas de alta competição e os seus respetivos treinadores. Cada um ficou por si. Percebemos o pânico que levou as organizações a encerrar rapidamente as instalações e a mandar para casa os atletas. Difícil é entender a inércia para uma acção concertada.
Percebemos que as federações vivem realidades muito diversa a todos os níveis. É complexo fazer comparações entre modalidades desportivas tal é a especificidade de cada uma delas. Por isso, também não faz sentido fazermos comparações com o futebol ou com a cultura. São realidades diversas. Uma atitude que leva os dirigentes desportivos a lembrarem o mau aluno que culpa o colega do lado de ser preferido do professor. A incapacidade das federações se organizarem e se fazerem representar é exclusivamente sua culpa própria bem patente na inoperância do organismo que as representa - a sua Confederação.
Das sete propostas saídas da cimeira apenas a primeira nos parece poder ter resposta imediata do Governo e já não seria pouco: “Retoma das atividades do desporto federado em segurança: definição de medidas e orientações específicas de retoma.”
Quanto às outras seis, poderemos afirmar que as que implicam mais financiamento, recomendamos a leitura do “estudo de diagnóstico sobre o impacto da Covid-19 junto das federações desportivas com utilidade pública promovido pelo IPDJ.
As federações, na sua maioria, dependem quase na totalidade das verbas dos Jogos de Santa Casa e do financiamento público. Recordamos que o Governo já se comprometeu com os apoios à preparação olímpica e garantiu às federações o financiamento prolongado dos contratos-programa de 2019.
As sete propostas de cimeira das federações em resumo:
Retoma das atividades do desporto federado em segurança: definição de medidas e orientações específicas de retoma.
Sustentabilidade do modelo desportivo: integração do setor nas linhas de financiamento e mecanismos extraordinários de apoio previstos a nível nacional e comunitário;
Valorização Social do Desporto: criação de um Fundo Especial de Apoio ao Desporto, a ser gerido pelo IPDJ, dotando as federações de meios para apoiar o tecido associativo de base;
Sistema Fiscal: criação de grupo de trabalho composto por representantes da administração fiscal, da administração pública desportiva e do movimento desportivo, para elaboração de propostas de revisão geral do sistema de impostos e incentivos fiscais;
Emprego e voluntariado: promoção de políticas de aumento da empregabilidade no desporto;
Turismo: inclusão do desporto na promoção externa de Portugal;
Mobilização desportiva: campanha de sensibilização a nível nacional de apelo à importância do apoio ao desporto, com particular foco no papel dos clubes de formação.
PS: Como isto está tudo ligado, recordamos duas notícias recentes que merecem reflexão:
EQUIPA OLÍMPICA DO BRASIL VEM TREINAR PARA PORTUGAL
O Comité Olímpico do Brasil (COB) anunciou a deslocação de uma delegação de cerca de 200 atletas para treinar na Europa, entre julho e dezembro deste ano, num roteiro que inclui Portugal. O COB explica que “Portugal é o primeiro país já confirmado, e foi escolhido por se encontrar numa fase avançada de combate à Covid-19 e pelo relacionamento existente” com o Comité Olímpico de Portugal.
https://comiteolimpicoportugal.pt/equipa-olimpica-do-brasil-vem-treinar-para-portugal/
IPDJ PROMOVE ESTUDO DE DIAGNÓSTICO
sobre o impacto da Covid-19 junto das federações.
De acordo com os dados obtidos, e depois da respetiva análise estatística, o IPDJ verificou que as federações esperam uma diminuição das fontes de receitas, sobretudo de patrocinadores, proveitos provenientes da organização de provas, filiações e autarquias. 24% das federações admitiram ter dificuldade em cumprir com os compromissos financeiros assumidos.
https://ipdj.gov.pt/noticia?titulo=estudo-%C2%ABimpacto-da-covid-19-nos-planos-de-atividades-das-federa%C3%A7%C3%B5es-desportivas%C2%BB&fbclid=IwAR22DOkzIKZxzwIA9sVDSkvuUUbUXFxAjuh_NDteOmkEnhW8wI2py9aHhns
O covid-19 deixou claro que o atual modelo do desporto português é insustentável. A pandemia veio revelar de forma mais nítida as fragilidades há muito evidenciadas pelas organizações desportivas nacionais. Por isso, a pergunta: será esta mais uma oportunidade perdida para se realizarem as tão necessárias reformas?
Os sucessivos governos, as federações, as associações territoriais, os clubes há muito que se revelam incapazes de uma estratégia conjunta que coloque Portugal num nível superior do meio da tabela dos índices da prática desportiva, assim como dos resultados de excelência em grandes competições internacionais.
Na recente cimeira, 39 federações, o Comité Olímpico (COP), o Comité Paralímpico (CPP) e a Confederação (CDP) reafirmaram (o que as federações e o próprio COP vem dizendo há anos) que o Governo “desvaloriza o desporto”.
É uma realidade de sempre: os Governos de Portugal nunca se interessaram pelo desporto de alta competição nem pela massificação da prática desportiva. Isso é claro não só pela qualidade do financiamento mas pela baixa qualidade dos programas de politicas desportivas dos vários quadrantes políticos assim como pela fraca qualidade dos nomeados para o cargo de secretário de estado da juventude e do desporto.
Desde sempre, o poder político apenas alimentou a idolatria ao futebol de forma vergonhosa para chegarmos à atual realidade desportiva nacional: Portugal é um dos países da UE onde menos se pratica atividade física’, ‘exercício físico’ e ‘desporto’. Cerca de 80% da população não pratica atividade física suficiente para cumprir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Agora, sejamos claros, a eficácia do modelo desportivo nacional não passa apenas por injetar mais dinheiro no sistema desportivo. Uma grande parte desse dinheiro nunca chegaria à atividade e aos seus principais protagonistas (atletas treinadores, clubes, associações) como acontece hoje, ficando perdido pelas malhas apertadas das suas pesadas estruturas.
O movimento desportivo deveria anexar às propostas ao Governo as medidas concretas que já estão a desenvolver no terreno para os que verdadeiramente sofre com a pandemia (atletas, treinadores e clubes) e as que pretende realizar no contexto atual de pandemia.
Por isso, as suas organizações perdem credibilidade quando se colocam fora do problema, incapazes de uma autoanálise, numa posição passiva de mão estendida para o Governo, face aos problemas concretos que a pandemia deixou a descoberto no desporto nacional.
No sentido em que fomos levados a encarar o combate ao covid-19 como uma guerra, recordo que no terreno a maioria dos dirigentes das organizações desportivas (tirando algumas poucas honrosas exceções) após tudo encerrarem, deixaram completamente ao abandono os seus praticamente, dos jovens aos atletas de alta competição e os seus respetivos treinadores. Cada um ficou por si. Percebemos o pânico que levou as organizações a encerrar rapidamente as instalações e a mandar para casa os atletas. Difícil é entender a inércia para uma acção concertada.
Percebemos que as federações vivem realidades muito diversa a todos os níveis. É complexo fazer comparações entre modalidades desportivas tal é a especificidade de cada uma delas. Por isso, também não faz sentido fazermos comparações com o futebol ou com a cultura. São realidades diversas. Uma atitude que leva os dirigentes desportivos a lembrarem o mau aluno que culpa o colega do lado de ser preferido do professor. A incapacidade das federações se organizarem e se fazerem representar é exclusivamente sua culpa própria bem patente na inoperância do organismo que as representa - a sua Confederação.
Das sete propostas saídas da cimeira apenas a primeira nos parece poder ter resposta imediata do Governo e já não seria pouco: “Retoma das atividades do desporto federado em segurança: definição de medidas e orientações específicas de retoma.”
Quanto às outras seis, poderemos afirmar que as que implicam mais financiamento, recomendamos a leitura do “estudo de diagnóstico sobre o impacto da Covid-19 junto das federações desportivas com utilidade pública promovido pelo IPDJ.
As federações, na sua maioria, dependem quase na totalidade das verbas dos Jogos de Santa Casa e do financiamento público. Recordamos que o Governo já se comprometeu com os apoios à preparação olímpica e garantiu às federações o financiamento prolongado dos contratos-programa de 2019.
As sete propostas de cimeira das federações em resumo:
Retoma das atividades do desporto federado em segurança: definição de medidas e orientações específicas de retoma.
Sustentabilidade do modelo desportivo: integração do setor nas linhas de financiamento e mecanismos extraordinários de apoio previstos a nível nacional e comunitário;
Valorização Social do Desporto: criação de um Fundo Especial de Apoio ao Desporto, a ser gerido pelo IPDJ, dotando as federações de meios para apoiar o tecido associativo de base;
Sistema Fiscal: criação de grupo de trabalho composto por representantes da administração fiscal, da administração pública desportiva e do movimento desportivo, para elaboração de propostas de revisão geral do sistema de impostos e incentivos fiscais;
Emprego e voluntariado: promoção de políticas de aumento da empregabilidade no desporto;
Turismo: inclusão do desporto na promoção externa de Portugal;
Mobilização desportiva: campanha de sensibilização a nível nacional de apelo à importância do apoio ao desporto, com particular foco no papel dos clubes de formação.
PS: Como isto está tudo ligado, recordamos duas notícias recentes que merecem reflexão:
EQUIPA OLÍMPICA DO BRASIL VEM TREINAR PARA PORTUGAL
O Comité Olímpico do Brasil (COB) anunciou a deslocação de uma delegação de cerca de 200 atletas para treinar na Europa, entre julho e dezembro deste ano, num roteiro que inclui Portugal. O COB explica que “Portugal é o primeiro país já confirmado, e foi escolhido por se encontrar numa fase avançada de combate à Covid-19 e pelo relacionamento existente” com o Comité Olímpico de Portugal.
https://comiteolimpicoportugal.pt/equipa-olimpica-do-brasil-vem-treinar-para-portugal/
IPDJ PROMOVE ESTUDO DE DIAGNÓSTICO
sobre o impacto da Covid-19 junto das federações.
De acordo com os dados obtidos, e depois da respetiva análise estatística, o IPDJ verificou que as federações esperam uma diminuição das fontes de receitas, sobretudo de patrocinadores, proveitos provenientes da organização de provas, filiações e autarquias. 24% das federações admitiram ter dificuldade em cumprir com os compromissos financeiros assumidos.
https://ipdj.gov.pt/noticia?titulo=estudo-%C2%ABimpacto-da-covid-19-nos-planos-de-atividades-das-federa%C3%A7%C3%B5es-desportivas%C2%BB&fbclid=IwAR22DOkzIKZxzwIA9sVDSkvuUUbUXFxAjuh_NDteOmkEnhW8wI2py9aHhns
Os atletas, os treinadores e os clubes na crise do meio fundo
Há uma tese no Atletismo, que vem fazendo o seu caminho, repetida até à náusea de forma simplista por pessoas com responsabilidade na modalidade. Essa tese, sem qualquer sustentação factual, defende que os grandes responsáveis pela decadência do meio fundo em Portugal foram os próprios atletas, os seus treinadores e os clubes que apostaram “apenas” nas competições de crosse e estrada em detrimento das competições de pista. Uma ideia falsa que de tão repetida acaba por ocultar os verdadeiros fatores dessa tão ignorada crise.
Esta tese está enquadrada numa atitude mais vasta que leva os dirigentes atletismo a cair na tentação de atribuir a fatores externos às instituições que representam os problemas que ajudaram a criar e não foram capazes de enfrentar e ajudar a solucionar.
Quantas vezes não lemos ou ouvimos pessoas com grandes responsabilidades, a afirmarem de forma leviana e simplista frases como: “alguns clubes quase retiraram os atletas da pista”; “A opção foi dedicarem-se à estrada”; O atletismo é pista”; “Os atletas querem é voltas ao coreto”; os treinadores e atletas de meio fundo só pensam é em ganhar dinheiro”.
Admito que este não é um problema exclusivo do atletismo e do desporto: a ideia de que os problemas são sempre dos outros, algo exterior à sua esfera de intervenção, leva esses agentes a nunca fazerem autocritica, a nunca procurarem soluções de algo que eles consideram uma fatalidade.
Vem esta introdução a propósito da critica sistemática que alguns dirigentes federativos fazem aos fundistas, treinadores e clubes que se especializaram no meio fundo, acusando-os de serem os grandes responsáveis pela crise onde o sector caiu a partir dos anos 90 do século passado.
Sobre os fatores que terão contribuído de forma decisiva para essa decadência (que foi europeia) já muito se escreveu. Não temos a pretensão de ter a “verdade” sobre o tema que consideramos de grande complexidade, integrando fatores sociais, económicos e de politica desportiva ou da ausência dela, no caso do nosso país. Por isso, não será agora que iremos voltar a essa análise para não nos desviarmos da questão agora abordada.
Na linha da frente dos “alegados culpados” da decadência do meio fundo nacional masculino estão clubes como Maratona CP, Conforlimpa, Skoda, Gémeos Castro, Imortal e Terbel, os seus atletas, treinadores e dirigentes.
Sem cair na tentação de ser demasiado exaustivo, vamos por partes, e recordemos alguns factos importantes no atletismo nos anos 80 e 90 do século XX:
1987 - O Imortal de Albufeira surge no atletismo nesta temporada. O clube algarvio contrata Carlos Lopes o melhor atleta português de todos os tempos que encerrava uma ligação de quase 20 anos ao Sporting. O fundista, à beira dos 39 anos, resolveu continuar a correr, mas passou a representar o clube algarvio, não deixando de se justificar perante os sportinguistas, explicando que “as suas motivações não tinham nada a ver com questões de dinheiro”. Para além de Carlos Lopes, corriam com a camisola do Imortal Ezequiel Canário (líder nacional dos 10 000 em 1987; campeão nacional de crosse em 1988 e 1989), Rafael Marques, Lúcio Pereira, José Frias, José Mestre, Rui Correia, Gualdino Viegas entre outros, todos com bons registos nos rankings nacionais em pista nesses anos.
1989 - O Sporting sofre, com a presidência de Jorge Gonçalves, “a sua maior crise financeira até então, que culminou com a demissão em bloco da direção a 18 de maio de 1989, numa altura em que o clube via vários atletas das diferentes modalidades a desertar para os rivais”, revela o site do clube leonino. O desinvestimento nas modalidades e no atletismo em particular, foi uma opção que viria a ser utilizada com frequência: quando o futebol entra em crise corta-se nas modalidades.
1989 - O Maratona Clube de Portugal (MCP), fundado no final desse ano, é formado por alguns atletas que sofriam significativos atrasos e cortes nos subsídios dos seus anteriores clubes. No MCP assinaram contratos mais favoráveis e estáveis, permitindo uma gestão de carreira ao longo de todo o ano. Na temporada de pista os seus atletas ocuparam sempre os primeiros lugares do ranking na pista, competindo em Europeus, Mundiais e Jogos olímpicos. Com a camisola do clube sediado Oeiras correram quase todos os melhores fundistas nacionais da década de 90 do século passado. Destacamos, apenas na dupla légua: João Campos líder nacional dos 10000 metros (1991); Luis Jesus segundo no ranking (1993); Paulo Guerra e Antonio Pinto lideraram os rankings (1994) José Ramos (1996, segundo em 1997); Eduardo Henriques líder dos 3000 obstáculos em 1996; Alfredo Brás terceiros nos 10000 metros em 1996; José Ramos 3.º nos 5000 em 1997. Em 1998 António Pinto lidera os 5000 e 10000 metros. Nos 5000 metros desse ano Eduardo Henriques é segundo e João Junqueira é terceiro e José Ramos quarto (todos do MCP!). Nos 10000 Paulo Guerra é terceiro e Eduardo Henriques quarto; António Pinto que vestiu a camisola do Maratona Clube de 1994 a 2005, é Campeão da Europa de 10000 m (Budapeste’98), recordista europeu de 10000 m (27.12,47 em 1999), 5º nos 10000 m do Mundial de Sevilha’99, recordista europeu da maratona (2.06.36 em Londres’2000). Presença em 4 Jogos Olímpicos, 3 Mundiais e 3 Europeus. “É bom ganhar a Maratona de Londres, mas faltava-me o melhor que são as medalhas. Hoje consegui concretizar esse objectivo, que perseguia há muito tempo”, disse Pinto após o ouro no europeu.
Estes resultados são bem elucidativos do envolvimento destes atletas nas competições de pista. O MCP apoiou e bem em termos monetários, mas também em estágios e preparação os atletas para competirem em crosse, estrada, mas também em pista.
1992 – Desgastado com a participação nos Jogos Olímpicos de Barcelona’92, Moniz Pereira deixou de ser treinador de atletismo, após os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. “A minha tristeza foi tal que resolvi deixar de ser aquilo que, apaixonadamente, fui toda a minha vida: treinador de atletismo”, afirmou.
1993 – O Grupo Conforlimpa é formado nesse ano, e rapidamente consegue criar uma equipa capaz de competir pelos lugares coletivos no crosse (seis vezes campeão coletivo de crosse e onze de estrada). Os seus atletas vão ocupar também os melhores lugares dos rankings de 5000 e 10000 metros entre 1997 e 2012.
1995 – Santana Lopes é presidente do Sporting (1995/1996). Moniz Pereira, Vice-Presidente do Conselho Diretivo com o pelouro das Modalidades, declarou ao Jornal Sporting de 20 de junho: “Uma das razões por que aceitei ser Vice-Presidente para as modalidades foi porque o Presidente Santana Lopes me disse logo de início que a modalidade número um, depois do Futebol, era o Atletismo.” O objetivo passava por tornar o Sporting numa das melhores equipas da Europa. Numa altura em que o sector de meio fundo e fundo deixou de ser a prioridade.
1997 - O Benfica, tem como presidente Vale e Azevedo (1997/2000). “Uma gerência que lançou o Clube num dos períodos mais turbulentos da sua existência”, segundo fonte do clube.
Perante o desinvestimento dos grandes clubes da capital no sector do meio fundo, no ranking nacional de 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 entre os 20 primeiros dos 10.000 metros não há atletas do Sporting e Benfica. Mas os atletas filiados pelo Maratona, Gémeos Castro, Conforlimpa, Cyclones, Terbel e Maia continuam a ocupar os primeiros lugares.
1999 - O presidente do Benfica, Vale e Azevedo (1997/2000), apresenta a 14 de junho o orçamento para a temporada de 1999/2000. No documento fica claro que as modalidades amadoras que não sejam capazes de se autofinanciar serão extintas.
2000 – Manuel Vilarinho, presidente do Benfica (2000/2003) defende a existência de “só quatro” modalidades no clube. “Há anos, era possível ser eclético, ter um determinado nível de vida. Hoje é impossível. Temos de olhar para o Benfica e perguntar: quais são os produtos vendáveis? Respondo: são quatro. Futebol, natação, ténis e ginástica. Continuar a manter o ecletismo sem razão de ser é cavar o fosso de onde talvez nem o futebol consiga sair. Mais: talvez nem o futebol possa, no futuro, garantir a solvabilidade do Benfica!”
2000 - O Skoda Maratona Clube foi apresentado em outubro desse ano. Principais atletas: Ângelo Pacheco (ex-Terbel), Carlos Calado (ex-Areias S. João), Paulo Gomes (ex-ED Celorico da Beira), Vítor Vasco (ex-ND Silva) e José Silva (ex-SUC). Em 2005 e 2006 foram segundos no Nacional de crosse. Apesar de uma aposta na estada e crosse, os seus atletas marcaram presença nas provas de pista e nas seleções nacionais sempre que selecionados.
2002 – Em outubro, A Associação Gémeos Castro inicia a sua atividade contratando nomes como Eduardo Henriques, Hélder Ornelas, José Santos e Alfredo Brás que viriam a sagrar-se campeões de crosse em 2003. Eduardo Henriques lidera os 10.000 metros e Hélder Ornelas é 3.º no ano de 2003. A presença dos seus atletas nas provas de pista é objectivo afirmava Domingos Castro: "Tenho ambições e sei que ao entrar em provas de pista o meu rendimento vai melhorar noutras áreas. Outros atletas também irão seguir o exemplo."
Outros factos mereciam ser acrescentados às datas, aos clubes (a importância do FC Porto da Terbel, do Maia) e aos resultados dos atletas, mas entendemos que tornaria este texto demasiado longo.
Por isso, em conclusão: abordando apenas a temática da responsabilidade de clubes, treinadores e atletas na chamada crise de meio fundo em Portugal, recordamos que a instabilidade nos grandes clubes de futebol da capital, que sempre foram o suporte do atletismo de alta competição em Portugal, provocou um forte desinvestimento no sector do meio fundo e fundo, sectores onde o nosso país tinha obtido até aí os melhores resultados em grandes competições internacionais.
Esse desinvestimento permitiu o aparecimento de clubes, que se especializaram no sector de meio fundo e fundo, ocupando progressivamente esse espaço (fenómeno que normalmente se verificou em outras modalidades).
Os novos clubes, com existências variáveis, procuraram fontes de financiamento próprio, apostando legitimamente nas competições coletivas de estrada e crosse que sempre existiram no calendário nacional.
Todavia, os atletas receberam sempre subsídios consideráveis desses clubes, para a realidade portuguesa, que lhes permitiu apostar também em competições de pista, o que se veio a verificar pela presença nos rankings nacionais dos anos 80 e 90 do século passado, como verificámos.
Nunca os clubes impediram os atletas de competirem em pista ou limitaram as suas presenças em seleções nacionais.
Em nenhum momento, tanto no plano técnico como no económico, foi colocado em causa a capacidade dos nossos atletas conciliarem as competições de crosse, estrada e pista. Isso é historicamente um facto desde os anos 70 do século passado.
A desagregação do modelo desportivo em Portugal, apoiado nos clubes da capital, provocou a derrocada de um modelo de apoio à alta competição, assente apenas na rivalidade desses dois “grandes” clube, que há muito dava sinais de esgotamento. Federações de desportos individuais houve que decidiram intervir nesse processo, como foram os casos do judo, canoagem, triatlo, natação e ciclismo, entre outras, chamando a si a responsabilidade de gestão e apoio do processo desde a formação às seleções nacionais.
Nesse sentido, atribuir às verdadeiras vitimas (atletas, treinadores e clubes) a responsabilidade da quebra de resultados internacionais em pista, e o consequente declínio do meio fundo e fundo, entendemos ser, isso sim, uma falta de rigor histórico, para não dizer uma desonestidade intelectual.
Esta tese está enquadrada numa atitude mais vasta que leva os dirigentes atletismo a cair na tentação de atribuir a fatores externos às instituições que representam os problemas que ajudaram a criar e não foram capazes de enfrentar e ajudar a solucionar.
Quantas vezes não lemos ou ouvimos pessoas com grandes responsabilidades, a afirmarem de forma leviana e simplista frases como: “alguns clubes quase retiraram os atletas da pista”; “A opção foi dedicarem-se à estrada”; O atletismo é pista”; “Os atletas querem é voltas ao coreto”; os treinadores e atletas de meio fundo só pensam é em ganhar dinheiro”.
Admito que este não é um problema exclusivo do atletismo e do desporto: a ideia de que os problemas são sempre dos outros, algo exterior à sua esfera de intervenção, leva esses agentes a nunca fazerem autocritica, a nunca procurarem soluções de algo que eles consideram uma fatalidade.
Vem esta introdução a propósito da critica sistemática que alguns dirigentes federativos fazem aos fundistas, treinadores e clubes que se especializaram no meio fundo, acusando-os de serem os grandes responsáveis pela crise onde o sector caiu a partir dos anos 90 do século passado.
Sobre os fatores que terão contribuído de forma decisiva para essa decadência (que foi europeia) já muito se escreveu. Não temos a pretensão de ter a “verdade” sobre o tema que consideramos de grande complexidade, integrando fatores sociais, económicos e de politica desportiva ou da ausência dela, no caso do nosso país. Por isso, não será agora que iremos voltar a essa análise para não nos desviarmos da questão agora abordada.
Na linha da frente dos “alegados culpados” da decadência do meio fundo nacional masculino estão clubes como Maratona CP, Conforlimpa, Skoda, Gémeos Castro, Imortal e Terbel, os seus atletas, treinadores e dirigentes.
Sem cair na tentação de ser demasiado exaustivo, vamos por partes, e recordemos alguns factos importantes no atletismo nos anos 80 e 90 do século XX:
1987 - O Imortal de Albufeira surge no atletismo nesta temporada. O clube algarvio contrata Carlos Lopes o melhor atleta português de todos os tempos que encerrava uma ligação de quase 20 anos ao Sporting. O fundista, à beira dos 39 anos, resolveu continuar a correr, mas passou a representar o clube algarvio, não deixando de se justificar perante os sportinguistas, explicando que “as suas motivações não tinham nada a ver com questões de dinheiro”. Para além de Carlos Lopes, corriam com a camisola do Imortal Ezequiel Canário (líder nacional dos 10 000 em 1987; campeão nacional de crosse em 1988 e 1989), Rafael Marques, Lúcio Pereira, José Frias, José Mestre, Rui Correia, Gualdino Viegas entre outros, todos com bons registos nos rankings nacionais em pista nesses anos.
1989 - O Sporting sofre, com a presidência de Jorge Gonçalves, “a sua maior crise financeira até então, que culminou com a demissão em bloco da direção a 18 de maio de 1989, numa altura em que o clube via vários atletas das diferentes modalidades a desertar para os rivais”, revela o site do clube leonino. O desinvestimento nas modalidades e no atletismo em particular, foi uma opção que viria a ser utilizada com frequência: quando o futebol entra em crise corta-se nas modalidades.
1989 - O Maratona Clube de Portugal (MCP), fundado no final desse ano, é formado por alguns atletas que sofriam significativos atrasos e cortes nos subsídios dos seus anteriores clubes. No MCP assinaram contratos mais favoráveis e estáveis, permitindo uma gestão de carreira ao longo de todo o ano. Na temporada de pista os seus atletas ocuparam sempre os primeiros lugares do ranking na pista, competindo em Europeus, Mundiais e Jogos olímpicos. Com a camisola do clube sediado Oeiras correram quase todos os melhores fundistas nacionais da década de 90 do século passado. Destacamos, apenas na dupla légua: João Campos líder nacional dos 10000 metros (1991); Luis Jesus segundo no ranking (1993); Paulo Guerra e Antonio Pinto lideraram os rankings (1994) José Ramos (1996, segundo em 1997); Eduardo Henriques líder dos 3000 obstáculos em 1996; Alfredo Brás terceiros nos 10000 metros em 1996; José Ramos 3.º nos 5000 em 1997. Em 1998 António Pinto lidera os 5000 e 10000 metros. Nos 5000 metros desse ano Eduardo Henriques é segundo e João Junqueira é terceiro e José Ramos quarto (todos do MCP!). Nos 10000 Paulo Guerra é terceiro e Eduardo Henriques quarto; António Pinto que vestiu a camisola do Maratona Clube de 1994 a 2005, é Campeão da Europa de 10000 m (Budapeste’98), recordista europeu de 10000 m (27.12,47 em 1999), 5º nos 10000 m do Mundial de Sevilha’99, recordista europeu da maratona (2.06.36 em Londres’2000). Presença em 4 Jogos Olímpicos, 3 Mundiais e 3 Europeus. “É bom ganhar a Maratona de Londres, mas faltava-me o melhor que são as medalhas. Hoje consegui concretizar esse objectivo, que perseguia há muito tempo”, disse Pinto após o ouro no europeu.
Estes resultados são bem elucidativos do envolvimento destes atletas nas competições de pista. O MCP apoiou e bem em termos monetários, mas também em estágios e preparação os atletas para competirem em crosse, estrada, mas também em pista.
1992 – Desgastado com a participação nos Jogos Olímpicos de Barcelona’92, Moniz Pereira deixou de ser treinador de atletismo, após os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. “A minha tristeza foi tal que resolvi deixar de ser aquilo que, apaixonadamente, fui toda a minha vida: treinador de atletismo”, afirmou.
1993 – O Grupo Conforlimpa é formado nesse ano, e rapidamente consegue criar uma equipa capaz de competir pelos lugares coletivos no crosse (seis vezes campeão coletivo de crosse e onze de estrada). Os seus atletas vão ocupar também os melhores lugares dos rankings de 5000 e 10000 metros entre 1997 e 2012.
1995 – Santana Lopes é presidente do Sporting (1995/1996). Moniz Pereira, Vice-Presidente do Conselho Diretivo com o pelouro das Modalidades, declarou ao Jornal Sporting de 20 de junho: “Uma das razões por que aceitei ser Vice-Presidente para as modalidades foi porque o Presidente Santana Lopes me disse logo de início que a modalidade número um, depois do Futebol, era o Atletismo.” O objetivo passava por tornar o Sporting numa das melhores equipas da Europa. Numa altura em que o sector de meio fundo e fundo deixou de ser a prioridade.
1997 - O Benfica, tem como presidente Vale e Azevedo (1997/2000). “Uma gerência que lançou o Clube num dos períodos mais turbulentos da sua existência”, segundo fonte do clube.
Perante o desinvestimento dos grandes clubes da capital no sector do meio fundo, no ranking nacional de 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 entre os 20 primeiros dos 10.000 metros não há atletas do Sporting e Benfica. Mas os atletas filiados pelo Maratona, Gémeos Castro, Conforlimpa, Cyclones, Terbel e Maia continuam a ocupar os primeiros lugares.
1999 - O presidente do Benfica, Vale e Azevedo (1997/2000), apresenta a 14 de junho o orçamento para a temporada de 1999/2000. No documento fica claro que as modalidades amadoras que não sejam capazes de se autofinanciar serão extintas.
2000 – Manuel Vilarinho, presidente do Benfica (2000/2003) defende a existência de “só quatro” modalidades no clube. “Há anos, era possível ser eclético, ter um determinado nível de vida. Hoje é impossível. Temos de olhar para o Benfica e perguntar: quais são os produtos vendáveis? Respondo: são quatro. Futebol, natação, ténis e ginástica. Continuar a manter o ecletismo sem razão de ser é cavar o fosso de onde talvez nem o futebol consiga sair. Mais: talvez nem o futebol possa, no futuro, garantir a solvabilidade do Benfica!”
2000 - O Skoda Maratona Clube foi apresentado em outubro desse ano. Principais atletas: Ângelo Pacheco (ex-Terbel), Carlos Calado (ex-Areias S. João), Paulo Gomes (ex-ED Celorico da Beira), Vítor Vasco (ex-ND Silva) e José Silva (ex-SUC). Em 2005 e 2006 foram segundos no Nacional de crosse. Apesar de uma aposta na estada e crosse, os seus atletas marcaram presença nas provas de pista e nas seleções nacionais sempre que selecionados.
2002 – Em outubro, A Associação Gémeos Castro inicia a sua atividade contratando nomes como Eduardo Henriques, Hélder Ornelas, José Santos e Alfredo Brás que viriam a sagrar-se campeões de crosse em 2003. Eduardo Henriques lidera os 10.000 metros e Hélder Ornelas é 3.º no ano de 2003. A presença dos seus atletas nas provas de pista é objectivo afirmava Domingos Castro: "Tenho ambições e sei que ao entrar em provas de pista o meu rendimento vai melhorar noutras áreas. Outros atletas também irão seguir o exemplo."
Outros factos mereciam ser acrescentados às datas, aos clubes (a importância do FC Porto da Terbel, do Maia) e aos resultados dos atletas, mas entendemos que tornaria este texto demasiado longo.
Por isso, em conclusão: abordando apenas a temática da responsabilidade de clubes, treinadores e atletas na chamada crise de meio fundo em Portugal, recordamos que a instabilidade nos grandes clubes de futebol da capital, que sempre foram o suporte do atletismo de alta competição em Portugal, provocou um forte desinvestimento no sector do meio fundo e fundo, sectores onde o nosso país tinha obtido até aí os melhores resultados em grandes competições internacionais.
Esse desinvestimento permitiu o aparecimento de clubes, que se especializaram no sector de meio fundo e fundo, ocupando progressivamente esse espaço (fenómeno que normalmente se verificou em outras modalidades).
Os novos clubes, com existências variáveis, procuraram fontes de financiamento próprio, apostando legitimamente nas competições coletivas de estrada e crosse que sempre existiram no calendário nacional.
Todavia, os atletas receberam sempre subsídios consideráveis desses clubes, para a realidade portuguesa, que lhes permitiu apostar também em competições de pista, o que se veio a verificar pela presença nos rankings nacionais dos anos 80 e 90 do século passado, como verificámos.
Nunca os clubes impediram os atletas de competirem em pista ou limitaram as suas presenças em seleções nacionais.
Em nenhum momento, tanto no plano técnico como no económico, foi colocado em causa a capacidade dos nossos atletas conciliarem as competições de crosse, estrada e pista. Isso é historicamente um facto desde os anos 70 do século passado.
A desagregação do modelo desportivo em Portugal, apoiado nos clubes da capital, provocou a derrocada de um modelo de apoio à alta competição, assente apenas na rivalidade desses dois “grandes” clube, que há muito dava sinais de esgotamento. Federações de desportos individuais houve que decidiram intervir nesse processo, como foram os casos do judo, canoagem, triatlo, natação e ciclismo, entre outras, chamando a si a responsabilidade de gestão e apoio do processo desde a formação às seleções nacionais.
Nesse sentido, atribuir às verdadeiras vitimas (atletas, treinadores e clubes) a responsabilidade da quebra de resultados internacionais em pista, e o consequente declínio do meio fundo e fundo, entendemos ser, isso sim, uma falta de rigor histórico, para não dizer uma desonestidade intelectual.
Ficcionar a memoria
Tenho assistido nos últimos tempos, talvez por força do confinamento, a um conjunto de interessantes entrevistas a atletas, treinadores e dirigentes. Muitas destas entrevistas biográficas abordam o passado recente, em que os intervenientes recordam aqueles que foram momentos únicos das suas vidas e da história do desporto nacional - a conquista de medalhas, a superação de recordes.
Sem o fazerem de forma intencional (acredito eu) muitos destes importantes desportistas têm, com o passar dos anos, procurado reescrever a «sua» história se não mesmo ficciona-la.
Toda a História é interpretação. Não vem mal ao mundo quando os ouvimos de os próprios contar, com imaginação e de forma bem divertida, como venceram esta ou aquela prova, conquistaram esta ou aquela medalha, com pequenas falhas de memória, alteração de dados objectivos, acrescentos e outros dados interpretativos. Estamos sempre, ainda de que maneira não intencional a ficcionar as nossas memorias. O problema é que na ausência de registos, de contraditório, essa é apenas a sua «estória». E não mais que isso.
PS: é com tristeza que verifico que muitos dos nosso melhoras atletas não têm uma biografia que dignifique as suas brilhantes carreiras.
09/06/2020
FOTO: partida maratona nacional na Praça Duque de Saldanha em 1912
A sorte de Marcelo, o sonho de Constantino e o milagre de Vieira
"A sorte ajuda os audazes". Foi desta forma (talvez a citar Virgílio) que Marcelo Rebelo de Sousa enalteceu o papel dos bombeiros no combate ao coronavírus e no período que agora se avizinha, o dos incêndios.
"A sorte vai ajudar-vos, vai proteger-vos. Nós temos esperança e confiança. Nós esperamos tudo dos nossos soldados da paz. Eles podem esperar tudo de todos os portugueses", disse o Presidente da República.
“A sorte vai ajudar-nos, vai proteger-nos?” questiono eu. Então estamos tramados, para não dizer outra coisa.
Segundo entendo, das palavras do Presidente, os bombeiros estão dependentes da ‘sorte’ para desempenharem a sua função, tanto nos incêndios, como no coronavírus. Quando esperaria que apontasse uma estratégia, uma ideia, um plano, um apoio acrescido, uma motivação para o trabalho dos bombeiros, o Presidente não tem mais nada para lhes dizer que “deseja-lhes sorte”.
Mas as palavras do presidente não destoam daquilo que é um padrão de discurso dos nossos dirigentes ao recorrem aos deuses no que toca “à sorte, a sonhos e a milagres”, como fatores determinantes para a prestação dos portugueses nas mais diversas áreas.
No desporto, e em particular para a prestação dos nosso atletas nos Jogos olímpicos de Tóquio, em tempo de coronavírus, destaco as palavras de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, em entrevista recente ao RECORD, apelando aos deuses do olimpo, afirmou: “sonho com uma participação olímpica que reflita o real valor do nosso desporto. Depois do que assisti no Rio, a perceção com que fiquei é que o nosso valor é superior ao que ali se viu. Bastava só mais um pouco, uma ponta de sorte, e os resultados seriam bastante diferentes. Hipismo, canoagem e futebol, por exemplo, podiam ter tido medalhas.”
Apelando ao mesmo oráculo, o presidente da Federação de Atletismo, Jorge Vieira, afirmou também em entrevista ao RECORD: “Quando ganhamos medalhas, temos de as conquistar a todas as grandes potências, temos de lhas roubar. A dimensão do desporto nesses países, os investimentos, tornam as nossas medalhas quase um milagre, mas, felizmente, temos tido algumas em diversas modalidades.”
Portanto, para os nossos dirigentes, nós, portugueses, não temos tido sorte no combate aos incêndios, como não temos sorte na nossa participação olímpica, como são quase milagres as nossas medalhas.
Winston Chuchill, que tinha tiradas para tudo, dizia que “a sorte não existe. Aquilo a que chamas sorte é o cuidado com os pormenores.”
FOTO: Oráculo de Delfos, localizado na cidade de Delfos, região central da Grécia.
01/06/2020
Um é pouco, dois é bom, três é demais
Resolução do Conselho de Ministros: “Durante o período em que durar o estado de emergência, os cidadãos podem realizar “deslocações de curta duração (na via pública) para efeitos de atividade física, sendo proibido o exercício de atividade física coletiva, considerando-se, para este efeito, mais de duas pessoas.” FOTO: Forrest Gump. 19/03/2020
Estaremos em Tóquio?
"Estaremos em Tóquio”, afirmou a semana passada, no Mónaco, Sebastian Coe, presidente da IAAF - Federação Internacional de Atletismo. Hoje, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe disse aos líderes do G7 que o Japão realizará os Jogos olímpicos e paralímpicos na data prevista. Anda hoje, o Comité Olímpico Internacional (COI) reiterou o "comprometimento completo" com a realização dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 nas datas previstas, de 24 de julho a 09 de agosto, por não existir "necessidade de quaisquer decisões drásticas". Posições assumidas quando a quase totalidade das grandes competições internacionais foram canceladas. Entretanto, por cá, à boa maneira portuguesa, os nossos atletas já apurados, ou em vias de se apurarem para os Jogos 2020 (cerca de 90), desenrasca-se como podem, tudo fazendo para manterem ativos e ainda chegarem em boa forma a Tóquio. Com a quase totalidade dos centros de treino totalmente encerrados em Portugal – Jamor, Rio Maior, Vila Real de Santo António -, assim como as pistas, piscinas e ginásios, uns treinam-se em casa, na rua ou nos jardins. Outros, conseguem regime de exceção não oficial e acedem a espaços de treino onde não deveriam estar limitados pela pandemia de Covid-19. Isto quando sabem que a maioria dos seus adversários nem por um momento deixaram de treinar com as condições que lhes permitem chegar ao seu melhor nível caso se realize os Jogos de Tóquio 2020.
17/03/2020
17/03/2020
O que é ser atleta português hoje?
Muito se fala da naturalização de atletas sem qualquer relação identitária com a cultura e língua portuguesa. Na verdade, ao abrigo da Lei da Nacionalidade (n.º 6 do artigo 6), o Governo pode conceder a naturalização, “aos estrangeiros que tenham prestado ou sejam chamados a prestar serviços relevantes ao Estado Português ou à comunidade nacional”. Portanto o critério, em muitos casos, nada tem a ver com questões culturais, políticas, linguísticas, religiosas ou identitárias.
Esta, evidentemente, não é uma questão portuguesa. Todos os anos assistimos a atletas nascidos em África a conquistarem medalhas em campeonatos europeus, mundiais e jogos olímpicos com as camisolas dos países europeus e dos EUA. Nada disse nos surpreende e é nesta realidade que temos de encarar as naturalizações em "tempo recorde".
Vem isto a propósito do artigo publicado hoje por Rui Tavares, no PÚBLICO, onde o historiador questiona: o que é ser português? Entre outros dados interessantes, recorda que as fronteiras de Portugal não são assim tão estáveis e que ser português não é algo imutável com 900 anos. Tavares afirma que ser português mudou tanto ao longo da história como a geografia de Portugal.
Assim, relembra-nos que um timorense nascido antes de 19 de maio de 2002 pode automaticamente pedir a nacionalidade portuguesa, tal como os cidadãos nascidos em Goa, Damão e Diu, antes de 1961, independentemente de os seus pais serem portugueses ou não. Ao mesmo tempo, pessoas nascidas em Portugal nos anos 80 e 90 não tem direito à cidadania portuguesa se os pais não forem portugueses. Isto quando existem cerca de 150 mil portugueses em Macau que não sabem uma palavra de português. Ao mesmo tempo, um cidadão descendente de um judeu português do século XV pode requerer e ser-lhe concedida nacionalidade portuguesa. Mas um brasileiro ou estado-unidense com bisavó portuguesa não pode requerer nacionalidade. Ser português já significou em tempos ser súbdito do rei de Portugal, que foi durante séculos um reino multiétnico e multirreligioso. Ser português hoje, juridicamente, significa ser reconhecido enquanto tal pelo Estado Português.
Foto: Pedro Pichardo
ARTIGO: https://www.publico.pt/2019/11/26/politica/opiniao/portugues-hoje-1895221
27/11/2019
Atleta até morrer
Há atividades performativas que permitem aos seus praticantes manterem um alto nível até idades muito avançadas. Por exemplo, os músicos podem ser profissionais até morrer. Assistimos em janeiro de 2018 na Gulbenkian a um recital de Menahem Pressler, com 94 anos. O pianista nascido na Alemanha teve de ser ajudado na sua deslocação para o palco. “A música faz-nos sentir sem idade”, disse após uma performance aplaudida de pé pelo publico estasiado com a sua energia contagiante.
Na pintura a idade também não é problema. Pablo Picasso morreu a 8 de abril de 1973 em Mougins, França, com 91 anos. Aos 87 anos, produziu em sete meses uma série de 347 gravuras recuperando os temas da juventude. Na noite anterior esteve a pintar até às 3 da manhã.
Poderíamos enumerar outros casos de artistas que se mantiveram activos até depois dos 90 anos.
E os atletas? Podem os atletas olímpicos competir até morrer? Sim, podem. Ao nível do escalão correspondente à sua idade. Com algumas excepções (golfe, tiro, equitação), a idade do desportista, como o bailarino clássico, tem uma influência determinante. O problema é quando os antigos atletas querem ‘apenas’ continuar a ter o mesmo estatuto que os levou a serem atletas internacionais. A viverem, aos 50, 60 ou 70 anos, agarrados a uma imagem de si que ficou nos 20, 30 anos. E, assim, não querem, ou não podem, ser treinadores, dirigentes, ou outra actividade compatível com a sua formação.
Em 2019, o bailado - clássico e contemporâneo – passou a ser em Portugal equiparado a uma profissão de desgaste rápido.
https://www.youtube.com/watch?v=JhL62BtfTQQ
Na pintura a idade também não é problema. Pablo Picasso morreu a 8 de abril de 1973 em Mougins, França, com 91 anos. Aos 87 anos, produziu em sete meses uma série de 347 gravuras recuperando os temas da juventude. Na noite anterior esteve a pintar até às 3 da manhã.
Poderíamos enumerar outros casos de artistas que se mantiveram activos até depois dos 90 anos.
E os atletas? Podem os atletas olímpicos competir até morrer? Sim, podem. Ao nível do escalão correspondente à sua idade. Com algumas excepções (golfe, tiro, equitação), a idade do desportista, como o bailarino clássico, tem uma influência determinante. O problema é quando os antigos atletas querem ‘apenas’ continuar a ter o mesmo estatuto que os levou a serem atletas internacionais. A viverem, aos 50, 60 ou 70 anos, agarrados a uma imagem de si que ficou nos 20, 30 anos. E, assim, não querem, ou não podem, ser treinadores, dirigentes, ou outra actividade compatível com a sua formação.
Em 2019, o bailado - clássico e contemporâneo – passou a ser em Portugal equiparado a uma profissão de desgaste rápido.
https://www.youtube.com/watch?v=JhL62BtfTQQ
Os clubes e a alta competição em Portugal
O desporto português sempre viveu do trabalho realizado pelos clubes. A demissão do Estado neste sector, desde os primeiros anos, deixou aos clubes, essa célula fundamental da sociedade portuguesa, todo o trabalho realizado desde a formação às seleções nacionais. O peso dos clubes em todo o processo de desenvolvimento desportivo sempre foi determinante para o sucesso do desporto nacional, e do atletismo em particular, no plano internacional – Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos.
Esses pequenos e grandes clubes, que na maioria desenvolve as suas atividades de forma amadora, são estruturas extremamente vulneráveis que não se coaduna com o que é a alta competição: um processo de trabalho estável realizado a longo prazo, com exigência de qualidade organizativa de excelência.
Projetos clubísticos em determinadas modalidades que foram existindo ao longo da nossa história dependeram sempre de uma direção a prazo, de uma ideia emocional de clubes, da rivalidade, de uma pessoa. Quase sempre de uma só pessoa que assumia e assume o ideal desse projeto. Isso aconteceu ao longo da história com um padrão semelhantes nos chamados grandes clubes – Benfica, Sporting e FC Porto.
Quando esses clubes entram em crise, quase sempre por fatores associados ao futebol, tudo é colocado em causa e rapidamente esses projetos entram em colapso. Isso é incompatível com a alta competição, deixando atletas de seleção numa situação muito vulnerável.
O Sporting teve, ao longo de mais de 40 anos, um homem como Moniz Pereira, com um elevado nível de cultura desportiva e influência que permitiu ao clube a estabilidade para desenvolver um trabalho e esperar pelos grandes resultados – medalhas olímpicas títulos e recordes mundiais e europeus.
Esta semana, o Sporting decidiu realizar alguns cortes e a revisão no investimento no atletismo é uma das medidas implementadas pela direção liderada por Frederico Varandas.
FOTO: Partida corrida nos anos 40 do século passado com Moniz Pereira à direita na foto.
23/10/2019
Esses pequenos e grandes clubes, que na maioria desenvolve as suas atividades de forma amadora, são estruturas extremamente vulneráveis que não se coaduna com o que é a alta competição: um processo de trabalho estável realizado a longo prazo, com exigência de qualidade organizativa de excelência.
Projetos clubísticos em determinadas modalidades que foram existindo ao longo da nossa história dependeram sempre de uma direção a prazo, de uma ideia emocional de clubes, da rivalidade, de uma pessoa. Quase sempre de uma só pessoa que assumia e assume o ideal desse projeto. Isso aconteceu ao longo da história com um padrão semelhantes nos chamados grandes clubes – Benfica, Sporting e FC Porto.
Quando esses clubes entram em crise, quase sempre por fatores associados ao futebol, tudo é colocado em causa e rapidamente esses projetos entram em colapso. Isso é incompatível com a alta competição, deixando atletas de seleção numa situação muito vulnerável.
O Sporting teve, ao longo de mais de 40 anos, um homem como Moniz Pereira, com um elevado nível de cultura desportiva e influência que permitiu ao clube a estabilidade para desenvolver um trabalho e esperar pelos grandes resultados – medalhas olímpicas títulos e recordes mundiais e europeus.
Esta semana, o Sporting decidiu realizar alguns cortes e a revisão no investimento no atletismo é uma das medidas implementadas pela direção liderada por Frederico Varandas.
FOTO: Partida corrida nos anos 40 do século passado com Moniz Pereira à direita na foto.
23/10/2019
ATLETISMO - Algumas ideias sobre o sistema de qualificação dupla para os Jogos
Uma da característica mais importantes do atletismo é a sua simplicidade competitiva: correr, saltar, lançar, marchar… mais e melhor.
Essa simplicidade sempre foi o seu ADN na actividade competitiva, aferida pelo cronómetro, pelo fita métrica, como na sua organização simples, clara e objectiva das suas regras e regulamentos. Mas, a partir de agora, tudo se irá complicar no atletismo no que diz respeito à qualificação dos atletas para os Jogos Olímpicos e Mundiais.
O novo sistema de qualificação tem como objetivo tornar os Jogos Olímpicos mais competitivos, mas esse novo sistema poderá prejudicar seriamente os corredores mais jovens e menos experientes. Isto numa altura em que as federações nacionais e internacionais abrem-se e valorizam universos nas margens da alta competição como o running e os masters.
Segundo a IAAF, a ideia é que 50% dos atletas apurados para cada evento sejam através dos mínimos de entrada e os restantes 50% através do Sistema de Ranking Mundial da IAAF.
O atletismo tem agora uma cota de 1.900 atletas no total para Tóquio 2020. Isso é um corte de 16% em comparação com os 2.268 atletas que competiram nos Jogos Rio em 2016, 368 atletas a menos. Isso é muito.
O conceito de Rankings Mundiais é uma ferramenta para a IAAF alcançar seus próprios objetivos:
(1) incentivar os atletas a competir na IAAF Diamond League (mas nas corridas apenas até 3000 metros),
(2) então, esses meetings podem atrair um maior numero de público aos estádios e mais audiências nas TVs, e
(3) assim, promover o aumento de taxas de direitos televisivos e acordos de patrocínio.
Essa linha de raciocínio, faz todo o sentido. No entanto, não há nenhum prémio em dinheiro anexado às colocações do Ranking Mundial no final de cada ano como acontece com outras modalidades.
Tudo está bem encaminhado para que os empresários passem a ter mais poder.
O presidente da IAAF, Sebastian Coe, reconheceu que a "mudança nunca é fácil", mas deixou claro por que as alterações estão a ser aplicadas, para dar aos fãs "uma razão para sintonizar e seguir as suas estrelas na próxima década”.
É sobre isso que temos também muitas duvidas.
https://www.iaaf.org/news/press-release/council-march-2019-olympic-qualification
https://runningmagazine.ca/sections/runs-races/the-problem-with-the-2020-olympic-qualification-system/?fbclid=IwAR0pW4KPxrj7UvCYbVzxLNRSOY7KnSs6irFq8tsheCoxMB2fJnZKzSXIlwI
https://deadspin.com/usa-track-field-has-shot-itself-in-the-dick-yet-again-1833386862
https://www.thesportsexaminer.com/lane-one-the-iaaf-is-changing-track-field-computers-are-in-distance-races-are-out/?fbclid=IwAR3zF_4Xmr0Fr_HhyjHGqzfF-7D87nhtPoSlMEpNIE9viBt58cF7JUZSlHE
Essa simplicidade sempre foi o seu ADN na actividade competitiva, aferida pelo cronómetro, pelo fita métrica, como na sua organização simples, clara e objectiva das suas regras e regulamentos. Mas, a partir de agora, tudo se irá complicar no atletismo no que diz respeito à qualificação dos atletas para os Jogos Olímpicos e Mundiais.
O novo sistema de qualificação tem como objetivo tornar os Jogos Olímpicos mais competitivos, mas esse novo sistema poderá prejudicar seriamente os corredores mais jovens e menos experientes. Isto numa altura em que as federações nacionais e internacionais abrem-se e valorizam universos nas margens da alta competição como o running e os masters.
Segundo a IAAF, a ideia é que 50% dos atletas apurados para cada evento sejam através dos mínimos de entrada e os restantes 50% através do Sistema de Ranking Mundial da IAAF.
O atletismo tem agora uma cota de 1.900 atletas no total para Tóquio 2020. Isso é um corte de 16% em comparação com os 2.268 atletas que competiram nos Jogos Rio em 2016, 368 atletas a menos. Isso é muito.
O conceito de Rankings Mundiais é uma ferramenta para a IAAF alcançar seus próprios objetivos:
(1) incentivar os atletas a competir na IAAF Diamond League (mas nas corridas apenas até 3000 metros),
(2) então, esses meetings podem atrair um maior numero de público aos estádios e mais audiências nas TVs, e
(3) assim, promover o aumento de taxas de direitos televisivos e acordos de patrocínio.
Essa linha de raciocínio, faz todo o sentido. No entanto, não há nenhum prémio em dinheiro anexado às colocações do Ranking Mundial no final de cada ano como acontece com outras modalidades.
Tudo está bem encaminhado para que os empresários passem a ter mais poder.
O presidente da IAAF, Sebastian Coe, reconheceu que a "mudança nunca é fácil", mas deixou claro por que as alterações estão a ser aplicadas, para dar aos fãs "uma razão para sintonizar e seguir as suas estrelas na próxima década”.
É sobre isso que temos também muitas duvidas.
https://www.iaaf.org/news/press-release/council-march-2019-olympic-qualification
https://runningmagazine.ca/sections/runs-races/the-problem-with-the-2020-olympic-qualification-system/?fbclid=IwAR0pW4KPxrj7UvCYbVzxLNRSOY7KnSs6irFq8tsheCoxMB2fJnZKzSXIlwI
https://deadspin.com/usa-track-field-has-shot-itself-in-the-dick-yet-again-1833386862
https://www.thesportsexaminer.com/lane-one-the-iaaf-is-changing-track-field-computers-are-in-distance-races-are-out/?fbclid=IwAR3zF_4Xmr0Fr_HhyjHGqzfF-7D87nhtPoSlMEpNIE9viBt58cF7JUZSlHE
Periodização: ciência, mito e alternativas
“A periodização é tida como algo fundamental no processo de treino desportivo. Todavia, esta é um a crença que, na realidade, não é suportada pela literatura, pelo menos de momento. Infelizmente, a crença neste conceito é tão forte que mesmo revistas cientificas tem perpetuado pseudociência neste campo. (…).
Em particular, a previsão dos timings das adaptações – conceito nuclear de toda a periodização - não tem sustentação cientifica, apesar de dezenas de anos de investigação (Afonso et al., 2017). Adicionalmente, muitos dos testes utilizados para aferir a carga de treino não estão devidamente estudados no que diz respeito às suas propriedades, tais como: sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo (Mujika, 2007).
Neste sentido, sugere-se que todos os planeamentos de longo e médio prazo sejam bastante genéricos, abertos, traçando apenas pensamentos gerais acerca do que é pretendido. A periodização, a ser realizada, deverá ser de curta duração, ou seja, não mais do que 1-2 semanas. E, mesmo assim tais planos microperiodizados deverão prever que alterações quase diárias tenham de ser introduzidas à medida que o processo decorre. Esta perspectiva é mais consistente com a visão do processo de treino quanto algo de profundamente complexo e ‘messy’ (…).
Em suma, a ideia base consiste em observar e analisar detalhadamente o decorrer dos processos e o que isso sugere para vias futuras de atuação, em vez de se apostar em periodizações que tentam pré-impor vias de evolução e que, muitas vezes, serão incompatíveis com os acontecimentos quotidianos, semanais e mensais que emergirão do processo. Aliás, ‘emergência’ significa exactamente algo que não pode ser previsto à priori, Portanto abracemos as contingências da vida e do processo de treino e não tentemos impor os nossos preconceitos. Como disse uma vez – e muito acertadamente! – prognósticos só no final do jogo.”
Síntese da conclusão do trabalho publicado no Anuário do Treino Desportivo 2018 do COP por José Afonso, docente auxiliar da FADEUP com pós-doutoramento no âmbito da periodização.
FOTO: Pedro Mónica, Campeonatos Nacionais de Atletismo, Estádio Nacional; 110 Metros Barreira, julho 1981
25/01/2019
Em particular, a previsão dos timings das adaptações – conceito nuclear de toda a periodização - não tem sustentação cientifica, apesar de dezenas de anos de investigação (Afonso et al., 2017). Adicionalmente, muitos dos testes utilizados para aferir a carga de treino não estão devidamente estudados no que diz respeito às suas propriedades, tais como: sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo (Mujika, 2007).
Neste sentido, sugere-se que todos os planeamentos de longo e médio prazo sejam bastante genéricos, abertos, traçando apenas pensamentos gerais acerca do que é pretendido. A periodização, a ser realizada, deverá ser de curta duração, ou seja, não mais do que 1-2 semanas. E, mesmo assim tais planos microperiodizados deverão prever que alterações quase diárias tenham de ser introduzidas à medida que o processo decorre. Esta perspectiva é mais consistente com a visão do processo de treino quanto algo de profundamente complexo e ‘messy’ (…).
Em suma, a ideia base consiste em observar e analisar detalhadamente o decorrer dos processos e o que isso sugere para vias futuras de atuação, em vez de se apostar em periodizações que tentam pré-impor vias de evolução e que, muitas vezes, serão incompatíveis com os acontecimentos quotidianos, semanais e mensais que emergirão do processo. Aliás, ‘emergência’ significa exactamente algo que não pode ser previsto à priori, Portanto abracemos as contingências da vida e do processo de treino e não tentemos impor os nossos preconceitos. Como disse uma vez – e muito acertadamente! – prognósticos só no final do jogo.”
Síntese da conclusão do trabalho publicado no Anuário do Treino Desportivo 2018 do COP por José Afonso, docente auxiliar da FADEUP com pós-doutoramento no âmbito da periodização.
FOTO: Pedro Mónica, Campeonatos Nacionais de Atletismo, Estádio Nacional; 110 Metros Barreira, julho 1981
25/01/2019
Os meus primeiros editores
Quando cheguei ao DN, no final de 1992, havia dois editores no desporto: Carlos Trigo e Bertolino de Carvalho. Editores que tiveram a ousadia de contratar um ‘colaborador’ que nada percebia de jornalismo. Quanto muito tinha algumas noções básicas do que era o atletismo. O DN vivia momentos de reestruturação e eu, atleta de segundo plano em final de carreira com um curso de história, iria escrever sobre atletismo, tendo a responsabilidade de suceder a um dos maiores especialistas sobre a modalidade – Sequeira Andrade.
Carlos Trigo e Bertolino de Carvalho eram editores muito diferentes. Trigo era um jovem editor com “sangue na guelra”, capaz de fazer chegar à redacção as notícias que nos faziam competir com os desportivos. Bertolino de Carvalho era, por seu lado, o editor, que na sua infinita paciência, “aguentava” a redacção, levando com os problemas da direção e do dia a dia. Era assim que eu os via quando cheguei ao DN. Carlos Trigo saiu do DN poucos anos depois. Bertolino de Carvalho continuou no jornal até à reforma. Por isso tive o privilégio de com ele aprender muito do pouco que sei sobre jornalismo e comunicação. Passando, alguns anos depois, a ser seu Amigo. Uma das características que o distinguiam da maioria dos jornalistas daquela geração era que nunca o víamos verdadeiramente enervado ou aos gritos. Coisa normal na profissão. Pelo contrário, mesmo quando o calor do “fecho” apertava, Bertolino mantinha-se impávido na sua secretária a rever, a escrever e a reescrever as páginas do desporto, talvez sofrendo por dentro, mas sempre tranquilo. É assim que o irei recordar sempre.
Bertolino de Carvalho faleceu hoje (14 de dezembro de 2018) no Hospital de Setúbal.
No DN:
https://www.dn.pt/pais/interior/um-ser-humano-excecional-assim-era-o-bertol-10322730.html?fbclid=IwAR2dsrWkmtk3415-oIkNnN4ijVqPDSape4cuPoXFYPX9iboEXCumooSkuP0
Carlos Trigo e Bertolino de Carvalho eram editores muito diferentes. Trigo era um jovem editor com “sangue na guelra”, capaz de fazer chegar à redacção as notícias que nos faziam competir com os desportivos. Bertolino de Carvalho era, por seu lado, o editor, que na sua infinita paciência, “aguentava” a redacção, levando com os problemas da direção e do dia a dia. Era assim que eu os via quando cheguei ao DN. Carlos Trigo saiu do DN poucos anos depois. Bertolino de Carvalho continuou no jornal até à reforma. Por isso tive o privilégio de com ele aprender muito do pouco que sei sobre jornalismo e comunicação. Passando, alguns anos depois, a ser seu Amigo. Uma das características que o distinguiam da maioria dos jornalistas daquela geração era que nunca o víamos verdadeiramente enervado ou aos gritos. Coisa normal na profissão. Pelo contrário, mesmo quando o calor do “fecho” apertava, Bertolino mantinha-se impávido na sua secretária a rever, a escrever e a reescrever as páginas do desporto, talvez sofrendo por dentro, mas sempre tranquilo. É assim que o irei recordar sempre.
Bertolino de Carvalho faleceu hoje (14 de dezembro de 2018) no Hospital de Setúbal.
No DN:
https://www.dn.pt/pais/interior/um-ser-humano-excecional-assim-era-o-bertol-10322730.html?fbclid=IwAR2dsrWkmtk3415-oIkNnN4ijVqPDSape4cuPoXFYPX9iboEXCumooSkuP0
Quando a tropa não impede um sonho (?)
Jorge Miguel, treinador de atletismo, recorda o seu início na modalidade:
Em 1970 o Regimento de Lanceiros 2 era um “viveiro” de desportistas famosos que eu admirava, antes de os conhecer.
Depois fui vendo que alguns eram pessoas insuportáveis, o que me levou a concluir que, se já tinha algumas dúvidas em relação aos “ídolos”, a partir daí deixei ter.
A tropa ensinou-me muito.
Nós, os soldados, passávamos o tempo na caserna a discutir o Benfica e o Sporting, com o nosso fanatismo clubístico e eu fui vendo que, para que os futebolistas pudessem ter dias de folga, nós chegávamos a fazer cinco dias seguidos de serviço. Comecei a abrir os olhos.
Nós éramos obrigados a “formar” sempre e ir a marchar em pelotão para as refeições, mas os futebolistas estavam dispensados disso.
Um dia precisei de ir à messe de sargentos e estavam lá eles, os dos clubes grandes, todos em grande festa a comer frango assado vindo de fora.
Pensei: Espera aí, afinal estes gajos são todos amigos e nós é que brigamos a ver quem é o melhor?
Nesse dia fiquei “vacinado” e o meu “sportinguismo” ficou reduzido a quase nada.
Apesar deste choque ao descobrir que no Desporto não era só uma “Escola de Virtudes”, também encontrei desportistas famosos que eram excelentes seres humanos, a demonstrar que o que faz a diferença são as pessoas.
Eu gostava estar na tropa, pois em casa do meu pai o trabalho era muito mais duro.
Não era militarista, mas fazia por cumprir tudo o que me era exigido. Como era condutor, conhecia muitos chefes, pois muitas vezes andava com eles nas rondas.
Quando no Verão de 69 passei a pronto, vi que tinha chegado a hora de realizar o meu sonho de criança: Ser um grande atleta ao serviço do Sporting.
Eu terminara quatro meses de recruta e agora iria ter tempo para me preparar para ir prestar provas, a ver se me aceitavam.
Na Polícia Militar na Calçada da Ajuda havia um Picadeiro e quando tinha horas livres ia para lá treinar.
Como não percebia nada de treino e queria ser corredor de cinco mil metros, chegava lá e dava cinco voltas “a abrir” e estava o treino feito.
Depois comecei os meus contactos para alguém me apresentar ao professor Moniz Pereira e como nessa altura estavam no quartel dois grandes atletas do Sporting, o furriel Carlos Sustelo (lançador de martelo) e o alferes Raposo Borges (saltador com vara), falei com eles sobre o meu desejo e eles falaram com o professor, que me mandou lá ir num determinado dia, antes da hora do treino dos craques.
Fui ao Estádio Alvalade e dirigi-me ao professor Moniz Pereira que começou por me perguntar: Então você é que é o tal polícia militar que me falaram o Sustelo e o Raposo, que quer ser atleta?
Sim, sou eu.
Então calha mesmo bem, pois temos aí uns gajos que se andam a portar mal e se vier para cá, se for preciso, mando-os prender.
Faça aí uns exercícios de aquecimento e depois vai fazer um teste de mil metros.
Não percebi a piada e fui fazer o aquecimento, mas por azar começou a cair uma trovoada que deixou a pista de cinza cheia de água, de tal modo que parecia um rio.
E agora professor?
Siga lá para cima para os 200m e quando eu apitar arranque, são duas voltas e meia.
Fui fazer o teste e só ouvia os meus pés cloc…cloc..cloc..tal era a altura da água na pista. Mesmo assim dei o máximo e no final dirigi-me ao professor.
Que tal?
Que idade é que você tem?
21 anos.
Pois é. Se você fosse júnior, ainda poderíamos pensar em admiti-lo. Agora nos seniores, já tenho a equipa completa e não metemos mais atletas.
Saí de Alvalade muito desiludido. O professor Moniz Pereira nem se dignou a dizer-me o tempo que tinha feito.
Chegado ao quartel não desanimei e continuei a treinar no Picadeiro.
Pensei logo numa estratégia.
Como antes da tropa já correra na FNAT pela Casa do Povo da Marmeleira, iria à sede da FNAT na Calçada de Sant´Ana em Lisboa, inscrevia-me como individual, faria lá uma provas e quando estivesse em forma voltaria a Alvalade.
Como tinha família no Dafundo e na Cruz Quebrada e como na tropa o jantar era às seis da tarde, à medida que os dias foram crescendo por vezes ia treinar à zona do Estádio Nacional e depois jantava em casa do tio Artur, do tio Gregório ou da tia Maria do Carmo.
Um dia, ia a chegar à pista de cinza do EN e ouvi uma voz: Faz favor?
Era um homem a chamar-me.
Você não é aquele rapaz que há uns tempos foi ao Sporting fazer um teste com o professor Moniz Pereira?
Sou, mas como é que o senhor sabe?
Eu estava lá e vi a forma como ele o tratou. Ele só quer saber dos “craques”.
Como assim?
É que eu também dou lá treino a alguns atletas, mas agora estou aqui com uma Escola de Atletismo nesta pista e quero ajudar todos aqueles que gostam de atletismo e não têm treinador.
E como é que o senhor se chama?
Eduardo Cunha.
Fiquei sem palavras. Aquele era o famoso professor/treinador que tinha estado no Canadá.
Os jornais tinham destacado isso e agora estava ali a falar comigo.
Então e pode ajudar-me?
Vamos a isso. Você agora vai andar três semanas a fazer corrida a ritmo fraco e depois vem cá ter comigo para fazer as séries de 400m. Vai ver como passa a correr mais depressa.
Vim feliz. Encontrara alguém que percebia mesmo de Atletismo e iria ensinar-me.
Pouco tempo depois comecei a fazer provas na FNAT em Lisboa. Como tinha que participar em 2ªs categorias, ganhei várias corridas e no ano seguinte iria subir à 1ª categoria.
Um dia fui correr para o Picadeiro e estava lá perto um pelotão de recrutas. No final do dia estava na minha caserna e apareceu lá um deles e perguntou-me: Oh nosso pronto, você pratica atletismo?
P´ra começar trata-me por tu, disse-lhe eu. Porque é que perguntas isso?
É que eu também corro.
Como é que te chamas?
António Riscado.
Tu é que és o Riscado? Então corres no Belenenses?
Como é que sabes?
É pá, o nome do António Riscado é bem conhecido pelas pessoas que gostam de atletismo.
A partir desse dia eu e o Riscado tornamo-nos dois amigos inseparáveis. Ele levou-me a treinar com ele no Restelo, no tempo em que o treinador do futebol era o Félix Mourinho, que também era guarda redes. Um senhor.
Muitas vezes íamos os dois treinar na pista, à hora do treino do futebol e nunca nos colocaram problemas.
O Riscado corria muito mais do que eu e ensinou-me bastante. Às vezes ele tinha “aplicação militar” no quartel e dizia-me que não podia ir treinar.
Então eu ia falar com o comandante do pelotão dele e dispensavam-no para o treino e lá íamos os dois para o Restelo.
Por vezes íamos treinar ao fim do dia com os outros atletas.
Nessa altura o principal treinador do Atletismo no Belenenses era o professor Matos Fernandes, angolano, que fora recordista nacional do Decatlo. O Riscado pedia-lhe e ele não se importava que eu treinasse no grupo.
Havia por lá outros treinadores como o Fonseca e Costa e o Eduardo Cunha também aparecia por lá na pista do Restelo.
O Belenenses era o clube dos “pobres”, pois os melhores atletas eram todos do Benfica e do Sporting, que já nesse tempo lhes pagavam bem.
No entanto e para além do António Riscado, vários jovens se destacavam na equipa.
Recordo o António Vermelhudo, que já passava os 2,00m na altura, o José Singéis que fizera 7,27 no comprimento e a Maria José Sobral, que corria os 200m em 25 segundos.
Havia também um grupo, vindos de Angola e Moçambique, nos quais se destacava o Barceló de Carvalho que corria os 400m.
Um dia o Riscado disse-me: Oh Miguel, andas aí na FNAT, porque é que não vens para o Belenenses?
Achei a ideia interessante e disse-lhe: E porque não?
Passei então a treinar num grupo de corredores do qual além do Riscado faziam parte um tal Albano Ferrer e o Domingos Fernandes, um miúdo que já apertava bem comigo.
Nesse tempo havia um senhor, belenenses fanático, que tinha por detrás dos Jerónimos uma pequena loja com fruta, bebidas e outras coisas que vendia. Os fundistas do Belenenses no final do treino tinham direito a ir lá beber um copo de meio litro de leite frio.
O Riscado disse-me: Agora que já és do Beleneneses também tens direito ao leite, mas eu como nunca gostei muito de leite quente não fiquei entusiasmado.
Porém o Riscado insistiu: Hás-de experimentar. A seguir ao treino a gente vem cheio de sede, sabe mesmo bem.
Um dia experimentei. Tinha sido um treino puxado, vinha todo derreado. Meti o copo de leite à boca e zás. Éeeeeeee… É pá, que maravilha!
E a partir desse dia nunca mais deixei de beber um copo de leite frio a seguir a um treino forte.
A primeira prova que fiz pelo Belenenses foi num Nacional de Corta mato em Coimbra, em Fevereiro de 72.
Seguimos de autocarro de Belém no sábado e fomos lá dormir.
Sei que nos seniores eram sete voltas com cerca 1.500m cada, no meio de uma vinha e com o piso cheio de lama.
Partiram 83 atletas e cheguei em 24º lugar. O Riscado foi o primeiro da equipa (chegou nos dez primeiros) e o Ferrer o segundo, eu fechei a equipa e o Domingos chegou a seguir a mim. Ficámos em terceiro lugar. Vínhamos todos contentes.
Eu começava sempre as provas cá atrás e depois ia passando por eles.
Nunca ninguém me passava, mas nesse dia na parte final da corrida sinto um vulto a passar por mim como uma flecha. Quem é este gajo?
Era o Carlos Lopes a dar-me uma volta de avanço. O homem corria p´ra caraças!
Pouco tempo depois soube que iria passar os últimos três meses de licença, em casa, antes de passar à disponibilidade em Maio.
Como nessa altura já ia trabalhar com o meu irmão João na padaria da Marmeleira, vi logo que para treinar bem no atletismo seria difícil. Mesmo assim comprometi-me com o Belenenses a treinar o melhor possível para correr a Estafeta Cascais - Lisboa.
Continuei por isso a treinar, mas a trabalhar de noite a às vezes mais de doze horas seguidas, sentia a forma a ir-se embora.
Apesar disso no dia e hora marcada lá estava eu no Restelo para dar o contributo à equipa. Quando lá cheguei já só lá estava o Seccionista.
Então o resto da malta?
Já saíram. Não sabias que a prova foi antecipada uma hora? Mandamos-te uma carta.
Agora vais para o último percurso na equipa B.
Não me chateei muito. Sabia que já estaria em má forma e fui para o meu percurso em Algés, à espera dos atletas. Passaram várias equipas, mas a equipa B do Belenenses nem vê-la.
Nisto chega um dirigente do clube e disse-me: O que é que estás aqui a fazer? Nós só temos uma equipa. O atleta do primeiro percurso era para estar lá na partida, mas como não apareceu, tivemos que meter o atleta da equipa B.
Fiquei desolado. Tinha ido de propósito a Lisboa para correr numa clássica e nem equipa tinha.
E terminei assim, ingloriamente a minha participação como atleta do Belenenses. Fiz apenas uma corrida.
Estou certo que nunca recebi a tal carta a dizer que a prova tinha sido adiantada uma hora, o que para o caso pouco interessava, pois eu ia decidido a pedir para me meterem na equipa B.
Não me sentia em condições de formar equipa com o Riscado e &.
Ao longo dos três anos que estive em Lisboa e vendo que apesar de correr muito mais do que eu, o António Riscado nem sequer tinha lugar no Sporting ou no Benfica, eu percebera que nunca seria um bom atleta e que o Atletismo nunca me daria de comer.
Na minha vida sempre soube diferenciar o que era uma paixão, um sonho, e a realidade de ter que ganhar o pão, para me sustentar e aos meus.
Já namorava com a Teresa há vários anos, queria casar, ter filhos, formar família e por isso embora contrariado aceitei o convite do meu irmão João, para formar com ele uma Sociedade de Padarias. Iria ser padeiro e por agora o Atletismo teria que esperar.
Mas não ia desistir.
Outro projecto germinava já na minha cabeça. Era uma questão de oportunidade.
Quanto ao António Riscado, o maior amigo que encontrei na tropa, dedico-lhe esta foto tirada vinte anos depois de nos termos conhecido, quando eu já era apenas treinador.
Aqui, num Nacional de Corta mato nas Caldas da Raínha, ele correu já como veterano e está no meio da nossa equipa de juvenis do CNRM, formada pelas atletas Carla Peralta, Susana Feitor, Ana Inês, Ana Raimundo, Susana Miguel, Carla Batista e Isilda Jorge.
Jorge Miguel é um dos treinadores mais reconhecidos na marcha atlética, sendo responsável pelo aparecimento da marcha no Clube de Natação de Rio Maior, onde formou atletas como Susana Feitor, João Vieira, Sérgio Vieira, Inês Henriques e Vera Santos, que fazem parte da base da seleção nacional, e que têm conseguido resultados de excelência a nível internacional.
Em 1970 o Regimento de Lanceiros 2 era um “viveiro” de desportistas famosos que eu admirava, antes de os conhecer.
Depois fui vendo que alguns eram pessoas insuportáveis, o que me levou a concluir que, se já tinha algumas dúvidas em relação aos “ídolos”, a partir daí deixei ter.
A tropa ensinou-me muito.
Nós, os soldados, passávamos o tempo na caserna a discutir o Benfica e o Sporting, com o nosso fanatismo clubístico e eu fui vendo que, para que os futebolistas pudessem ter dias de folga, nós chegávamos a fazer cinco dias seguidos de serviço. Comecei a abrir os olhos.
Nós éramos obrigados a “formar” sempre e ir a marchar em pelotão para as refeições, mas os futebolistas estavam dispensados disso.
Um dia precisei de ir à messe de sargentos e estavam lá eles, os dos clubes grandes, todos em grande festa a comer frango assado vindo de fora.
Pensei: Espera aí, afinal estes gajos são todos amigos e nós é que brigamos a ver quem é o melhor?
Nesse dia fiquei “vacinado” e o meu “sportinguismo” ficou reduzido a quase nada.
Apesar deste choque ao descobrir que no Desporto não era só uma “Escola de Virtudes”, também encontrei desportistas famosos que eram excelentes seres humanos, a demonstrar que o que faz a diferença são as pessoas.
Eu gostava estar na tropa, pois em casa do meu pai o trabalho era muito mais duro.
Não era militarista, mas fazia por cumprir tudo o que me era exigido. Como era condutor, conhecia muitos chefes, pois muitas vezes andava com eles nas rondas.
Quando no Verão de 69 passei a pronto, vi que tinha chegado a hora de realizar o meu sonho de criança: Ser um grande atleta ao serviço do Sporting.
Eu terminara quatro meses de recruta e agora iria ter tempo para me preparar para ir prestar provas, a ver se me aceitavam.
Na Polícia Militar na Calçada da Ajuda havia um Picadeiro e quando tinha horas livres ia para lá treinar.
Como não percebia nada de treino e queria ser corredor de cinco mil metros, chegava lá e dava cinco voltas “a abrir” e estava o treino feito.
Depois comecei os meus contactos para alguém me apresentar ao professor Moniz Pereira e como nessa altura estavam no quartel dois grandes atletas do Sporting, o furriel Carlos Sustelo (lançador de martelo) e o alferes Raposo Borges (saltador com vara), falei com eles sobre o meu desejo e eles falaram com o professor, que me mandou lá ir num determinado dia, antes da hora do treino dos craques.
Fui ao Estádio Alvalade e dirigi-me ao professor Moniz Pereira que começou por me perguntar: Então você é que é o tal polícia militar que me falaram o Sustelo e o Raposo, que quer ser atleta?
Sim, sou eu.
Então calha mesmo bem, pois temos aí uns gajos que se andam a portar mal e se vier para cá, se for preciso, mando-os prender.
Faça aí uns exercícios de aquecimento e depois vai fazer um teste de mil metros.
Não percebi a piada e fui fazer o aquecimento, mas por azar começou a cair uma trovoada que deixou a pista de cinza cheia de água, de tal modo que parecia um rio.
E agora professor?
Siga lá para cima para os 200m e quando eu apitar arranque, são duas voltas e meia.
Fui fazer o teste e só ouvia os meus pés cloc…cloc..cloc..tal era a altura da água na pista. Mesmo assim dei o máximo e no final dirigi-me ao professor.
Que tal?
Que idade é que você tem?
21 anos.
Pois é. Se você fosse júnior, ainda poderíamos pensar em admiti-lo. Agora nos seniores, já tenho a equipa completa e não metemos mais atletas.
Saí de Alvalade muito desiludido. O professor Moniz Pereira nem se dignou a dizer-me o tempo que tinha feito.
Chegado ao quartel não desanimei e continuei a treinar no Picadeiro.
Pensei logo numa estratégia.
Como antes da tropa já correra na FNAT pela Casa do Povo da Marmeleira, iria à sede da FNAT na Calçada de Sant´Ana em Lisboa, inscrevia-me como individual, faria lá uma provas e quando estivesse em forma voltaria a Alvalade.
Como tinha família no Dafundo e na Cruz Quebrada e como na tropa o jantar era às seis da tarde, à medida que os dias foram crescendo por vezes ia treinar à zona do Estádio Nacional e depois jantava em casa do tio Artur, do tio Gregório ou da tia Maria do Carmo.
Um dia, ia a chegar à pista de cinza do EN e ouvi uma voz: Faz favor?
Era um homem a chamar-me.
Você não é aquele rapaz que há uns tempos foi ao Sporting fazer um teste com o professor Moniz Pereira?
Sou, mas como é que o senhor sabe?
Eu estava lá e vi a forma como ele o tratou. Ele só quer saber dos “craques”.
Como assim?
É que eu também dou lá treino a alguns atletas, mas agora estou aqui com uma Escola de Atletismo nesta pista e quero ajudar todos aqueles que gostam de atletismo e não têm treinador.
E como é que o senhor se chama?
Eduardo Cunha.
Fiquei sem palavras. Aquele era o famoso professor/treinador que tinha estado no Canadá.
Os jornais tinham destacado isso e agora estava ali a falar comigo.
Então e pode ajudar-me?
Vamos a isso. Você agora vai andar três semanas a fazer corrida a ritmo fraco e depois vem cá ter comigo para fazer as séries de 400m. Vai ver como passa a correr mais depressa.
Vim feliz. Encontrara alguém que percebia mesmo de Atletismo e iria ensinar-me.
Pouco tempo depois comecei a fazer provas na FNAT em Lisboa. Como tinha que participar em 2ªs categorias, ganhei várias corridas e no ano seguinte iria subir à 1ª categoria.
Um dia fui correr para o Picadeiro e estava lá perto um pelotão de recrutas. No final do dia estava na minha caserna e apareceu lá um deles e perguntou-me: Oh nosso pronto, você pratica atletismo?
P´ra começar trata-me por tu, disse-lhe eu. Porque é que perguntas isso?
É que eu também corro.
Como é que te chamas?
António Riscado.
Tu é que és o Riscado? Então corres no Belenenses?
Como é que sabes?
É pá, o nome do António Riscado é bem conhecido pelas pessoas que gostam de atletismo.
A partir desse dia eu e o Riscado tornamo-nos dois amigos inseparáveis. Ele levou-me a treinar com ele no Restelo, no tempo em que o treinador do futebol era o Félix Mourinho, que também era guarda redes. Um senhor.
Muitas vezes íamos os dois treinar na pista, à hora do treino do futebol e nunca nos colocaram problemas.
O Riscado corria muito mais do que eu e ensinou-me bastante. Às vezes ele tinha “aplicação militar” no quartel e dizia-me que não podia ir treinar.
Então eu ia falar com o comandante do pelotão dele e dispensavam-no para o treino e lá íamos os dois para o Restelo.
Por vezes íamos treinar ao fim do dia com os outros atletas.
Nessa altura o principal treinador do Atletismo no Belenenses era o professor Matos Fernandes, angolano, que fora recordista nacional do Decatlo. O Riscado pedia-lhe e ele não se importava que eu treinasse no grupo.
Havia por lá outros treinadores como o Fonseca e Costa e o Eduardo Cunha também aparecia por lá na pista do Restelo.
O Belenenses era o clube dos “pobres”, pois os melhores atletas eram todos do Benfica e do Sporting, que já nesse tempo lhes pagavam bem.
No entanto e para além do António Riscado, vários jovens se destacavam na equipa.
Recordo o António Vermelhudo, que já passava os 2,00m na altura, o José Singéis que fizera 7,27 no comprimento e a Maria José Sobral, que corria os 200m em 25 segundos.
Havia também um grupo, vindos de Angola e Moçambique, nos quais se destacava o Barceló de Carvalho que corria os 400m.
Um dia o Riscado disse-me: Oh Miguel, andas aí na FNAT, porque é que não vens para o Belenenses?
Achei a ideia interessante e disse-lhe: E porque não?
Passei então a treinar num grupo de corredores do qual além do Riscado faziam parte um tal Albano Ferrer e o Domingos Fernandes, um miúdo que já apertava bem comigo.
Nesse tempo havia um senhor, belenenses fanático, que tinha por detrás dos Jerónimos uma pequena loja com fruta, bebidas e outras coisas que vendia. Os fundistas do Belenenses no final do treino tinham direito a ir lá beber um copo de meio litro de leite frio.
O Riscado disse-me: Agora que já és do Beleneneses também tens direito ao leite, mas eu como nunca gostei muito de leite quente não fiquei entusiasmado.
Porém o Riscado insistiu: Hás-de experimentar. A seguir ao treino a gente vem cheio de sede, sabe mesmo bem.
Um dia experimentei. Tinha sido um treino puxado, vinha todo derreado. Meti o copo de leite à boca e zás. Éeeeeeee… É pá, que maravilha!
E a partir desse dia nunca mais deixei de beber um copo de leite frio a seguir a um treino forte.
A primeira prova que fiz pelo Belenenses foi num Nacional de Corta mato em Coimbra, em Fevereiro de 72.
Seguimos de autocarro de Belém no sábado e fomos lá dormir.
Sei que nos seniores eram sete voltas com cerca 1.500m cada, no meio de uma vinha e com o piso cheio de lama.
Partiram 83 atletas e cheguei em 24º lugar. O Riscado foi o primeiro da equipa (chegou nos dez primeiros) e o Ferrer o segundo, eu fechei a equipa e o Domingos chegou a seguir a mim. Ficámos em terceiro lugar. Vínhamos todos contentes.
Eu começava sempre as provas cá atrás e depois ia passando por eles.
Nunca ninguém me passava, mas nesse dia na parte final da corrida sinto um vulto a passar por mim como uma flecha. Quem é este gajo?
Era o Carlos Lopes a dar-me uma volta de avanço. O homem corria p´ra caraças!
Pouco tempo depois soube que iria passar os últimos três meses de licença, em casa, antes de passar à disponibilidade em Maio.
Como nessa altura já ia trabalhar com o meu irmão João na padaria da Marmeleira, vi logo que para treinar bem no atletismo seria difícil. Mesmo assim comprometi-me com o Belenenses a treinar o melhor possível para correr a Estafeta Cascais - Lisboa.
Continuei por isso a treinar, mas a trabalhar de noite a às vezes mais de doze horas seguidas, sentia a forma a ir-se embora.
Apesar disso no dia e hora marcada lá estava eu no Restelo para dar o contributo à equipa. Quando lá cheguei já só lá estava o Seccionista.
Então o resto da malta?
Já saíram. Não sabias que a prova foi antecipada uma hora? Mandamos-te uma carta.
Agora vais para o último percurso na equipa B.
Não me chateei muito. Sabia que já estaria em má forma e fui para o meu percurso em Algés, à espera dos atletas. Passaram várias equipas, mas a equipa B do Belenenses nem vê-la.
Nisto chega um dirigente do clube e disse-me: O que é que estás aqui a fazer? Nós só temos uma equipa. O atleta do primeiro percurso era para estar lá na partida, mas como não apareceu, tivemos que meter o atleta da equipa B.
Fiquei desolado. Tinha ido de propósito a Lisboa para correr numa clássica e nem equipa tinha.
E terminei assim, ingloriamente a minha participação como atleta do Belenenses. Fiz apenas uma corrida.
Estou certo que nunca recebi a tal carta a dizer que a prova tinha sido adiantada uma hora, o que para o caso pouco interessava, pois eu ia decidido a pedir para me meterem na equipa B.
Não me sentia em condições de formar equipa com o Riscado e &.
Ao longo dos três anos que estive em Lisboa e vendo que apesar de correr muito mais do que eu, o António Riscado nem sequer tinha lugar no Sporting ou no Benfica, eu percebera que nunca seria um bom atleta e que o Atletismo nunca me daria de comer.
Na minha vida sempre soube diferenciar o que era uma paixão, um sonho, e a realidade de ter que ganhar o pão, para me sustentar e aos meus.
Já namorava com a Teresa há vários anos, queria casar, ter filhos, formar família e por isso embora contrariado aceitei o convite do meu irmão João, para formar com ele uma Sociedade de Padarias. Iria ser padeiro e por agora o Atletismo teria que esperar.
Mas não ia desistir.
Outro projecto germinava já na minha cabeça. Era uma questão de oportunidade.
Quanto ao António Riscado, o maior amigo que encontrei na tropa, dedico-lhe esta foto tirada vinte anos depois de nos termos conhecido, quando eu já era apenas treinador.
Aqui, num Nacional de Corta mato nas Caldas da Raínha, ele correu já como veterano e está no meio da nossa equipa de juvenis do CNRM, formada pelas atletas Carla Peralta, Susana Feitor, Ana Inês, Ana Raimundo, Susana Miguel, Carla Batista e Isilda Jorge.
Jorge Miguel é um dos treinadores mais reconhecidos na marcha atlética, sendo responsável pelo aparecimento da marcha no Clube de Natação de Rio Maior, onde formou atletas como Susana Feitor, João Vieira, Sérgio Vieira, Inês Henriques e Vera Santos, que fazem parte da base da seleção nacional, e que têm conseguido resultados de excelência a nível internacional.
A propósito da Maratona de Londres… e da alta competição à portuguesa
Nos anos oitenta do século passado, estava o meio fundo nacional na sua década de ouro, por vezes, meio a brincar, discutia-se nos balneários do Jamor se fazia sentido atletas de alta competição – finalistas olímpicos, campeões da Europa - estarem a partilhar o mesmo espaço que os atletas na altura chamados carinhosamente (nem sempre) de “coxos”, veteranos, hoje mais conhecidos por ‘masters’, ‘runners’.
Bem, sem me alongar muito, o que acontecia, com frequência era assistirmos a atletas de alta competição a serem massajados na marquesa instalada no meio do balneário, rodeado por outros frequentadores dos Jamor. As conversas, de balneários, por vezes emotivas, descambavam em discussões. Era nesse ambiente, que velhos e novos conversavam sobre “corridas” – e isso era extensivo às outras disciplinas do atletismo. Essas mesmas pessoas acompanhavam o atletismo de pista da bancada e ao fim de semana competiam nas provas de estrada, dando boleias a atletas, pagando almoços, ajudando em muitas outras situações. Foi nesse ambiente que se criaram clubes, se formaram dirigentes e treinadores, se assinaram contratos, se formaram jovens atletas que conseguiram manter o nível do meio fundo por mais uns bons anos. Bem, hoje os tempos são outros. Deixemos de saudosismos. Vem isto a propósito desta foto na Maratona de Londres com Picão Fernandes e Joaquim Pinheiro.
Bem, sem me alongar muito, o que acontecia, com frequência era assistirmos a atletas de alta competição a serem massajados na marquesa instalada no meio do balneário, rodeado por outros frequentadores dos Jamor. As conversas, de balneários, por vezes emotivas, descambavam em discussões. Era nesse ambiente, que velhos e novos conversavam sobre “corridas” – e isso era extensivo às outras disciplinas do atletismo. Essas mesmas pessoas acompanhavam o atletismo de pista da bancada e ao fim de semana competiam nas provas de estrada, dando boleias a atletas, pagando almoços, ajudando em muitas outras situações. Foi nesse ambiente que se criaram clubes, se formaram dirigentes e treinadores, se assinaram contratos, se formaram jovens atletas que conseguiram manter o nível do meio fundo por mais uns bons anos. Bem, hoje os tempos são outros. Deixemos de saudosismos. Vem isto a propósito desta foto na Maratona de Londres com Picão Fernandes e Joaquim Pinheiro.
Fernando Mamede: "Assim ficou o mistério"
Fernando Mamede: “A Escola Portuguesa de Meio-Fundo e Fundo, que tanto se comenta, é muito simples e não tem segredos: Trabalho, muitos quilómetros, espírito de sacrifício e acreditar no Treinador e na sua sabedoria.
Quando em outubro de 1975 o prof. Moniz Pereira apresentou, ao Diretor Geral dos Desportos de então, o prof. Melo de Carvalho, e ao respetivo Governo, [o plano de preparação olímpica para os Jogos de Montreal 1976], foi muito simples darem-nos a manhã livre para treinar. Isto é, a dispensa do emprego, mas indo trabalhar de tarde, para voltar a treinar depois das 18.00.
O que aconteceu: [com treinos bidiários] duplicamos o número de quilómetros por dia. Assim, já estávamos a treinar quase ao nível dos nossos adversários. O nosso treino de pista sofreu pequenas alterações: passamos a treinar só duas vezes por semana em pista, o resto era quilometragem, em todo o tipo de terreno.
Eu na altura treinava para 800 e 1500 metros o Lopes e o Aniceto Simões para 5000 e 10.000 metros. O Carlos Cabral fazia o mesmo treino que eu. O que era diferente, entre nós, era o treino de pista pois as quilometragens mantinham-se para todos.
E ainda o [barreirista] José Carvalho que tinha que andar com a casa às costas, porque nós fazíamos, na altura, dois estágios imprescindíveis no Algarve, um a meio de Dezembro e outro no final de Janeiro.
O que aconteceu foi muito simples: em finais de março de 1976, passados [apenas] cinco meses, o Lopes foi Campeão Mundial de Crosse. Agora, transportando-nos para aquele tempo, explique-me?
As coisas evoluíram como vocês sabem em todos nós que fomos pioneiros (carne para canhão), o Professor foi criticado porque andava a gastar o dinheiro do Povo. Depois vieram outros treinadores, com tudo desbravado e mantendo a base do treino do Professor fizeram alterações que acharam necessário para os seus atletas. A Aurora Cunha não treinava igual há Rosa Mota, como a Fernanda Ribeiro não treinava igual às duas e assim como a Manuela Machado não treinava para a Maratona igual à Rosa. Então em que ponto ficamos? Vamos discutir o ‘Sexo dos Anjos’? É tudo um conjunto de factores que faz a Escola Portuguesa de Meio-Fundo e Fundo.
Vou contar uma ‘estória’: já me tinha retirado e convidaram-me para ir a Madrid participar num colóquio de atletismo. Quando chegou a minha vez de falar eu expliquei o que se passou connosco. Não acreditaram porque tinha de haver algo misterioso nos nossos treinos e que nós não queríamos desvendar. Assim ficou o mistério.”
Reflexão de Fernando Mamede publicada no FB.
6 de setembro de 2017
Quando em outubro de 1975 o prof. Moniz Pereira apresentou, ao Diretor Geral dos Desportos de então, o prof. Melo de Carvalho, e ao respetivo Governo, [o plano de preparação olímpica para os Jogos de Montreal 1976], foi muito simples darem-nos a manhã livre para treinar. Isto é, a dispensa do emprego, mas indo trabalhar de tarde, para voltar a treinar depois das 18.00.
O que aconteceu: [com treinos bidiários] duplicamos o número de quilómetros por dia. Assim, já estávamos a treinar quase ao nível dos nossos adversários. O nosso treino de pista sofreu pequenas alterações: passamos a treinar só duas vezes por semana em pista, o resto era quilometragem, em todo o tipo de terreno.
Eu na altura treinava para 800 e 1500 metros o Lopes e o Aniceto Simões para 5000 e 10.000 metros. O Carlos Cabral fazia o mesmo treino que eu. O que era diferente, entre nós, era o treino de pista pois as quilometragens mantinham-se para todos.
E ainda o [barreirista] José Carvalho que tinha que andar com a casa às costas, porque nós fazíamos, na altura, dois estágios imprescindíveis no Algarve, um a meio de Dezembro e outro no final de Janeiro.
O que aconteceu foi muito simples: em finais de março de 1976, passados [apenas] cinco meses, o Lopes foi Campeão Mundial de Crosse. Agora, transportando-nos para aquele tempo, explique-me?
As coisas evoluíram como vocês sabem em todos nós que fomos pioneiros (carne para canhão), o Professor foi criticado porque andava a gastar o dinheiro do Povo. Depois vieram outros treinadores, com tudo desbravado e mantendo a base do treino do Professor fizeram alterações que acharam necessário para os seus atletas. A Aurora Cunha não treinava igual há Rosa Mota, como a Fernanda Ribeiro não treinava igual às duas e assim como a Manuela Machado não treinava para a Maratona igual à Rosa. Então em que ponto ficamos? Vamos discutir o ‘Sexo dos Anjos’? É tudo um conjunto de factores que faz a Escola Portuguesa de Meio-Fundo e Fundo.
Vou contar uma ‘estória’: já me tinha retirado e convidaram-me para ir a Madrid participar num colóquio de atletismo. Quando chegou a minha vez de falar eu expliquei o que se passou connosco. Não acreditaram porque tinha de haver algo misterioso nos nossos treinos e que nós não queríamos desvendar. Assim ficou o mistério.”
Reflexão de Fernando Mamede publicada no FB.
6 de setembro de 2017
João Baptista muitos kms e anos à frente do seu tempo
Conheci-o precisamente há 40 anos. Lembro-me como se fosse hoje: um tipo com os seus 30 e muitos anos. Bem equipado para o final da década de setenta, ainda na ressaca do 25 de Abril, onde equipamentos de marca eram raros.
Com um estilo característico, um penteado estranho, corria, corria, corria sempre muito... devagarinho. Muitos anos mais tarde, em 1994, lembrei-me dele com o filme Forrest Gump.
Apercebi-me que conhecia toda a gente no Jamor. Desde campeões, até funcionários do Estádio Nacional. Tratava a todos por tu. Eu um jovem de 17 anos, pensei que deveria ser um grande campeão. Não me enganei.
Para além de ser um campeão, só muito recentemente me convenci que João Baptista estava muitos anos à frente do seu tempo.
Confesso que percebi isso muito tarde.
Para ele, na década de setenta, uma maratona já não era um “desafio”. Num país onde ainda se contava pelos dedos os verdadeiros maratonista, os 42.195 metros era distância “para meninos”, dizia com o seu sotaque madeirense. Coisa pouca para quem tinha outra endurance, para um “atleta de aço” como se definia. A sua distância certa era os 100 kms… dai para cima tudo bem. Competia assim nas poucas provas que existiam por essa Europa.
Portanto, neste particular das grandes distâncias, estava muito anos à frente do seu tempo. Hoje conheço inúmeros desportistas que participam em provas de longas distâncias sem nunca terem abordado a maratona a sério. Considerando que é uma distância “pouco motivante”.
Mas o seu vanguardismo manifestava-se em outros aspetos da sua vida.
Por exemplo: Era profissional de atletismo. Vivia para a corrida em todas as suas dimensões: treinava, dormia, vivia… para o treino, a competição. Coisa que apenas começamos a assistir há alguns, poucos, anos em atletas que nunca ganharam dinheiro com as corridas.
Hoje vemos muitos corredores, mesmo não sendo atletas de alta competição, veteranos reformados, como se chamavam há alguns anos - hoje conhecidos como masters -, comportarem-se como tal. João Baptista era assim há 40 anos quando tratava por tu Lopes e Mamede. Vivia no Jamor, numa carrinha, que estacionava em frente ao Centro de Estágio. Fazia do balneário a sua casa de banho. Corria, comia, dormia, corria. Hoje conheço muitos profissionais da corrida.
Outro aspeto que o colocava muitos anos à frente da sua época era a forma como financiava a sua carreira, como angariava “patrocinadores”. Prática apenas hoje utilizada por alguns runners mais esclarecidos.
Baptista pagava a sua participação em competições com ‘financiamento coletivo’. Tipo: “dá aí uma ajuda para…” Ou “não queres comprar uma caneta, ou uma Gillette, para me ajudares?” E assim lá ia conseguindo apoios. Bem, parece-me que é isto que hoje muitos fazem, mas com processo mais sofisticado pela net com conceitos em inglês.
O “atleta de aço” tinha outra particularidade que, já na altura, o distinguia de outros: escrevia as suas experiências e depois publicava em livros que vendia em edições de autor. Hoje também prática corrente entre alguns corredores.
Mas onde o corredor madeirense estava mesmo muito à frente do seu tempo era na atribuição dos prémios nas competições. Eu explico: hoje todos nós pagamos para correr nas competições de estrada. Certo? No final temos direito a uma medalha. João Baptista, percebendo na época que não tinha direito a prémio em muitas provas em que participava, antes da partida entregava uma taça, medalha ou troféu à organização na condição de no final a organização o premiar com esse prémio, chamando-o ao pódio.
E assim era… reconhecido o “ultra-percorrista” João Baptista.
12 de maio de 2017
Com um estilo característico, um penteado estranho, corria, corria, corria sempre muito... devagarinho. Muitos anos mais tarde, em 1994, lembrei-me dele com o filme Forrest Gump.
Apercebi-me que conhecia toda a gente no Jamor. Desde campeões, até funcionários do Estádio Nacional. Tratava a todos por tu. Eu um jovem de 17 anos, pensei que deveria ser um grande campeão. Não me enganei.
Para além de ser um campeão, só muito recentemente me convenci que João Baptista estava muitos anos à frente do seu tempo.
Confesso que percebi isso muito tarde.
Para ele, na década de setenta, uma maratona já não era um “desafio”. Num país onde ainda se contava pelos dedos os verdadeiros maratonista, os 42.195 metros era distância “para meninos”, dizia com o seu sotaque madeirense. Coisa pouca para quem tinha outra endurance, para um “atleta de aço” como se definia. A sua distância certa era os 100 kms… dai para cima tudo bem. Competia assim nas poucas provas que existiam por essa Europa.
Portanto, neste particular das grandes distâncias, estava muito anos à frente do seu tempo. Hoje conheço inúmeros desportistas que participam em provas de longas distâncias sem nunca terem abordado a maratona a sério. Considerando que é uma distância “pouco motivante”.
Mas o seu vanguardismo manifestava-se em outros aspetos da sua vida.
Por exemplo: Era profissional de atletismo. Vivia para a corrida em todas as suas dimensões: treinava, dormia, vivia… para o treino, a competição. Coisa que apenas começamos a assistir há alguns, poucos, anos em atletas que nunca ganharam dinheiro com as corridas.
Hoje vemos muitos corredores, mesmo não sendo atletas de alta competição, veteranos reformados, como se chamavam há alguns anos - hoje conhecidos como masters -, comportarem-se como tal. João Baptista era assim há 40 anos quando tratava por tu Lopes e Mamede. Vivia no Jamor, numa carrinha, que estacionava em frente ao Centro de Estágio. Fazia do balneário a sua casa de banho. Corria, comia, dormia, corria. Hoje conheço muitos profissionais da corrida.
Outro aspeto que o colocava muitos anos à frente da sua época era a forma como financiava a sua carreira, como angariava “patrocinadores”. Prática apenas hoje utilizada por alguns runners mais esclarecidos.
Baptista pagava a sua participação em competições com ‘financiamento coletivo’. Tipo: “dá aí uma ajuda para…” Ou “não queres comprar uma caneta, ou uma Gillette, para me ajudares?” E assim lá ia conseguindo apoios. Bem, parece-me que é isto que hoje muitos fazem, mas com processo mais sofisticado pela net com conceitos em inglês.
O “atleta de aço” tinha outra particularidade que, já na altura, o distinguia de outros: escrevia as suas experiências e depois publicava em livros que vendia em edições de autor. Hoje também prática corrente entre alguns corredores.
Mas onde o corredor madeirense estava mesmo muito à frente do seu tempo era na atribuição dos prémios nas competições. Eu explico: hoje todos nós pagamos para correr nas competições de estrada. Certo? No final temos direito a uma medalha. João Baptista, percebendo na época que não tinha direito a prémio em muitas provas em que participava, antes da partida entregava uma taça, medalha ou troféu à organização na condição de no final a organização o premiar com esse prémio, chamando-o ao pódio.
E assim era… reconhecido o “ultra-percorrista” João Baptista.
12 de maio de 2017
A ‘pós-verdade’ desportiva
Assistimos a uma espiral recessiva na credibilidade do desporto de alta competição, provocada por sucessivos casos associados ao consumo de doping, criando no cidadão a convicção generalizada que vivemos um grande embuste nos resultados desportivos a nível Europeu, Mundial e Olímpicos.
Acompanhando a “desconfiança” do mundo politico e económico, são as próprias instituições desportivas que confirmam esse embuste, com a IAAF – Associação Internacional de Atletismo e o COP – Comité Olímpico Internacional a tomarem medidas tão controversas como radicais, dando um sinal de total desnorte.
Só para recordar os casos mais recentes: a seleção russa de atletismo foi proibida de participar no Rio 2016, acusada de “doping de estado”… a poucas semanas do arranque dos Jogos; foram retiradas medalhas a campeões olímpicos como o caso da desqualificação da estafeta da Jamaica de 4x100 m por doping de Nesta Carter… nos Jogos de Pequim’2008; E esta semana, a Associação Europeia de Atletismo anunciou que vai examinar a sua lista de recordes, no sentido de conferir credibilidade aos registos e garantir que estão 'limpos' de doping… desde os anos 80.
Os heróis do desporto, aqueles atletas que os cidadãos ainda se revêm como modelos (os políticos há muito deixaram de ser exemplos), vão caindo um a um do seu pedestal num movimento patético que nos deixa a todos envergonhados. Os poucos insuspeitos são também arrastados para a lama.
É neste ambiente de “queda de anjos” que, em simultâneo, assistimos, incrédulos a um crescimento impressionante de prática desportiva dos mesmos cidadãos anónimos. Não numa participação pela participação; não numa perspetiva de procura de puro prazer na atividade física, mas muito mais que isso: numa atitude de superação, de competição, que os leva aos seus limites.
À margem do desporto federado criado “apenas” para os melhores, expande-se um universo paralelo, apontado, por muitos, como responsável pelos problemas do desporto federado, que o tenta assimilar a todo o custo sem o conseguir.
O fenómeno é imparável: recentemente, a Federação Britânica de Natação emitiu um “pedido de desculpas”, justificando o “fracasso” por não esperarem tantos participantes Europeu de Masters Londres 2016; milhares e milhares de corredores participam nas grandes maratonas internacionais sem sequer quererem saber quem foi o vencedor; as marcadas desportiva preferem, cada vez mais, vestir todos os participantes de uma maratona com um t-shirt da sua marca do que patrocinar um campeão olímpico.
Estou convicto que estes dois fenómenos – a descredibilização dos campeões pelo doping e a massificação da competição – estão diretamente relacionados.
Nesta “pós-verdade” do desporto (roubei o conceito ao sérvio-americano Steve Tesich: “factos objetivos têm menos importância do que crenças pessoais”), os novos heróis para o cidadão comum já não são os campeões olímpicos promovidos pelas multinacionais marcas desportivas. Estes integraram o subconsciente coletivo como atores de cinema inacessíveis, a interpretarem um papel ficcionado como os lutadores de ‘wrestling’, onde tudo é ensaiado.
Os novos heróis são aqueles corredores anónimos que querem participar não numa maratona, mas numa ultramaratona… para chegar ao fim; são aqueles que atingem os cumes das mais altas montanhas e… ninguém sabe; aqueles que fazem as mais arriscadas travessias à vela em solitário… por puro desfio; são os heróis do quotidiano que mantêm a sua humanidade, capaz de nos identificarmos e imitarmos. 28 de Janeiro de 2017.
Foto: Jean-Sebastien Evrard / AFP. Thomas Coville, o skipper do Sodebo Ultim' bate recorde do mudo em solitário
Acompanhando a “desconfiança” do mundo politico e económico, são as próprias instituições desportivas que confirmam esse embuste, com a IAAF – Associação Internacional de Atletismo e o COP – Comité Olímpico Internacional a tomarem medidas tão controversas como radicais, dando um sinal de total desnorte.
Só para recordar os casos mais recentes: a seleção russa de atletismo foi proibida de participar no Rio 2016, acusada de “doping de estado”… a poucas semanas do arranque dos Jogos; foram retiradas medalhas a campeões olímpicos como o caso da desqualificação da estafeta da Jamaica de 4x100 m por doping de Nesta Carter… nos Jogos de Pequim’2008; E esta semana, a Associação Europeia de Atletismo anunciou que vai examinar a sua lista de recordes, no sentido de conferir credibilidade aos registos e garantir que estão 'limpos' de doping… desde os anos 80.
Os heróis do desporto, aqueles atletas que os cidadãos ainda se revêm como modelos (os políticos há muito deixaram de ser exemplos), vão caindo um a um do seu pedestal num movimento patético que nos deixa a todos envergonhados. Os poucos insuspeitos são também arrastados para a lama.
É neste ambiente de “queda de anjos” que, em simultâneo, assistimos, incrédulos a um crescimento impressionante de prática desportiva dos mesmos cidadãos anónimos. Não numa participação pela participação; não numa perspetiva de procura de puro prazer na atividade física, mas muito mais que isso: numa atitude de superação, de competição, que os leva aos seus limites.
À margem do desporto federado criado “apenas” para os melhores, expande-se um universo paralelo, apontado, por muitos, como responsável pelos problemas do desporto federado, que o tenta assimilar a todo o custo sem o conseguir.
O fenómeno é imparável: recentemente, a Federação Britânica de Natação emitiu um “pedido de desculpas”, justificando o “fracasso” por não esperarem tantos participantes Europeu de Masters Londres 2016; milhares e milhares de corredores participam nas grandes maratonas internacionais sem sequer quererem saber quem foi o vencedor; as marcadas desportiva preferem, cada vez mais, vestir todos os participantes de uma maratona com um t-shirt da sua marca do que patrocinar um campeão olímpico.
Estou convicto que estes dois fenómenos – a descredibilização dos campeões pelo doping e a massificação da competição – estão diretamente relacionados.
Nesta “pós-verdade” do desporto (roubei o conceito ao sérvio-americano Steve Tesich: “factos objetivos têm menos importância do que crenças pessoais”), os novos heróis para o cidadão comum já não são os campeões olímpicos promovidos pelas multinacionais marcas desportivas. Estes integraram o subconsciente coletivo como atores de cinema inacessíveis, a interpretarem um papel ficcionado como os lutadores de ‘wrestling’, onde tudo é ensaiado.
Os novos heróis são aqueles corredores anónimos que querem participar não numa maratona, mas numa ultramaratona… para chegar ao fim; são aqueles que atingem os cumes das mais altas montanhas e… ninguém sabe; aqueles que fazem as mais arriscadas travessias à vela em solitário… por puro desfio; são os heróis do quotidiano que mantêm a sua humanidade, capaz de nos identificarmos e imitarmos. 28 de Janeiro de 2017.
Foto: Jean-Sebastien Evrard / AFP. Thomas Coville, o skipper do Sodebo Ultim' bate recorde do mudo em solitário
Qual o papel do treinador no processo de treino?
Queria ouvir. Queria perceber. Queria conhecer. Uma “mania”, criada numa profissão, a de jornalista, que nos obriga a fazer perguntas.
Uma pergunta. Apenas uma pergunta: “Qual o papel de treinador no processo de treino?” Foi essa pergunta (óbvia) que me levou ao Congresso Internacional da Corrida, em Lisboa dia 3 e 4 e dezembro e ao tema Treino da Corrida, que cargas, que limites? Moderador – Orlando Fernandes. Na mesa: O treinador de natação Vasconcelos Raposo, o fisiologista Amândio Santos e o médico Paulo Beckert. Faltou a treinadora de atletismo Sameiro Araújo.
A pergunta era óbvia, como diz, e bem. António Cabral, no texto em baixo. Mas eu precisava de fazer essa pergunta. Precisava de sentir o incómodo da resposta a perguntas óbvias. Saí satisfeito com a resposta. Fiquei sem dúvidas sobre o que pensam os que estavam na mesa sobre o tema.
Valeu a pena a pergunta porque, pelo menos, uma pessoa percebeu o óbvio da pergunta.
António Cabral escreveu no seu facebook este texto:
LEI DA INFALIBILIDADE SEGUNDO A CIÊNCIA EXACTA.
Dedicado a Cipriano Lucas que ousou perguntar o óbvio.
Pergunta: Qual o papel do treinador no processo de treino?
Fisiologista: O treinador deve liderar o processo de treino...(mas mais adiante)...Eu disse-lhe para que andamento ele devia correr, mas ele falhou porque foi 2 segundos acima do que eu disse !
1a CONCLUSÃO: Disse que quem lidera o processo de treino é o treinador, mas o fisiologista é que sabe para que andamento o atleta deve correr ! ? ! ?
2a CONCLUSÃO: Quando o resultado obtido não é o estimado pelo fisiologista, não foi dele o engano, foi sempre o atleta e/ou o treinador que erraram, a previsão da ciência está sempre certa.
A ciência que por acaso é feita por pessoas, é infalível para alguns, as pessoas é que se enganam.
Obrigado.
Uma pergunta. Apenas uma pergunta: “Qual o papel de treinador no processo de treino?” Foi essa pergunta (óbvia) que me levou ao Congresso Internacional da Corrida, em Lisboa dia 3 e 4 e dezembro e ao tema Treino da Corrida, que cargas, que limites? Moderador – Orlando Fernandes. Na mesa: O treinador de natação Vasconcelos Raposo, o fisiologista Amândio Santos e o médico Paulo Beckert. Faltou a treinadora de atletismo Sameiro Araújo.
A pergunta era óbvia, como diz, e bem. António Cabral, no texto em baixo. Mas eu precisava de fazer essa pergunta. Precisava de sentir o incómodo da resposta a perguntas óbvias. Saí satisfeito com a resposta. Fiquei sem dúvidas sobre o que pensam os que estavam na mesa sobre o tema.
Valeu a pena a pergunta porque, pelo menos, uma pessoa percebeu o óbvio da pergunta.
António Cabral escreveu no seu facebook este texto:
LEI DA INFALIBILIDADE SEGUNDO A CIÊNCIA EXACTA.
Dedicado a Cipriano Lucas que ousou perguntar o óbvio.
Pergunta: Qual o papel do treinador no processo de treino?
Fisiologista: O treinador deve liderar o processo de treino...(mas mais adiante)...Eu disse-lhe para que andamento ele devia correr, mas ele falhou porque foi 2 segundos acima do que eu disse !
1a CONCLUSÃO: Disse que quem lidera o processo de treino é o treinador, mas o fisiologista é que sabe para que andamento o atleta deve correr ! ? ! ?
2a CONCLUSÃO: Quando o resultado obtido não é o estimado pelo fisiologista, não foi dele o engano, foi sempre o atleta e/ou o treinador que erraram, a previsão da ciência está sempre certa.
A ciência que por acaso é feita por pessoas, é infalível para alguns, as pessoas é que se enganam.
Obrigado.
«As Fronteiras do Músculo Humano»
Texto de Sequeira Andrade*
PREVISÕES ATLÉTICAS EM 1935 - Nos idos anos trinta do século passado, era consideradíssimo o técnico Brutos Hamilton, treinador da Universidade da Califórnia. Numa entrevista concedida em 1936 ao diário francês «Paris-Soir», Hamilton teceu largas considerações sobre a actualidade e o futuro da modalidade, divagando por temas que aquele periódico designou de «As Fronteiras do Músculo Humano», cujo teor resumo.
Começou o entrevistador por afirmar: «Os seus rapazes são fortes, altos, têm grandes pernas». Ao que ele respondeu: «Não é o mais importante. São inteligentes, e não faça cara de dúvida porque isto é muito importante. Estou convencido de que certas proezas desportivas não podem ser conseguidas senão por um homem inteligente. Experimento, tanto quanto possível, não tratar os meus rapazes como máquinas de fazer recordes. Podem comer e beber o que quiserem. E devem dançar e devem fumar de vez em quando, mas tudo com medida. Cada qual deve saber o que mais lhe convém. Não acredito em regimes. São baboseiras. As «esperanças» desconhecidas não se revelaram sem regime?»
Prosseguiu o entrevistador: «Publicou um quadro em que tenta determinar o limite das possibilidades humanas. Mas o homem não pode desenvolver-se ainda por si próprio? O corpo humano não é ainda perfeito em toda a acepção da palavra, e o seu desenvolvimento ainda não acabou. Não crê que graças a determinado regime ou a certos exercícios possam produzir-se modificações definitivas no corpo humano?
«Não sei», respondeu Hamilton. «Repare na superioridade dos negros no «sprint» e nos saltos, por exemplo. Donde é que ela vem? Os negros nunca seguiram um regime especial, nem mesmo receberam educação particularmente cuidada, mas possuem um famoso instinto para o ritmo, reacções perfeitas, o que me dá a explicação das suas proezas. E depois sabem ou gostam de repousar, abandonar-se inteiramente, o que lhes permite concentrarem-se melhor no momento da partida. Outro exemplo: porque é que nós somos incapazes de desenvolver corredores de grandes distâncias? Temos provavelmente as mesmas qualidades físicas que os finlandeses e somos capazes de tratar tão bem de homens como eles, mas o temperamento americano não conhece a «endurance», o nosso temperamento quer que nos apressemos constantemente. É por isso que praticamos o boxe, o ténis, e esteja certo que nenhum regime poderá modificar isto».
- Como estabeleceu os limites do seu quadro?
- É muito simples. Conhece sem dúvida o novo sistema finlandês para calcular o decatlo. Foi estabelecido por matemáticos e fisiologistas que fizeram cálculos precisos sobre as qualidades de «endurance», de energia e de fadiga para cada desporto (especialidade). Os pontos para cada «performance» foram baseados na despesa de energia de cada «performer». Que fiz eu? Considerando todos os recordes do mundo existentes, coloquei-os neste quadro com o número de pontos correspondentes. Descobri, assim, que os 400 metros de Carr (46,2s) e o lançamento de peso do Torrence (17,40m) dão os maiores números, visto que eram os mais elevados. Admiti, pois que esses números, visto que eram os mais elevados, representavam a maior despesa de energia e a maior resistência contra a fadiga. Por outras palavras, eram as melhores «performances» possíveis. Em seguida calculei a que velocidade se deveria correr a milha ou saltar em altura para atingir a mesma despesa de energia, os mesmos números, e por consequência alcançar o recorde derradeiro.
- Mas se alguém ultrapassar o recorde de Carr nos 400 metros?
- Evidentemente será a única contradição do meu quadro, mas mesmo nesse caso, os números não mudariam muito, porque nunca se farão os 400 metros em 40 segundos.
- E a milha em 4 minutos?
- Nâo. Tão pouco se farão 100j em 9 segundos. Mas chegar-se-á a saltar 4,60m com vara.
A propósito: O recorde de 100 jardas é de 9,21s, o de 400m de 43,03s, o da milha
(1609,36m) de 3.43,13s, e o de salto com vara de 6,16m.
*Texto de Sequeira Andrade Publicado na sua 152.ª Carta ao Pancrácio a 18 de novembro de 2016
Brutus Hamilton (1900-1970)
1920; decathlon (SILVER), pentathlon
1924; pentathlon
Brutus Hamilton grew up in rural Peculiar, Mo. A farming accident nearly severed his foot when he was 6 years old; doctors didn’t think he would ever walk properly. Instead, he ran track and played football for Mizzou. Hamilton even caught two touchdown passes in a 1921 Homecoming victory over Oklahoma.
In the summer of 1920, he traveled to Antwerp, where he led for nine of the 10 events in the decathlon. Decathletes are often called the “world’s greatest athletes” for their abilities to compete across the full range of athletic challenges: sprints, distance, jumps, throws. Helge Løvland of Norway passed Hamilton in the 1500-meter run, the final event, in a come-from-behind finish. Because fewer than four points separated the two — a remarkably close finish in a series of events where each individual time, distance and height are scored and added — Olympic officials ordered a recount to verify the winner.
As good as he was in competition, Hamilton also excelled at teaching track and field — after a brief coaching stint at Westminster College in Fulton, he left to coach at the University of Kansas, where several of his KU athletes would go on to win Olympic gold medals. Hamilton soon headed west to coach at the University of California, sporting his trademark suits and fedora. He also served as athletic director during his 30-year tenure in Berkeley and coached runners such as Don Bowden, the first American to break the four-minute mile. Hamilton served on the coaching staff for the 1932 and 1936 Olympic teams. His decathletes swept the podium in ’36. As head coach for the 1952 men’s Olympic team, his track athletes brought home 14 gold medals. Hamilton has been inducted into several athletic and coaching halls of fame, and is considered one of the greatest track and field coaches.
PREVISÕES ATLÉTICAS EM 1935 - Nos idos anos trinta do século passado, era consideradíssimo o técnico Brutos Hamilton, treinador da Universidade da Califórnia. Numa entrevista concedida em 1936 ao diário francês «Paris-Soir», Hamilton teceu largas considerações sobre a actualidade e o futuro da modalidade, divagando por temas que aquele periódico designou de «As Fronteiras do Músculo Humano», cujo teor resumo.
Começou o entrevistador por afirmar: «Os seus rapazes são fortes, altos, têm grandes pernas». Ao que ele respondeu: «Não é o mais importante. São inteligentes, e não faça cara de dúvida porque isto é muito importante. Estou convencido de que certas proezas desportivas não podem ser conseguidas senão por um homem inteligente. Experimento, tanto quanto possível, não tratar os meus rapazes como máquinas de fazer recordes. Podem comer e beber o que quiserem. E devem dançar e devem fumar de vez em quando, mas tudo com medida. Cada qual deve saber o que mais lhe convém. Não acredito em regimes. São baboseiras. As «esperanças» desconhecidas não se revelaram sem regime?»
Prosseguiu o entrevistador: «Publicou um quadro em que tenta determinar o limite das possibilidades humanas. Mas o homem não pode desenvolver-se ainda por si próprio? O corpo humano não é ainda perfeito em toda a acepção da palavra, e o seu desenvolvimento ainda não acabou. Não crê que graças a determinado regime ou a certos exercícios possam produzir-se modificações definitivas no corpo humano?
«Não sei», respondeu Hamilton. «Repare na superioridade dos negros no «sprint» e nos saltos, por exemplo. Donde é que ela vem? Os negros nunca seguiram um regime especial, nem mesmo receberam educação particularmente cuidada, mas possuem um famoso instinto para o ritmo, reacções perfeitas, o que me dá a explicação das suas proezas. E depois sabem ou gostam de repousar, abandonar-se inteiramente, o que lhes permite concentrarem-se melhor no momento da partida. Outro exemplo: porque é que nós somos incapazes de desenvolver corredores de grandes distâncias? Temos provavelmente as mesmas qualidades físicas que os finlandeses e somos capazes de tratar tão bem de homens como eles, mas o temperamento americano não conhece a «endurance», o nosso temperamento quer que nos apressemos constantemente. É por isso que praticamos o boxe, o ténis, e esteja certo que nenhum regime poderá modificar isto».
- Como estabeleceu os limites do seu quadro?
- É muito simples. Conhece sem dúvida o novo sistema finlandês para calcular o decatlo. Foi estabelecido por matemáticos e fisiologistas que fizeram cálculos precisos sobre as qualidades de «endurance», de energia e de fadiga para cada desporto (especialidade). Os pontos para cada «performance» foram baseados na despesa de energia de cada «performer». Que fiz eu? Considerando todos os recordes do mundo existentes, coloquei-os neste quadro com o número de pontos correspondentes. Descobri, assim, que os 400 metros de Carr (46,2s) e o lançamento de peso do Torrence (17,40m) dão os maiores números, visto que eram os mais elevados. Admiti, pois que esses números, visto que eram os mais elevados, representavam a maior despesa de energia e a maior resistência contra a fadiga. Por outras palavras, eram as melhores «performances» possíveis. Em seguida calculei a que velocidade se deveria correr a milha ou saltar em altura para atingir a mesma despesa de energia, os mesmos números, e por consequência alcançar o recorde derradeiro.
- Mas se alguém ultrapassar o recorde de Carr nos 400 metros?
- Evidentemente será a única contradição do meu quadro, mas mesmo nesse caso, os números não mudariam muito, porque nunca se farão os 400 metros em 40 segundos.
- E a milha em 4 minutos?
- Nâo. Tão pouco se farão 100j em 9 segundos. Mas chegar-se-á a saltar 4,60m com vara.
A propósito: O recorde de 100 jardas é de 9,21s, o de 400m de 43,03s, o da milha
(1609,36m) de 3.43,13s, e o de salto com vara de 6,16m.
*Texto de Sequeira Andrade Publicado na sua 152.ª Carta ao Pancrácio a 18 de novembro de 2016
Brutus Hamilton (1900-1970)
1920; decathlon (SILVER), pentathlon
1924; pentathlon
Brutus Hamilton grew up in rural Peculiar, Mo. A farming accident nearly severed his foot when he was 6 years old; doctors didn’t think he would ever walk properly. Instead, he ran track and played football for Mizzou. Hamilton even caught two touchdown passes in a 1921 Homecoming victory over Oklahoma.
In the summer of 1920, he traveled to Antwerp, where he led for nine of the 10 events in the decathlon. Decathletes are often called the “world’s greatest athletes” for their abilities to compete across the full range of athletic challenges: sprints, distance, jumps, throws. Helge Løvland of Norway passed Hamilton in the 1500-meter run, the final event, in a come-from-behind finish. Because fewer than four points separated the two — a remarkably close finish in a series of events where each individual time, distance and height are scored and added — Olympic officials ordered a recount to verify the winner.
As good as he was in competition, Hamilton also excelled at teaching track and field — after a brief coaching stint at Westminster College in Fulton, he left to coach at the University of Kansas, where several of his KU athletes would go on to win Olympic gold medals. Hamilton soon headed west to coach at the University of California, sporting his trademark suits and fedora. He also served as athletic director during his 30-year tenure in Berkeley and coached runners such as Don Bowden, the first American to break the four-minute mile. Hamilton served on the coaching staff for the 1932 and 1936 Olympic teams. His decathletes swept the podium in ’36. As head coach for the 1952 men’s Olympic team, his track athletes brought home 14 gold medals. Hamilton has been inducted into several athletic and coaching halls of fame, and is considered one of the greatest track and field coaches.
A ALTITUDE E A ATITUDE
Carlos Lopes nunca realizou estágios em altitude. Ainda assim o sportinguista conseguiu alcançar resultados de grande nível como o ouro olímpico (maratona Los Angeles 1984) e prata (10 000 Montreal 1976), três títulos no mundial de crosse no inverno. O fundista realizou uma longa carreira desportiva, apresentando um nível elevado de forma física durante todo o ano que lhe permitiu ainda vencer as grandes competições de estrada, crosses e meetings internacionais. Lopes, um acérrimos defensor dos nossos jovens atletas, acredita no seu valor, procurando motiva-los sempre que os encontra nos treinos ou competições. Ontem, dizia-me, no Jamor, numa das nossas conversas sobre o actual estado do meio fundo e fundo luso: "O problema não é de falta de altitude mas sim de... atitude."
MUNDIAL HELSÍNQUIA 1983, um ano antes do ouro olímpico na Maratona de Los Angeles 1984. Foto From Left: Bekele Debele (Eth), Gidamis Shahanga (Tan), Christop Herle (WG), Hansjorg Kunze (EG), Nick Rose (GB), Alberto Cova (Ita), Carlos Lopes (Por), Werner Schildhauer (EG), Martti Vainnio (Fin), Mohamed Kedir (Eth), Steve Jones (GB). Images courtesy of juanjosemartinez.com.m The final positions (top 8) were as follows: 1. Alberto Cova (28’01.04) 2. Schildhauer (28’01.18) 3. Kunze (28’01.26 4. Vainio (28’01.37) 5. Shahanga (28’01.93) 6. Lopes (28’06.78) 7. Rose (28’07.53) 8. Herle (28’09.05) |
O dirigente que gostava de desporto e... dos atletas
Não é apenas o melhor dirigente desportivo que conheci. É, também, o melhor organizador de eventos com quem tive o prazer de trabalhar. Durante uma vida, liderou estivadores em docas de Lisboa. Foi responsável por equipas de homens rudes, pouco instruídos, que faziam do esforço físico violento a sua actividade profissional. Horas, turnos, dias de trabalho. Nunca lhe vi um conflito que não tivesse solução. Conheci-o ainda nesse tempo, no principio dos anos oitenta, em que transformava o seu escritório no gabinete onde recebia os atletas.
Tinha um “estranho” costume: cultivava a amizade com os atletas. Depois tinha outro “estranho” comportamento, pouco comum, entre dirigentes: gostava mesmo de desporto. Praticava desporto.
Recordo a “pré-história” da corrida em Portugal, no tempo em que os melhores atletas portugueses corriam nas “voltas ao coreto” por uns “fantásticos” prémios: um corte de tecido, um presunto, ou um frigorifico.
Nesse tempo, em que não havia dinheiro para deslocações, nós, jovens atletas, íamos à boleia para corrermos essas provas populares e tentar ganhar algum que nos alimentasse os sonhos. Esse, na altura, atleta veterano não só nos dava boleias como nos ajudava nessa deslocação. Era assim.
Mais tarde, já como dirigente/organizador de corridas populares, elevou a qualidade organizativa para níveis nunca vistos em Portugal. Muito graças à determinação, em querer fazer bem, a sua atenção aos pormenores, o respeito pelos atletas do pelotão, as corridas das pontes em Lisboa transformaram-se nas melhores provas nacionais.
Diria que foi sobre estes princípios – gostar dos atletas e de desporto – associado à sua capacidade de liderança nas docas e de bem querer fazer tudo em que se envolvia, que o terá tornado, para mim, Reinaldo Gomes no melhor dirigente desportivo português.
PS: amanhã na Ponte Vasco da Gama e Av. Marginal:
Rock ‘n’ Roll Meia Maratona Santander Totta
Rock ‘n’ Roll Maratona de Lisboa EDP
Mini Maratona EDP
CTT Wheelchair Racing
Foto: Equipa do MCP campeã nacional de crosse 1994
1 de outubro de 2016
Épica verdiblanca
No dejo de sentir sorpresa cuando, repasando el histórico de los Juegos Olímpicos, llego a Portugal. Tengo la impresión de que ha conseguido muy pocas medallas, solo 23. Es un país que, sin pensarlo mucho, me proyecta una imagen de alto nivel deportivo. Lo que me viene a la cabeza, primero, es el atletismo, el fútbol, el hockey sobre patines, deportes en los que nuestros vecinos son muy competitivos.
Pero… en realidad, el fútbol renta poco en los JJ. OO. (a Portugal, en concreto, nada), y el hockey ni es deporte olímpico. Solo se salva el atletismo. También conozco algún buen portugués en otras modalidades, como Rui Costa en ciclismo y Vanessa Fernandes en triatlón, pero son ejemplos aislados. Portugal no tiene una presencia destacada en el resto de deportes de equipo, como balonmano, voleibol, waterpolo o baloncesto. Tampoco en gimnasia. Ni en natación. Recapacitando entonces, lo que sorprende, quizá, es que hayan llegado a esas 23 medallas. Aunque sin duda todas las medallas tienen mucho mérito, muy destacables son las conseguidas por Obikwelu, entre Gatlin y Greene, y la de Rui Silva, siguiendo la estela de El Guerrouj y Lagat. Hoy vamos a detenernos, sin embargo, en el que abrió camino: Carlos Alberto de Sousa Lopes. Carlos Lopes se estrenó en la prueba de maratón en el otoño de 1982, tras un fructífero recorrido en el 10.000, donde había logrado una medalla de plata en los juegos de Montreal ’76 y el récord europeo (27:24.39), arrebatándoselo a uno de sus grandes rivales, su compatriota Fernando Mamede. También tuvo unas prestaciones excelentes en el cross, donde fue tres veces campeón mundial y dos subcampeón, en los tiempos en que los atletas blancos peleaban con opciones de triunfo." Óscar MonterrealDoctor en Historia del Arte, profesor universitario, diplomado en Magisterio (Educación Física) y escritor Ler mais em http://www.wangconnection.com/epica-verdiblanca/ |
Prieto y los portugueses
"Me sorprendió mucho ver en la línea de salida del último europeo de cross, celebrado el 13 de diciembre en Hyères (Francia), solo un portugués: Tiago Costa. Cuando me aficionaba al atletismo Portugal era una potencia en el cross, y no solo a nivel continental. Los ochenta fueron un momento mágico para el campo a través y, en general, el fondo luso. Sobre todo masculino. Pero también femenino, con Rosa Mota como mejor exponente.
En hombres destacó especialmente Carlos Lopes, pentamedallista en el mundial de cross (tres oros y dos platas) y oro olímpico en maratón. También lo hicieron Fernando Mamede (plusmarquista mundial de 10000), Antonio Leitao y Ezequiel Canario. Tuvieron una buena continuación en los noventa, con los hermanos Castro, Paulo Guerra, Manuela Machado, Antonio Pinto, Albertina Dias y Fernanda Ribeiro. Pero de esa década hablaremos otro día." Óscar Monterreal Doctor en Historia del Arte, profesor universitario, diplomado en Magisterio (Educación Física) y escritor Ler mais em: http://www.wangconnection.com/prieto-y-los-portugueses/ |
Portugal deve ou não deve ter um laboratório antidoping?
Audição do presidente da autoridade antidopagem de Portugal
Portugal deve ou não deve ter um laboratório de análises antidoping? Devendo ter um laboratório quais são as condições necessárias para ter esse laboratório? Como é que comparamos com outros países? Países com uma escala de população, de dispersão territorial, com população ativa do ponto de vista desportivo, normalmente têm ou não têm laboratório? O laboratório a existir, em termos comparativos, é no Estado ou fora do Estado, sendo no Estado, é na mesma estrutura é na mesma estrutura que tem como missão no combate ao doping ou é noutro âmbito paralelo?
(vídeo, minuto 44)
Rogério Joia, presidente da ADOP. “Relativamente a Portugal ter ou não um laboratório. Bem, eu penso que isso é uma decisão de natureza política, mas eu quero dizer o seguinte senhor deputado, se me perguntar, e nós temos de ser sérios nestas coisas, não podemos fazer de conta. Se me perguntar se é fundamental e indispensável Portugal ter um laboratório para combater o doping, eu digo-lhe que NÃO. Porque o laboratório é o sitio onde se fazem análises. Se me perguntar se é um prestigio para o país ter um laboratório, É sim senhor. É obvio que não vou responder a outra pergunta: E Portugal tem posses para ter um laboratório? tem posses para ter uma situação de prestigio dessa natureza? Não me cabe a mim responder. Não tenho a tutela. É simples. Agora: os sete laboratórios que estão dentro da autoridade, estão todos com problemas. Não podem estar dentro da autoridade. Por isso quando propus ao secretario de estado que o laboratório para outra autoridade, ir para uma universidade, concordou à partida. Na Europa existem laboratórios que estão inseridos em centros de investigação e universidades. Eu penso que essa é a solução para o laboratório. Confere ao laboratório uma massa critica que ele neste momento não tem. Lamento que anos e anos não tenha tido essa componente.
Audição do presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, dia 23 de março de 2016.
http://www.dn.pt/desporto/interior/agencia-mundial-antidoping-suspende-laboratorio-de-lisboa-5128945.html
Portugal deve ou não deve ter um laboratório de análises antidoping? Devendo ter um laboratório quais são as condições necessárias para ter esse laboratório? Como é que comparamos com outros países? Países com uma escala de população, de dispersão territorial, com população ativa do ponto de vista desportivo, normalmente têm ou não têm laboratório? O laboratório a existir, em termos comparativos, é no Estado ou fora do Estado, sendo no Estado, é na mesma estrutura é na mesma estrutura que tem como missão no combate ao doping ou é noutro âmbito paralelo?
(vídeo, minuto 44)
Rogério Joia, presidente da ADOP. “Relativamente a Portugal ter ou não um laboratório. Bem, eu penso que isso é uma decisão de natureza política, mas eu quero dizer o seguinte senhor deputado, se me perguntar, e nós temos de ser sérios nestas coisas, não podemos fazer de conta. Se me perguntar se é fundamental e indispensável Portugal ter um laboratório para combater o doping, eu digo-lhe que NÃO. Porque o laboratório é o sitio onde se fazem análises. Se me perguntar se é um prestigio para o país ter um laboratório, É sim senhor. É obvio que não vou responder a outra pergunta: E Portugal tem posses para ter um laboratório? tem posses para ter uma situação de prestigio dessa natureza? Não me cabe a mim responder. Não tenho a tutela. É simples. Agora: os sete laboratórios que estão dentro da autoridade, estão todos com problemas. Não podem estar dentro da autoridade. Por isso quando propus ao secretario de estado que o laboratório para outra autoridade, ir para uma universidade, concordou à partida. Na Europa existem laboratórios que estão inseridos em centros de investigação e universidades. Eu penso que essa é a solução para o laboratório. Confere ao laboratório uma massa critica que ele neste momento não tem. Lamento que anos e anos não tenha tido essa componente.
Audição do presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, dia 23 de março de 2016.
http://www.dn.pt/desporto/interior/agencia-mundial-antidoping-suspende-laboratorio-de-lisboa-5128945.html
O Prodígio
É um filme sobre o jogo de xadrez, é um filme sobre a 'Guerra Fria', é um filme sobre a América mas num contexto mais particular a história que se conta n'O Prodígio ('Pawn Sacrifice') de Edward Zwick é sobre a vida de um jovem que, sob uma tremenda pressão competitiva e mediática, luta com a sua própria mente, os seus fantasmas. Um jovem que vive "dentro" de um tabuleiro de Xadrez quando os EUA o transformam no seu representante máximo no conflito à escala global que travavam com a URSS no final dos anos sessenta e princípios dos anos setenta do século XX.
Uma história que decorre num importante e particular momento mítico dos EUA marcado por uma temível escalada atómica, numa corrida no espaço. No momento em que os jovens americanos "defendem" no Vietname o mundo do "perigo" soviético, Bobby Fischer tinha a "obrigação" de assumir esse papel de herói numa partida de xadrez. Condicionado pela sua ingénua ambição, e pressionado pelos dirigentes americanos, que o empurravam para uma "frente de combate" que se travava na final do mundial de xadrez de 1972, na Islândia, num duelo de nervos frente ao tricampeão mundial o russo Boris Spassky, que o americano venceu.
Fazendo o paralelismo com as carreiras de atletas de alto rendimento, estrelas de música, actores ou bailarinos, que vivem intensamente as suas carreiras, Bobby Fischer revela uma tremenda incapacidade para lidar com tudo o que existia para além do tabuleiro de Xadrez: Os seus problemas familiares, a dificuldade de relacionamento com os outros, a guerra com os 'media'. A recusa em aceitar as regras impostas pelo sistema, levam-no a um estado de paranóia que é indiciado logo nos primeiros anos da adolescência e que acabam por se confirmar na idade adulta com uma rotura total com o Xadrez e com os EUA. Paranóia extensiva ao bloco de Leste e a Boris Spassky.
Em última análise, 'O Prodígio' é a história de todos aqueles que ambicionam chegar aos estrelato mas depois de lá chegarem tudo fazem para sair das luzes da ribalta. Mas é também sobre a importância (excessiva) que nós damos a jogos de futebol, a todo o tipo de competições, a forma como fabricamos campeões, os colocamos no pódio e depois os destruímos ou os vemos destruírem-se e nada fazemos...
Ernest Hemingway no Adeus às Armas: “Aos que trazem coragem a este mundo, o mundo precisa quebrá-los para conseguir eliminá-los, e é o que faz. O mundo os quebra, a todos; no entanto, muitos deles tornam-se mais fortes, justamente no ponto onde foram quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos – indiferentemente. Se vocês não estão em nenhuma dessas categorias, o mundo vai matar vocês, do mesmo modo. Apenas não terá pressa em fazer isso.”
25 de Outubro de 2015
Uma história que decorre num importante e particular momento mítico dos EUA marcado por uma temível escalada atómica, numa corrida no espaço. No momento em que os jovens americanos "defendem" no Vietname o mundo do "perigo" soviético, Bobby Fischer tinha a "obrigação" de assumir esse papel de herói numa partida de xadrez. Condicionado pela sua ingénua ambição, e pressionado pelos dirigentes americanos, que o empurravam para uma "frente de combate" que se travava na final do mundial de xadrez de 1972, na Islândia, num duelo de nervos frente ao tricampeão mundial o russo Boris Spassky, que o americano venceu.
Fazendo o paralelismo com as carreiras de atletas de alto rendimento, estrelas de música, actores ou bailarinos, que vivem intensamente as suas carreiras, Bobby Fischer revela uma tremenda incapacidade para lidar com tudo o que existia para além do tabuleiro de Xadrez: Os seus problemas familiares, a dificuldade de relacionamento com os outros, a guerra com os 'media'. A recusa em aceitar as regras impostas pelo sistema, levam-no a um estado de paranóia que é indiciado logo nos primeiros anos da adolescência e que acabam por se confirmar na idade adulta com uma rotura total com o Xadrez e com os EUA. Paranóia extensiva ao bloco de Leste e a Boris Spassky.
Em última análise, 'O Prodígio' é a história de todos aqueles que ambicionam chegar aos estrelato mas depois de lá chegarem tudo fazem para sair das luzes da ribalta. Mas é também sobre a importância (excessiva) que nós damos a jogos de futebol, a todo o tipo de competições, a forma como fabricamos campeões, os colocamos no pódio e depois os destruímos ou os vemos destruírem-se e nada fazemos...
Ernest Hemingway no Adeus às Armas: “Aos que trazem coragem a este mundo, o mundo precisa quebrá-los para conseguir eliminá-los, e é o que faz. O mundo os quebra, a todos; no entanto, muitos deles tornam-se mais fortes, justamente no ponto onde foram quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos – indiferentemente. Se vocês não estão em nenhuma dessas categorias, o mundo vai matar vocês, do mesmo modo. Apenas não terá pressa em fazer isso.”
25 de Outubro de 2015
A melhor simulação
"Esta é a melhor simulação, a mais completa e perfeita, daquilo que vão ser os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016"
afirmou Jorge Vieira, presidente da FP de Atletismo após os Mundiais de Pequim 2015.
Quando faltam onze meses para os Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro, três importantes modalidades olímpicas disputaram os seus respectivos Campeonatos Mundiais: Atletismo, Canoagem e Judo. Após alguma euforia vivida durante os Jogos Europeus de Baku, onde Portugal conquistou 10 medalhas, três delas de ouro, a participação nos Mundiais dos atletas portugueses pré-seleccionados para os Jogos no Brasil veio a arrefecer esse entusiasmo entre os jornalistas, políticos e dirigentes desportivos.
Se algo de positivo podemos concluir após estes três eventos mundiais é que não é com falsas expectativas, nem objectivos optimistas que Portugal deverá apresentar-se nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016, mas com um realismo comedido de que com as actuais politicas desportivas, o nosso desporto de alto rendimento não pode ambicionar mais do que demonstrou nestas importantes competições.
Por isso concordo com a afirmação de que "esta é a melhor simulação, a mais completa e perfeita, daquilo que vão ser os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016".
No atletismo, entre o 'top-ten' mundial, Nelson Évora garantiu o bronze no triplo salto e Ana Cabecinha assegurou o quarto lugar nos 20 km marcha.
No Judo, a selecção lusa alcançou um 7.º lugar por Telma Monteiro (-57 kg) e dois 9.ºs por Ana Cachola (-63 kg) e Sergiu Oleinic (-66 kg).
Na canoagem, Fernando Pimenta conquistou o bronze em K1 1000; o K4 1000 com Fernando Pimenta, João Ribeiro, Emanuel Silva e David Fernandes, ficou na quinta posição, Hélder Silva foi oitavo em C1 200 metros e Teresa Portela 9.ª em K1 500.
Tive oportunidade de escrever na última 'Revista Olimpo' um pequeno texto de opinião onde procuro alertar para o exagerado estado de euforia que pode empurrar os atletas para um desnecessário nível de expectativas.
Estes mundiais vieram colocar "agua na fervura" com os responsáveis dessas modalidades a baixarem drasticamente aquilo que são as suas ambições, muitas delas legitimas, dos seus melhores atletas.
Os dirigentes, coordenadores técnicos, passaram de um discurso ambicioso de antevisão, assente sobre a "quantificação de medalhas" a conquistar, para, no regresso, um discurso de quantificação de "qualificações olímpicas".
Jorge Viera, presidente da FP Atletismo, em declarações à Lusa, rejeitou fazer um balanço negativo da prestação portuguesa no campeonato do mundo de atletismo, em Pequim, afirmando, pelo contrário, que Portugal teve "muitos bons resultados".
O dirigente acrescentou: Não se pode "fechar os olhos àqueles resultados que são menos bons."
Rui Vieira, director-técnico da FP de Judo reconheceu num balanço da participação dos 13 judocas nos Mundiais de Astana, que os resultados ficaram longe do que se podia esperar. "Ficou aquém das nossas expectativas. Porém, estando em período de qualificação olímpica até maio de 2016, a preparação visa atingir bons resultados em várias competições de qualificação olímpica e não apenas no Campeonato do Mundo."
Vítor Félix, presidente da FP de Canoagem, lamentou a "nesga" que impediu o K4 feminino de se qualificar, o que permitiria o pleno de dez atletas no Rio2016. "São muitas emoções. Temos seis atletas apurados. Claro que o objectivo deste ciclo olímpico eram oito/dez, mas, estando cá com dez, seria fazermos o pleno. Fica um sabor amargo pelo K4 feminino. Acredito que em 2016 ainda vamos alargar o grupo para nove canoístas."
Emidio Guerreiro, secretário de Estado do Desporto e Juventude, após os mundiais teve a necessidade de publicamente assumir que o Governo não "pressionou" as federações para a existência de resultados. "Não tenho de ficar desiludido [com os resultados]", frisou, acreditando, todavia, que os atletas portugueses podem, em perto de um ano, preparar os Jogos Olímpicos, onde espera que se alcancem bons resultados. "Temos um ano de trabalho para que tenhamos bons resultados nos Jogos, que vão ser um momento alto para o desporto português e nos vão encher de orgulho. Temos bons exemplos para dizer é possível."
Importa manter um rumo nos objectivos e na avaliação, antes, durante e depois das competições. A ambição fica bem aos políticos e dirigentes desde que não 'empurrem' os atletas para um nível que não é o deles. Não é com pressão adicional que se conquistam medalhas. Como já referi, em rigor, pelos resultados obtidos nas últimas épocas, considero que Portugal tem neste momento cerca de 20 atletas olímpicos de elevada qualidade, capazes de competir por lugares do pódio nas suas modalidades. Já quanto a Jogos Olímpicos, podemos, legitimamente, perspectivar que três ou quatro deles possam regressar do Rio com uma medalha ao peito.
6 de Setembro de 2015
afirmou Jorge Vieira, presidente da FP de Atletismo após os Mundiais de Pequim 2015.
Quando faltam onze meses para os Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro, três importantes modalidades olímpicas disputaram os seus respectivos Campeonatos Mundiais: Atletismo, Canoagem e Judo. Após alguma euforia vivida durante os Jogos Europeus de Baku, onde Portugal conquistou 10 medalhas, três delas de ouro, a participação nos Mundiais dos atletas portugueses pré-seleccionados para os Jogos no Brasil veio a arrefecer esse entusiasmo entre os jornalistas, políticos e dirigentes desportivos.
Se algo de positivo podemos concluir após estes três eventos mundiais é que não é com falsas expectativas, nem objectivos optimistas que Portugal deverá apresentar-se nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016, mas com um realismo comedido de que com as actuais politicas desportivas, o nosso desporto de alto rendimento não pode ambicionar mais do que demonstrou nestas importantes competições.
Por isso concordo com a afirmação de que "esta é a melhor simulação, a mais completa e perfeita, daquilo que vão ser os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016".
No atletismo, entre o 'top-ten' mundial, Nelson Évora garantiu o bronze no triplo salto e Ana Cabecinha assegurou o quarto lugar nos 20 km marcha.
No Judo, a selecção lusa alcançou um 7.º lugar por Telma Monteiro (-57 kg) e dois 9.ºs por Ana Cachola (-63 kg) e Sergiu Oleinic (-66 kg).
Na canoagem, Fernando Pimenta conquistou o bronze em K1 1000; o K4 1000 com Fernando Pimenta, João Ribeiro, Emanuel Silva e David Fernandes, ficou na quinta posição, Hélder Silva foi oitavo em C1 200 metros e Teresa Portela 9.ª em K1 500.
Tive oportunidade de escrever na última 'Revista Olimpo' um pequeno texto de opinião onde procuro alertar para o exagerado estado de euforia que pode empurrar os atletas para um desnecessário nível de expectativas.
Estes mundiais vieram colocar "agua na fervura" com os responsáveis dessas modalidades a baixarem drasticamente aquilo que são as suas ambições, muitas delas legitimas, dos seus melhores atletas.
Os dirigentes, coordenadores técnicos, passaram de um discurso ambicioso de antevisão, assente sobre a "quantificação de medalhas" a conquistar, para, no regresso, um discurso de quantificação de "qualificações olímpicas".
Jorge Viera, presidente da FP Atletismo, em declarações à Lusa, rejeitou fazer um balanço negativo da prestação portuguesa no campeonato do mundo de atletismo, em Pequim, afirmando, pelo contrário, que Portugal teve "muitos bons resultados".
O dirigente acrescentou: Não se pode "fechar os olhos àqueles resultados que são menos bons."
Rui Vieira, director-técnico da FP de Judo reconheceu num balanço da participação dos 13 judocas nos Mundiais de Astana, que os resultados ficaram longe do que se podia esperar. "Ficou aquém das nossas expectativas. Porém, estando em período de qualificação olímpica até maio de 2016, a preparação visa atingir bons resultados em várias competições de qualificação olímpica e não apenas no Campeonato do Mundo."
Vítor Félix, presidente da FP de Canoagem, lamentou a "nesga" que impediu o K4 feminino de se qualificar, o que permitiria o pleno de dez atletas no Rio2016. "São muitas emoções. Temos seis atletas apurados. Claro que o objectivo deste ciclo olímpico eram oito/dez, mas, estando cá com dez, seria fazermos o pleno. Fica um sabor amargo pelo K4 feminino. Acredito que em 2016 ainda vamos alargar o grupo para nove canoístas."
Emidio Guerreiro, secretário de Estado do Desporto e Juventude, após os mundiais teve a necessidade de publicamente assumir que o Governo não "pressionou" as federações para a existência de resultados. "Não tenho de ficar desiludido [com os resultados]", frisou, acreditando, todavia, que os atletas portugueses podem, em perto de um ano, preparar os Jogos Olímpicos, onde espera que se alcancem bons resultados. "Temos um ano de trabalho para que tenhamos bons resultados nos Jogos, que vão ser um momento alto para o desporto português e nos vão encher de orgulho. Temos bons exemplos para dizer é possível."
Importa manter um rumo nos objectivos e na avaliação, antes, durante e depois das competições. A ambição fica bem aos políticos e dirigentes desde que não 'empurrem' os atletas para um nível que não é o deles. Não é com pressão adicional que se conquistam medalhas. Como já referi, em rigor, pelos resultados obtidos nas últimas épocas, considero que Portugal tem neste momento cerca de 20 atletas olímpicos de elevada qualidade, capazes de competir por lugares do pódio nas suas modalidades. Já quanto a Jogos Olímpicos, podemos, legitimamente, perspectivar que três ou quatro deles possam regressar do Rio com uma medalha ao peito.
6 de Setembro de 2015
Porque é que o Mundial de Atletismo foi um grande espectáculo?
Não faltou emoção, surpresas e grandes resultados em Pequim.
(Em jeito de balanço...final)
Porque ...
Bolt venceu... Justin Gatlin por um centésimo nos 100 metros
e voltou a vencer nos 200 metros... sem forçar.
(Uma vitória de Gatlin - após dois casos de doping -, não seria o fim do Atletismo como alguns comentadores internacionais vaticinaram.)
(Adoramos um bom duelo entre os bons e os maus... quando pensamos que os bons ganham).
A Jamaica arrecadou o ouro na estafeta de 4x100 metros.
Bolt fez o último percurso depois de Nesta Carter, Asafa Powell e Nickel Ashmeade para uma marca de 37,36 segundos, à frente da... China (38,01) e do Canadá (38,13).
Os Estados Unidos lideraram até à última desastrada transmissão que acabou por valer a desqualificação.
(Anda tudo em nervos lá para os lados dos 'States'... à procura de um culpado)
Shelly-Ann Pryce revalidou o título mundial dos 100 metros...
à frente da holandesa Dafne Schippers (Uma heptatlonista que decidiu ser velocista).
Quatro dias depois a holandesa (há quem lhe chame "possante", eu digo "muito gira") conquistou o ouro nos 200 metros, com 21,63, à frente de duas jamaicanas Elaine Thompson (21,66) e Veronica Campbell Brown (21,97) e batendo o velho recorde da Europa de Marita Koch, intocável desde 1979, com 21,71.
Jamaicanas arrasam nos 4x100 e surpreendem nos 4x400.
Na estafeta feminina de 4x100, Veronica Campbell-Brown, Natasha Morrison, Elaine Thompson e Shelly-Ann Fraser Price, arrasaram prova com 41,07, à frente dos Estados Unidos (41,68) - mesmo com Allyson Felix - e Trinidad e Tobago (42,03).
Nos 4x400 metros surpreenderam a super-favorita equipa feminina dos EUA.
A estafeta masculina dos 4x400 metros conquistou a última prova ...
da competição, apesar de nunca ter entregado o testemunho na frente à passagem dos 400, 800 e 1200 metros. Os EUA terminaram com um tempo de 2'57''82 - melhor marca mundial do ano - e ficaram à frente de Trindade e Tobago e Grã-Bretanha.
Nélson Évora no triplo salto: o bronze que soube a ouro.
Emocionante concurso. Nelson Évora confirmou o pódio no último ensaio, voltando a a transcender-se em grandes competições e no mesmo estádio onde conquistou o ouro olímpico. Depois do título europeu de pista coberta, conquistado em Praga, o atleta português mostrou que a lesão pertence ao passado e saltou 17,52 metros, a sua sexta melhor marca de sempre.
(O americano Christian Taylor ganhou com a segunda melhor marca da história, 18,21, e o cubano Pedro Pichardo foi segundo com 17,73.)
O "jovem" eritreu Ghirmay Ghebreslassie (19 anos???)
arrecadou o ouro na maratona (2.12.27).
O melhor queniano foi Mark Korir em 22.º (2.21.20). Terminaram 42 atletas desistiram 25.
(Portugal não apresentou nenhum maratonista. O melhor europeu foi o italiano Roggero Pertile, em quarto lugar com 2.14.23, aos 41 anos)
A etíope Mare Dibaba, de 25 anos, sagrou-se campeã do mundo na maratona... ao sprinte,
com o tempo de 2.27.35, ao vencer a queniana Helah Kiprop (2.27.36).
( Filomena Costa terminou no 12.º lugar, a segunda Europeia)
Mo Farah revalidou título de campeão do Mundo dos 10.000 metros e... dos 5000 metros.
Uma sétima vitória consecutiva em 5000 ou 10000 metros em campeonatos do mundo e Jogos Olímpicos.
(Quenianos e Etíopes andam em brasa. Nem uns, nem outros se entendem numa estratégia colectiva - como em outros tempos - para 'rebentar' com o britânico, nascido em Mogadíscio, Somália.)
(Triunfos que fizeram esquecer, por momentos, as suspeitas no Projecto Oregon)
O queniano Julius Yego foi campeão mundial... do lançamento do dardo
(Num país de fundista, o lançador aprendeu a lançar pelo Youtube!!! Hoje treina na Finlândia.)
O canadiano Shawnacy Barber foi campeão do salto com vara.
(Shawnacy Barber, 21 anos, nasceu no Novo México mas é canadiano)
(Ainda não foi desta que Renaud Lavillenie se sagrou campeão mundial. Depois da prata em Moscovo-2013 e do bronze em Berlim-2009 e Daegu-2011, o recordista mundial teve de se contentar novamente com o bronze)
A etiope Genzebe Dibaba venceu os 1500 metros com 1.58 minutos nos últimos 800 metros (!!!)
(mas deixou-se surpreender nos 5000 metros pela compatriota Alma Ayana a cinco voltas do fim que se isolou para terminar em recorde dos campeoantos em 14.26.83. Que corrida louca, mesmo sobre a meta foi batida pela Senbere Teferi para se contentar com o bronze nos 5000 metros). Um pódio etíope.
No salto em altura feminino, pódio a 2.01 metros.
A jovem russa Maria Kuchina surpreendeu com um recorde pessoal ao ar livre. Kuchina, de 22 anos, resistiu ao fantástico regresso ao melhor nível da croata Blanka Vlasic, que acabou com a mesma marca (2,01), mas com mais um ensaio falhado. Anna Chicherova, a grande favorita, ficou com o bronze, com os mesmos 2,01 metros mas com dois ensaios falhados...
(Adoooooro!!! o salto em altura feminino. Elas são lindas. E depois quando nervosas, em pressão, ficam com uns 'tiques' engraçados. Os jogos psicológicos. As intervenções dos treinadores. Que espectáculo!!!)
O queniano Nicholas Bett foi campeão do mundo... de 400 metros barreiras
O russo Denis Kudryatvtsev (48,05 segundos com recorde nacional) e do bahamiano Jeffery Gibson (48,17 segundos e também com recorde nacional) completaram o pódio.
(Só para recordar: Julius Sang em Munique-1972 e Samson Kitur em Barcelona-1992 já haviam triunfado nos 400 metros, mas planos.O Quénia foi campeão olimpico na estafeta de 4x400 metros... nos Jogos de Munique 1972.)
20 km marcha femininos, a chinesa Liu Hong, recordista mundial, conquistou a medalha de ouro,
concluindo o percurso em 1h27m45s, enquanto a sua compatriota Lu Xiuzhi foi segunda classificada, com o mesmo tempo. A ucraniana Lyudmyla Olyanovska (1h28m13s) foi terceira, subindo ao último lugar do pódio.
(Que extraordinária prova de Ana Cabecinha foi quarta classificada. Fica a questão: onde poderiam chegar os nossos marchadores com outras , condições, outros objectivos?)
A vitória de David Lekuta Rudisha nos 800 metros
(O regresso do campeão olimpico e recordista mundial após ausência por lesão no Mundial de Moscovo 2013)
Os 3000 metros obstáculos: mais uma vitória do queniano Ezekiel Kemboi.
(Impressionante como Kemboi continua imbatível. Na frente quatro queninos e dois americanos.)
No decatlo, Ashton Eaton bateu o seu próprio recorde do Mundo e conquistou o título mundial da prova múltipla pela segunda vez, depois do alcançado em 2013.
O campeão olímpico em 2012, em Londres, terminou a prova com 9045 pontos, mais seis do que o seu anterior recorde, e bateu por larga margem o canadiano Damian Warner, 8695 pontos. O alemão Rico Freimuth ficou com o bronze, com 8561 pontos.
O Polaco Pawel Fajdek renovou título no lançamento do martelo...
(À noite, festejou bebeu uns copos e pagou táxi de regresso ao hotel com a medalha)
E ainda...
Nos 800 metros, a bielorrussa Marina Arzamasova conquistou o ouro com 1,58,03 minutos. A atleta de leste superou a canadiana Melissa Bishop (1,58,12) e a grande favorita queniana Eunice Sum (1,58,18).
O russo Sergey Shubenkov, campeão da Europa em títulos dos 110 metros barreiras, sagrou-se campeão mundial, ao vencer a final com 12,98 segundos - recorde da Rússia.
A colombiana Caterine Ibarguen, prata olímpica, foi bicampeã mundial no triplo salto.
Nos 1500 metros, o queniano Asbel Kiprop confirmou o seu favoritismo para se sagrar campeão do Mundo ao bater o compatriota Elijah Motonei Manangoi e o marroquino Abdalaati Iguider.
A cubana Yarisley Silva foi campeã do mundo do salto com vara.
O espanhol Miguel Angel López venceu os 20 km da marcha.
(A única medalha para Espanha)
O eslovaco Matej Toth triunfou nos 50 km marcha
(A primeira medalha do seu país num mundial)
(Pedro Isidro terminou em 21.º lugar com recorde pessoal de 3:55.44 horas.)
Vitória do sul-africano Wayde Van Niekerk nos 400 metros com sexta marca mundial (43,48).
O surpreendente quadro de medalhas:
O Quénia domina com 16 pódios (sete vitórias).
Jamaica em segundo com 12 medalhas (sete ouros)
EUA com 18 medalhas é terceiro: seis ouros, seis pratas e seis bronzes
A Rússia somou quatro medalhas... duas de ouro: Sergey Shubenkov (110m b) e Maria Kuchina (altura)
A China esteve em nove pódios: um ouro, sete pratas e um bronze. Ouro nos 20 km marcha para Hong Liu.
A França somou dois bronzes: Renaud Lavillenie (vara) e Alexandra Tavernier (martelo)
30 de Agosto de 2015
(Em jeito de balanço...final)
Porque ...
Bolt venceu... Justin Gatlin por um centésimo nos 100 metros
e voltou a vencer nos 200 metros... sem forçar.
(Uma vitória de Gatlin - após dois casos de doping -, não seria o fim do Atletismo como alguns comentadores internacionais vaticinaram.)
(Adoramos um bom duelo entre os bons e os maus... quando pensamos que os bons ganham).
A Jamaica arrecadou o ouro na estafeta de 4x100 metros.
Bolt fez o último percurso depois de Nesta Carter, Asafa Powell e Nickel Ashmeade para uma marca de 37,36 segundos, à frente da... China (38,01) e do Canadá (38,13).
Os Estados Unidos lideraram até à última desastrada transmissão que acabou por valer a desqualificação.
(Anda tudo em nervos lá para os lados dos 'States'... à procura de um culpado)
Shelly-Ann Pryce revalidou o título mundial dos 100 metros...
à frente da holandesa Dafne Schippers (Uma heptatlonista que decidiu ser velocista).
Quatro dias depois a holandesa (há quem lhe chame "possante", eu digo "muito gira") conquistou o ouro nos 200 metros, com 21,63, à frente de duas jamaicanas Elaine Thompson (21,66) e Veronica Campbell Brown (21,97) e batendo o velho recorde da Europa de Marita Koch, intocável desde 1979, com 21,71.
Jamaicanas arrasam nos 4x100 e surpreendem nos 4x400.
Na estafeta feminina de 4x100, Veronica Campbell-Brown, Natasha Morrison, Elaine Thompson e Shelly-Ann Fraser Price, arrasaram prova com 41,07, à frente dos Estados Unidos (41,68) - mesmo com Allyson Felix - e Trinidad e Tobago (42,03).
Nos 4x400 metros surpreenderam a super-favorita equipa feminina dos EUA.
A estafeta masculina dos 4x400 metros conquistou a última prova ...
da competição, apesar de nunca ter entregado o testemunho na frente à passagem dos 400, 800 e 1200 metros. Os EUA terminaram com um tempo de 2'57''82 - melhor marca mundial do ano - e ficaram à frente de Trindade e Tobago e Grã-Bretanha.
Nélson Évora no triplo salto: o bronze que soube a ouro.
Emocionante concurso. Nelson Évora confirmou o pódio no último ensaio, voltando a a transcender-se em grandes competições e no mesmo estádio onde conquistou o ouro olímpico. Depois do título europeu de pista coberta, conquistado em Praga, o atleta português mostrou que a lesão pertence ao passado e saltou 17,52 metros, a sua sexta melhor marca de sempre.
(O americano Christian Taylor ganhou com a segunda melhor marca da história, 18,21, e o cubano Pedro Pichardo foi segundo com 17,73.)
O "jovem" eritreu Ghirmay Ghebreslassie (19 anos???)
arrecadou o ouro na maratona (2.12.27).
O melhor queniano foi Mark Korir em 22.º (2.21.20). Terminaram 42 atletas desistiram 25.
(Portugal não apresentou nenhum maratonista. O melhor europeu foi o italiano Roggero Pertile, em quarto lugar com 2.14.23, aos 41 anos)
A etíope Mare Dibaba, de 25 anos, sagrou-se campeã do mundo na maratona... ao sprinte,
com o tempo de 2.27.35, ao vencer a queniana Helah Kiprop (2.27.36).
( Filomena Costa terminou no 12.º lugar, a segunda Europeia)
Mo Farah revalidou título de campeão do Mundo dos 10.000 metros e... dos 5000 metros.
Uma sétima vitória consecutiva em 5000 ou 10000 metros em campeonatos do mundo e Jogos Olímpicos.
(Quenianos e Etíopes andam em brasa. Nem uns, nem outros se entendem numa estratégia colectiva - como em outros tempos - para 'rebentar' com o britânico, nascido em Mogadíscio, Somália.)
(Triunfos que fizeram esquecer, por momentos, as suspeitas no Projecto Oregon)
O queniano Julius Yego foi campeão mundial... do lançamento do dardo
(Num país de fundista, o lançador aprendeu a lançar pelo Youtube!!! Hoje treina na Finlândia.)
O canadiano Shawnacy Barber foi campeão do salto com vara.
(Shawnacy Barber, 21 anos, nasceu no Novo México mas é canadiano)
(Ainda não foi desta que Renaud Lavillenie se sagrou campeão mundial. Depois da prata em Moscovo-2013 e do bronze em Berlim-2009 e Daegu-2011, o recordista mundial teve de se contentar novamente com o bronze)
A etiope Genzebe Dibaba venceu os 1500 metros com 1.58 minutos nos últimos 800 metros (!!!)
(mas deixou-se surpreender nos 5000 metros pela compatriota Alma Ayana a cinco voltas do fim que se isolou para terminar em recorde dos campeoantos em 14.26.83. Que corrida louca, mesmo sobre a meta foi batida pela Senbere Teferi para se contentar com o bronze nos 5000 metros). Um pódio etíope.
No salto em altura feminino, pódio a 2.01 metros.
A jovem russa Maria Kuchina surpreendeu com um recorde pessoal ao ar livre. Kuchina, de 22 anos, resistiu ao fantástico regresso ao melhor nível da croata Blanka Vlasic, que acabou com a mesma marca (2,01), mas com mais um ensaio falhado. Anna Chicherova, a grande favorita, ficou com o bronze, com os mesmos 2,01 metros mas com dois ensaios falhados...
(Adoooooro!!! o salto em altura feminino. Elas são lindas. E depois quando nervosas, em pressão, ficam com uns 'tiques' engraçados. Os jogos psicológicos. As intervenções dos treinadores. Que espectáculo!!!)
O queniano Nicholas Bett foi campeão do mundo... de 400 metros barreiras
O russo Denis Kudryatvtsev (48,05 segundos com recorde nacional) e do bahamiano Jeffery Gibson (48,17 segundos e também com recorde nacional) completaram o pódio.
(Só para recordar: Julius Sang em Munique-1972 e Samson Kitur em Barcelona-1992 já haviam triunfado nos 400 metros, mas planos.O Quénia foi campeão olimpico na estafeta de 4x400 metros... nos Jogos de Munique 1972.)
20 km marcha femininos, a chinesa Liu Hong, recordista mundial, conquistou a medalha de ouro,
concluindo o percurso em 1h27m45s, enquanto a sua compatriota Lu Xiuzhi foi segunda classificada, com o mesmo tempo. A ucraniana Lyudmyla Olyanovska (1h28m13s) foi terceira, subindo ao último lugar do pódio.
(Que extraordinária prova de Ana Cabecinha foi quarta classificada. Fica a questão: onde poderiam chegar os nossos marchadores com outras , condições, outros objectivos?)
A vitória de David Lekuta Rudisha nos 800 metros
(O regresso do campeão olimpico e recordista mundial após ausência por lesão no Mundial de Moscovo 2013)
Os 3000 metros obstáculos: mais uma vitória do queniano Ezekiel Kemboi.
(Impressionante como Kemboi continua imbatível. Na frente quatro queninos e dois americanos.)
No decatlo, Ashton Eaton bateu o seu próprio recorde do Mundo e conquistou o título mundial da prova múltipla pela segunda vez, depois do alcançado em 2013.
O campeão olímpico em 2012, em Londres, terminou a prova com 9045 pontos, mais seis do que o seu anterior recorde, e bateu por larga margem o canadiano Damian Warner, 8695 pontos. O alemão Rico Freimuth ficou com o bronze, com 8561 pontos.
O Polaco Pawel Fajdek renovou título no lançamento do martelo...
(À noite, festejou bebeu uns copos e pagou táxi de regresso ao hotel com a medalha)
E ainda...
Nos 800 metros, a bielorrussa Marina Arzamasova conquistou o ouro com 1,58,03 minutos. A atleta de leste superou a canadiana Melissa Bishop (1,58,12) e a grande favorita queniana Eunice Sum (1,58,18).
O russo Sergey Shubenkov, campeão da Europa em títulos dos 110 metros barreiras, sagrou-se campeão mundial, ao vencer a final com 12,98 segundos - recorde da Rússia.
A colombiana Caterine Ibarguen, prata olímpica, foi bicampeã mundial no triplo salto.
Nos 1500 metros, o queniano Asbel Kiprop confirmou o seu favoritismo para se sagrar campeão do Mundo ao bater o compatriota Elijah Motonei Manangoi e o marroquino Abdalaati Iguider.
A cubana Yarisley Silva foi campeã do mundo do salto com vara.
O espanhol Miguel Angel López venceu os 20 km da marcha.
(A única medalha para Espanha)
O eslovaco Matej Toth triunfou nos 50 km marcha
(A primeira medalha do seu país num mundial)
(Pedro Isidro terminou em 21.º lugar com recorde pessoal de 3:55.44 horas.)
Vitória do sul-africano Wayde Van Niekerk nos 400 metros com sexta marca mundial (43,48).
O surpreendente quadro de medalhas:
O Quénia domina com 16 pódios (sete vitórias).
Jamaica em segundo com 12 medalhas (sete ouros)
EUA com 18 medalhas é terceiro: seis ouros, seis pratas e seis bronzes
A Rússia somou quatro medalhas... duas de ouro: Sergey Shubenkov (110m b) e Maria Kuchina (altura)
A China esteve em nove pódios: um ouro, sete pratas e um bronze. Ouro nos 20 km marcha para Hong Liu.
A França somou dois bronzes: Renaud Lavillenie (vara) e Alexandra Tavernier (martelo)
30 de Agosto de 2015
As difíceis mas necessárias decisões de Seb Coe
A vitória de Sebastian Coe na corrida à presidência da IAAF promete restaurar a credibilidade perdida pelo atletismo após os últimos escândalos de doping. O britânico defende a criação de uma comissão independente no combate aos doping. Maior investimento, mais meios humanos e materiais. Mais esforço, naquela que o antigo campeão olímpico define como "uma guerra aberta" ao mais importante desporto olímpico.
Confesso que sou fã do politico conservador, vencedor dos 1500 metros dos Jogos de Moscovo'80 e Los Angeles'84. Como sou fã do seu grande rival, Steve Ovett, o outro súbdito de sua majestade, mais identificado politicamente com o operariado, campeão olímpico dos 800 metros em Moscovo.
Tenho dificuldade em separar aquele que foi um dos heróis da minha juventude, do politico, do presidente do comité organizador dos Jogos de Londres e do agora presidente da IAAF. Para mim ele continuará a ser o campeão que foi nos anos 80 do século passado quando coleccionava vitórias e recordes do mundo nos 800 e 1500 metros.
Por isso acredito que a sua presidência da IAAF poderá ajudar a credibilizar a modalidade, com politicas mais transparentes e efectivas no combate ao doping. Atraindo mais patrocinadores, introduzindo algumas alterações politicas que permitam tornar a modalidade mais atractiva, mais mediática ao nível dos grandes eventos, do circuito de meetings, do atletismo fora das pistas. Uma aposta no atletismo jovem, a recuperação do corta mato, a aproximação às federações nacionais e acima de tudo a centralização naquilo que é o mais importante: os atletas.
Mas, apesar desta minha esperança, manifesto também as minhas reservas no politico, numa modalidade muito conservadora da qual Sebastian Coe faz parte como homem do aparelho. No cargo de vice presidente desde 2007, Coe tem assistido, por dentro, aos crescentes problemas do atletismo.
Por exemplo, recordo no que respeita ao doping, viu-o muito preocupado em atacar os jornalistas e a defender o seu "amigo" da Nike, o treinador Alberto Salazar, quando as suspeitas caíram sobre o Oregon Project. Só depois falou em inquérito independente.
Agora, depois da vitória nas eleições, ficou perturbado quando o questionaram se deixaria o cargo de consultor da multinacional americana Nike. Este comportamento e esta promiscuidade não indiciam nada de bom.
Como sabemos das palavras aos actos vai uma grande distância e para nós (do atletismo), os segundos e os centímetros contam mesmo. Veremos se é capaz de tomar as esperadas decisões tão difíceis mas necessárias para o Atletismo. Aguardemos.
20 de Agosto de 2015
Confesso que sou fã do politico conservador, vencedor dos 1500 metros dos Jogos de Moscovo'80 e Los Angeles'84. Como sou fã do seu grande rival, Steve Ovett, o outro súbdito de sua majestade, mais identificado politicamente com o operariado, campeão olímpico dos 800 metros em Moscovo.
Tenho dificuldade em separar aquele que foi um dos heróis da minha juventude, do politico, do presidente do comité organizador dos Jogos de Londres e do agora presidente da IAAF. Para mim ele continuará a ser o campeão que foi nos anos 80 do século passado quando coleccionava vitórias e recordes do mundo nos 800 e 1500 metros.
Por isso acredito que a sua presidência da IAAF poderá ajudar a credibilizar a modalidade, com politicas mais transparentes e efectivas no combate ao doping. Atraindo mais patrocinadores, introduzindo algumas alterações politicas que permitam tornar a modalidade mais atractiva, mais mediática ao nível dos grandes eventos, do circuito de meetings, do atletismo fora das pistas. Uma aposta no atletismo jovem, a recuperação do corta mato, a aproximação às federações nacionais e acima de tudo a centralização naquilo que é o mais importante: os atletas.
Mas, apesar desta minha esperança, manifesto também as minhas reservas no politico, numa modalidade muito conservadora da qual Sebastian Coe faz parte como homem do aparelho. No cargo de vice presidente desde 2007, Coe tem assistido, por dentro, aos crescentes problemas do atletismo.
Por exemplo, recordo no que respeita ao doping, viu-o muito preocupado em atacar os jornalistas e a defender o seu "amigo" da Nike, o treinador Alberto Salazar, quando as suspeitas caíram sobre o Oregon Project. Só depois falou em inquérito independente.
Agora, depois da vitória nas eleições, ficou perturbado quando o questionaram se deixaria o cargo de consultor da multinacional americana Nike. Este comportamento e esta promiscuidade não indiciam nada de bom.
Como sabemos das palavras aos actos vai uma grande distância e para nós (do atletismo), os segundos e os centímetros contam mesmo. Veremos se é capaz de tomar as esperadas decisões tão difíceis mas necessárias para o Atletismo. Aguardemos.
20 de Agosto de 2015
DOPING: criminalizar ou liberalizar?
O discurso motivacional interpretado por Al Pacino (treinador Tony D'Amato), antes do jogo decisivo, no filme "Any Given Sunday" é um bom exemplo do que é o desporto espectáculo de alto rendimento, profissionalizado onde "todos fazem o que for preciso por um centímetro": «Quando envelhecemos, vamos perdendo algumas coisas. Isso faz parte da vida. Mas só percebemos isso quando começamos a perder coisas. Descobrimos que a vida é um jogo de centímetros. Tal como o futebol. Porque, em ambos os jogos, a vida ou o futebol, a margem de erro é tão pequena… Meio passo demasiado cedo ou tarde, e já não conseguimos. Meio segundo demasiado lento ou rápido, e não apanhamos. Os centímetros que precisamos estão à nossa volta. Estão em todas as oportunidades do jogo, todos os minutos, segundos.Nesta equipa lutamos por esse centímetro. Nesta equipa fazemos o que for preciso. E todos à nossa volta fazem o que for preciso por esse centímetro. Nós agarramos com unhas esse centímetro porque sabemos que percorrer esse centímetro é isso que vai fazer a diferença entre ganhar e perder. Entre viver e morrer. Digo-lhes o seguinte: em qualquer luta é o tipo que está disposto a morrer que vai ganhar esse centímetro. E eu sei que se voltar a ter uma vida é porque ainda estou disposto a lutar e a morrer por esse centímetro. Porque viver é isso! Esse centímetro à frente da nossa cara.Ou nos unimos como equipa ou morremos como indivíduos. O futebol é isso rapazes. Resume-se a isso.»
O filme realizado por Oliver Stone e escrito por John Logan, revela os bastidores do futebol americano, os jogadores, os treinadores, a imprensa e os donos das equipas, que controlam o jogo como um grande negócio que lucra milhões de dólares por ano.
O filme realizado por Oliver Stone e escrito por John Logan, revela os bastidores do futebol americano, os jogadores, os treinadores, a imprensa e os donos das equipas, que controlam o jogo como um grande negócio que lucra milhões de dólares por ano.
"Rapazes, vou ser honesto, vencer não é tudo... é a única coisa."
Treinador Henry Russell do UCLA Bruins football team em 1957 antes de um jogo confidência perante os seus jogadores, na privacidade do balneário aquilo que os defensores do movimentos olímpico não querem ouvir.
O desporto foi corrompido com a profissionalização e comercialização?
Um descontrolado desejo de sucesso a qualquer custo?
Os atletas utilizam métodos e substâncias proibidas para atingir essa sonhada glória?
O desporto é aquilo que as pessoas querem que seja. Os atletas são os que as pessoas esperam que eles sejam. Bom seria se o desporto de alto rendimento fosse "limpo", mas as pessoas assistiriam a uma competição como o Tour com os ciclistas a pedalar à média de 30km/h? Acompanhariam o desporto sem “super atletas” que procuram sempre superar os limites, bater recordes?
Bom seria se os atletas não se dopassem.
Bom seria se as pessoas não se drogassem.
Bom seria se nossa sociedade não fosse viciada e doente.
Bom seria se o mundo não fosse injusto e violento, bom seria... mas não é.
O que não podemos é cair numa falácia.
Devemos procurar entender a realidade de forma mais ampla e profunda,
para promover em nós a mudança que queremos ver no mundo.
No dia 2 de agosto de 2015, a 20 dias do Mundial de Atletismo em Pequim, o jornal britânico Sunday Times e a cadeia de televisão alemã ARD / WDR, divulgaram alguns dos resultados de 12.000 análises, que tiveram acesso, realizadas pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) entre 2001 e 2012. Constatou-se que os testes de um em cada sete atletas apresentaram resultados "altamente suspeitos de doping" e que um terço das medalhas em provas de resistência foram conquistadas por atletas cujos testes levantam suspeitas.
O documentário "Doping Ultrassecreto: O Sombrio Mundo do Atletismo", produzido pelo canal alemão, mostra ainda que 146 medalhas de Mundiais e Jogos Olímpicos, sendo 55 de ouro, foram conquistadas por atletas que apresentaram estes resultados suspeitos nos testes. Nenhum deles perdeu as medalhas em eventuais exames antidoping.
O médico australiano Robin Parisotto, um especialista em doping, consultado pela jornal e pela TV que conseguiram o exclusivo, caracterizou os resultados como "francamente perigosos" para a saúde dos atletas, e concluiu que a IAAF nada fez para que "que isso tenha acontecido".
É possível que o doping genético ou outras técnicas sejam muito mais arriscados para a saúde dos atletas. Será possível banir ou reduzir essas práticas? A sociedade sempre permitiu que desportistas, exploradores e aventureiros corressem riscos em troca de glória. Os alpinistas que morrerem todos os anos a escalar as mais altas montanhas do mundo sabem que, a cada quatro pessoas que tentam essa façanha, uma morre. Os pilotos de F1, ao volante dos monolugares, e os ciclistas, nas descidas vertiginosas, correm riscos de vida diários quando treinam e competem.
Ciclicamente, com o surgimento destes casos que abalam a imagem do desporto mundial, as posições mais estremas radicalizam-se: de um lado a total liberalização do doping. Do outro, a defesa de penas mais pesadas para os atletas faltosos.
«Legalizar doping seria um absurdo monstruoso", defendem aqueles que querem um combate mais duro à utilização de produtos e métodos proibidos e fazem a comparação com as drogas sociais: "A legalização das drogas sociais faz sentido porque pertencem às escolhas pessoais (ninguém é obrigado a drogar-se). Defendem ainda que a despenalização da droga ajudaria a combater o crime organizado. Inversamente nos desporto há prémios, dinheiro e glória. A legalização do doping forçaria os atletas a doparem-se, ou iria afastar todos aqueles que não querem tomar drogas.»
Do outro lado, o escritor italiano Mauro Covacich em artigo de opinião no suplemento literário do Corriere delle Sera titula: "Liberalizzate il doping". Em resumo, o autor argumenta que seria mais justo liberalizar o doping no desporto profissional e deixar cair o véu de hipocrisia que cobre uma anacrónica necessidade de pureza: «As expectativas da TV e o interesse dos patrocinadores baseiam-se nos resultados excepcionais, por outro, é impossível atingir um níveis "desumano" respeitando a ética desportiva. Não é possível terminar 20 esgotante etapas do Tour com a média de 50 km/h, ou correr os 100 metros em nove segundos sem tentar alguma ajuda farmacológica». É um sistema perverso que, defende Covacich «inventado por aqueles que fingem ser apunhalado pelas costas cada vez que um atleta tem um controlo antidoping positivo».
Qual seria o impacto de uma tal decisão sobre a grande massa de atletas amadores que hoje se inspiram no comportamento dos profissionais, procurando com facilidade substâncias proibidas na Internet? O que seria uma desregulamentação, uma proposta explícita para melhorar os seus limites? As escolhas pessoais não afectam apenas as pessoas directamente envolvidas. Caso contrário, não faria sentido campanhas contra o tabaco, o álcool ou uso obrigatório de capacetes e cintos de segurança.
Quando questionado sobre como esse fenómeno generalizado, o vencedor do Giro de 2007, o ciclista Danilo di Luca, irradiado do ciclismo em 2013, depois de ter acusado positivo num controlo antidoping, acredita que "90% dos ciclistas se dopam. Há uns 10% que estão limpos. É impossível não fazer uso de doping e terminar no top 10 no Tour ", concluiu.
Desde a vitória de Ben Johnson nos 100 metros da final olímpica de Seul'88 , apenas 7 homens terminaram os 100 metros em menos de 9.80 segundos. E deles, apenas dois – incluindo o campeão mundial e olímpico Usain Bolt – estão livres de alegações de doping, lembra a Medical Daily.
Treinador Henry Russell do UCLA Bruins football team em 1957 antes de um jogo confidência perante os seus jogadores, na privacidade do balneário aquilo que os defensores do movimentos olímpico não querem ouvir.
O desporto foi corrompido com a profissionalização e comercialização?
Um descontrolado desejo de sucesso a qualquer custo?
Os atletas utilizam métodos e substâncias proibidas para atingir essa sonhada glória?
O desporto é aquilo que as pessoas querem que seja. Os atletas são os que as pessoas esperam que eles sejam. Bom seria se o desporto de alto rendimento fosse "limpo", mas as pessoas assistiriam a uma competição como o Tour com os ciclistas a pedalar à média de 30km/h? Acompanhariam o desporto sem “super atletas” que procuram sempre superar os limites, bater recordes?
Bom seria se os atletas não se dopassem.
Bom seria se as pessoas não se drogassem.
Bom seria se nossa sociedade não fosse viciada e doente.
Bom seria se o mundo não fosse injusto e violento, bom seria... mas não é.
O que não podemos é cair numa falácia.
Devemos procurar entender a realidade de forma mais ampla e profunda,
para promover em nós a mudança que queremos ver no mundo.
No dia 2 de agosto de 2015, a 20 dias do Mundial de Atletismo em Pequim, o jornal britânico Sunday Times e a cadeia de televisão alemã ARD / WDR, divulgaram alguns dos resultados de 12.000 análises, que tiveram acesso, realizadas pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) entre 2001 e 2012. Constatou-se que os testes de um em cada sete atletas apresentaram resultados "altamente suspeitos de doping" e que um terço das medalhas em provas de resistência foram conquistadas por atletas cujos testes levantam suspeitas.
O documentário "Doping Ultrassecreto: O Sombrio Mundo do Atletismo", produzido pelo canal alemão, mostra ainda que 146 medalhas de Mundiais e Jogos Olímpicos, sendo 55 de ouro, foram conquistadas por atletas que apresentaram estes resultados suspeitos nos testes. Nenhum deles perdeu as medalhas em eventuais exames antidoping.
O médico australiano Robin Parisotto, um especialista em doping, consultado pela jornal e pela TV que conseguiram o exclusivo, caracterizou os resultados como "francamente perigosos" para a saúde dos atletas, e concluiu que a IAAF nada fez para que "que isso tenha acontecido".
É possível que o doping genético ou outras técnicas sejam muito mais arriscados para a saúde dos atletas. Será possível banir ou reduzir essas práticas? A sociedade sempre permitiu que desportistas, exploradores e aventureiros corressem riscos em troca de glória. Os alpinistas que morrerem todos os anos a escalar as mais altas montanhas do mundo sabem que, a cada quatro pessoas que tentam essa façanha, uma morre. Os pilotos de F1, ao volante dos monolugares, e os ciclistas, nas descidas vertiginosas, correm riscos de vida diários quando treinam e competem.
Ciclicamente, com o surgimento destes casos que abalam a imagem do desporto mundial, as posições mais estremas radicalizam-se: de um lado a total liberalização do doping. Do outro, a defesa de penas mais pesadas para os atletas faltosos.
«Legalizar doping seria um absurdo monstruoso", defendem aqueles que querem um combate mais duro à utilização de produtos e métodos proibidos e fazem a comparação com as drogas sociais: "A legalização das drogas sociais faz sentido porque pertencem às escolhas pessoais (ninguém é obrigado a drogar-se). Defendem ainda que a despenalização da droga ajudaria a combater o crime organizado. Inversamente nos desporto há prémios, dinheiro e glória. A legalização do doping forçaria os atletas a doparem-se, ou iria afastar todos aqueles que não querem tomar drogas.»
Do outro lado, o escritor italiano Mauro Covacich em artigo de opinião no suplemento literário do Corriere delle Sera titula: "Liberalizzate il doping". Em resumo, o autor argumenta que seria mais justo liberalizar o doping no desporto profissional e deixar cair o véu de hipocrisia que cobre uma anacrónica necessidade de pureza: «As expectativas da TV e o interesse dos patrocinadores baseiam-se nos resultados excepcionais, por outro, é impossível atingir um níveis "desumano" respeitando a ética desportiva. Não é possível terminar 20 esgotante etapas do Tour com a média de 50 km/h, ou correr os 100 metros em nove segundos sem tentar alguma ajuda farmacológica». É um sistema perverso que, defende Covacich «inventado por aqueles que fingem ser apunhalado pelas costas cada vez que um atleta tem um controlo antidoping positivo».
Qual seria o impacto de uma tal decisão sobre a grande massa de atletas amadores que hoje se inspiram no comportamento dos profissionais, procurando com facilidade substâncias proibidas na Internet? O que seria uma desregulamentação, uma proposta explícita para melhorar os seus limites? As escolhas pessoais não afectam apenas as pessoas directamente envolvidas. Caso contrário, não faria sentido campanhas contra o tabaco, o álcool ou uso obrigatório de capacetes e cintos de segurança.
Quando questionado sobre como esse fenómeno generalizado, o vencedor do Giro de 2007, o ciclista Danilo di Luca, irradiado do ciclismo em 2013, depois de ter acusado positivo num controlo antidoping, acredita que "90% dos ciclistas se dopam. Há uns 10% que estão limpos. É impossível não fazer uso de doping e terminar no top 10 no Tour ", concluiu.
Desde a vitória de Ben Johnson nos 100 metros da final olímpica de Seul'88 , apenas 7 homens terminaram os 100 metros em menos de 9.80 segundos. E deles, apenas dois – incluindo o campeão mundial e olímpico Usain Bolt – estão livres de alegações de doping, lembra a Medical Daily.
«O único remédio contra a prática generalizada de doping é a prisão !!!»
Os mais radicais na defesa do combate ao doping defendem que este deve ser tratado pela justiça como qualquer outro caso. «O combate deve ser feito com medidas inteligentes, drásticas e radicais, aos que usarem de tais artifícios. E não a inversão de valores.»
«Deveriam ser utilizados os mesmos critérios que o roubo: 1 ) prisão para o atleta que fez uso de substâncias dopantes; 2 ) o confisco de bens e capital acumulado durante a utilização de doping; 3). Erradicação do desporto! A mesma coisa para o laboratório e / ou o médico envolvido num caso positivo.»
Luís Horta, ex-presidente da ADoP, considera que os traçados das últimas edições do Tour, bem como de outras grandes provas velocipédicas, acabam por potenciar o recurso ao doping. Numa entrevista à BolaTV , em janeiro de 2013, que teve como "pano de fundo" a confissão de Lance Armstrong, o então presidente da Autoridade de Anti-Dopagem reiterou ainda a importância do combate ao doping e a sua veemente oposição à ideia de despenalizar o uso de substâncias ilícitas em determinadas provas.
«Na luta contra a dopagem não está em causa apenas a verdade desportiva. Está também em causa a saúde pública. E se o doping passasse a ser despenalizado passávamos a ter casos e mais casos de atentados à saúde pública», afirma o ex-líder da luta contra o doping em Portugal, centrando-se de seguida no caso do norte-americano Lance Armstrong: «Qualquer pessoa tem direito a ser reabilitada. Mas não pode ser considerado, como já li, um ídolo. Ídolo? Porquê? O desporto não serve para isto. Um pai não mete o filho a praticar desporto para isto.» Contudo, Luís Horta manifesta a esperança num desporto limpo de doping. «Não podemos generalizar. Quero acreditar que há ciclistas limpos», rematou.
Os médicos Leon Creaney e Anna Vondy, questionados pelo site da revista Runner's World, afirmaram que é uma questão "moral". Para os clínicos, «a liberalização hoje de substâncias consideradas ilícitas geraria uma pressão crescente sobre os atletas para competirem usando doses cada vez maiores para melhorar o seu desempenho.»
«Os atletas que quisessem viver uma vida saudável seriam excluídos. Logo, a única competição que importaria seria aquela para desenvolver as drogas mais poderosas e os competidores entrariam num ciclo de doses cada vez maiores para ficarem à frente dos outros.»
Com a despenalização, o mundo do desporto de elite poderia regressar à era dos programas de doping patrocinados pelos Estados como no passado. «O uso de drogas para o aumento de performance iria crescer exponencialmente e penetrar mais profundamente na nossa sociedade.»
No que diz respeito às baixas probabilidades de apanhar um atleta dopado nos dias de hoje - segundo as estimativas conhecidas está em 2,9% - , os médicos, especialistas em ética, dizem que os programas antidoping, estão subfinanciados. Deveriam ser reforçados e redireccionados para promover um desporto livre de drogas.
Opinião contrária tem Ellis Cashmore, professor da Universidade Staffordshire, no Reino Unido, autor do livro Making sense of sports. «O ciclista é um exemplo a favor da liberação do doping. A Agência Mundial Antidoping vive dizendo que o doping não faz bem à saúde, mas Armstrong dopou-se durante muito tempo, não foi apanhado nos exames e tem uma imagem de boa saúde», afirma.
«Armstrong usava técnicas conhecidas há décadas, como injecções de testosterona e doping de sangue. Se centenas de testes não deram positivo para essas drogas, qual a possibilidade de detectarem substâncias sintéticas, feitas especificamente para serem indetectadas? Há uma quantidade incontável dessas substâncias em uso. A Agência Mundial Antidoping está tão ultrapassada pelos atletas que se tornou constrangedoramente inútil.»
Ellis Cashmore é ainda mais provocador e polémico ao afirmar:, «o doping é perfeitamente coerente com o espírito olímpico expresso pela frase “Citius, altius, fortius” .Utilizar substâncias proibidas é uma infração técnica. Não um problema moral. O atleta não está violando o princípio olímpico de dar seu melhor para vencer. No fim do século XIX, o treino físico era proibido. Diziam que conferia “vantagem injusta” ao atleta que treinava. Até 2004, a cafeína era considerada doping. Hoje, permitimos cirurgias oculares, lentes de contato, hipnose e outras formas de assistência. Aprimorar o desempenho condiz com o caráter do desporto moderno.»
Julian Savulescu, professor de ética na Universidade de Oxford, editor do Journal of Medical Ethics , e um crítico de longa data da política de doping no desporto recorda: «Comecei a discutir [contra o sistema anti-doping] em 2002-2003. Naquela época, era realmente uma posição minoritária, e fui visto como um pouco louco. Com os repetidos escândalos de doping as pessoas questionam o que está acontecendo. Desporto vai sobreviver, mas ele vai ter que mudar. Agora é só uma questão de quando as autoridades decidir abandonar essa postura proibicionista. O único valor defendido pela WADA [Agência Mundial Anti-Doping] é que ninguém deve tomar quaisquer substâncias dopantes - e isso é um valor louco.»
De acordo com a WADA, uma substância ou método pode integrar o "index" das proibições se preencher dois dos três critérios:
1) Ter potencial para melhorar ou melhora o desempenho desportivo.
2) Representa um risco potencial ou real para a saúde do atleta.
3) Viola o espírito desportivo.
Um relatório da WADA de 2014 sobre a falta de eficácia em programas de testes com 90 recomendações refere: «Apesar do aumento da testes e os avanços científicos para detectar substâncias mais sofisticados, há falhas nos programas anti-doping. Mesmo que haja um número estimado de 250 mil testes realizados anualmente (um aumento de 100 mil testes), o relatório defende que não houve melhoria nas estatísticas do número de resultados positivos. O relatório acrescenta que os principais problemas decorrem de factores humanos e políticos, e que não há vontade para tornar o desporto livre de doping. As acções de formação pretendem dar aos atletas informações para tomarem as decisões corretas, mas há sempre alguém - atleta, treinador, pai, farmacêutico - que os leva a obter uma vantagem extra.»
Mais de 660 organizações desportivas a nível mundial aceitaram o código da WADA. Mas o diretor-geral da WADA, David Howman, reconhece que é um empreendimento colossal coordenar equipas de pessoas que controlam práticas desportivas de acordo com o Código.
A verdadeira questão: Para onde estamos a correr?
Termino citando a Rainha Vermelha de Lewis Carroll,em Alice Através do Espelho (1871): «Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr no mínimo duas vezes mais rápido!»
14 de Agosto de 2015
Os mais radicais na defesa do combate ao doping defendem que este deve ser tratado pela justiça como qualquer outro caso. «O combate deve ser feito com medidas inteligentes, drásticas e radicais, aos que usarem de tais artifícios. E não a inversão de valores.»
«Deveriam ser utilizados os mesmos critérios que o roubo: 1 ) prisão para o atleta que fez uso de substâncias dopantes; 2 ) o confisco de bens e capital acumulado durante a utilização de doping; 3). Erradicação do desporto! A mesma coisa para o laboratório e / ou o médico envolvido num caso positivo.»
Luís Horta, ex-presidente da ADoP, considera que os traçados das últimas edições do Tour, bem como de outras grandes provas velocipédicas, acabam por potenciar o recurso ao doping. Numa entrevista à BolaTV , em janeiro de 2013, que teve como "pano de fundo" a confissão de Lance Armstrong, o então presidente da Autoridade de Anti-Dopagem reiterou ainda a importância do combate ao doping e a sua veemente oposição à ideia de despenalizar o uso de substâncias ilícitas em determinadas provas.
«Na luta contra a dopagem não está em causa apenas a verdade desportiva. Está também em causa a saúde pública. E se o doping passasse a ser despenalizado passávamos a ter casos e mais casos de atentados à saúde pública», afirma o ex-líder da luta contra o doping em Portugal, centrando-se de seguida no caso do norte-americano Lance Armstrong: «Qualquer pessoa tem direito a ser reabilitada. Mas não pode ser considerado, como já li, um ídolo. Ídolo? Porquê? O desporto não serve para isto. Um pai não mete o filho a praticar desporto para isto.» Contudo, Luís Horta manifesta a esperança num desporto limpo de doping. «Não podemos generalizar. Quero acreditar que há ciclistas limpos», rematou.
Os médicos Leon Creaney e Anna Vondy, questionados pelo site da revista Runner's World, afirmaram que é uma questão "moral". Para os clínicos, «a liberalização hoje de substâncias consideradas ilícitas geraria uma pressão crescente sobre os atletas para competirem usando doses cada vez maiores para melhorar o seu desempenho.»
«Os atletas que quisessem viver uma vida saudável seriam excluídos. Logo, a única competição que importaria seria aquela para desenvolver as drogas mais poderosas e os competidores entrariam num ciclo de doses cada vez maiores para ficarem à frente dos outros.»
Com a despenalização, o mundo do desporto de elite poderia regressar à era dos programas de doping patrocinados pelos Estados como no passado. «O uso de drogas para o aumento de performance iria crescer exponencialmente e penetrar mais profundamente na nossa sociedade.»
No que diz respeito às baixas probabilidades de apanhar um atleta dopado nos dias de hoje - segundo as estimativas conhecidas está em 2,9% - , os médicos, especialistas em ética, dizem que os programas antidoping, estão subfinanciados. Deveriam ser reforçados e redireccionados para promover um desporto livre de drogas.
Opinião contrária tem Ellis Cashmore, professor da Universidade Staffordshire, no Reino Unido, autor do livro Making sense of sports. «O ciclista é um exemplo a favor da liberação do doping. A Agência Mundial Antidoping vive dizendo que o doping não faz bem à saúde, mas Armstrong dopou-se durante muito tempo, não foi apanhado nos exames e tem uma imagem de boa saúde», afirma.
«Armstrong usava técnicas conhecidas há décadas, como injecções de testosterona e doping de sangue. Se centenas de testes não deram positivo para essas drogas, qual a possibilidade de detectarem substâncias sintéticas, feitas especificamente para serem indetectadas? Há uma quantidade incontável dessas substâncias em uso. A Agência Mundial Antidoping está tão ultrapassada pelos atletas que se tornou constrangedoramente inútil.»
Ellis Cashmore é ainda mais provocador e polémico ao afirmar:, «o doping é perfeitamente coerente com o espírito olímpico expresso pela frase “Citius, altius, fortius” .Utilizar substâncias proibidas é uma infração técnica. Não um problema moral. O atleta não está violando o princípio olímpico de dar seu melhor para vencer. No fim do século XIX, o treino físico era proibido. Diziam que conferia “vantagem injusta” ao atleta que treinava. Até 2004, a cafeína era considerada doping. Hoje, permitimos cirurgias oculares, lentes de contato, hipnose e outras formas de assistência. Aprimorar o desempenho condiz com o caráter do desporto moderno.»
Julian Savulescu, professor de ética na Universidade de Oxford, editor do Journal of Medical Ethics , e um crítico de longa data da política de doping no desporto recorda: «Comecei a discutir [contra o sistema anti-doping] em 2002-2003. Naquela época, era realmente uma posição minoritária, e fui visto como um pouco louco. Com os repetidos escândalos de doping as pessoas questionam o que está acontecendo. Desporto vai sobreviver, mas ele vai ter que mudar. Agora é só uma questão de quando as autoridades decidir abandonar essa postura proibicionista. O único valor defendido pela WADA [Agência Mundial Anti-Doping] é que ninguém deve tomar quaisquer substâncias dopantes - e isso é um valor louco.»
De acordo com a WADA, uma substância ou método pode integrar o "index" das proibições se preencher dois dos três critérios:
1) Ter potencial para melhorar ou melhora o desempenho desportivo.
2) Representa um risco potencial ou real para a saúde do atleta.
3) Viola o espírito desportivo.
Um relatório da WADA de 2014 sobre a falta de eficácia em programas de testes com 90 recomendações refere: «Apesar do aumento da testes e os avanços científicos para detectar substâncias mais sofisticados, há falhas nos programas anti-doping. Mesmo que haja um número estimado de 250 mil testes realizados anualmente (um aumento de 100 mil testes), o relatório defende que não houve melhoria nas estatísticas do número de resultados positivos. O relatório acrescenta que os principais problemas decorrem de factores humanos e políticos, e que não há vontade para tornar o desporto livre de doping. As acções de formação pretendem dar aos atletas informações para tomarem as decisões corretas, mas há sempre alguém - atleta, treinador, pai, farmacêutico - que os leva a obter uma vantagem extra.»
Mais de 660 organizações desportivas a nível mundial aceitaram o código da WADA. Mas o diretor-geral da WADA, David Howman, reconhece que é um empreendimento colossal coordenar equipas de pessoas que controlam práticas desportivas de acordo com o Código.
A verdadeira questão: Para onde estamos a correr?
Termino citando a Rainha Vermelha de Lewis Carroll,em Alice Através do Espelho (1871): «Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr no mínimo duas vezes mais rápido!»
14 de Agosto de 2015
Uma moderna Cidade do Futebol junto ao velho Estádio Nacional
A Cidade do Futebol está situada a cerca de 500 metros do Estádio Nacional. Construída no terreno do parque de estacionamento do Complexo Desportivo do Jamor, a norte do Alto da Boa Viagem, "o investimento é de cerca de 13 milhões de euros. Inicialmente custava 10ME, mas a FPF 'decidiu' mudar a sede para o Jamor e isso terá um custo adicional de mais 3ME, e que só foi possível "graças à cedência de terrenos por parte do Estado", revela o DN a 6 de Novembro de 2014.
No momento em que decorrem as obras a toda a velocidade naquele que será o mais moderno espaço desportivo para o futebol, o Estádio Nacional está parado no tempo e deixou há muito de responder às necessidades mínimas de utilização para a alta competição por evidente falta de manutenção e renovação. Desde o relvado e o sistema de rega, passando pela pista de atletismo, instalações eléctricas, rede de esgotos e rede de água tudo está há muito em colapso naquele que é o mais importante espaço desportivo nacional. Há um mês deu-se um rebentamento de uma conduta - http://sicnoticias.sapo.pt/…/2015-07-08-Rebentamento-de-con… - que provocou inundação no Jamor.
Repito, enquanto a recuperação do EN não é prioridade, a 500 metros constrói-se uma moderna Cidade do Futebol que "reúne num só local todas as instalações da FPF, nomeadamente o Edifício Sede, o Centro Logístico, o Centro Técnico e um Núcleo Central que funciona como o "Centro de Acolhimento" de todos os que se relacionam com a FPF. 3 de Agosto de 2015
No momento em que decorrem as obras a toda a velocidade naquele que será o mais moderno espaço desportivo para o futebol, o Estádio Nacional está parado no tempo e deixou há muito de responder às necessidades mínimas de utilização para a alta competição por evidente falta de manutenção e renovação. Desde o relvado e o sistema de rega, passando pela pista de atletismo, instalações eléctricas, rede de esgotos e rede de água tudo está há muito em colapso naquele que é o mais importante espaço desportivo nacional. Há um mês deu-se um rebentamento de uma conduta - http://sicnoticias.sapo.pt/…/2015-07-08-Rebentamento-de-con… - que provocou inundação no Jamor.
Repito, enquanto a recuperação do EN não é prioridade, a 500 metros constrói-se uma moderna Cidade do Futebol que "reúne num só local todas as instalações da FPF, nomeadamente o Edifício Sede, o Centro Logístico, o Centro Técnico e um Núcleo Central que funciona como o "Centro de Acolhimento" de todos os que se relacionam com a FPF. 3 de Agosto de 2015
Crise no Desporto? Qual crise?
"Menos praticantes, menos clubes e menos subsídios"
"O mapa desportivo de Portugal encolheu em tudo nos últimos três anos. Menos nas medalhas", diz o jornal Público de hoje.
Tendo em conta a crise que o país vive, estes números vão dar para todas as interpretações possíveis. Quem defende os cortes e... quem está contra eles.
Haja alguém que faça uma leitura séria destes números?
Como sabemos: "aperta com os números que eles cedem".
Mas que medalhas conquistadas? que clubes desapareceram? que atletas federados? que federações afectadas?
Só no ténis registou-se uma grande quebra de 25 mil para 18 mil atletas? No geral, a quebra do número de praticantes em 2012 para 2013 É LIGEIRA (172)?
O Futebol representa quase um terço do total de praticantes federados em Portugal, 524 mil?
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que, "em 2013, teve uma comparticipação estatal de 2,9 milhões de euros, ainda assim, bem longe do que recebeu, por exemplo, em 1999 (9,7 milhões!!!).
Pelos números apresentados - filiados, organização e resultados - a FPF ainda vai defender que merecem mais dinheiro em comparação com outras modalidades.
Já que a completar o “top cinco” estão, por esta ordem, as federações de basquetebol (2,6 milhões), ATLETISMO (2,4 milhões), andebol (2,4 milhões) e voleibol (1,9 milhões).
No volume de comparticipação estatal ao desporto, de 2012 para 2013 caiu de 39,5 milhões, para 29,3 milhões em 2013. A baixa regista-se, principalmente, nos planos de comparticipação ao Alto Rendimento e às Selecções Nacionais, que foi de menos 4,7 milhões.
E o Programa de Preparação Olímpica num valor global de 15,7 milhões de euros até 2016, mais dois milhões de euros para 2017?
Quer isto dizer que cortamos na alta competição e continuamos a ganhar medalhas? ou que daqui a 5/10 anos é que vamos sentir estes cortes?
Ainda assim, "em termos de medalhas, conquistadas, houve UMA PEQUENA SUBIDA (18!!!) entre 2012 (236) e 2013 (268)", sendo que, aqui, cabe tudo porque falamos de modalidades olímpicas e não olímpicas. Entre as modalidades do programa olímpico, incluindo desporto adaptado e desporto universitário, conquistaram-se 45 medalhas em 2013.
Afinal, "tudo está bem" no reino da Dinamarca!!!
Ler notícia em http://www.publico.pt/desporto/noticia/menos-praticantes-menos-clubes-e-menos-subsidios-1701227
8 de Julho de 2015
"O mapa desportivo de Portugal encolheu em tudo nos últimos três anos. Menos nas medalhas", diz o jornal Público de hoje.
Tendo em conta a crise que o país vive, estes números vão dar para todas as interpretações possíveis. Quem defende os cortes e... quem está contra eles.
Haja alguém que faça uma leitura séria destes números?
Como sabemos: "aperta com os números que eles cedem".
Mas que medalhas conquistadas? que clubes desapareceram? que atletas federados? que federações afectadas?
Só no ténis registou-se uma grande quebra de 25 mil para 18 mil atletas? No geral, a quebra do número de praticantes em 2012 para 2013 É LIGEIRA (172)?
O Futebol representa quase um terço do total de praticantes federados em Portugal, 524 mil?
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que, "em 2013, teve uma comparticipação estatal de 2,9 milhões de euros, ainda assim, bem longe do que recebeu, por exemplo, em 1999 (9,7 milhões!!!).
Pelos números apresentados - filiados, organização e resultados - a FPF ainda vai defender que merecem mais dinheiro em comparação com outras modalidades.
Já que a completar o “top cinco” estão, por esta ordem, as federações de basquetebol (2,6 milhões), ATLETISMO (2,4 milhões), andebol (2,4 milhões) e voleibol (1,9 milhões).
No volume de comparticipação estatal ao desporto, de 2012 para 2013 caiu de 39,5 milhões, para 29,3 milhões em 2013. A baixa regista-se, principalmente, nos planos de comparticipação ao Alto Rendimento e às Selecções Nacionais, que foi de menos 4,7 milhões.
E o Programa de Preparação Olímpica num valor global de 15,7 milhões de euros até 2016, mais dois milhões de euros para 2017?
Quer isto dizer que cortamos na alta competição e continuamos a ganhar medalhas? ou que daqui a 5/10 anos é que vamos sentir estes cortes?
Ainda assim, "em termos de medalhas, conquistadas, houve UMA PEQUENA SUBIDA (18!!!) entre 2012 (236) e 2013 (268)", sendo que, aqui, cabe tudo porque falamos de modalidades olímpicas e não olímpicas. Entre as modalidades do programa olímpico, incluindo desporto adaptado e desporto universitário, conquistaram-se 45 medalhas em 2013.
Afinal, "tudo está bem" no reino da Dinamarca!!!
Ler notícia em http://www.publico.pt/desporto/noticia/menos-praticantes-menos-clubes-e-menos-subsidios-1701227
8 de Julho de 2015
As apostas no futuro
Para aqueles que dizem que "não há valores" no meio fundo.
Desafiado por um amigo do atletismo aqui vos deixo uma listagem dos nomes que, no meu entender, deveriam estar já integrados num plano de apoio "sério", a médio prazo (3/5 anos) com vista a obtenção de resultados de elevado nível nos escalões de seniores masculinos na Europa.
Claro que não temos campeões e recordista do mundo, nem 20 ou 30 atletas a baixar a barreira dos 14 minutos aos 5000 metros com aconteceu nos anos 80/90 do século passado.
Temos o que temos (de certeza que me escapou mais algum nome) e é com esses que deveríamos trabalhar de forma séria, como já fizemos no passado, como fazem e bem outros países, e outras modalidades em Portugal como o ciclismo, o triatlo ou a canoagem.
O que não devemos é alimentar a industria da nostalgia ("no nosso tempo é que era"). Por respeito por nós próprios, pelos mais jovens e por todos aqueles que continuam a trabalhar e a fazer alguma coisa pelos sector, como os treinadores e os seus clubes.
Recordo que este fim de semana decorre o campeonato nacional de juniores de pista, no Estádio 1º de Maio, em Braga, o último momento de qualificação para o Campeonato da Europa do escalão, que se disputa em Eskilstuna, na Suécia, de 16 a 19 de julho. O Campeonato da Europa de Sub 23 tem lugar em Tallinn, na Estónia, de 9 a 12 de julho com a maior comitiva de sempre. O Campeonato do Mundo de Juvenis disputa-se em Cali, na Colômbia, de 15 a 19 de julho.
Desafiado por um amigo do atletismo aqui vos deixo uma listagem dos nomes que, no meu entender, deveriam estar já integrados num plano de apoio "sério", a médio prazo (3/5 anos) com vista a obtenção de resultados de elevado nível nos escalões de seniores masculinos na Europa.
Claro que não temos campeões e recordista do mundo, nem 20 ou 30 atletas a baixar a barreira dos 14 minutos aos 5000 metros com aconteceu nos anos 80/90 do século passado.
Temos o que temos (de certeza que me escapou mais algum nome) e é com esses que deveríamos trabalhar de forma séria, como já fizemos no passado, como fazem e bem outros países, e outras modalidades em Portugal como o ciclismo, o triatlo ou a canoagem.
O que não devemos é alimentar a industria da nostalgia ("no nosso tempo é que era"). Por respeito por nós próprios, pelos mais jovens e por todos aqueles que continuam a trabalhar e a fazer alguma coisa pelos sector, como os treinadores e os seus clubes.
Recordo que este fim de semana decorre o campeonato nacional de juniores de pista, no Estádio 1º de Maio, em Braga, o último momento de qualificação para o Campeonato da Europa do escalão, que se disputa em Eskilstuna, na Suécia, de 16 a 19 de julho. O Campeonato da Europa de Sub 23 tem lugar em Tallinn, na Estónia, de 9 a 12 de julho com a maior comitiva de sempre. O Campeonato do Mundo de Juvenis disputa-se em Cali, na Colômbia, de 15 a 19 de julho.
800 metros
Sandy Martins, 22 anos, (Novas Luzes) - 1.47.75 - 2014 campeão nacional sub-23 em 400 e 800 m em 2014 Miguel Moreira, 24 anos, (Benfica) - 1.47.96 -2014 Maurício Alves, 21 anos, (Sporting) 1.50.47 - 2014 Guilherme Pinto, 21 anos, (Novas Luzes) 1.50.80 - 2014 João Fonseca,19 anos, (Girasol) 1.49.95 - 2015 Hugo Gil, 18 anos, (Ingleses FC) 1.50.48 - 2015 1500 metros Emanuel Rolim, 23 anos, (Benfica) - 3-38.66 - 2014 Paulo Rosário, 21 anos, (Maratona CP) - 3.41.84 - 2015. campeão nacional sub-23 em 2014 João Cruz, 21 anos, (Benfica) - 3.47.55 - 2015 Francisco Rodrigues, 18 anos, (Braga) - 3.51.36 - 2014 campeão nacional juniores 2014 Fábio Gomes (UD Várzea) - campeão nacional 3000 m juniores 2014. campeão de juniores crosse 2015 5000 metros Bruno Albuquerque, 26 anos, (Benfica) - 13.57.89 -2014 Rui Pinto, 23 anos, (Benfica) - 13.59.48 (campeão nacional crosse) Eduardo Mbengani, 27 anos, (Sporting) -13.49.99 -2014 Tiago Costa, 27 anos, (Benfica) - 14.03.25 - 2014 Samuel Barata, 22 anos, (Benfica) - 14.14.17 - 2015 campeão nacional sub-23 de crosse. Miguel Marques - campeão nacional juniores -2014 3000 obstáculos Luis Miguel Borges, 21 anos, (Benfica) - 8.50,94, 2015 Fernando Serrão, 22 anos, (Maratona CP) - 8.53.84, 2015 André Pereira, 20 anos, (Benfica) - 9.01.79 -2014. Campeão nacional juniores 2014 Ruben Silva, 22 anos, (Vidigalense) - 8.57.41 -2014 Ricardo Barbosa, 20 ano (Benfica) - 9.06.48 -2015 10 000 metros Samuel Barata, 22 anos, (Benfica) - 29.26.56 mínimos europeu sub 23 António Silva, 28 anos, (Sporting) - 29.09.45 - 2015 João Pereira, 19 anos, (Benfica) - 31.00.96 André Cunha, 17 anos, (Benfica) melhor júnior no troféu ibérico mínimos europeu juniores John Caldeira campeão nacional sub 23 3 de Julho de 2015 |
Os atletas merecem público nas bancadas
Após um longo interregno, foi com muita satisfação que soube do regresso ao calendário nacional do Meeting de Santo António. Uma reunião de Atletismo que, entre 1989 e 2003, trouxe ao Estádio Universitário de Lisboa alguns dos melhores nomes do atletismo internacional com destaque para Javier Sotomayor, Ivan Pedroso, Jean Galfione, Serguey Bubka, e até Ben Johnson, entre muitos outros.
Um bom espectáculo para o público. Uma oportunidade única para muitos atletas portugueses competirem ao melhor nível.
Em bom tempo a FPA conseguiu recuperar esse importante evento convidando, e bem, para director técnico o professor Abreu Matos que tinha já liderado o único grande meeting organizado em Portugal.
Por isso foi com alguma expectativa que assisti à promoção do evento nas semanas anteriores, à conferência de imprensa e depois ao meeting ao fim de tarde e principio de noite de quinta feira.
O evento prometia a presença da maioria dos melhores atletas nacionais - com destaque para o campeão olímpico Nelson Évora - assim como atletas internacionais, em todas as disciplinas, que permitiam dar alguma competitividade. Facto que acabou por concretizar-se.
Nelson Évora confirmou o seu estatuto de figura do meeting, vencendo o triplo salto no último ensaio, com 16,92 metros, superando o campeão mundial indoor 2014, russo Lyukman Adams, que liderou desde o 3.º ensaio (16,89).
Mas o meeting, na minha perspectiva, acabou por ter outros pontos de interesse que me levou a não dar por perdido as mais de três horas que passei nas bancadas: a vitória de Yazalde Nascimento nos 100 metros (10,24) com 10,23 de meia final, a dois centésimo do RP. O triunfo de David Lima nos 200 metros (20,98). Susana Costa a dominar o triplo, apesar dos 13,89.
Gostei de ver o italiano Gianmarco Tamberi saltar 2,25 metros em altura (RP a 2,31); A ucraniana Nataliya Semenova a lançar o disco a 60,55 metros (61,09 em 2015); o russo Leonid Kivalov a passar a fasquia da vara na marca dos 5,47 metros (5,50 em 2015) seguido pelo portugueses Diogo Ferreira (5,39), Rubem Miranda e Edi Maia, ambos com 5,28.
Assisti com interesse ao concurso do lançamento do peso com o romeno Andrei Gag a vencer com recorde pessoal de 20,69 seguido pelo espanhol Borja Vivas (19,91) e do português recordista nacional (21,06) Tsanko Arnaudov (19,69).
E até apreciei as corridas de meio fundo, no caso dos 3000 metros com vitória do espanhol António Abadia (7.53,58) seguido pelo marroquino Soufiyan Bouqantar (7.53,69) e o português Eduardo Mbengani (8.01.34 RP).
Assim como os 800 metros, com a vitória do marroquino Amine El Manaoui (1.47.61) à frente do venezuelano Lucirio Garrido (1.48.31). Sandy Martins foi terceiro com 1.49.67.
Poderíamos esperar aqui ou ali melhores resultados, mas, para além dos aspectos competitivos que destacamos, há, porém, opções organizativas que são cada vez mais difíceis de aceitar em 2015.
Destacamos aqui alguns aspectos que não favoreceram o evento:
- Uma data que não será a melhor mas a "possível" para Nelson Évora.
- Um programa demasiado extenso (18.30 - 20.50).
- Um atraso no horário das provas em quase uma hora.
- Um aparelhagem sonora de má qualidade e informações que não se ouviam apesar do esforço dos comentadores.
- A distribuição dos concurso por zonas do Estádio que não favoreceram a sua visibilidade (salto em altura e vara na mesma zona)
Por outro lado, confesso, que esperava mais publico. Pela qualidade dos atletas em competição; pelo esforço que foi feito pela FPA. Assim o permitia indiciar. Todavia, a divulgação no facebook, e nos sites, claramente, não foram suficientes para motivar as pessoas a irem ao EUL.
Apesar da disponibilidade de Nelson Évora para se envolver na promoção do meeting com alguns artigos de jornais, programas de rádio e tv, a informação não chegou ao público. As inúmeras pessoas ligadas à modalidade, com quem falei na semana antes do meeting, na sua maioria desconhecia a sua realização. As pessoas tem hoje inúmeras solicitações e ofertas de programas desportivos.
Por isso, outras estratégias de promoção deveriam ser adoptadas no futuro. E não ficar à espera que seja a comunicação social a fazer esse trabalho. Esse não é o seu papel.
Por exemplo, deveriam ser colocados cartazes em locais "do atletismo" como o Jamor; a divulgação em grandes eventos de rua, uma maior incidência no site da FPA; Maior promoção junto de públicos alvos como a "marcha e corrida", nos clubes e associações.
Um ponto sensível é o pagamento de bilhetes para ver atletismo (5, 8 e 10 euros). Havia ainda um campanha de bilhetes no 'banco alimentar' para o topo do estádio. Não somos contra. Mas se queremos "vender" o Atletismo deveriam ser adoptados outros preços mais acessíveis e em simultâneo fazer uma forte promoção, ofertas especiais de bilhetes junto dos pequenos clubes e escolas da grande Lisboa. Assim como convites especiais a antigas glórias da modalidade.
Mas como queremos publico nas bancadas se nem as pessoas que gostam de atletismo vão ao atletismo? Com ou sem razão, muitos antigos atletas parecem estar "zangados" com a modalidade.Trazer as pessoas de volta para o atletismo deveria ser um objectivo prioritário. Os portugueses gostam de atletismo e os atletas merecem público nas bancadas.
Ver resultados em http://www.meetingsantoantonio.com/pt/assets/res_al_meetingsantonio.pdf
27 de Junho de 2015
Um bom espectáculo para o público. Uma oportunidade única para muitos atletas portugueses competirem ao melhor nível.
Em bom tempo a FPA conseguiu recuperar esse importante evento convidando, e bem, para director técnico o professor Abreu Matos que tinha já liderado o único grande meeting organizado em Portugal.
Por isso foi com alguma expectativa que assisti à promoção do evento nas semanas anteriores, à conferência de imprensa e depois ao meeting ao fim de tarde e principio de noite de quinta feira.
O evento prometia a presença da maioria dos melhores atletas nacionais - com destaque para o campeão olímpico Nelson Évora - assim como atletas internacionais, em todas as disciplinas, que permitiam dar alguma competitividade. Facto que acabou por concretizar-se.
Nelson Évora confirmou o seu estatuto de figura do meeting, vencendo o triplo salto no último ensaio, com 16,92 metros, superando o campeão mundial indoor 2014, russo Lyukman Adams, que liderou desde o 3.º ensaio (16,89).
Mas o meeting, na minha perspectiva, acabou por ter outros pontos de interesse que me levou a não dar por perdido as mais de três horas que passei nas bancadas: a vitória de Yazalde Nascimento nos 100 metros (10,24) com 10,23 de meia final, a dois centésimo do RP. O triunfo de David Lima nos 200 metros (20,98). Susana Costa a dominar o triplo, apesar dos 13,89.
Gostei de ver o italiano Gianmarco Tamberi saltar 2,25 metros em altura (RP a 2,31); A ucraniana Nataliya Semenova a lançar o disco a 60,55 metros (61,09 em 2015); o russo Leonid Kivalov a passar a fasquia da vara na marca dos 5,47 metros (5,50 em 2015) seguido pelo portugueses Diogo Ferreira (5,39), Rubem Miranda e Edi Maia, ambos com 5,28.
Assisti com interesse ao concurso do lançamento do peso com o romeno Andrei Gag a vencer com recorde pessoal de 20,69 seguido pelo espanhol Borja Vivas (19,91) e do português recordista nacional (21,06) Tsanko Arnaudov (19,69).
E até apreciei as corridas de meio fundo, no caso dos 3000 metros com vitória do espanhol António Abadia (7.53,58) seguido pelo marroquino Soufiyan Bouqantar (7.53,69) e o português Eduardo Mbengani (8.01.34 RP).
Assim como os 800 metros, com a vitória do marroquino Amine El Manaoui (1.47.61) à frente do venezuelano Lucirio Garrido (1.48.31). Sandy Martins foi terceiro com 1.49.67.
Poderíamos esperar aqui ou ali melhores resultados, mas, para além dos aspectos competitivos que destacamos, há, porém, opções organizativas que são cada vez mais difíceis de aceitar em 2015.
Destacamos aqui alguns aspectos que não favoreceram o evento:
- Uma data que não será a melhor mas a "possível" para Nelson Évora.
- Um programa demasiado extenso (18.30 - 20.50).
- Um atraso no horário das provas em quase uma hora.
- Um aparelhagem sonora de má qualidade e informações que não se ouviam apesar do esforço dos comentadores.
- A distribuição dos concurso por zonas do Estádio que não favoreceram a sua visibilidade (salto em altura e vara na mesma zona)
Por outro lado, confesso, que esperava mais publico. Pela qualidade dos atletas em competição; pelo esforço que foi feito pela FPA. Assim o permitia indiciar. Todavia, a divulgação no facebook, e nos sites, claramente, não foram suficientes para motivar as pessoas a irem ao EUL.
Apesar da disponibilidade de Nelson Évora para se envolver na promoção do meeting com alguns artigos de jornais, programas de rádio e tv, a informação não chegou ao público. As inúmeras pessoas ligadas à modalidade, com quem falei na semana antes do meeting, na sua maioria desconhecia a sua realização. As pessoas tem hoje inúmeras solicitações e ofertas de programas desportivos.
Por isso, outras estratégias de promoção deveriam ser adoptadas no futuro. E não ficar à espera que seja a comunicação social a fazer esse trabalho. Esse não é o seu papel.
Por exemplo, deveriam ser colocados cartazes em locais "do atletismo" como o Jamor; a divulgação em grandes eventos de rua, uma maior incidência no site da FPA; Maior promoção junto de públicos alvos como a "marcha e corrida", nos clubes e associações.
Um ponto sensível é o pagamento de bilhetes para ver atletismo (5, 8 e 10 euros). Havia ainda um campanha de bilhetes no 'banco alimentar' para o topo do estádio. Não somos contra. Mas se queremos "vender" o Atletismo deveriam ser adoptados outros preços mais acessíveis e em simultâneo fazer uma forte promoção, ofertas especiais de bilhetes junto dos pequenos clubes e escolas da grande Lisboa. Assim como convites especiais a antigas glórias da modalidade.
Mas como queremos publico nas bancadas se nem as pessoas que gostam de atletismo vão ao atletismo? Com ou sem razão, muitos antigos atletas parecem estar "zangados" com a modalidade.Trazer as pessoas de volta para o atletismo deveria ser um objectivo prioritário. Os portugueses gostam de atletismo e os atletas merecem público nas bancadas.
Ver resultados em http://www.meetingsantoantonio.com/pt/assets/res_al_meetingsantonio.pdf
27 de Junho de 2015
A crise do meio fundo nunca existiu
Sempre bem humorado, acabo de receber um mail do meu amigo e camarada jornalista Arons de Carvalho, antigo atleta, grande especialista de Atletismo, que partilha connosco uma "nova" perspectiva da crise do meio fundo português.
Arons de Carvalho: "Acabo de chegar à conclusão de que a crise do meio-fundo português é uma treta. Estamos até bastante bem. Estive a fazer um apanhado de todos os campeões nacionais de corta-mato, dos vários escalões jovens e verifiquei que no início dos anos 80 a crise era terrível, ao ponto de um tipo chamado Cipriano Lucas - não sei se te lembras dele - foi campeão nacional de juvenis em 1980 e de juniores em 1981 e 1982. Ao nível a que então chegou o meio-fundo jovem nacional! Verifiquei que atrás desse Cipriano ficaram tipos como Domingos Castro, José Regalo, Dionísio Castro, enfim nomes que nunca viriam a ser nada no atletismo nacional. Muito pior que agora!... Essas listas - com esses pontos fracos - estão no meu site desde hoje. Se quiseres recordar e ver que tenho razão, podes vê-las em http://atletismo-estatistica.pt/…/corta-ma…/campeoes-jovens/" 27 junho 2015 |
Olimpismo, Educação e Jornalismo *
O jornalista desportivo, ao contrário do jornalista politico ou económico, vê-se "forçado", quase diariamente, avaliar resultados, recordes, interpretar prestações, reflectindo nessas análises aquilo que é, de forma emocional, a sua cultura, a sua experiência desportiva e até as suas preferências clubísticas.
Apesar do respeito pelo perfil editorial do órgão de comunicação para onde trabalha, e da procura de um conjunto de valores e normas profissionais - a liberdade, a independência, autonomia, credibilidade, objectividade - , ainda assim os jornalistas desportivos mantém uma relação esquizofrénica, direi mesmo bipolar, com os seus mais directos interlocutores - os atletas.
Uma cultura desportiva forçada por uma total interdependência mas vivida numa relação de "amor-ódio" entre dois universos - o mundo da redacção e o mundo do desporto.
Assistimos muitas vezes a uma interpretação: Se o atleta ganha... é uma vitória do atleta, treinador, clube, país e também dos jornalistas.
Se perde... é uma derrota do atleta.
A maioria dos jornalistas desportivos são cidadão apaixonados pela sua profissão. Mas como cidadão vivem muitas vezes de forma emocional, apaixonada o desporto.
Um "transtorno" caracterizado por oscilações de humor entre a euforia e a depressão que, no fundo, reflecte nas redacções uma amostra social do país em que vivemos.
Por seu lado, os agentes desportivos - dirigentes, treinadores e atletas - entendem o jornalista como um
"promotor" das suas actividades. Alguém a quem podem falar "apenas" das suas vitórias, dos seus sucessos.
Quando isso não acontece assistimos a uma "crise de relacionamento".
Todavia, como todas as relações apaixonadas, interdependentes, não podem viver um sem o outro.
Esta contradição foi vivida ao longos dos últimos 120 anos da história onde o desporto alimenta o jornalismo que, por sua vez, contribui para a difusão da prática desportiva.
Mais do que transmissor de informações, o jornalista desportivo é um "produtor de sentidos", fazendo parte de uma "comunidade interpretativa" em que actuam diversos âmbitos: o acontecimento, a produção, a transmissão e a recepção.
Em todos esses momentos, são agentes activos na construção dos sentidos dos conteúdos jornalísticos.
A verdade é que os "valores-notícia", procurado e cultivado de forma obsessiva pelo jornalista, não é, na maioria das vezes, compatível com os valores do Olimpismo.
O Olimpismo defende os valores da cultura e educação aliado ao desporto.
O jornalismo os valores da informação.
Como superamos esse aparente antagonismo?
"O Olimpismo é uma filosofia de vida que exalta e combina de forma equilibrada as qualidades do corpo, da vontade e do espírito. Aliando o desporto à cultura e educação."
"O Olimpismo é criador de um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais."
Na última semana, dois acontecimentos poderão servir de exemplo sobre as contradições entre o "valor notícia" e os valores do Olimpismo: O presidente da República Cavaco Silva homenageou 16 atletas.
A fantástica síntese dos feitos desportivos dos atletas portugueses, que passou num curto filme sobre os nosso heróis olímpicos, foi apresentada como uma "narrativa jornalística": "Heróis que projectaram o país a patamares de excelência."
Foi o próprio presidente da República que afirmou: "O desporto, como quase todas as actividades humanas, situa-se actualmente numa dimensão global de enorme concorrência. O que é fundamental, a este propósito, é que a lógica do mercado não ponha em causa a pureza dos ideais que animam a prática desportiva", disse, classificando os Jogos Olímpicos como "uma referência de humanismo e de salvaguarda da ética desportiva".
Ainda esta semana, a professora Felisbela Lopes, investigadora da universidade do Minho, apresentou o seu livro "Jornalista: Profissão Ameaçada".
Aqui se apontam as consequências dos constrangimentos económicos nas opções editoriais.
Há mesmo quem os aponte como o novo lápis azul da censura.
“Os jornalistas vivem hoje sob permanente pressão. Pressão para ser rentável. Pressão para fazer a cobertura de determinado acontecimento. Pressão para ouvir este ou aquele interlocutor. Pressão para não afrontar os accionistas ou financiadores da sua empresa. Pressão para cumprir leis que não deixam margem para noticiar factos com relevância noticiosa. Pressão para trabalhar depressa. Pressão para ser o primeiro a anunciar a última coisa que acontece. Pressão para multiplicar conteúdos em diversas plataformas. Pressão para atender àquilo que os cidadãos dizem nas redes sociais. Pressão para desenvolver conteúdos de qualidade que suscitem o interesse do público. Pressão para não provocar reacções dos reguladores dos media. Não é fácil trabalhar assim", sintetiza a professora universitária.
É nesta realidade que o desporto e o jornalismo têm coabitado e terão de continuar a coabitar no futuro.
A selecção das notícias é realizada com base em critérios económicos com pouco espaço para os valores do Olimpismo integrarem os "valores-notícia".
Os jornalistas desportivos não têm incorporados na sua cultura a filosofia do Olimpismo. A consequência disso acaba por levar a uma atitude que não apresenta o desporto como dimensão cultural. Apenas como actividade criadora de espectáculo.
O desporto passa a ser visto como simples competição e essa passa a ser a motivação para que ganhe espaço nos meios de comunicação.
Muitos dos jornalistas não conhecem a fundo a modalidade que estão a escrever ou falar, nem procuram ouvir especialistas para enriquecer as suas abordagens, fazendo com que a informação que chega aos receptores esteja deformada, ou seja, construída a partir do ponto de vista do jornalista.
Ainda assim, e apesar deste aparente pessimismo, é a comunicação social que tem dado dignidade histórica ao desporto sem a qual este ficaria reduzido a uma actividade sem sentido social.
Aquilo que hoje se conhece do desenvolvimento do desporto português desde os finais do século XIX deve-se à intervenção e, depois, à memória preservada pelos jornais.
Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos modernos, foi durante anos redactor em jornais, tinha até carteira profissional. Elaborou noticias mas também artigos de opinião. A imprensa serviu de tribuna na sua cruzada pela renovação dos Jogos.
Grandes eventos desportivos foram patrocinados, promovidos e organizados por jornais. A Volta a França foi fundada em 1903 pelo jornal L' Auto, na tentativa de aumentar as suas vendas.
A corrida São Silvestre de São Paulo foi criada por um jornalista apaixonado pelo desporto, Cásper Libero director d'A Gazeta Esportiva.
O mesmo aconteceu no nosso país com a organização de eventos desportivos. A criação da Volta a Portugal em bicicleta deve-se a Raul Oliveira do jornal Os Sports. O jornalista fez parte da comitiva do Tour de 1919 e organizou a primeira Volta a Lisboa em 1924, quando ainda trabalhava no Diário de Lisboa.
A primeira Volta foi organizada em parceria pelo Diário de Notícias e Os Sports.
A partir do 25 de Abril, assistimos a um debate alargado sobre o desenvolvimento do desporto nacional promovido nas páginas dos principais jornais nacionais.
Estou convicto que a minha formação, muito daquilo que sou, assim como a formação desportiva da maioria dos portugueses, os nosso valores, foram-nos transmitidos em grande parte pelos jornais, pelo programas de TV desportivos.
Estou convicto, apesar de tudo, que todos nós, somos muito melhor formados apesar desta bipolar relação "jornalistas - atletas".
Estou no desporto porque vi, por uma pequena TV a preto e branco, Carlos Lopes conquistar a medalha de prata nos 10 000 metros dos jogos olímpicos de Montreal'76. Na altura, um miúdo com 13 anos, não gostei de ver o finlandês Lasse Viren arrancar para a vitória sem ajudar um pouco que fosse o "nosso" Carlos Lopes.
Claro que, oito anos depois já a cores, Lopes rectificaria "essa injustiça" com a vitória na maratona dos Jogos de Los Angeles'84.
Todos nós assistimos a esses feitos porque tivemos um campeão como o Lopes mas também os jornalistas para o transmitir.
Sem o saber estava a formar os meus valores de educação no desporto através do Olimpismo e do Jornalismo.
2 de Junho de 2015
* Tema apresentado no dia 30 de Maio na XXVI Sessão Anual da Academia Olímpica de Portugal, que decorreu em Loulé.
Ao longo dos três dias foram debatidos os Caminhos da Educação e do Olimpismo.
Apesar do respeito pelo perfil editorial do órgão de comunicação para onde trabalha, e da procura de um conjunto de valores e normas profissionais - a liberdade, a independência, autonomia, credibilidade, objectividade - , ainda assim os jornalistas desportivos mantém uma relação esquizofrénica, direi mesmo bipolar, com os seus mais directos interlocutores - os atletas.
Uma cultura desportiva forçada por uma total interdependência mas vivida numa relação de "amor-ódio" entre dois universos - o mundo da redacção e o mundo do desporto.
Assistimos muitas vezes a uma interpretação: Se o atleta ganha... é uma vitória do atleta, treinador, clube, país e também dos jornalistas.
Se perde... é uma derrota do atleta.
A maioria dos jornalistas desportivos são cidadão apaixonados pela sua profissão. Mas como cidadão vivem muitas vezes de forma emocional, apaixonada o desporto.
Um "transtorno" caracterizado por oscilações de humor entre a euforia e a depressão que, no fundo, reflecte nas redacções uma amostra social do país em que vivemos.
Por seu lado, os agentes desportivos - dirigentes, treinadores e atletas - entendem o jornalista como um
"promotor" das suas actividades. Alguém a quem podem falar "apenas" das suas vitórias, dos seus sucessos.
Quando isso não acontece assistimos a uma "crise de relacionamento".
Todavia, como todas as relações apaixonadas, interdependentes, não podem viver um sem o outro.
Esta contradição foi vivida ao longos dos últimos 120 anos da história onde o desporto alimenta o jornalismo que, por sua vez, contribui para a difusão da prática desportiva.
Mais do que transmissor de informações, o jornalista desportivo é um "produtor de sentidos", fazendo parte de uma "comunidade interpretativa" em que actuam diversos âmbitos: o acontecimento, a produção, a transmissão e a recepção.
Em todos esses momentos, são agentes activos na construção dos sentidos dos conteúdos jornalísticos.
A verdade é que os "valores-notícia", procurado e cultivado de forma obsessiva pelo jornalista, não é, na maioria das vezes, compatível com os valores do Olimpismo.
O Olimpismo defende os valores da cultura e educação aliado ao desporto.
O jornalismo os valores da informação.
Como superamos esse aparente antagonismo?
"O Olimpismo é uma filosofia de vida que exalta e combina de forma equilibrada as qualidades do corpo, da vontade e do espírito. Aliando o desporto à cultura e educação."
"O Olimpismo é criador de um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais."
Na última semana, dois acontecimentos poderão servir de exemplo sobre as contradições entre o "valor notícia" e os valores do Olimpismo: O presidente da República Cavaco Silva homenageou 16 atletas.
A fantástica síntese dos feitos desportivos dos atletas portugueses, que passou num curto filme sobre os nosso heróis olímpicos, foi apresentada como uma "narrativa jornalística": "Heróis que projectaram o país a patamares de excelência."
Foi o próprio presidente da República que afirmou: "O desporto, como quase todas as actividades humanas, situa-se actualmente numa dimensão global de enorme concorrência. O que é fundamental, a este propósito, é que a lógica do mercado não ponha em causa a pureza dos ideais que animam a prática desportiva", disse, classificando os Jogos Olímpicos como "uma referência de humanismo e de salvaguarda da ética desportiva".
Ainda esta semana, a professora Felisbela Lopes, investigadora da universidade do Minho, apresentou o seu livro "Jornalista: Profissão Ameaçada".
Aqui se apontam as consequências dos constrangimentos económicos nas opções editoriais.
Há mesmo quem os aponte como o novo lápis azul da censura.
“Os jornalistas vivem hoje sob permanente pressão. Pressão para ser rentável. Pressão para fazer a cobertura de determinado acontecimento. Pressão para ouvir este ou aquele interlocutor. Pressão para não afrontar os accionistas ou financiadores da sua empresa. Pressão para cumprir leis que não deixam margem para noticiar factos com relevância noticiosa. Pressão para trabalhar depressa. Pressão para ser o primeiro a anunciar a última coisa que acontece. Pressão para multiplicar conteúdos em diversas plataformas. Pressão para atender àquilo que os cidadãos dizem nas redes sociais. Pressão para desenvolver conteúdos de qualidade que suscitem o interesse do público. Pressão para não provocar reacções dos reguladores dos media. Não é fácil trabalhar assim", sintetiza a professora universitária.
É nesta realidade que o desporto e o jornalismo têm coabitado e terão de continuar a coabitar no futuro.
A selecção das notícias é realizada com base em critérios económicos com pouco espaço para os valores do Olimpismo integrarem os "valores-notícia".
Os jornalistas desportivos não têm incorporados na sua cultura a filosofia do Olimpismo. A consequência disso acaba por levar a uma atitude que não apresenta o desporto como dimensão cultural. Apenas como actividade criadora de espectáculo.
O desporto passa a ser visto como simples competição e essa passa a ser a motivação para que ganhe espaço nos meios de comunicação.
Muitos dos jornalistas não conhecem a fundo a modalidade que estão a escrever ou falar, nem procuram ouvir especialistas para enriquecer as suas abordagens, fazendo com que a informação que chega aos receptores esteja deformada, ou seja, construída a partir do ponto de vista do jornalista.
Ainda assim, e apesar deste aparente pessimismo, é a comunicação social que tem dado dignidade histórica ao desporto sem a qual este ficaria reduzido a uma actividade sem sentido social.
Aquilo que hoje se conhece do desenvolvimento do desporto português desde os finais do século XIX deve-se à intervenção e, depois, à memória preservada pelos jornais.
Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos modernos, foi durante anos redactor em jornais, tinha até carteira profissional. Elaborou noticias mas também artigos de opinião. A imprensa serviu de tribuna na sua cruzada pela renovação dos Jogos.
Grandes eventos desportivos foram patrocinados, promovidos e organizados por jornais. A Volta a França foi fundada em 1903 pelo jornal L' Auto, na tentativa de aumentar as suas vendas.
A corrida São Silvestre de São Paulo foi criada por um jornalista apaixonado pelo desporto, Cásper Libero director d'A Gazeta Esportiva.
O mesmo aconteceu no nosso país com a organização de eventos desportivos. A criação da Volta a Portugal em bicicleta deve-se a Raul Oliveira do jornal Os Sports. O jornalista fez parte da comitiva do Tour de 1919 e organizou a primeira Volta a Lisboa em 1924, quando ainda trabalhava no Diário de Lisboa.
A primeira Volta foi organizada em parceria pelo Diário de Notícias e Os Sports.
A partir do 25 de Abril, assistimos a um debate alargado sobre o desenvolvimento do desporto nacional promovido nas páginas dos principais jornais nacionais.
Estou convicto que a minha formação, muito daquilo que sou, assim como a formação desportiva da maioria dos portugueses, os nosso valores, foram-nos transmitidos em grande parte pelos jornais, pelo programas de TV desportivos.
Estou convicto, apesar de tudo, que todos nós, somos muito melhor formados apesar desta bipolar relação "jornalistas - atletas".
Estou no desporto porque vi, por uma pequena TV a preto e branco, Carlos Lopes conquistar a medalha de prata nos 10 000 metros dos jogos olímpicos de Montreal'76. Na altura, um miúdo com 13 anos, não gostei de ver o finlandês Lasse Viren arrancar para a vitória sem ajudar um pouco que fosse o "nosso" Carlos Lopes.
Claro que, oito anos depois já a cores, Lopes rectificaria "essa injustiça" com a vitória na maratona dos Jogos de Los Angeles'84.
Todos nós assistimos a esses feitos porque tivemos um campeão como o Lopes mas também os jornalistas para o transmitir.
Sem o saber estava a formar os meus valores de educação no desporto através do Olimpismo e do Jornalismo.
2 de Junho de 2015
* Tema apresentado no dia 30 de Maio na XXVI Sessão Anual da Academia Olímpica de Portugal, que decorreu em Loulé.
Ao longo dos três dias foram debatidos os Caminhos da Educação e do Olimpismo.
Direito à memória
O processo é sempre o mesmo e multiplica-se por várias áreas que vão do desporto à cultura, passando pela conservação da natureza:
Durante décadas "o espaço, o edifício" é deixado ao abandono.
Não se realiza a manutenção. Deixa-se degradar até ao absurdo.
Depois, inicia-se um processo de crítica de desconsideração desse espaço, de desvalorização.
"A questão" então impõem-se: "Acham bem esta degradação? não há condições.Isto não pode continuar assim."
E a solução surge de imediato: o melhor é destruir o que cá está e construir aqui outra coisa.
O paradoxo, que se replica todos os dias à nossa frente, no nosso bairro, na nossa freguesia, no nosso concelho, no nosso país, é provocado por quem não cuida, por quem não limpa, por quem não mantém (e tem obrigação para isso: governo, administração, autarquias etc etc etc).
Mas também é legitimado, todos os dias, por todos nós cidadãos quando afirmamos: "mas aquilo está em ruínas, está degradado. Não fica melhor como outra coisa?"
Foi assim com os Estádio da Luz, Alvalade e Antas. "Recuperar? nem pensar.Impossível! Inviável!
Não ganharíamos a organização do Europeu 2004 de futebol. Constrói-se novo... alguém há-de pagar."
Os alemães recuperam o seu estádio olímpico de Berlim 1936 (construindo pelos nazis) e modernizaram-no 70 anos depois para o mundial de futebol de 2006.
Nós deixamos o nosso Estádio Nacional (construído pelo Estado Novo) degrada-se até ao limite do absurdo. Quando éramos um pais rico, fizemos uma cosmética para os treinos da selecção inglesa quando organizámos o Europeu 2004. E realizamos todos os anos uma final de taça contrariada por muitos dos nosso adeptos do futebol.
"Não há condições", repetem até à náusea.
O mesmo acontece com a chamada Cidade do Futebol. "Aquilo era um parque de estacionamento. Não servia para nada. Um antro de prostituição homossexual". Recuperar, manter, cuidar... Não! Parque de estacionamento? acessos? árvores? não são precisos. O que fica bem ali é uma Cidade do Futebol. Pergunto: não havia um Estádio do Euro 2004 livre? Outro sitio, mais amplo, descentralizado, capaz de responder às necessidades do futebol? Respondem-me os entendidos: "Não! Ali é que está muito bem." Não há discussão.
O mesmo aconteceu com o Hipódromo do Jamor que foi abandonado durante décadas. Depois foi uma pista de crosse, uma Festa do Avante, um Rally de Portugal é agora é um campo de golfe público.
"Agora sim está bonito. Dantes estava degradado." Dizem-me.
O mesmo aconteceu com a estação ferroviária do Jamor. Agora é uma piscina olímpica.
Mas isto não é um fenómeno do desporto.
Deixam-se degradar praias históricas e depois constroem-se praias artificiais na Ribeira das Naus e em Belém. "É mais moderno..."
Em Carcavelos, junto à praia, a maior faixa verde da linha, já foi votado em assembleia municipal o plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul, que prevê uma mega-urbanização para a Quinta dos Ingleses.
Manutenção de uma zona verde com multi-usos junto à praia? "Impossível!!!"
Na cultura não faltam exemplos deste fenómeno nacional.
Gosto do novo do Museu dos Coches, ontem inaugurado. Gosto do edifício desenhado pelo o arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha.
Mas não havia outras prioridades na área da museologia? Pergunto.
Tive a oportunidade de visitar recentemente o antigo museu dos coches.
Um edifício lindíssimo. Picadeiro Real de Belém. Mas claro: mal preservado, mal cuidado, mal iluminado.
Ainda assim o museu nacional com mais entradas.
Agora sim, ficámos com um museu "como deve de ser" ali ao lado por 40 milhões (verbas do Casino de Lisboa) e 200 mil de manutenção anual.
Enquanto isso, o Museu de Arte Antiga, o Museu de Arqueologia, o Museu da Marinha, e outros museus por esse pais fora, ficam a aguardar por melhores dias.
25 de Maio de 2015
Durante décadas "o espaço, o edifício" é deixado ao abandono.
Não se realiza a manutenção. Deixa-se degradar até ao absurdo.
Depois, inicia-se um processo de crítica de desconsideração desse espaço, de desvalorização.
"A questão" então impõem-se: "Acham bem esta degradação? não há condições.Isto não pode continuar assim."
E a solução surge de imediato: o melhor é destruir o que cá está e construir aqui outra coisa.
O paradoxo, que se replica todos os dias à nossa frente, no nosso bairro, na nossa freguesia, no nosso concelho, no nosso país, é provocado por quem não cuida, por quem não limpa, por quem não mantém (e tem obrigação para isso: governo, administração, autarquias etc etc etc).
Mas também é legitimado, todos os dias, por todos nós cidadãos quando afirmamos: "mas aquilo está em ruínas, está degradado. Não fica melhor como outra coisa?"
Foi assim com os Estádio da Luz, Alvalade e Antas. "Recuperar? nem pensar.Impossível! Inviável!
Não ganharíamos a organização do Europeu 2004 de futebol. Constrói-se novo... alguém há-de pagar."
Os alemães recuperam o seu estádio olímpico de Berlim 1936 (construindo pelos nazis) e modernizaram-no 70 anos depois para o mundial de futebol de 2006.
Nós deixamos o nosso Estádio Nacional (construído pelo Estado Novo) degrada-se até ao limite do absurdo. Quando éramos um pais rico, fizemos uma cosmética para os treinos da selecção inglesa quando organizámos o Europeu 2004. E realizamos todos os anos uma final de taça contrariada por muitos dos nosso adeptos do futebol.
"Não há condições", repetem até à náusea.
O mesmo acontece com a chamada Cidade do Futebol. "Aquilo era um parque de estacionamento. Não servia para nada. Um antro de prostituição homossexual". Recuperar, manter, cuidar... Não! Parque de estacionamento? acessos? árvores? não são precisos. O que fica bem ali é uma Cidade do Futebol. Pergunto: não havia um Estádio do Euro 2004 livre? Outro sitio, mais amplo, descentralizado, capaz de responder às necessidades do futebol? Respondem-me os entendidos: "Não! Ali é que está muito bem." Não há discussão.
O mesmo aconteceu com o Hipódromo do Jamor que foi abandonado durante décadas. Depois foi uma pista de crosse, uma Festa do Avante, um Rally de Portugal é agora é um campo de golfe público.
"Agora sim está bonito. Dantes estava degradado." Dizem-me.
O mesmo aconteceu com a estação ferroviária do Jamor. Agora é uma piscina olímpica.
Mas isto não é um fenómeno do desporto.
Deixam-se degradar praias históricas e depois constroem-se praias artificiais na Ribeira das Naus e em Belém. "É mais moderno..."
Em Carcavelos, junto à praia, a maior faixa verde da linha, já foi votado em assembleia municipal o plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul, que prevê uma mega-urbanização para a Quinta dos Ingleses.
Manutenção de uma zona verde com multi-usos junto à praia? "Impossível!!!"
Na cultura não faltam exemplos deste fenómeno nacional.
Gosto do novo do Museu dos Coches, ontem inaugurado. Gosto do edifício desenhado pelo o arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha.
Mas não havia outras prioridades na área da museologia? Pergunto.
Tive a oportunidade de visitar recentemente o antigo museu dos coches.
Um edifício lindíssimo. Picadeiro Real de Belém. Mas claro: mal preservado, mal cuidado, mal iluminado.
Ainda assim o museu nacional com mais entradas.
Agora sim, ficámos com um museu "como deve de ser" ali ao lado por 40 milhões (verbas do Casino de Lisboa) e 200 mil de manutenção anual.
Enquanto isso, o Museu de Arte Antiga, o Museu de Arqueologia, o Museu da Marinha, e outros museus por esse pais fora, ficam a aguardar por melhores dias.
25 de Maio de 2015
"Há sempre alguém que resiste... *
"Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não"
20 de Abril, 21 horas
União Recreativa do Dafundo.
Dificuldade de comunicação, agressividade, falta de educação, arrogância.
Quatro horas de tentativa de entendimento num dialogo de surdos
sobre o que realmente está previsto e aprovado no Plano de Promenor pela Assembleia Municipal
para a zona da margem direita do rio Jamor,
onde estiveram localizadas as fábricas Lusalite e Fermentos Holandeses.
Ao contrário do que se vincula, os portugueses não são um povo subserviente.
Poderão calar revoltas. Engolir castigos e afrontas.
Mas quando os limites são atingidos,
estou convencido que partem para o confronto sem medo
com mais convicção que os revoltados espanhóis ou os histriónicos italianos.
Foi a isso que assisti, estupefacto, dia 20 no Dafundo.
O Presidente da Câmara de Oeiras foi convidado a apresentar o plano de pormenor
da margem direita da foz do rio Jamor (Lusalite, Gist-Brocades) na União Recreativa do Dafundo.
"O que está previsto para esta área? Haverá risco de cheias? Passará um viaduto junto às nossas janelas? Para que precisamos nós de uma Marina e nova área comercial? Como ficará a circulação na ponte velha e o acesso à Marginal e à A5? Como é possível construção em altura junto ao rio? A praia do Dafundo será aterrada? E o ruído? Que acontecerá à actual ciclovia e passeio pedonal? Porque não se expande a área desportiva e de lazer do Jamor até ao rio Tejo?"
Durante quatro horas, estas e muitas outras questões foram colocadas ao presidente da CM de Oeiras
e aos técnicos convidados para a sessão de esclarecimentos às populações
do Dafundo, Cruz Quebrada e frequentadores do Jamor.
Não demos o tempo por perdido.
Consideramos até que foi uma experiência enriquecedora no plano social e politico.
Permitiu-nos perceber, nas prática e ao vivo, o que está neste momento em causa na sociedade portuguesa.
Uma enorme desgaste físico e psicológico das populações. O atingir dos limites.
Uma decalagem enorme entre aquilo que são os reais interesses das populações
e as forças politicas representadas nas assembleias municipais.
No Dafundo,
O que nos surpreendeu não foram os argumentos (ou a falta deles)
a favor dos projectos apresentados por Paulo Vistas, nem a indignação das populações.
O que nos surpreendeu foi a impreparação e a falta de coerência vergonhosa
dos representantes políticos presentes do PS, PSD e PP
que votaram favoravelmente este Plano de Pormenor.
O que nos surpreendeu foi a incapacidade argumentativa,
em contraste com as perguntas objectivas das pessoas presentes,
independentemente do seu nível cultural ou social.
O que nos surpreendeu foi a tentativa de um pseudo-dialogo em plano inclinado.
O que nos surpreendeu foi a revolta pelas respostas incompletas,
pelos silêncios e meias palavras.
O que nos surpreendeu foi a frontalidade, o "dar a cara" pelo que se acredita,
independentemente de se ter ou não toda a razão do seu lado.
Amanha vamos mais uma vez festejar o 25 de Abril.
24 de Abril de 2015
* Poema Trova do vento que passa - Manuel Alegre
Há sempre alguém que diz não"
20 de Abril, 21 horas
União Recreativa do Dafundo.
Dificuldade de comunicação, agressividade, falta de educação, arrogância.
Quatro horas de tentativa de entendimento num dialogo de surdos
sobre o que realmente está previsto e aprovado no Plano de Promenor pela Assembleia Municipal
para a zona da margem direita do rio Jamor,
onde estiveram localizadas as fábricas Lusalite e Fermentos Holandeses.
Ao contrário do que se vincula, os portugueses não são um povo subserviente.
Poderão calar revoltas. Engolir castigos e afrontas.
Mas quando os limites são atingidos,
estou convencido que partem para o confronto sem medo
com mais convicção que os revoltados espanhóis ou os histriónicos italianos.
Foi a isso que assisti, estupefacto, dia 20 no Dafundo.
O Presidente da Câmara de Oeiras foi convidado a apresentar o plano de pormenor
da margem direita da foz do rio Jamor (Lusalite, Gist-Brocades) na União Recreativa do Dafundo.
"O que está previsto para esta área? Haverá risco de cheias? Passará um viaduto junto às nossas janelas? Para que precisamos nós de uma Marina e nova área comercial? Como ficará a circulação na ponte velha e o acesso à Marginal e à A5? Como é possível construção em altura junto ao rio? A praia do Dafundo será aterrada? E o ruído? Que acontecerá à actual ciclovia e passeio pedonal? Porque não se expande a área desportiva e de lazer do Jamor até ao rio Tejo?"
Durante quatro horas, estas e muitas outras questões foram colocadas ao presidente da CM de Oeiras
e aos técnicos convidados para a sessão de esclarecimentos às populações
do Dafundo, Cruz Quebrada e frequentadores do Jamor.
Não demos o tempo por perdido.
Consideramos até que foi uma experiência enriquecedora no plano social e politico.
Permitiu-nos perceber, nas prática e ao vivo, o que está neste momento em causa na sociedade portuguesa.
Uma enorme desgaste físico e psicológico das populações. O atingir dos limites.
Uma decalagem enorme entre aquilo que são os reais interesses das populações
e as forças politicas representadas nas assembleias municipais.
No Dafundo,
O que nos surpreendeu não foram os argumentos (ou a falta deles)
a favor dos projectos apresentados por Paulo Vistas, nem a indignação das populações.
O que nos surpreendeu foi a impreparação e a falta de coerência vergonhosa
dos representantes políticos presentes do PS, PSD e PP
que votaram favoravelmente este Plano de Pormenor.
O que nos surpreendeu foi a incapacidade argumentativa,
em contraste com as perguntas objectivas das pessoas presentes,
independentemente do seu nível cultural ou social.
O que nos surpreendeu foi a tentativa de um pseudo-dialogo em plano inclinado.
O que nos surpreendeu foi a revolta pelas respostas incompletas,
pelos silêncios e meias palavras.
O que nos surpreendeu foi a frontalidade, o "dar a cara" pelo que se acredita,
independentemente de se ter ou não toda a razão do seu lado.
Amanha vamos mais uma vez festejar o 25 de Abril.
24 de Abril de 2015
* Poema Trova do vento que passa - Manuel Alegre
Os africanos mataram o crosse?
O título de campeão Mundial de corta mato é mais difícil de conquistar que uma medalha nos Jogos Olímpicos.
Esta afirmação é discutível mas a verdade é que no Mundial de corta mato os melhores atletas estão concentrados apenas numa corrida masculina e feminina e competem seis homens e seis mulheres por nacionalidade (contam quatro por equipa).
Nas competições de pista, como Mundiais ou Jogos Olímpicos, cada país é representado por apenas três atletas; os melhores fundistas mundiais dividem-se por distâncias que vão dos 3000 metros obstáculos, 5000, 10.000 e maratona.
O corta mato integrou a família olímpica nas primeiras edições dos Jogos de Verão. A partir de 1924 deixou de fazer parte do calendário Olímpico. Os dirigentes consideraram na altura que o 'cross country' era uma modalidade que não se adaptava bem às características do Verão. Os campeonatos de corta-mato disputam-se normalmente entre o Outono e o Inverno.
Recentemente, Sebastian Coe, bicampeão olímpicos dos 1500 metros (Moscovo'80 e Los Angeles'84) e actual candidato à presidência da Federação Internacional (IAAF), numa conversa com Brendan Foster, outro importante antigo fundista britânico - terceiro nos 10.000 metros Montreal'76 depois de Viren e Lopes -, manifestou a sua opinião sobre a importância do 'cross country' (o corta-mato é um desporto originariamente inglês criado no início do século XIX), explicando como "adoraria" ver essa especialidade do Atletismo a fazer parte do programa olímpico.
O mítico meio-fundista, presidente da comissão organizadora dos Jogos de Londres 2012 conversava com Brendan Foster na Great Run TV antes do Edinburgh Cross Country. "Nos últimos anos, uma das coisas que realmente me preocupam no atletismo é verificar que os treinadores mais jovens não percebem o quão importante é o 'cross country'", disse Coe.
"Adoraria ver o 'cross country' de regresso ao programa olímpico e talvez até mesmo, porque não, incluí-lo no programa olímpico de inverno?", questionou o britânico.
Todavia, este não é um tema novo. A verdade é que desde 2008 que o atletismo reclama junto do Comité Olímpico Internacional a presença da especialidade de corta-mato nos Jogos Olímpicos de Inverno.
Lamine Diack, presidente da IAAF revelou recentemente: “O COI tem-nos escrito para nos pronunciarmos e temos dito que estamos a favor dessa integração. Estamos preparados para organizar o corta-mato nos Jogos Olímpicos de Inverno. Isso seria um excelente avanço da especialidade.”
Desde 2008 que grandes nomes do meio fundo e fundo mundial defendem a inclusão do corta-mato nos Jogos Olímpicos de Inverno. Haile Gebrselassie, Paul Tergat e Kenenisa Bekele são alguns destes nomes, que em conjunto assinaram uma carta destinada ao COI.
Apesar destas tentativas para revitalizar e credibilizar o crosse, a IAAF alterou em 2011 esta competição de anual para bienal, revelando claras dificuldades em manter este evento no calendário internacional.
Vem esta introdução a propósito do The 2015 IAAF World Cross Country Championships que decorreu sábado em Guiyang, na China.
Voltamos a assistir a mais uma exibição esmagadora dos atletas africanos, do Quénia e Etiópia. Um domínio que se iniciou em Madrid 1981 - com os etíopes a vencerem colectivamente apesar de se enganarem na contagem das voltas - e que se acentuou nos últimos anos.
Como afirmou o especialista espanhol em Atletismo, Angel Cruz, do jornal desportivo AS: "A África enriqueceu o Mundial de crosse... depois matou-o." Nos anos oitenta e noventa do século passado "assistimos a competições maravilhosas". Hoje, o domínio africano e de tal ordem que atletas e adeptos Europeus ignoram o corta mato mundial.
Pura e simplesmente, os países europeus desistiram do corta mato Mundial. Sábado na China, a maioria apresentou-se com uma escassa presença e pouca qualidade. Ainda assim, muitos dos atletas europeus são africanos naturalizados. O melhor Europeu foi o espanhol Daniel Mateo em 53.º lugar.
Os EUA, liderado por Chris Derrick (24.º), é o único país que claramente ainda não "atirou a toalha ao chão", apesar do 7.º lugar nos homens. Nas senhoras, as americanas, com Sara Hall em 20.ª, foram 5.ªs depois da Etiópia, Quénia, Uganda e... China.
Recordo que em 2013, os americanos foram segundos depois da Etiópia e à frente do Quénia. E quartos classificados nas senhoras.
Incapazes de contrariar o domínio do continente africano, os países europeus foram progressivamente afastando-se da competição apresentando agora a quase totalidade deles apenas representações simbólicas.
Por exemplo, a Espanha foi 12.ª e Inglaterra 15.ª nos homens, entre 17 países que formaram equipas. Nas senhoras a Espanha foi sétima e única equipa do velho continente a formar equipa entre os 12 países.
Até ao principio da década de oitenta do século passado, o domínio foi sendo divido entre a Inglaterra, EUA, URSS, Portugal, Espanha.
Individualmente, Carlos Lopes foi o último atleta nascido na Europa vencer a competição em 1984 e 1985. No sector feminino, Paula Radcliffe foi a última atleta europeia a vencer em 2001 e 2002.
Por equipas, no sector masculino, Quénia e Etiópia dividem os títulos colectivos desde 1981.
Já no sector feminino a última vitória de uma selecção não queniana ou etíope foi a portuguesa em 1994 com Conceição Ferreira (3.ª), Albertina Dias (5.ª), Fernanda Ribeiro (10.ª) e Mónica Gama (37.ª), à frente da Etiópia e do Quénia.
Depois, atletas quenianos, como John Ngugi, Paul Tergat ou o etiope Kenennisa Bekele, ou entre as senhoras, Gete Wami, Derartu Tulu, Tirunesh Dibaba, ou a queniana Edith Masai, ficam na memória dos adeptos do atletismo, projectando o corta mato a um nível que até ao principio deste século rivalizou com as mais importantes competições de Inverno de outros desportos. Hoje, porém, já não há atletas africanos com a mística de Ngugi ou Tergat.
Os poucos atletas nascidos na Europa capazes de um lugar entre os africanos pura e simplesmente desistiram de apostar no crosse. Muito dificilmente conseguem um lugar entre os 20 primeiros. A possibilidade de chegar a um lugar no pódio é nula. A preparação desses atletas passa, assim, a ser apontada para competições nacionais e continentais onde ainda possam sonhar com medalhas.
Por outro lado, os adepto europeus da modalidade não se revém nos actuais campeões africanos com o aconteceu com os nomes anteriormente citados. Um competição entre Quénia e Etiópia que não gera afinidades na Europa.
Esta afirmação é discutível mas a verdade é que no Mundial de corta mato os melhores atletas estão concentrados apenas numa corrida masculina e feminina e competem seis homens e seis mulheres por nacionalidade (contam quatro por equipa).
Nas competições de pista, como Mundiais ou Jogos Olímpicos, cada país é representado por apenas três atletas; os melhores fundistas mundiais dividem-se por distâncias que vão dos 3000 metros obstáculos, 5000, 10.000 e maratona.
O corta mato integrou a família olímpica nas primeiras edições dos Jogos de Verão. A partir de 1924 deixou de fazer parte do calendário Olímpico. Os dirigentes consideraram na altura que o 'cross country' era uma modalidade que não se adaptava bem às características do Verão. Os campeonatos de corta-mato disputam-se normalmente entre o Outono e o Inverno.
Recentemente, Sebastian Coe, bicampeão olímpicos dos 1500 metros (Moscovo'80 e Los Angeles'84) e actual candidato à presidência da Federação Internacional (IAAF), numa conversa com Brendan Foster, outro importante antigo fundista britânico - terceiro nos 10.000 metros Montreal'76 depois de Viren e Lopes -, manifestou a sua opinião sobre a importância do 'cross country' (o corta-mato é um desporto originariamente inglês criado no início do século XIX), explicando como "adoraria" ver essa especialidade do Atletismo a fazer parte do programa olímpico.
O mítico meio-fundista, presidente da comissão organizadora dos Jogos de Londres 2012 conversava com Brendan Foster na Great Run TV antes do Edinburgh Cross Country. "Nos últimos anos, uma das coisas que realmente me preocupam no atletismo é verificar que os treinadores mais jovens não percebem o quão importante é o 'cross country'", disse Coe.
"Adoraria ver o 'cross country' de regresso ao programa olímpico e talvez até mesmo, porque não, incluí-lo no programa olímpico de inverno?", questionou o britânico.
Todavia, este não é um tema novo. A verdade é que desde 2008 que o atletismo reclama junto do Comité Olímpico Internacional a presença da especialidade de corta-mato nos Jogos Olímpicos de Inverno.
Lamine Diack, presidente da IAAF revelou recentemente: “O COI tem-nos escrito para nos pronunciarmos e temos dito que estamos a favor dessa integração. Estamos preparados para organizar o corta-mato nos Jogos Olímpicos de Inverno. Isso seria um excelente avanço da especialidade.”
Desde 2008 que grandes nomes do meio fundo e fundo mundial defendem a inclusão do corta-mato nos Jogos Olímpicos de Inverno. Haile Gebrselassie, Paul Tergat e Kenenisa Bekele são alguns destes nomes, que em conjunto assinaram uma carta destinada ao COI.
Apesar destas tentativas para revitalizar e credibilizar o crosse, a IAAF alterou em 2011 esta competição de anual para bienal, revelando claras dificuldades em manter este evento no calendário internacional.
Vem esta introdução a propósito do The 2015 IAAF World Cross Country Championships que decorreu sábado em Guiyang, na China.
Voltamos a assistir a mais uma exibição esmagadora dos atletas africanos, do Quénia e Etiópia. Um domínio que se iniciou em Madrid 1981 - com os etíopes a vencerem colectivamente apesar de se enganarem na contagem das voltas - e que se acentuou nos últimos anos.
Como afirmou o especialista espanhol em Atletismo, Angel Cruz, do jornal desportivo AS: "A África enriqueceu o Mundial de crosse... depois matou-o." Nos anos oitenta e noventa do século passado "assistimos a competições maravilhosas". Hoje, o domínio africano e de tal ordem que atletas e adeptos Europeus ignoram o corta mato mundial.
Pura e simplesmente, os países europeus desistiram do corta mato Mundial. Sábado na China, a maioria apresentou-se com uma escassa presença e pouca qualidade. Ainda assim, muitos dos atletas europeus são africanos naturalizados. O melhor Europeu foi o espanhol Daniel Mateo em 53.º lugar.
Os EUA, liderado por Chris Derrick (24.º), é o único país que claramente ainda não "atirou a toalha ao chão", apesar do 7.º lugar nos homens. Nas senhoras, as americanas, com Sara Hall em 20.ª, foram 5.ªs depois da Etiópia, Quénia, Uganda e... China.
Recordo que em 2013, os americanos foram segundos depois da Etiópia e à frente do Quénia. E quartos classificados nas senhoras.
Incapazes de contrariar o domínio do continente africano, os países europeus foram progressivamente afastando-se da competição apresentando agora a quase totalidade deles apenas representações simbólicas.
Por exemplo, a Espanha foi 12.ª e Inglaterra 15.ª nos homens, entre 17 países que formaram equipas. Nas senhoras a Espanha foi sétima e única equipa do velho continente a formar equipa entre os 12 países.
Até ao principio da década de oitenta do século passado, o domínio foi sendo divido entre a Inglaterra, EUA, URSS, Portugal, Espanha.
Individualmente, Carlos Lopes foi o último atleta nascido na Europa vencer a competição em 1984 e 1985. No sector feminino, Paula Radcliffe foi a última atleta europeia a vencer em 2001 e 2002.
Por equipas, no sector masculino, Quénia e Etiópia dividem os títulos colectivos desde 1981.
Já no sector feminino a última vitória de uma selecção não queniana ou etíope foi a portuguesa em 1994 com Conceição Ferreira (3.ª), Albertina Dias (5.ª), Fernanda Ribeiro (10.ª) e Mónica Gama (37.ª), à frente da Etiópia e do Quénia.
Depois, atletas quenianos, como John Ngugi, Paul Tergat ou o etiope Kenennisa Bekele, ou entre as senhoras, Gete Wami, Derartu Tulu, Tirunesh Dibaba, ou a queniana Edith Masai, ficam na memória dos adeptos do atletismo, projectando o corta mato a um nível que até ao principio deste século rivalizou com as mais importantes competições de Inverno de outros desportos. Hoje, porém, já não há atletas africanos com a mística de Ngugi ou Tergat.
Os poucos atletas nascidos na Europa capazes de um lugar entre os africanos pura e simplesmente desistiram de apostar no crosse. Muito dificilmente conseguem um lugar entre os 20 primeiros. A possibilidade de chegar a um lugar no pódio é nula. A preparação desses atletas passa, assim, a ser apontada para competições nacionais e continentais onde ainda possam sonhar com medalhas.
Por outro lado, os adepto europeus da modalidade não se revém nos actuais campeões africanos com o aconteceu com os nomes anteriormente citados. Um competição entre Quénia e Etiópia que não gera afinidades na Europa.
Este ano, pela primeira vez, desde 1975 (sector masculino) e 1980 (feminino), Portugal não se fez representar no Mundial a nível de seniores. Há dois anos, na Polónia, estiveram apenas três homens e uma mulher, não se formando equipas.
Portugal fez-se representar nos Mundiais de corta-mato, na China, com apenas dois atletas juniores. Joana Ferreira foi 92.ª e Fábio Gomes 93.º. Como bem recorda a agência Lusa, Portugal é dos países europeus com mais tradições nos Mundiais de corta-mato, contando quatro títulos individuais (três de Carlos Lopes, em 1976, 1984 e 1985 e um de Albertina Dias, em 1993) e várias outras classificações de topo. Em termos de medalhas, Lopes tem ainda duas medalhas de prata e Albertina uma de prata e uma de bronze, tendo igualmente atingido o terceiro lugar, por uma vez, Fernando Mamede, Paulo Guerra e Conceição Ferreira. Colectivamente também há várias medalhas, com destaque para os títulos femininos em Budapeste em 1994 e em Vilamoura em 2000 (esta na já extinta variante de crosse curto). Os homens não chegaram a ser campeões mas por quatro vezes chegaram à medalha de bronze. 29 de Março de 2015 |
A Educação da Violência
"A violência que move os seres humanos no sentido da sobrevivência tanto os pode levar a realizarem os feitos mais sublimes como as maiores atrocidades. Por isso, quando ela erradia das tribos do futebol não vale a pena combatê-la nem com discursos mais ou menos moralistas, nem com mais violência coerciva através da força dos polícias, da lei e dos tribunais. Combate-se com educação desportiva e cultura desportiva a partir das escolas do ensino básico."
"Através da educação desportiva as crianças e os jovens podem aprender não só a controlarem a violência que têm dentro de si como a dar-lhe um sentido positivo em benefício das suas vidas e da própria sociedade. Porque, como referiu Nietzsche, as capacidades terríveis e até consideradas desumanas “talvez sejam até o solo fértil donde exclusivamente pode brotar tudo o que seja humanidade, sob a forma de sentimentos, ações e obras” que conferem à vida um sentido de esperança e de futuro."
Gustavo Pires é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana
Ler mais em:
http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=533342
27 de Fevereiro de 2015
"Através da educação desportiva as crianças e os jovens podem aprender não só a controlarem a violência que têm dentro de si como a dar-lhe um sentido positivo em benefício das suas vidas e da própria sociedade. Porque, como referiu Nietzsche, as capacidades terríveis e até consideradas desumanas “talvez sejam até o solo fértil donde exclusivamente pode brotar tudo o que seja humanidade, sob a forma de sentimentos, ações e obras” que conferem à vida um sentido de esperança e de futuro."
Gustavo Pires é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana
Ler mais em:
http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=533342
27 de Fevereiro de 2015
Um problema de memória colectiva
O cowboy americano e o olímpico sírio
O filme Sniper Americano, realizado por Clint Eastwood, tem suscitado intensos debates sobre o terrorismo e a guerra, no cinema, em função de seu posicionamento patriótico e supostamente islamofóbico. Um sucesso de bilheteira, recebeu a indicações para seis oscares, entre eles o de melhor filme, melhor actor (Bradley Cooper) e melhor argumento adaptado.
É precisamente a indicação para melhor argumento adaptado que nos deixou surpreendidos.
Sniper Americano é muito mais que um filme de guerra. Podemos enquadrar o seu argumento por muitos ângulos, em função da nossa sensibilidade e cultura. Nos vários temas possíveis, destacamos na obra de Clint Eastwood o duelo entre Chris Kyle e Mustafa, um franco-atirador sírio (interpretado por Sammy Sheik), campeão olímpico, que combatia ao lado dos iraquianos. Uma rivalidade que só existiu na imaginação do realizador americano que se inspirou na biografia de Chris Kyle para criar uma ficção e não um documentário. A Síria nunca teve um campeão olímpico numa disciplina de tiro. Chris Kyle nunca "disputou" esse duelo.
Chris Kyle ficou para história militar dos Estados Unidos como "A Lenda". Os rebeldes iraquianos chamavam-lhe 'O Demónio'. Como'sniper' da tropa de elite SEAL - força de operações especiais da Marinha dos Estados Unidos, a mesma que executou Osama Bin-Laden -, o texano participou em quatro missões no Iraque entre 1999 e 2009. Cumpriu como ninguém a função para a qual fora treinado: garantir a protecção de seus companheiros na fase mais sangrenta dos combates. Matou, sozinho, comprovadamente, mais de 160 iraquianos (pelas contas dos colegas foram 255) e teve a cabeça a prémio pelo valor de 20.000 dólares pelas milícias locais. Ao regressar a casa, em 2009, trazia no peito dezasseis condecorações — entre elas duas Purple Hearts, duas Estrelas de Prata, cinco Estrelas de Bronze.
Chris Kyle foi a resposta americana à actuação de um inimigo mítico conhecido pelos iraquianos como 'Juba', cuja pontaria se transformou num fantasma para os soldados americanos em Bagdad. Vídeos de propaganda islâmica colocados na internet mostravam 'Juba' a alvejar soldados americanos, um a um, noite ou dia, em grupo ou sozinhos. Ninguém sabia quem era esse temido atirador islâmico que, além de matar, ainda narrava e filmava cada cena. Dependendo da fonte, seria um mercenário europeu ou um jihadista sírio. A CNN chegou a submeter os vídeos a peritos, que concluíram não tratar-se de montagem. Fosse quem fosse, 'Juba', existia, e, à falta da sua eliminação física, a sua lenda, pelo menos, precisava ser contida.
Todavia, esse atirador só merece uma breve menção no livro de memórias de Chris Kyle:
"A partir dos relatos que ouvimos, Mustafa era um atirador olímpico que usava as suas habilidades contra os americanos e os policiais e soldados iraquianos. Vários vídeos foram colocados na net vangloriando-se das suas capacidade. Eu nunca o vi, mas outro sniper americano matou um atirador iraquiano que pensamos ser ele."
O herói americano, Chris Kyle não foi, na realidade, a personagem que surge no filme, representada por Bradley Cooper. “Não sou muito fã de política”, diz Kyle no livro, “gosto de guerra”. O seu mundo divide-se entre 'bons' e 'maus', sem espaço para dúvidas. Os americanos são “do bem” pelo simples fato de serem americanos, enquanto os muçulmanos são “do mal” por quererem matar os americanos. “Odeio esses selvagens”, acrescenta, referindo-se aos iraquianos. Ao testemunhar perante uma comissão militar de inquérito, acusado da morte de civis, esclareceu: “Não atiro em quem tem um Corão na mão, mas bem que gostaria.”
Clint Eastwood, que já nos deu filmes como Cartas de Iwo Jima (2006) e Gran Torino (2009) onde abordou a difícil relação da cultura americana com o mundo, em Sniper Americano recua para a visão mais conservadora sobre "o outro" ao mesmo tempo que constrói um herói mitificado saído de um 'western'.
Os franco-atiradores são há muito figuras lendárias. O soviético Vasily Zaytsev e o finlandês Simo Hayha foram, por exemplo, responsáveis na primeira metade do século XX por dezenas de mortos e entraram para a lista dos heróis bélicos.
O realizador de Sniper Americano tem uma opinião contrária que, todavia, nunca nos dá no seu filme onde só há bons e maus. “Na verdade, o filme é anti-belicista de muitas maneiras. Mostramos o quanto essas pessoas oferecem os seus esforços e tempo para lutar em guerras que não podem ser vencidas”, conclui Clint Eastwood.
É precisamente a indicação para melhor argumento adaptado que nos deixou surpreendidos.
Sniper Americano é muito mais que um filme de guerra. Podemos enquadrar o seu argumento por muitos ângulos, em função da nossa sensibilidade e cultura. Nos vários temas possíveis, destacamos na obra de Clint Eastwood o duelo entre Chris Kyle e Mustafa, um franco-atirador sírio (interpretado por Sammy Sheik), campeão olímpico, que combatia ao lado dos iraquianos. Uma rivalidade que só existiu na imaginação do realizador americano que se inspirou na biografia de Chris Kyle para criar uma ficção e não um documentário. A Síria nunca teve um campeão olímpico numa disciplina de tiro. Chris Kyle nunca "disputou" esse duelo.
Chris Kyle ficou para história militar dos Estados Unidos como "A Lenda". Os rebeldes iraquianos chamavam-lhe 'O Demónio'. Como'sniper' da tropa de elite SEAL - força de operações especiais da Marinha dos Estados Unidos, a mesma que executou Osama Bin-Laden -, o texano participou em quatro missões no Iraque entre 1999 e 2009. Cumpriu como ninguém a função para a qual fora treinado: garantir a protecção de seus companheiros na fase mais sangrenta dos combates. Matou, sozinho, comprovadamente, mais de 160 iraquianos (pelas contas dos colegas foram 255) e teve a cabeça a prémio pelo valor de 20.000 dólares pelas milícias locais. Ao regressar a casa, em 2009, trazia no peito dezasseis condecorações — entre elas duas Purple Hearts, duas Estrelas de Prata, cinco Estrelas de Bronze.
Chris Kyle foi a resposta americana à actuação de um inimigo mítico conhecido pelos iraquianos como 'Juba', cuja pontaria se transformou num fantasma para os soldados americanos em Bagdad. Vídeos de propaganda islâmica colocados na internet mostravam 'Juba' a alvejar soldados americanos, um a um, noite ou dia, em grupo ou sozinhos. Ninguém sabia quem era esse temido atirador islâmico que, além de matar, ainda narrava e filmava cada cena. Dependendo da fonte, seria um mercenário europeu ou um jihadista sírio. A CNN chegou a submeter os vídeos a peritos, que concluíram não tratar-se de montagem. Fosse quem fosse, 'Juba', existia, e, à falta da sua eliminação física, a sua lenda, pelo menos, precisava ser contida.
Todavia, esse atirador só merece uma breve menção no livro de memórias de Chris Kyle:
"A partir dos relatos que ouvimos, Mustafa era um atirador olímpico que usava as suas habilidades contra os americanos e os policiais e soldados iraquianos. Vários vídeos foram colocados na net vangloriando-se das suas capacidade. Eu nunca o vi, mas outro sniper americano matou um atirador iraquiano que pensamos ser ele."
O herói americano, Chris Kyle não foi, na realidade, a personagem que surge no filme, representada por Bradley Cooper. “Não sou muito fã de política”, diz Kyle no livro, “gosto de guerra”. O seu mundo divide-se entre 'bons' e 'maus', sem espaço para dúvidas. Os americanos são “do bem” pelo simples fato de serem americanos, enquanto os muçulmanos são “do mal” por quererem matar os americanos. “Odeio esses selvagens”, acrescenta, referindo-se aos iraquianos. Ao testemunhar perante uma comissão militar de inquérito, acusado da morte de civis, esclareceu: “Não atiro em quem tem um Corão na mão, mas bem que gostaria.”
Clint Eastwood, que já nos deu filmes como Cartas de Iwo Jima (2006) e Gran Torino (2009) onde abordou a difícil relação da cultura americana com o mundo, em Sniper Americano recua para a visão mais conservadora sobre "o outro" ao mesmo tempo que constrói um herói mitificado saído de um 'western'.
Os franco-atiradores são há muito figuras lendárias. O soviético Vasily Zaytsev e o finlandês Simo Hayha foram, por exemplo, responsáveis na primeira metade do século XX por dezenas de mortos e entraram para a lista dos heróis bélicos.
O realizador de Sniper Americano tem uma opinião contrária que, todavia, nunca nos dá no seu filme onde só há bons e maus. “Na verdade, o filme é anti-belicista de muitas maneiras. Mostramos o quanto essas pessoas oferecem os seus esforços e tempo para lutar em guerras que não podem ser vencidas”, conclui Clint Eastwood.
25 de Janeiro de 2014
As corridas populares em Espanha e Portugal
As corridas populares em Espanha e Portugal
El Mundo: O que aprendemos com quatro décadas de 'running'? Diário de Notícias: Dos cinco aos 100 euros: não falta quem pague para correr
Diários espanhol El Mundo: "Vivemos numa sociedade obcecada pela busca de saúde, entretenimento e socialização numa escala a nível mundial. As corridas populares esgotam as inscrições em horas. O site da revista 'Runner's World', tem dois milhões de páginas visitadas e uma tiragem de 40.000 exemplares em papel. A expectativa dos novos números de vendas de calçados e roupas de corrida é enorme. Portanto, os 300.000.000 € que se gastaram em Espanha em 2013 e os 250 mil praticantes da corrida poderão ainda crescer muito.
http://www.elmundo.es/deportes/2015/01/25/54c286e1ca474158478b4583.html |
Diário de Notícias: Empresas explicam como se organiza uma prova e para que serve o valor da inscrição. Em 2014 a CML autorizou 69 eventos. Correr está na moda e é um fenómeno em crescimento nos últimos cinco anos por todo o país, com a capital lisboeta à cabeça. Só em 2014, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) autorizou a realização de 69 corridas (ver gráfico), cada uma com um número de participantes entre os 150 e os 45 mil. Ao DN, a CML não revelou o valor de mais-valias com estes eventos, justificando que "não é significativo" no orçamento do município até porque as provas realizadas por associações de beneficência, ou com fins solidários, estão isentas de taxas.
http://www.dn.pt/desporto/outrasmodalidades/interior.aspx?content_id=4361374 |
“O combate ao doping em Portugal”
"Enquanto se levam às últimas instâncias o controlo rigoroso da vida de atletas
de elite assiste-se em níveis elementares de competição desportiva, ou no domínio da atividade física e desportiva de recreio, ao crescimento de lucrativas redes de comercialização de substâncias dopantes. Ora o desporto está muito longe de se esgotar nos espaços de competição de elite e a dopagem também." Lisboa 26 de Janeiro 2015. (José Manuel Constantino) Conferência “O combate ao doping em Portugal” http://comiteolimpicoportugal.pt/wp-content/uploads/2015/01/Confer%C3%AAncia-O-combate-ao-doping-em-Portugal.pdf |
O principio do fim... do meio fundo
Ainda a propósito do Europeu de Atletismo 2014
Dez "pequenas" razões (entre outras), no treino, que iniciaram a derrocada nos anos 90 do século XX:
1. Criatividade. Inspirar no treino de outras "escolas" ignorando o nosso passado.
2. Desmotivação. Abandono provocado por "criticismo" de instituições e colegas.
3. Empresários.Treinadores substituídos pelos 'managers' na planificação e gestão das carreiras.
4. Cronometrista. A ideia de que os atletas já não precisam dos treinadores.
5. Clubes/FPA. Demissão. Falta de Estratégia. Perspectiva do curto prazo.
6. Pontualidade. Ausência de horários, de disciplina, de referências.
7. Pista. Treinar na pista como quem treina na estrada.
8. Doping. Desagregação de um modelo de treino provocado pela utilização intensiva de substâncias proibidas.
9. Grupo.Individualismo excessivo. Ausência de lideres.
10.Planificação. Treino por correspondência.Uma ideia absurda mas aplicada por muitos.
Dez "pequenas" razões (entre outras), no treino, que iniciaram a derrocada nos anos 90 do século XX:
1. Criatividade. Inspirar no treino de outras "escolas" ignorando o nosso passado.
2. Desmotivação. Abandono provocado por "criticismo" de instituições e colegas.
3. Empresários.Treinadores substituídos pelos 'managers' na planificação e gestão das carreiras.
4. Cronometrista. A ideia de que os atletas já não precisam dos treinadores.
5. Clubes/FPA. Demissão. Falta de Estratégia. Perspectiva do curto prazo.
6. Pontualidade. Ausência de horários, de disciplina, de referências.
7. Pista. Treinar na pista como quem treina na estrada.
8. Doping. Desagregação de um modelo de treino provocado pela utilização intensiva de substâncias proibidas.
9. Grupo.Individualismo excessivo. Ausência de lideres.
10.Planificação. Treino por correspondência.Uma ideia absurda mas aplicada por muitos.
"Somos um país de doutores."
"A desgraça de Portugal é que não há gente. É um país sem pessoal. Quer-se um bispo... não há um bispo. Quer-se um economista... não há um economista. Quer-se um bom estofador... não há um bom estofador."
Os Maias, Eça de Queirós, no filme de João Botelho
As declarações de Angela Merkel, esta semana - "países como Portugal e Espanha têm demasiados licenciados, o que faz com que não tenham noção das vantagens do ensino vocacional" - contribuiu para aumentar mais a grande confusão que vai na cabeça de muitos portugueses quanto à importância do investimentos no ensino.
Declarações que terão dado razão a muitos dos que afirmam: "somos um país de doutores. Depois não há canalizadores, soldadores ou electricistas."
Os mesmos que ajudaram a acabar com as escolas industriais e comerciais.
Não devemos esquecer que a chanceler alemã fez estas afirmações durante um evento da confederação das associações patronais do país uma semana depois da Alemanha decidir acabar com as propinas em todas as suas universidades.
O que percebi das declarações da líder germânica é que em Portugal deve desinvestir na formação universitária e apostar mais no ensino politécnico e nas escolas profissionais.
E porque não investir nas escolas profissionais e... no ensino superior?
Antes de mais há que voltar a recordar os números do ensino na Europa.
De acordo com dados do gabinete de estatísticas europeu, em 2013, 25,3% da população da União Europeia entre os 15 e os 64 anos tinha completado estudos superiores, enquanto a percentagem portuguesa era de 17,6% e a alemã de 25,1%.
Na cabeça da lista encontrava-se a Irlanda, com 36,3% da população entre os 15 e os 64 anos licenciada, seguindo-se o Reino Unido com 35,7%, estando a Roménia (com 13,9%) e a Itália (com 14,4%) no final da lista.
Apesar de estarmos longe da média europeia, o maior problema em Portugal continua a ser a enorme percentagem de adultos com escolaridade mínima. Em 2012, 62% da população entre os 25 e 64 anos em Portugal tinha a escolaridade mínima, valor que é de 14% na Alemanha e 15% na Finlândia.
Posto isto temos de tirar várias conclusões destas declarações. Segundo Merkel:
1. Portugal e Espanha não devem aspirar aos mesmos níveis de desenvolvimento e sustentabilidade de outras potências.
2. Devemos investir na mão-de-obra barata e desqualificada ou no ensino médio.
3. Uma economia de sobrevivência e não do conhecimento.
O grave destas declarações é que há gente em Portugal a pensar assim.
Gente que pensa que a formação superior tem de ser apenas para alguns. Para uma elite.
Os curso devem de ter "apenas" como objectivo o mercado de trabalho.
Gente que defende que um curso superior é sinónimo de emprego garantido e não uma ferramenta de conhecimento.
Gente que afirma ficar muito chocada com os os jovens que "queimam as pestanas" a estudar e depois do curso não têm emprego.
Mas acham normal a existência que 62% da população entre os 25 e os 64 apenas com a escolaridade mínima.
Que Portugal não tem de investir na formação de médico para depois emigrarem. Mas depois não temos médicos no interior do país.
Gente que fica muito chocada quando vê os enfermeiros a emigrarem com contratos de trabalho para Inglaterra
mas acham normal milhares e milhares de portugueses emigram hoje, como ontem, sem formação e sem contratos.
Mas as declarações de Merkel não teriam a importância que tem se não escondessem a visão de uma grande parte da Alemanha sobre os países do sul. Uma visão, no seu entender, de superioridade económica e civilizacional que permite tratar Portugal e a Espanha como países inferiores. As suas declarações perante os patrões alemães é claramente no sentido de que não querem a concorrência dos nosso licenciados. O que precisam é de mão de obra barata.
Os Maias, Eça de Queirós, no filme de João Botelho
As declarações de Angela Merkel, esta semana - "países como Portugal e Espanha têm demasiados licenciados, o que faz com que não tenham noção das vantagens do ensino vocacional" - contribuiu para aumentar mais a grande confusão que vai na cabeça de muitos portugueses quanto à importância do investimentos no ensino.
Declarações que terão dado razão a muitos dos que afirmam: "somos um país de doutores. Depois não há canalizadores, soldadores ou electricistas."
Os mesmos que ajudaram a acabar com as escolas industriais e comerciais.
Não devemos esquecer que a chanceler alemã fez estas afirmações durante um evento da confederação das associações patronais do país uma semana depois da Alemanha decidir acabar com as propinas em todas as suas universidades.
O que percebi das declarações da líder germânica é que em Portugal deve desinvestir na formação universitária e apostar mais no ensino politécnico e nas escolas profissionais.
E porque não investir nas escolas profissionais e... no ensino superior?
Antes de mais há que voltar a recordar os números do ensino na Europa.
De acordo com dados do gabinete de estatísticas europeu, em 2013, 25,3% da população da União Europeia entre os 15 e os 64 anos tinha completado estudos superiores, enquanto a percentagem portuguesa era de 17,6% e a alemã de 25,1%.
Na cabeça da lista encontrava-se a Irlanda, com 36,3% da população entre os 15 e os 64 anos licenciada, seguindo-se o Reino Unido com 35,7%, estando a Roménia (com 13,9%) e a Itália (com 14,4%) no final da lista.
Apesar de estarmos longe da média europeia, o maior problema em Portugal continua a ser a enorme percentagem de adultos com escolaridade mínima. Em 2012, 62% da população entre os 25 e 64 anos em Portugal tinha a escolaridade mínima, valor que é de 14% na Alemanha e 15% na Finlândia.
Posto isto temos de tirar várias conclusões destas declarações. Segundo Merkel:
1. Portugal e Espanha não devem aspirar aos mesmos níveis de desenvolvimento e sustentabilidade de outras potências.
2. Devemos investir na mão-de-obra barata e desqualificada ou no ensino médio.
3. Uma economia de sobrevivência e não do conhecimento.
O grave destas declarações é que há gente em Portugal a pensar assim.
Gente que pensa que a formação superior tem de ser apenas para alguns. Para uma elite.
Os curso devem de ter "apenas" como objectivo o mercado de trabalho.
Gente que defende que um curso superior é sinónimo de emprego garantido e não uma ferramenta de conhecimento.
Gente que afirma ficar muito chocada com os os jovens que "queimam as pestanas" a estudar e depois do curso não têm emprego.
Mas acham normal a existência que 62% da população entre os 25 e os 64 apenas com a escolaridade mínima.
Que Portugal não tem de investir na formação de médico para depois emigrarem. Mas depois não temos médicos no interior do país.
Gente que fica muito chocada quando vê os enfermeiros a emigrarem com contratos de trabalho para Inglaterra
mas acham normal milhares e milhares de portugueses emigram hoje, como ontem, sem formação e sem contratos.
Mas as declarações de Merkel não teriam a importância que tem se não escondessem a visão de uma grande parte da Alemanha sobre os países do sul. Uma visão, no seu entender, de superioridade económica e civilizacional que permite tratar Portugal e a Espanha como países inferiores. As suas declarações perante os patrões alemães é claramente no sentido de que não querem a concorrência dos nosso licenciados. O que precisam é de mão de obra barata.
"Continuam a sobrar entidades a “gerir” o desporto nacional:
Secretaria de Estado do Desporto e Juventude, Conselho Nacional do Desporto, Instituto Português do Desporto e Juventude, Fundação do Desporto (FD), CDP, COP, Comité Paralímpico de Portugal (CPP)... Todos estes organismos com atividade corrente fortemente dependente do financiamento público."
Opinião
Mário Santos
Jornal A Bola 31/10/2014
Reforma(dos)
O discurso das reformas estruturais está em voga. Estas ditas reformas deviam ter subjacente uma estratégia e uns objetivos bem definidos. Contudo, torna-se cada vez mais claro estarmos perante uma mera estratégia de “cortina de fumo”, querendo estar em sintonia com o discurso da “moda” ou, na maioria das vezes, como forma de justificar a redução de meios.
Há uns dois anos, no debate de ideias/programas para as eleições do Comité Olímpico de Portugal (COP), um dos temas chave era a fusão –ou até dissolução - da Confederação do Desporto de Portugal (CDP) no COP (recorde-se que o próprio presidente da CDP era candidato… e depois abdicou para integrar uma outra lista, como vice-presidente). De muito importante, este tema passou ao… esquecimento. É típica a capacidade portuguesa de esquecer o debate do importante e privilegiar o urgente.
Continuam a sobrar entidades a “gerir” o desporto nacional: Secretaria de Estado do Desporto e Juventude, Conselho Nacional do Desporto, Instituto Português do Desporto e Juventude, Fundação do Desporto (FD), CDP, COP, Comité Paralímpico de Portugal (CPP)... Todos estes organismos com atividade corrente fortemente dependente do financiamento público.
No meio de tantas comissões, grupos de reflexão, congressos e grupos de trabalho, seria avisado que se encontrasse tempo para um estudo sério e aprofundado sobre a sustentabilidade, eficiência e necessidade de tantos organismos, que devoram grande fatia dos meios alocados ao desporto, apenas para sustentar a sua actividade regular..
Engavetar os projetos e os objetivos, tratar do urgente em detrimento do importante e gerir em constante programa eleitoralista participativo ajuda a envolvê-los a todos num processo de… não decisão.
Seria ótimo habituarmo-nos a avaliações (não disse “autoavaliações”) a fim de verificar se, de facto, reformamos ou se apenas cortamos e, assim, nos conformamos, aguardando, serenamente, pela nossa própria reforma.
Mário Santos, ex-presidente da Federação de Canoagem, foi chefe de missão olímpica aos Jogos de Londres 2012
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10203045799210571&set=a.1068735003274.2010709.1373055616&&theater
Opinião
Mário Santos
Jornal A Bola 31/10/2014
Reforma(dos)
O discurso das reformas estruturais está em voga. Estas ditas reformas deviam ter subjacente uma estratégia e uns objetivos bem definidos. Contudo, torna-se cada vez mais claro estarmos perante uma mera estratégia de “cortina de fumo”, querendo estar em sintonia com o discurso da “moda” ou, na maioria das vezes, como forma de justificar a redução de meios.
Há uns dois anos, no debate de ideias/programas para as eleições do Comité Olímpico de Portugal (COP), um dos temas chave era a fusão –ou até dissolução - da Confederação do Desporto de Portugal (CDP) no COP (recorde-se que o próprio presidente da CDP era candidato… e depois abdicou para integrar uma outra lista, como vice-presidente). De muito importante, este tema passou ao… esquecimento. É típica a capacidade portuguesa de esquecer o debate do importante e privilegiar o urgente.
Continuam a sobrar entidades a “gerir” o desporto nacional: Secretaria de Estado do Desporto e Juventude, Conselho Nacional do Desporto, Instituto Português do Desporto e Juventude, Fundação do Desporto (FD), CDP, COP, Comité Paralímpico de Portugal (CPP)... Todos estes organismos com atividade corrente fortemente dependente do financiamento público.
No meio de tantas comissões, grupos de reflexão, congressos e grupos de trabalho, seria avisado que se encontrasse tempo para um estudo sério e aprofundado sobre a sustentabilidade, eficiência e necessidade de tantos organismos, que devoram grande fatia dos meios alocados ao desporto, apenas para sustentar a sua actividade regular..
Engavetar os projetos e os objetivos, tratar do urgente em detrimento do importante e gerir em constante programa eleitoralista participativo ajuda a envolvê-los a todos num processo de… não decisão.
Seria ótimo habituarmo-nos a avaliações (não disse “autoavaliações”) a fim de verificar se, de facto, reformamos ou se apenas cortamos e, assim, nos conformamos, aguardando, serenamente, pela nossa própria reforma.
Mário Santos, ex-presidente da Federação de Canoagem, foi chefe de missão olímpica aos Jogos de Londres 2012
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10203045799210571&set=a.1068735003274.2010709.1373055616&&theater
Estamos mais rápidos... mais fortes?
Muitos factores estão em jogo, quando analisamos a quebra de recordes atléticos nas últimas décadas. O desenvolvimento dos nossos talentos naturais é apenas um deles.
When you look at sporting achievements over the last decades, it seems like humans have gotten faster, better and stronger in nearly every way. Yet as David Epstein points out in this delightfully counter-intuitive talk, we might want to lay off the self-congratulation. Many factors are at play in shattering athletic records, and the development of our natural talents is just one of them.
http://www.ted.com/talks/david_epstein_are_athletes_really_getting_faster_better_stronger?utm_source=newsletter_weekly_2014-05-03&utm_campaign=newsletter_weekly&utm_medium=email&utm_content=talk_of_the_week_button#
Sustentabilidade dos CAR?
Sustentabilidade? onde é que isso existe em Portugal?
Por favor, encerrem já o País!
Emídio Guerreiro: «Será difícil atingir níveis de sustentabilidade em alguns CAR»
GOVERNANTE APONTA CASO DO REMO NO POCINHO
http://www.record.xl.pt/Modalidades/interior.aspx?content_id=896054
23 de Julho de 2014
Por favor, encerrem já o País!
Emídio Guerreiro: «Será difícil atingir níveis de sustentabilidade em alguns CAR»
GOVERNANTE APONTA CASO DO REMO NO POCINHO
http://www.record.xl.pt/Modalidades/interior.aspx?content_id=896054
23 de Julho de 2014
Ainda à procura de um modelo
Algumas reflexões do COP sobre a sustentabilidade
competitiva do desporto português
"Em bom rigor ninguém pode responder com suficiente segurança
se o problema da competitividade externa do desporto
português é mais um problema de carência de verbas
ou de melhorar o uso daquelas que se têm. Ou de ambas."
"Porque nenhum estudo permitiu afirmar, de modo sólido,
que o peso do financiamento em relação aos demais elementos
que a pesquisa científica identifica como determinantes
para o sucesso desportivo foi o elemento decisivo."
"O que ocorre de quatro em quatro anos com os resultados
olímpicos é bem elucidativo. Consciências adormecidas
acordam e descobrem que não somos tão competitivos
quanto devíamos."
"Cria-se a ideia de que o sucesso, afinal, está ali ao dobrar da esquina. E que, tal
como na literatura de auto ajuda, a felicidade está ao nosso
alcance. É só querermos. Mobilizarmos recursos e vontades.
E sobretudo termos estratégia. O que trocado por
miúdos, quer dizer ir aos Jogos Olímpicos e regressar de lá
com umas medalhas."
"O desempenho dos sistemas desportivos
passou a ser descrito com a evidência de que todos podem
chegar ao sucesso desde que aplicado o modelo certo."
"Em sistemas onde os diferentes subsistemas
estão dispersos e sem relações de complementaridade é sempre
possível o êxito temporário através de soluções mais ou menos imediatas:
naturalizações de atletas por razões de interesse desportivo;
afrouxamento nos processos de despistagem da dopagem; processos
intensivos de preparação desportiva; deslocação/emigração de atletas
para outros sistemas de preparação; contratação de especialistas
externos; etc. Ou até o êxito em alguns segmentos competitivos por
razões culturais, de historia desportiva local ou até contingenciais sem
que esses resultados sejam o reflexo de qualquer sistema desportivo
minimamente sustentado."
"O conceito de competitividade é multifatorial e a vertente
financeira é uma das suas variáveis de análise. E uma variá-
vel que não pode ser medida exclusivamente por aquilo
que é despendido na chamada preparação olímpica."
"O país não dispõe de dados, devidamente analisados e estudados,
que permitam clarificar respostas sobre estas e outras
questões. Por isso navegamos em sensibilidades e impressões
que avulsamente recolhemos através das experiências
que vamos acumulando em diversos contextos da nossa
vivência desportiva, em diversas modalidades, em diversas
organizações, em diversos cargos."
"Quantos de nós podem hoje afirmar, com rigor e segurança,
que o país dispõe de indicadores precisos e análises
rigorosas sobre os fatores críticos da sua competitividade
desportiva para um exercício dessa índole?"
Autor
Comité Olímpico de Portugal
Julho de 2014
http://comiteolimpicoportugal.pt/wp-content/uploads/2014/07/COP-A-Sustentabilidade-do-Desporto-Portugu%C3%AAs.pdf
competitiva do desporto português
"Em bom rigor ninguém pode responder com suficiente segurança
se o problema da competitividade externa do desporto
português é mais um problema de carência de verbas
ou de melhorar o uso daquelas que se têm. Ou de ambas."
"Porque nenhum estudo permitiu afirmar, de modo sólido,
que o peso do financiamento em relação aos demais elementos
que a pesquisa científica identifica como determinantes
para o sucesso desportivo foi o elemento decisivo."
"O que ocorre de quatro em quatro anos com os resultados
olímpicos é bem elucidativo. Consciências adormecidas
acordam e descobrem que não somos tão competitivos
quanto devíamos."
"Cria-se a ideia de que o sucesso, afinal, está ali ao dobrar da esquina. E que, tal
como na literatura de auto ajuda, a felicidade está ao nosso
alcance. É só querermos. Mobilizarmos recursos e vontades.
E sobretudo termos estratégia. O que trocado por
miúdos, quer dizer ir aos Jogos Olímpicos e regressar de lá
com umas medalhas."
"O desempenho dos sistemas desportivos
passou a ser descrito com a evidência de que todos podem
chegar ao sucesso desde que aplicado o modelo certo."
"Em sistemas onde os diferentes subsistemas
estão dispersos e sem relações de complementaridade é sempre
possível o êxito temporário através de soluções mais ou menos imediatas:
naturalizações de atletas por razões de interesse desportivo;
afrouxamento nos processos de despistagem da dopagem; processos
intensivos de preparação desportiva; deslocação/emigração de atletas
para outros sistemas de preparação; contratação de especialistas
externos; etc. Ou até o êxito em alguns segmentos competitivos por
razões culturais, de historia desportiva local ou até contingenciais sem
que esses resultados sejam o reflexo de qualquer sistema desportivo
minimamente sustentado."
"O conceito de competitividade é multifatorial e a vertente
financeira é uma das suas variáveis de análise. E uma variá-
vel que não pode ser medida exclusivamente por aquilo
que é despendido na chamada preparação olímpica."
"O país não dispõe de dados, devidamente analisados e estudados,
que permitam clarificar respostas sobre estas e outras
questões. Por isso navegamos em sensibilidades e impressões
que avulsamente recolhemos através das experiências
que vamos acumulando em diversos contextos da nossa
vivência desportiva, em diversas modalidades, em diversas
organizações, em diversos cargos."
"Quantos de nós podem hoje afirmar, com rigor e segurança,
que o país dispõe de indicadores precisos e análises
rigorosas sobre os fatores críticos da sua competitividade
desportiva para um exercício dessa índole?"
Autor
Comité Olímpico de Portugal
Julho de 2014
http://comiteolimpicoportugal.pt/wp-content/uploads/2014/07/COP-A-Sustentabilidade-do-Desporto-Portugu%C3%AAs.pdf
"Não é expectável que as circunstâncias se possam alterar significativamente"
A dois anos dos Jogos Olímpicos
José Manuel Constantino
Assinalaram-se no passado dia 5 dois anos para o início dos Jogos Olímpicos a realizar em 2016 no Rio de Janeiro. Quando aí se erguer a chama olímpica vibraremos com a prestação da nossa equipa olímpica. Os analistas avaliarão a nossa participação. A comunicação social acompanhará as incidências. As empresas rentabilizarão as suas marcas associando-se à imagem dos atletas.
Porém, terminados os Jogos, rapidamente se esfuma toda esta mobilização e regressa-se à rotina de um novo ciclo de quatro anos, apenas pontuada pela breve mediatização de resultados desportivos relevantes.
Confrontados com indicadores recentes que colocam o país nos níveis mais baixos de prática desportiva regular e de financiamento privado ao desporto em toda a União Europeia, não é expectável que as circunstâncias se possam alterar significativamente. Não existem, assim, alicerces sólidos para internalizar
potenciais efeitos positivos daquela mobilização ocasional, corrigir assimetrias ou gerar um efeito de alavancagem em todo o sistema desportivo através de resultados de sucesso.
Enquanto o desporto não for colocado no centro das nossas vidas, encarado com um elemento crucial na educação de cada cidadão e no desenvolvimento social e económico do país, não é possível aspirarmos a outros patamares de competitividade.
As federações desportivas, e o Comité Olímpico de Portugal (COP) em particular, devem ter disso clara
noção e concentrarem-se em alterar esta tendência, evitando questões laterais que comprometam a sua
coesão, congregando esforços na missão de valorizarem o desporto e a sua modalidade específica, nos seus
diversos níveis formativos e competitivos.
Com este propósito o COP divulgou recentemente um documento sobre “A Sustentabilidade Competitiva
do Desporto Português”, disponível no seu site, onde estabelece uma agenda para levar a cabo aquele
desígnio, a qual reclama de todo o movimento olímpico, e dos seus parceiros, o compromisso decidido com
uma abordagem estrutural sobre os fatores críticos desta problemática.
Promover mudanças estruturais requer necessariamente mais do que a alteração das rotinas dos atores e
das dinâmicas das políticas associativas. O desporto, enquanto bem público com largo espectro de
benefícios para a sociedade - e por isso objeto de apoio público e consagrado constitucionalmente como
direito de todos os cidadãos - carece, também na esfera das políticas públicas, de deixar de ser um parceiro
menor, vulnerável a interesses terceiros.
A desqualificação da educação física e do desporto na escola, através da redução de tempos letivos, num
ato de profundas consequências, bem como a ausência das Ciências do Desporto enquanto área científica
autónoma no âmbito dos apoios da FCT a unidades de investigação contradizem na prática muito daquilo
que no discurso se proclama e no papel se enuncia.
Se a isso se associar a ausência de uma fiscalidade atrativa ao patrocínio e mecenato desportivo, as
medidas recentemente anunciadas de desinvestimento do Turismo de Portugal em grandes eventos, bem
como a ausência da proteção legal do nome, imagem e atividades desenvolvidas pelas federações na nova
regulação das apostas online - quando se alastra o flagelo global da manipulação de resultados envolvendo,
porventura, clubes portugueses -, podemos perspetivar o caminho a percorrer para tornar o desporto
português competitivo e um bem comum para a comunidade.
http://comiteolimpicoportugal.pt/wp-content/uploads/2014/07/COP-A-Sustentabilidade-do-Desporto-Portugu%C3%AAs.pdf
José Manuel Constantino nasceu em Santarém em 1950. Licenciou-se em Educação Física e foi atleta federado. Presidiu o Instituto do Desporto de Portugal. É presidente do Comité Olímpico de Portugal desde 2013. Mostra uma fotografia sua da década de 70. (foto Steven Governo).
11 de Agosto de 2014
José Manuel Constantino
Assinalaram-se no passado dia 5 dois anos para o início dos Jogos Olímpicos a realizar em 2016 no Rio de Janeiro. Quando aí se erguer a chama olímpica vibraremos com a prestação da nossa equipa olímpica. Os analistas avaliarão a nossa participação. A comunicação social acompanhará as incidências. As empresas rentabilizarão as suas marcas associando-se à imagem dos atletas.
Porém, terminados os Jogos, rapidamente se esfuma toda esta mobilização e regressa-se à rotina de um novo ciclo de quatro anos, apenas pontuada pela breve mediatização de resultados desportivos relevantes.
Confrontados com indicadores recentes que colocam o país nos níveis mais baixos de prática desportiva regular e de financiamento privado ao desporto em toda a União Europeia, não é expectável que as circunstâncias se possam alterar significativamente. Não existem, assim, alicerces sólidos para internalizar
potenciais efeitos positivos daquela mobilização ocasional, corrigir assimetrias ou gerar um efeito de alavancagem em todo o sistema desportivo através de resultados de sucesso.
Enquanto o desporto não for colocado no centro das nossas vidas, encarado com um elemento crucial na educação de cada cidadão e no desenvolvimento social e económico do país, não é possível aspirarmos a outros patamares de competitividade.
As federações desportivas, e o Comité Olímpico de Portugal (COP) em particular, devem ter disso clara
noção e concentrarem-se em alterar esta tendência, evitando questões laterais que comprometam a sua
coesão, congregando esforços na missão de valorizarem o desporto e a sua modalidade específica, nos seus
diversos níveis formativos e competitivos.
Com este propósito o COP divulgou recentemente um documento sobre “A Sustentabilidade Competitiva
do Desporto Português”, disponível no seu site, onde estabelece uma agenda para levar a cabo aquele
desígnio, a qual reclama de todo o movimento olímpico, e dos seus parceiros, o compromisso decidido com
uma abordagem estrutural sobre os fatores críticos desta problemática.
Promover mudanças estruturais requer necessariamente mais do que a alteração das rotinas dos atores e
das dinâmicas das políticas associativas. O desporto, enquanto bem público com largo espectro de
benefícios para a sociedade - e por isso objeto de apoio público e consagrado constitucionalmente como
direito de todos os cidadãos - carece, também na esfera das políticas públicas, de deixar de ser um parceiro
menor, vulnerável a interesses terceiros.
A desqualificação da educação física e do desporto na escola, através da redução de tempos letivos, num
ato de profundas consequências, bem como a ausência das Ciências do Desporto enquanto área científica
autónoma no âmbito dos apoios da FCT a unidades de investigação contradizem na prática muito daquilo
que no discurso se proclama e no papel se enuncia.
Se a isso se associar a ausência de uma fiscalidade atrativa ao patrocínio e mecenato desportivo, as
medidas recentemente anunciadas de desinvestimento do Turismo de Portugal em grandes eventos, bem
como a ausência da proteção legal do nome, imagem e atividades desenvolvidas pelas federações na nova
regulação das apostas online - quando se alastra o flagelo global da manipulação de resultados envolvendo,
porventura, clubes portugueses -, podemos perspetivar o caminho a percorrer para tornar o desporto
português competitivo e um bem comum para a comunidade.
http://comiteolimpicoportugal.pt/wp-content/uploads/2014/07/COP-A-Sustentabilidade-do-Desporto-Portugu%C3%AAs.pdf
José Manuel Constantino nasceu em Santarém em 1950. Licenciou-se em Educação Física e foi atleta federado. Presidiu o Instituto do Desporto de Portugal. É presidente do Comité Olímpico de Portugal desde 2013. Mostra uma fotografia sua da década de 70. (foto Steven Governo).
11 de Agosto de 2014
O Efeito de Ídolo
Coubertin nas suas memórias olímpicas escreveu: “para que cem se dediquem à cultura física, cinquenta têm de se dedicar ao desporto; para que cinquenta se dediquem ao desporto, vinte têm de se especializar; para que vinte se especializem, é necessário que cinco se mostrem capazes de realizar proezas extraordinárias. É a designada “Pirâmide de Coubertin”.
Coubertin, não fazia depender a elite da massa, quer dizer, de uma situação em que os atletas capazes de proezas extraordinárias dependiam da existência de uma base alargada de praticantes. Para ele, era a atração do atleta prodigioso que provoca o alargamento da base de prática desportiva. Por isso, não defendeu que, para que cinco atletas realizassem proezas extraordinárias era necessário existir uma base de cem atletas, mas, pelo contrário, para que existissem cem praticantes desportivos era necessária a existência 5 atletas extraordinários. Esta perspetiva de desenvolvimento baseia-se no chamado “efeito de ídolo”. Quer dizer, o ídolo, devido à admiração das massas, provoca um “feedback” organizacional promotor de desenvolvimento através da adesão das populações à prática desportiva.
Por exemplo, o porta-estandarte da primeira participação portuguesa nos Vs Jogos Olímpicos da era moderna (Estocolmo 1912) não foi um dos elementos da equipa proveniente da média ou alta burguesia nacional mas sim um simples operário de seu nome Francisco Lázaro porque, pelas extraordinárias proezas que realizara nas corridas da maratona, já era um verdadeiro herói nacional.
Coubertin, podia ter defendido uma posição contrária, quer dizer, uma posição em que, um atleta capaz de realizar feitos prodigiosos devia ser a consequência de um trabalho de promoção do desporto a partir da base da pirâmide. Então, porque é que não o fez, sabendo-se que um dos seus grandes objetivos era a democratização da prática desportiva? Pela simples razão de que não era nem é esse o espírito do Olimpismo. Enquanto helenista estudioso que era, Coubertin sabia que o espírito olímpico assentava na dinâmica do quadro cultural do “agôn” da competição em busca da “areté” da excelência dos gregos antigos que encontravam na competição dos Jogos a razão central da sua vida coletiva. Por isso, o espírito Olímpico não estava no equilíbrio estático do “mens sana…” de Juvenal mas no equilíbrio da dinâmica de desequilíbrios do “citius, altius, fortius” de Didon.
Qual é o risco desta perspetiva de desenvolvimento?
O risco, é os dirigentes políticos e desportivos poderem pensar que chega ganhar medalhas olímpicas para que o desenvolvimento do desporto aconteça. O desenvolvimento do desporto só acontece se, numa dialética de equilíbrios e desequilíbrios entre a massa e a elite, houver o engenho e a arte de provocar os necessários encadeamentos para trás capazes de gerar os projetos necessários à alta competição e à consequente participação olímpica.
Por exemplo, quando um país contrata um técnico estrangeiro e ganha uma medalha olímpica numa determinada modalidade desportiva, trata-se de saber quais os encadeamentos para trás que essa medalha vai desencadear, por exemplo, a nível da formação de técnicos ou, entre outros aspetos, do aumento da base de recrutamento de atletas. A não ser assim, a medalha, para além da legítima satisfação que proporciona ao atleta e ao treinador, serve tão só para alimentar o ego dos dirigentes políticos e desportivos.
Assim sendo, a questão fundamental do desenvolvimento do desporto, está em:
Conhecer quais são os mecanismos de indução capazes de, a montante, gerar capacidade empreendedora na sociedade a partir da retroação dos extraordinários feitos dos ídolos desportivos;
Aferir a dinâmica dos desequilíbrios criados entre a elite e a massa de praticantes através do instrumento de medida que é o conceito de “elite correspondente”;
Conseguir potenciar as virtualidades criativas do Sistema Desportivo, quer dizer, aquilo que ele, no seu todo, é capaz de gerar.
Nestes termos, toda a política de promoção do desporto direcionada para o alto rendimento deve ser considerada no sentido de optar por projetos com capacidade para desencadearem encadeamentos a montante capazes de promoverem um processo de desenvolvimento sustentado do desporto no país.
Gustavo Pires é professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana
http://forumolimpico.org/content/olimpismo-desenvolvimento
16 de Outubro de 2014
"Matar o sonho é matarmo-nos"
Pretendia escrever algo sobre a selecção para o Europeu de corta mato mas a professora Sameiro Araújo já disse quase tudo: "Não sou muito dada a tecer comentários nas redes sociais, mas hoje não posso ficar indiferente a esta convocatória para o Campeonato da Europa de Corta-Mato. Sinto-me triste e desiludida com o caminho que está a ser seguido pela Direção da FPA. Fazem-se critérios que depois não são cumpridos. Quanto à falta de qualidade dos atletas não convocados faço um desafio à FPA e veja quais as classificações obtidas nos seus primeiros europeus/mundiais de atletas como a Conceição Ferreira, Albertina Dias, Dulce Félix, Sara Moreira, José Regalo, enfim apenas para mencionar nomes de atletas que foram medalhados ou lideraram rankigs europeus. Se não lhes fosse dada oportunidade para participar e ganhar experiência internacional nunca teriam chegado onde chegaram. Isto da suposta falta de qualidade quem é que decide se tem ou não qualidade? os dirigentes? os técnicos? Estou triste, vejo a minha modalidade de eleição a definhar e ninguém parece preocupado em fazer o que quer que seja. Uma palavra de incentivo para todos aqueles que trabalharam e lutaram por um objetivo e que alguém resolveu ignorar a seu belo prazer. Como disse F. Pessoa “Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a n/ alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de, impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso” . Coragem e continuem a lutar!"
Liderança na organização |
As lições para o sucesso |
As cinco principais caracteristicas de um bom líder
para Mário Machado*: 1 - Provar que sabe fazer tudo. 2 - Tentar ter uma presença constante. 3 - Demonstrar que tem confiança na equipa 4 - Interiorizar o factor "medo de errar" 5 - Ter um "plano B" para tudo. * Mário Machado, director da Revista SPIRIDON e Meia Maratona de Lisboa, foi um dos impulsionadores das corridas para todos, movimentos desportivo e cultural iniciado após o 25 de Abril. A sua experiência nas corridas populares levaram-no a organizar a Meia Maratona da Nazaré e a primeira corrida na Ponte 25 de Abril, denominada Ponte a Pé. Hoje a Meia e Mini Maratona de Lisboa é o evento com mais participantes em Portugal, chegando aos 40 mil participantes. |
5 Lessons Learned From Alberto Salazar*
1. Take a long-term approach 2. Find good training partners 3. Work on your running form 4. Learn how to sprint 5. Train your mind *Alberto Salazar (Cuba, 7 de agosto de 1958) é um ex-fundista norte-americano, tricampeão da Maratona de Nova Iorque. Coordena desde 2002 o projecto da Nike em Oregon com o objectivo de recuperar o meio fundo e fundo norte americano. Em Londres 2012, dois de seus atletas, Mo Farah e Galen Rupp, conquistaram as medalha de ouro e prata nos 10.000 m e Mo Farah ainda conquistou a de ouro nos 5.000 m, tornando-se o primeiro britânico campeão olímpico nas duas provas de longa distância em pista. |
Bernard Hinault, Armstrong e o revisionismo da história do doping
Duas notícias sobre doping, saídas estas semana (14 de Novembro 2014), voltaram a confirmar que apesar dos "aparentes progresso" no combate a esse flagelo, a hipocrisia continua a prevalecer entre pessoas, instituições e países com grandes responsabilidades nessa matéria.
Há um dia, o antigo ciclista francês Bernard Hinault, vencedor de cinco edições da Volta a França, disse que se recusa a falar e sequer a cumprimentar o norte-americano Lance Armstrong. "Se eu o encontrar hoje não lhe falo. Nem sequer lhe direi: bom dia!", afirmou, em entrevista à agência AFP, o vencedor do Tour em 1978, 1979, 1981, 1982 e 1985, nas vésperas de completar 60 anos, aludindo ao texano, que foi desapossado de sete triunfos na "Grande Boucle".
Quer dizer: quando Armstrong vencia Tour após Tour e levava a tribunal quem o acusava de doping, Bernard Hinault dava-lhe os parabéns pelas vitórias e palmadinhas nas costas. Agora que o texano confessou o uso de doping o francês não lhe fala...
Perguntas que gostaria de fazer a Hinault:
Durante as suas cinco vitórias no Tour, numa altura em que não havia controlos surpresa, testes sanguíneos, passaportes biológicos, o senhor nunca usou substâncias proibidas?
(Claro que não, digo eu)
Depois, como elemento da organização do Tour, quando subia ao palanque nos finais das etapas para entregar prémios (foto), nunca questionou ou suspeitou, mesmo por momentos, nenhuma das sete vitórias de Lance Armstrong?
(Nunca soube de nada, nem suspeitou ou teve conhecimento de nada, acrescento)
Após a divulgação da entrevista de Hinault, o assunto logo provocou repercussão nas redes sociais. No Twitter, Lance Armstrong reagiu e perguntou: “Eis uma versão revisionista da história. Quando eu ficar velho, posso também alterar completamente a minha história?”.
Ainda esta semana, o governo alemão anunciou que quer penalizar o doping com penas de até três anos de prisão.
De acordo com o plano governamental, os médicos responsáveis por práticas de dopagem enfrentam penas mais duras que os atletas, já que poderão ser condenados até dez anos de prisão por "colocar em perigo a saúde de um elevado número de pessoas".
Muito bem.
Recordo que a República Federal da Alemanha ( sim estão a ler bem, RFA e não RDA, que como toda a gente sabe tinha um sistema de doping de Estado) promoveu durante décadas o uso de substâncias dopantes nos seus atletas com a conivência de políticos e a cobertura de dirigentes desportivos, revelou um estudo realizado pela Universidade Humboldt, de Berlim.
O estudo aponta que o sistema não teria sido organizado como resposta ao uso habitual de doping pela RDA na época, mas sim desenvolvido de forma paralela e que os políticos não só toleravam, mas também incentivam o uso de doping. Antes dos Jogos Olímpicos de 1972, realizados em Munique, membros do governo alemão terão feito pressão sobre os médicos desportivos para que o balanço de medalhas fosse melhorado.
Por isso, estranho que só agora a criminalização do doping seja uma realidade analisada na Alemanha, quando em outros países europeus,como Portugal (esse periférico e atrasado país) isso já existe na lei há mais de cinco anos.
Em Portugal, desde junho de 2009, que a lei prevê a criminalização do tráfico, da administração de dopantes e das associações criminosas ligadas à dopagem. A administração de doping dará penas entre seis meses e três anos, limites que poderão ser agravadas para o dobro nos casos mais graves: se um agente desportivo dopar um atleta que esteja sob sua "dependência hierárquica, económica, de trabalho ou profissional", se recorrer ao "engano ou intimidação", ou se "a vítima se encontrar em especial vulnerabilidade (...) em razão da idade, deficiência ou doença".
Recordo que em junho de 2008, o parlamento francês aprovou uma nova lei de anti-dopagem, que prevê penas até aos cinco anos de prisão e 75 mil euros de multa para todos os desportistas que sejam detidos na posse de substâncias dopantes.
Em Novembro de 2005, O Conselho de Ministros espanhol aprovou um projecto-lei que prevê sanções penais – de seis meses a dois anos – para aqueles que promovam o consumo de substâncias ‘dopantes’ no mundo desportivo.
Segundo relatório da União Europeia sobre desporto, divulgado em julho de 2007, "o comércio de substâncias dopantes ilícitas deve ser tratado da mesma maneira que o comércio de drogas na Europa".
Por isso, estranho (mais uma vez) que só agora a Alemanha decida criminalizar o doping.
Em boa verdade, na prática, o que resultou destas novas legislações a nível nacional e na Europa?
Muito pouco. Para não dizer zero.
Muito antes de tudo isto, refresco a memória, em janeiro de 2002, o então presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, admitiu que a guerra contra o “doping” nunca será ganha.
“Nunca teremos um desporto totalmente limpo. O que podemos é tentar fazer com que, de futuro, seja mais limpo do que é hoje”, disse o belga, líder do COI, em entrevista a um jornal sueco, acrescentando: “Podemos não ganhar a guerra, mas vamos com certeza vencer muitas batalhas. Temos de tentar travar o flagelo do ‘doping’, bem como a mentalidade de conseguir bons resultados fazendo batota.”
Há um dia, o antigo ciclista francês Bernard Hinault, vencedor de cinco edições da Volta a França, disse que se recusa a falar e sequer a cumprimentar o norte-americano Lance Armstrong. "Se eu o encontrar hoje não lhe falo. Nem sequer lhe direi: bom dia!", afirmou, em entrevista à agência AFP, o vencedor do Tour em 1978, 1979, 1981, 1982 e 1985, nas vésperas de completar 60 anos, aludindo ao texano, que foi desapossado de sete triunfos na "Grande Boucle".
Quer dizer: quando Armstrong vencia Tour após Tour e levava a tribunal quem o acusava de doping, Bernard Hinault dava-lhe os parabéns pelas vitórias e palmadinhas nas costas. Agora que o texano confessou o uso de doping o francês não lhe fala...
Perguntas que gostaria de fazer a Hinault:
Durante as suas cinco vitórias no Tour, numa altura em que não havia controlos surpresa, testes sanguíneos, passaportes biológicos, o senhor nunca usou substâncias proibidas?
(Claro que não, digo eu)
Depois, como elemento da organização do Tour, quando subia ao palanque nos finais das etapas para entregar prémios (foto), nunca questionou ou suspeitou, mesmo por momentos, nenhuma das sete vitórias de Lance Armstrong?
(Nunca soube de nada, nem suspeitou ou teve conhecimento de nada, acrescento)
Após a divulgação da entrevista de Hinault, o assunto logo provocou repercussão nas redes sociais. No Twitter, Lance Armstrong reagiu e perguntou: “Eis uma versão revisionista da história. Quando eu ficar velho, posso também alterar completamente a minha história?”.
Ainda esta semana, o governo alemão anunciou que quer penalizar o doping com penas de até três anos de prisão.
De acordo com o plano governamental, os médicos responsáveis por práticas de dopagem enfrentam penas mais duras que os atletas, já que poderão ser condenados até dez anos de prisão por "colocar em perigo a saúde de um elevado número de pessoas".
Muito bem.
Recordo que a República Federal da Alemanha ( sim estão a ler bem, RFA e não RDA, que como toda a gente sabe tinha um sistema de doping de Estado) promoveu durante décadas o uso de substâncias dopantes nos seus atletas com a conivência de políticos e a cobertura de dirigentes desportivos, revelou um estudo realizado pela Universidade Humboldt, de Berlim.
O estudo aponta que o sistema não teria sido organizado como resposta ao uso habitual de doping pela RDA na época, mas sim desenvolvido de forma paralela e que os políticos não só toleravam, mas também incentivam o uso de doping. Antes dos Jogos Olímpicos de 1972, realizados em Munique, membros do governo alemão terão feito pressão sobre os médicos desportivos para que o balanço de medalhas fosse melhorado.
Por isso, estranho que só agora a criminalização do doping seja uma realidade analisada na Alemanha, quando em outros países europeus,como Portugal (esse periférico e atrasado país) isso já existe na lei há mais de cinco anos.
Em Portugal, desde junho de 2009, que a lei prevê a criminalização do tráfico, da administração de dopantes e das associações criminosas ligadas à dopagem. A administração de doping dará penas entre seis meses e três anos, limites que poderão ser agravadas para o dobro nos casos mais graves: se um agente desportivo dopar um atleta que esteja sob sua "dependência hierárquica, económica, de trabalho ou profissional", se recorrer ao "engano ou intimidação", ou se "a vítima se encontrar em especial vulnerabilidade (...) em razão da idade, deficiência ou doença".
Recordo que em junho de 2008, o parlamento francês aprovou uma nova lei de anti-dopagem, que prevê penas até aos cinco anos de prisão e 75 mil euros de multa para todos os desportistas que sejam detidos na posse de substâncias dopantes.
Em Novembro de 2005, O Conselho de Ministros espanhol aprovou um projecto-lei que prevê sanções penais – de seis meses a dois anos – para aqueles que promovam o consumo de substâncias ‘dopantes’ no mundo desportivo.
Segundo relatório da União Europeia sobre desporto, divulgado em julho de 2007, "o comércio de substâncias dopantes ilícitas deve ser tratado da mesma maneira que o comércio de drogas na Europa".
Por isso, estranho (mais uma vez) que só agora a Alemanha decida criminalizar o doping.
Em boa verdade, na prática, o que resultou destas novas legislações a nível nacional e na Europa?
Muito pouco. Para não dizer zero.
Muito antes de tudo isto, refresco a memória, em janeiro de 2002, o então presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, admitiu que a guerra contra o “doping” nunca será ganha.
“Nunca teremos um desporto totalmente limpo. O que podemos é tentar fazer com que, de futuro, seja mais limpo do que é hoje”, disse o belga, líder do COI, em entrevista a um jornal sueco, acrescentando: “Podemos não ganhar a guerra, mas vamos com certeza vencer muitas batalhas. Temos de tentar travar o flagelo do ‘doping’, bem como a mentalidade de conseguir bons resultados fazendo batota.”
A difícil escolha
"Muitos atletas ainda têm de optar entre os estudos e o desporto"
O judoca Nuno Delgado e o velejador Nuno Barreto são os únicos atletas que terminaram cursos universitários, entre os 18 portugueses que subiram aos pódios olímpicos (16 medalhas) após o 25 de Abril de 1974.
Nuno Delgado, bronze no judo -81 kg em Sydney 2000, é licenciado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana. Nuno Barreto, medalha de bronze na classe 470 de vela com Hugo Rocha, nos Jogos de Atlanta 1996 é licenciado em Engenharia do Ambiente pela Universidade Nova de Lisboa.
Ser atleta olímpico e estudante universitário já não é raro entre a elite do desporto nacional. Na comitiva portuguesa de 77 atletas para os Jogos de Londres 2012, 25 frequentavam cursos universitários.
A frequência de cursos superiores por atletas olímpicos tem vindo a aumentar nos últimos anos frutos da melhoria do nível médio da escolaridade entre os jovens portugueses mas também beneficiando das facilidades de acesso ao ensino superior com o estatuto de atleta de alta competição.
Todavia, os melhores atletas quando atingem o nível para integrar o plano de preparação olímpica congelam as suas inscrições nas universidades não passando dos primeiros anos dos cursos. Alguns conseguem terminar as licenciaturas em prazos mais dilatados.
Outros, a maioria, quando entram para a universidade pura e simplesmente abandonam de seguida a alta competição, sabendo que não conseguem conciliar as duas actividades.
Mas também a injustiça provocada pelo não cumprimento da lei por parte das instituições universitárias que leva professores a dizerem aos alunos: "tem que escolher entre o desporto e os estudos".
Claudia Bokel, campeão mundial e prata olímpica em Atenas 2004 na esgrima (foto), esteve recentemente em Portugal onde afirmou: "os atletas não querem favores. Apenas querem querem estudar ao mesmo tempo que treinam e competem. Mas isso é tão difícil ainda hoje que muitos têm de decidir entre uma carreira académica ou desportiva."
Isto é o que os atletas portugueses andam a dizer há décadas... com as consequências previstas.
Mesmo a alemão é um caso raro ao conseguir chegar ao pódio olímpico e terminar uma licenciatura em Química.
Porém, em Portugal há sempre quem tente conciliar os estudos e os treinos, num equilíbrio nada fácil, conseguindo ainda assim resultados de alto nível.
É o caso de Pedro Fraga, que em dupla com Nuno Mendes, já se sagrou vice-campeão europeu em 'double-scull' e atingiu um quinto lugar em Londres 2012.
No decorrer destes resultados, o atleta natural do Porto encontrou ainda tempo para se dedicar a um mestrado em Treino de Alto Rendimento Desportivo na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, após ter tirado uma licenciatura em Educação Física e Desporto no Instituto Superior da Maia.
24 de Outubro de 2014
O judoca Nuno Delgado e o velejador Nuno Barreto são os únicos atletas que terminaram cursos universitários, entre os 18 portugueses que subiram aos pódios olímpicos (16 medalhas) após o 25 de Abril de 1974.
Nuno Delgado, bronze no judo -81 kg em Sydney 2000, é licenciado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana. Nuno Barreto, medalha de bronze na classe 470 de vela com Hugo Rocha, nos Jogos de Atlanta 1996 é licenciado em Engenharia do Ambiente pela Universidade Nova de Lisboa.
Ser atleta olímpico e estudante universitário já não é raro entre a elite do desporto nacional. Na comitiva portuguesa de 77 atletas para os Jogos de Londres 2012, 25 frequentavam cursos universitários.
A frequência de cursos superiores por atletas olímpicos tem vindo a aumentar nos últimos anos frutos da melhoria do nível médio da escolaridade entre os jovens portugueses mas também beneficiando das facilidades de acesso ao ensino superior com o estatuto de atleta de alta competição.
Todavia, os melhores atletas quando atingem o nível para integrar o plano de preparação olímpica congelam as suas inscrições nas universidades não passando dos primeiros anos dos cursos. Alguns conseguem terminar as licenciaturas em prazos mais dilatados.
Outros, a maioria, quando entram para a universidade pura e simplesmente abandonam de seguida a alta competição, sabendo que não conseguem conciliar as duas actividades.
Mas também a injustiça provocada pelo não cumprimento da lei por parte das instituições universitárias que leva professores a dizerem aos alunos: "tem que escolher entre o desporto e os estudos".
Claudia Bokel, campeão mundial e prata olímpica em Atenas 2004 na esgrima (foto), esteve recentemente em Portugal onde afirmou: "os atletas não querem favores. Apenas querem querem estudar ao mesmo tempo que treinam e competem. Mas isso é tão difícil ainda hoje que muitos têm de decidir entre uma carreira académica ou desportiva."
Isto é o que os atletas portugueses andam a dizer há décadas... com as consequências previstas.
Mesmo a alemão é um caso raro ao conseguir chegar ao pódio olímpico e terminar uma licenciatura em Química.
Porém, em Portugal há sempre quem tente conciliar os estudos e os treinos, num equilíbrio nada fácil, conseguindo ainda assim resultados de alto nível.
É o caso de Pedro Fraga, que em dupla com Nuno Mendes, já se sagrou vice-campeão europeu em 'double-scull' e atingiu um quinto lugar em Londres 2012.
No decorrer destes resultados, o atleta natural do Porto encontrou ainda tempo para se dedicar a um mestrado em Treino de Alto Rendimento Desportivo na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, após ter tirado uma licenciatura em Educação Física e Desporto no Instituto Superior da Maia.
24 de Outubro de 2014
Alta competição para miúdos
"Será o desporto de alta competição para miúdos?" questiona a minha colega jornalista, Isaura Almeida em titulo de um excelente artigo no site do DN. A questão é no mínimo pertinente. Ao mesmo tempo a que assistimos a cada vez mais atletas veteranos a triunfar em desportos tão diversificados como Atletismo, Ciclismo, Ténis, Fórmula 1 ou Surf, verificamos que a "especialização precoce" é uma tendência que se acentua.
Há modalidades, como a Natação e a Ginástica, ou mesmo o Hóquei em Patins ou o Futebol, que, historicamente, mantém essa tendência, apesar de surgirem cada vez mais atletas a prolongarem as suas carreiras até idades mais velhas.
As questões que colocamos são: "será essa especialização precoce uma inevitabilidade?"
É necessário que para existir um campeão numa determinada modalidade, por exemplo, outros dez terão de ficar pelo caminho?
Para além da Ginástica e Natação, modalidades como o Atletismo, Ciclismo e o Triatlo apresentam um elevado índice de jovens atletas a competirem em escalões de elite.
Um amigo, entendido nestas matérias, dizia-me há pouco: "todos os bons atletas seniores foram bons atletas juniores. O contrário, como é evidente, já não é verdade."
O problema é que a maioria deles acaba por não conseguir consolidar as suas carreiras em seniores, abandonando precocemente.
As respostas para esse abandono são complexas e múltiplas.
As mais óbvias (respostas) prendem-se com questões puramente de treino. Para muitos dos especialistas que abordaram este problema, esses abandonos são justificados pelas excessivas cargas de treinos nessa fase de crescimento e consolidação física e psicológica nos escalões de infantis, iniciados, juvenis, e juniores. Também já ouvi defender, ao contrário, que a incapacidade para conciliar a carreira desportiva com a vida, a partir dos 18 anos, leva a que muitos deles não consigam manter e aumentar as cargas de treino que lhes permitam evoluir.
A maioria dos jovens campeões acabam por abandonar as respectivas modalidades naquela que é para muitos considerada uma fase de transição, uma "travessia do deserto", com 20, 21, 22 ou 23 anos.
Portanto para os que apontam o treino como causa primária para o abandono precoce há uma clara incompetência ao nível dos treinadores.Técnicos inexperiente, impreparados, que, alegadamente,procuram, a todo o custo, resultados a curto prazo, não respeitando a idade dos seus atletas, assim como alguns dos mais elementares princípios do treino: individualização, progressão, recuperação,continuidade, programação, ciclicidade, continuidade, multilateralidade, reversibilidade, especificidade, sobrecarga, saúde, consciencialização, etc, etc, etc)
Apesar de alguma verdade neste ponto - concordamos que há excessos - o problema continua a ser muito mais complexo que o treino propriamente dito. Enquanto não percebermos o que foi feito de errado com os jovens atletas que abandonam mas, ao mesmo tempo, não tentarmos aferir o que resultou para que os campeões juniores tenham conseguido chegar às vitórias em seniores teremos muita dificuldade em perceber a raiz deste grave problema.
O especialista em psicologia do desporto, Sidónio Serpa, dizia ao DN em 2011: "Há tantas causas próximas [para o abandono precoce] como pessoas que abandonam. Existem algumas questões de fundo como a iniciação no desporto e o processo de evolução. Muitas vezes, os jovens começam a praticar desporto por acaso, retirando muito prazer dessa actividade lúdica. Os resultados e a identificação de talentos são estimulados por treinadores e pais. O jovem inicia um envolvimento no treino sem dar conta de que não o escolheu, mas do qual já não consegue sair. Daí até se tornar figura pública inicia-se uma pressão social que o obriga a permanecer no alto rendimento. Para além do envolvimento social, associado a aspectos financeiros que criam pressões centrífugas que prendem as pessoas a uma actividade muito intensa, muito saturante. Também por isso os jovens atletas vão prolongando.A certa altura a coisa rebenta. Pode existir um grande esforço sem benefícios económicos e desistem."
Sebastião Santos, Doutorando em Ciências do Desporto, no seu estudo "O abandono precoce do desporto pelos jovens
e a motivação subjacente para continuar", faz uma boa síntese para concluir que os possíveis factores de abandono precoce desportivo serão os "treinos monótonos, treinos demasiados agressivos, a estagnação e os maus resultados", mas também "a dificuldade de conciliar os estudos e o desporto, a envolvência de pares e familiares, finalmente a saturação do ritmo desportivo e competitivo".
Pela nossa experiência, estamos convencidos que o treino e os seus erros são factores primários neste problema, mas os factores sociais apontados por Sebastião Santos, negligenciados pelas instituições, estão ao nível de importância.
No artigo do DN, Isaura Almeida revela: "Martin Odergaard, Gareth Bale , Max Verstappen , Duck Hee Lee e Lucy Li foram notícia no desporto por terem apenas 11, 15, 17 ... anos de idade!
O norueguês Martin Odergaard tornou-se na segunda-feira o jogador mais jovem a participar num jogo de qualificação para um europeu de futebol. Nascido a 17 de dezembro de 1998, entrou em campo no jogo com a Bulgária ao minuto 64, substituindo Dæhli, com 15 anos e 297 dias.
O galês Gareth Bale do Real Madrid ainda detém o recorde de mais jovem marcador num jogo de seleções. Tinha 17 anos e 83 dias.
Há poucos dias, também foi a notícia Max Verstappen. No GP do Japão o filho do antigo piloto de F1 tornou-se o piloto mais jovem da história da Fórmula 1, com 17 anos e 3 dias.
No ténis o mais precoce é o coreano Duck Hee Lee, tenista surdo que venceu o torneio Viña del Mar e entrou no ranking ATP em 2013, poucos dias antes de fazer 15 anos.
No golfe a americana Lucy Li (foto), que jogou o último US Open, depois de vencer com 11 anos, sete meses e 21 dias o torneio Half Moon Bay... bateu todos os recordes de precocidade no desporto de alta competição. E ainda é só uma criança!"
Nós estamos curiosos para ver onde estes jovens conseguirão chegar nas suas carreiras desportivas.
14 de Outubro de 2014
http://www.dn.pt/desporto/interior.aspx?content_id=4179082
Há modalidades, como a Natação e a Ginástica, ou mesmo o Hóquei em Patins ou o Futebol, que, historicamente, mantém essa tendência, apesar de surgirem cada vez mais atletas a prolongarem as suas carreiras até idades mais velhas.
As questões que colocamos são: "será essa especialização precoce uma inevitabilidade?"
É necessário que para existir um campeão numa determinada modalidade, por exemplo, outros dez terão de ficar pelo caminho?
Para além da Ginástica e Natação, modalidades como o Atletismo, Ciclismo e o Triatlo apresentam um elevado índice de jovens atletas a competirem em escalões de elite.
Um amigo, entendido nestas matérias, dizia-me há pouco: "todos os bons atletas seniores foram bons atletas juniores. O contrário, como é evidente, já não é verdade."
O problema é que a maioria deles acaba por não conseguir consolidar as suas carreiras em seniores, abandonando precocemente.
As respostas para esse abandono são complexas e múltiplas.
As mais óbvias (respostas) prendem-se com questões puramente de treino. Para muitos dos especialistas que abordaram este problema, esses abandonos são justificados pelas excessivas cargas de treinos nessa fase de crescimento e consolidação física e psicológica nos escalões de infantis, iniciados, juvenis, e juniores. Também já ouvi defender, ao contrário, que a incapacidade para conciliar a carreira desportiva com a vida, a partir dos 18 anos, leva a que muitos deles não consigam manter e aumentar as cargas de treino que lhes permitam evoluir.
A maioria dos jovens campeões acabam por abandonar as respectivas modalidades naquela que é para muitos considerada uma fase de transição, uma "travessia do deserto", com 20, 21, 22 ou 23 anos.
Portanto para os que apontam o treino como causa primária para o abandono precoce há uma clara incompetência ao nível dos treinadores.Técnicos inexperiente, impreparados, que, alegadamente,procuram, a todo o custo, resultados a curto prazo, não respeitando a idade dos seus atletas, assim como alguns dos mais elementares princípios do treino: individualização, progressão, recuperação,continuidade, programação, ciclicidade, continuidade, multilateralidade, reversibilidade, especificidade, sobrecarga, saúde, consciencialização, etc, etc, etc)
Apesar de alguma verdade neste ponto - concordamos que há excessos - o problema continua a ser muito mais complexo que o treino propriamente dito. Enquanto não percebermos o que foi feito de errado com os jovens atletas que abandonam mas, ao mesmo tempo, não tentarmos aferir o que resultou para que os campeões juniores tenham conseguido chegar às vitórias em seniores teremos muita dificuldade em perceber a raiz deste grave problema.
O especialista em psicologia do desporto, Sidónio Serpa, dizia ao DN em 2011: "Há tantas causas próximas [para o abandono precoce] como pessoas que abandonam. Existem algumas questões de fundo como a iniciação no desporto e o processo de evolução. Muitas vezes, os jovens começam a praticar desporto por acaso, retirando muito prazer dessa actividade lúdica. Os resultados e a identificação de talentos são estimulados por treinadores e pais. O jovem inicia um envolvimento no treino sem dar conta de que não o escolheu, mas do qual já não consegue sair. Daí até se tornar figura pública inicia-se uma pressão social que o obriga a permanecer no alto rendimento. Para além do envolvimento social, associado a aspectos financeiros que criam pressões centrífugas que prendem as pessoas a uma actividade muito intensa, muito saturante. Também por isso os jovens atletas vão prolongando.A certa altura a coisa rebenta. Pode existir um grande esforço sem benefícios económicos e desistem."
Sebastião Santos, Doutorando em Ciências do Desporto, no seu estudo "O abandono precoce do desporto pelos jovens
e a motivação subjacente para continuar", faz uma boa síntese para concluir que os possíveis factores de abandono precoce desportivo serão os "treinos monótonos, treinos demasiados agressivos, a estagnação e os maus resultados", mas também "a dificuldade de conciliar os estudos e o desporto, a envolvência de pares e familiares, finalmente a saturação do ritmo desportivo e competitivo".
Pela nossa experiência, estamos convencidos que o treino e os seus erros são factores primários neste problema, mas os factores sociais apontados por Sebastião Santos, negligenciados pelas instituições, estão ao nível de importância.
No artigo do DN, Isaura Almeida revela: "Martin Odergaard, Gareth Bale , Max Verstappen , Duck Hee Lee e Lucy Li foram notícia no desporto por terem apenas 11, 15, 17 ... anos de idade!
O norueguês Martin Odergaard tornou-se na segunda-feira o jogador mais jovem a participar num jogo de qualificação para um europeu de futebol. Nascido a 17 de dezembro de 1998, entrou em campo no jogo com a Bulgária ao minuto 64, substituindo Dæhli, com 15 anos e 297 dias.
O galês Gareth Bale do Real Madrid ainda detém o recorde de mais jovem marcador num jogo de seleções. Tinha 17 anos e 83 dias.
Há poucos dias, também foi a notícia Max Verstappen. No GP do Japão o filho do antigo piloto de F1 tornou-se o piloto mais jovem da história da Fórmula 1, com 17 anos e 3 dias.
No ténis o mais precoce é o coreano Duck Hee Lee, tenista surdo que venceu o torneio Viña del Mar e entrou no ranking ATP em 2013, poucos dias antes de fazer 15 anos.
No golfe a americana Lucy Li (foto), que jogou o último US Open, depois de vencer com 11 anos, sete meses e 21 dias o torneio Half Moon Bay... bateu todos os recordes de precocidade no desporto de alta competição. E ainda é só uma criança!"
Nós estamos curiosos para ver onde estes jovens conseguirão chegar nas suas carreiras desportivas.
14 de Outubro de 2014
http://www.dn.pt/desporto/interior.aspx?content_id=4179082
Naturalizados - "plastic brits"
Portugal tem o Francis Obikwelu, a Naide Gomes, o Nelson Évora e muitos, muitos mais.
Os EUA tem o Bernard Lagat... A Espanha o Alemayehu Bezabeh... A Grâ-Bretanha o Mo Farah... e muitos, muitos mais.
O fundista britânico nasceu na Somália, passou a infância em Djibouti e mudou-se para a Grã-Bretanha aos 8 anos. Mo Farah, que venceu os 5.000 e os 10.000 m, treina-se com o americano, de origem cubana, Alberto Salazar e vive em Oregon, EUA.
Já, Bernard Lagat, corredor de 1500 e 5000 metros, nasceu no Quénia em 1974, país pelo qual competiu até 2004. Naturalizou-se norte-americano em março de 2005. Ganhou a medalha prata em Sydney 2000 e o bronze em Atenas 2004, além de onze medalhas de campeonatos mundiais.
"Cada caso é um caso", mas Francis Obikwelu, Naide Gomes e Nelson Évora obtiveram os seu melhores resultados quando viviam há muito em Portugal, representando clubes portugueses e treinando-se com técnicos nacionais.
Obikwelu só depois dos pódios no Europeu de Munique 2002, nos 100 e 200 m, foi viver para Espanha (em outubro de 2003) conquistando a medalha de prata nos 100 m em Atenas 2004.
A Grã-Bretanha, assim como a Espanha e a França, assumiu há muito a politica de naturalização de atletas, que são conhecidos de forma depreciativa pelos setores mais conservadores como "plastic brits". A estratégia foi polémica e sofreu muitas críticas. Todavia, da delegação de 542 atletas que competiram em Londres 2012, 61 eram naturalizados. Entre as 65 medalhas conquistadas, 24 foram arrecadadas pelos chamados "britânicos de plástico".
Pedro Miguel Moura, presidente da federação de ténis de mesa, em entrevista ao Record, depois do titulo Europeu da equipa masculina, defendeu que é altura de a Federação apostar mais na seleção feminina. E o caminho pode passar pela naturalização. "Portugal nunca teve uma atleta feminina de grande referência, mas já esteve presente nos Jogos Olímpicos, em 2012, com a Lei Huang Mendes, uma atleta chinesa naturalizada. A Lei Huang lesionou-se e chamámos outra atleta naturalizada, a Fu Yu", avança o dirigente. “Não é o caminho ideal, nem aquele que preconizamos, mas não hesitaremos em segui-lo se as regras assim o permitirem.”
Há inúmeros jogadores de ténis de mesa que nasceram na China e que representam outros países. Sem dúvida que isso contribui para aumentar o nível técnico e o grau de competitividade dos campeonatos.
Antes dos Jogos de Londres, Vicente Moura, no seu último mandato como presidente do COP, afirmou: "O importante é termos um rumo sobre o que queremos dentro de 10 anos. Se queremos 10 ou 11 medalhas, rápidas, então temos de mudar de caminho. Há muitos atletas africanos que querem vir para a Europa e as medalhas aparecem", disse, dando ainda o exemplo da delegação espanhola: "30 por cento dos atletas da Espanha não nasceram no território, são estrangeiros". Mais recentemente, Vicente de Moura esclareceu que a ideia de naturalizar atletas africanos com a vista à luta pelas medalhas era uma "formulação irónica".
O futebol sobre estas e outras matérias não tem problemas. Dos 960 jogadores pré-convocados para o Mundial de futebol do Brasil, 106 (11,1%) eram naturalizados. A seleção com mais "estrangeiros" foi a Argélia, que contou com 21 franceses na lista de convocados do técnico Vahid Halilhodzic.
A seleção de Portugal, liderada por Paulo Bento, apresentou seis jogadores naturalizados: Anthony Lopes (Lyon) - França; Pepe (Real Madrid) - Brasil; Rolando (Inter de Milão) - Cabo Verde; William Carvalho (Sporting) - Angola; Éder (Braga) - Guiné BIssau; Nani (Manchester United) - Cabo Verde.
O novo selecionador nacional de futebol, Fernando Santos, assumiu há dois dias: "Não sou adepto de jogadores naturalizados na seleção". E justificou:"Por princípio, não sou um fervoroso adepto de jogadores não portugueses, mas há casos e casos. Alguns jogadores estão cá há muito e criam identidade com o país. Deco veio pequeno e foi crescendo como português. Quando há este sentimento é possível, se não, preferencialmente, não", anotou, frisando: "Farei o possível por encontrar uma solução que não seja essa. Não digo desta água não beberei, mas farei tudo para não beber".
O que é mais vantajoso? Investir fortemente na captação de jovens talentos, mesmo que os resultados a curto prazo não sejam razoáveis ou investir na contratação de atletas formados noutros países?
2 de Outubro de 2014
Os EUA tem o Bernard Lagat... A Espanha o Alemayehu Bezabeh... A Grâ-Bretanha o Mo Farah... e muitos, muitos mais.
O fundista britânico nasceu na Somália, passou a infância em Djibouti e mudou-se para a Grã-Bretanha aos 8 anos. Mo Farah, que venceu os 5.000 e os 10.000 m, treina-se com o americano, de origem cubana, Alberto Salazar e vive em Oregon, EUA.
Já, Bernard Lagat, corredor de 1500 e 5000 metros, nasceu no Quénia em 1974, país pelo qual competiu até 2004. Naturalizou-se norte-americano em março de 2005. Ganhou a medalha prata em Sydney 2000 e o bronze em Atenas 2004, além de onze medalhas de campeonatos mundiais.
"Cada caso é um caso", mas Francis Obikwelu, Naide Gomes e Nelson Évora obtiveram os seu melhores resultados quando viviam há muito em Portugal, representando clubes portugueses e treinando-se com técnicos nacionais.
Obikwelu só depois dos pódios no Europeu de Munique 2002, nos 100 e 200 m, foi viver para Espanha (em outubro de 2003) conquistando a medalha de prata nos 100 m em Atenas 2004.
A Grã-Bretanha, assim como a Espanha e a França, assumiu há muito a politica de naturalização de atletas, que são conhecidos de forma depreciativa pelos setores mais conservadores como "plastic brits". A estratégia foi polémica e sofreu muitas críticas. Todavia, da delegação de 542 atletas que competiram em Londres 2012, 61 eram naturalizados. Entre as 65 medalhas conquistadas, 24 foram arrecadadas pelos chamados "britânicos de plástico".
Pedro Miguel Moura, presidente da federação de ténis de mesa, em entrevista ao Record, depois do titulo Europeu da equipa masculina, defendeu que é altura de a Federação apostar mais na seleção feminina. E o caminho pode passar pela naturalização. "Portugal nunca teve uma atleta feminina de grande referência, mas já esteve presente nos Jogos Olímpicos, em 2012, com a Lei Huang Mendes, uma atleta chinesa naturalizada. A Lei Huang lesionou-se e chamámos outra atleta naturalizada, a Fu Yu", avança o dirigente. “Não é o caminho ideal, nem aquele que preconizamos, mas não hesitaremos em segui-lo se as regras assim o permitirem.”
Há inúmeros jogadores de ténis de mesa que nasceram na China e que representam outros países. Sem dúvida que isso contribui para aumentar o nível técnico e o grau de competitividade dos campeonatos.
Antes dos Jogos de Londres, Vicente Moura, no seu último mandato como presidente do COP, afirmou: "O importante é termos um rumo sobre o que queremos dentro de 10 anos. Se queremos 10 ou 11 medalhas, rápidas, então temos de mudar de caminho. Há muitos atletas africanos que querem vir para a Europa e as medalhas aparecem", disse, dando ainda o exemplo da delegação espanhola: "30 por cento dos atletas da Espanha não nasceram no território, são estrangeiros". Mais recentemente, Vicente de Moura esclareceu que a ideia de naturalizar atletas africanos com a vista à luta pelas medalhas era uma "formulação irónica".
O futebol sobre estas e outras matérias não tem problemas. Dos 960 jogadores pré-convocados para o Mundial de futebol do Brasil, 106 (11,1%) eram naturalizados. A seleção com mais "estrangeiros" foi a Argélia, que contou com 21 franceses na lista de convocados do técnico Vahid Halilhodzic.
A seleção de Portugal, liderada por Paulo Bento, apresentou seis jogadores naturalizados: Anthony Lopes (Lyon) - França; Pepe (Real Madrid) - Brasil; Rolando (Inter de Milão) - Cabo Verde; William Carvalho (Sporting) - Angola; Éder (Braga) - Guiné BIssau; Nani (Manchester United) - Cabo Verde.
O novo selecionador nacional de futebol, Fernando Santos, assumiu há dois dias: "Não sou adepto de jogadores naturalizados na seleção". E justificou:"Por princípio, não sou um fervoroso adepto de jogadores não portugueses, mas há casos e casos. Alguns jogadores estão cá há muito e criam identidade com o país. Deco veio pequeno e foi crescendo como português. Quando há este sentimento é possível, se não, preferencialmente, não", anotou, frisando: "Farei o possível por encontrar uma solução que não seja essa. Não digo desta água não beberei, mas farei tudo para não beber".
O que é mais vantajoso? Investir fortemente na captação de jovens talentos, mesmo que os resultados a curto prazo não sejam razoáveis ou investir na contratação de atletas formados noutros países?
2 de Outubro de 2014
"Corridinhas"Cartas de um leitor ao DN a 15 de Maio de 2014
"Tornou-se moda um arremedo de maratonas de fim de semana entre vários pontos de partida e chegada, sempre entre Lisboa, Belém, linha de Cascais, etc, etc. Estas maratonas até são "aconselhadas" a pessoas que só as consigam em "trajo de passeio", a passo... manifestar a minha contestação a estas ocorrências (pseudo saudáveis) que proporcionam mais prejuízos do que benefícios.Se há, cada vez mais, "benéficos patrocinadores" destas manifestações, cumpre à CML a obrigação de zelar equitativamente pela mais devida utilização da via publica. Independente de outras possíveis alternativas, sugiro a Av. Brasil ou Monsanto , que são mais ecológicas e que não interferem na normal vida dos "alfacinhas". Para informação da CML, informo que , há tempos fui forçado a calcorrear do Corpo Santo até à estação Sul/Sueste por motivo de uma das "corridinhas" a que me refiro. Nesta data, fui forçado a voltar para casa: no autocarro 728 no sentido Restelo/Oriente, só me proporcionavam transporte até Santos!. Considerando eu que a CML deveria prestar mais atenção à autorização destes condições nas condições actuais, deixo aqui o meu pedido de dedicar mais atenção ao bem geral em detrimento de interesses individuais. Abílio Corregedor [[email protected]] |
As Voltas ao Coreto..."Há 40 anos quem não tivesse diploma da 4.ª classe não podia correr e mesmo assim tinha de ser atleta federado, o que significava que todos os que não corriam rápido eram mesmo excluídos! Quanto às senhoras, bom, essas apenas podiam correr provas de... 1.500 metros e quanto aos Veteranos simplesmente não existiam provas para eles" recorda o professor Mário Machado, um dos principais promotores da "corrida para todos", na comemoração do 25 de Abril.
Seria, precisamente, esse movimento de corridas populares "à porta de casa" assente numa ideia de "desporto para todos" e tantas vezes criticado como "As Voltas ao Coreto" que estaria na base do atletismo português e que permitiu ao meio fundo e fundo atingir o nível internacional na década de oitenta e noventa do século passado. Sem esse Movimento Voluntário Desportivo muitos desses atletas não teriam oportunidade sequer de iniciar a sua prática desportiva. Seria ainda esse movimento, nascido no 25 de Abril, em simultâneo com a primeira aposta política "séria" na participação olímpica nos Jogos de Montreal 1976 -- liderado pelo professor Moniz Pereira, acompanhado por um excelente grupo de treinadores --, que permitiria provar que era possível obter resultados "iguais ou melhores" que outros atletas estrangeiros, com melhores condições de treino, levando à conquista das primeiras medalhas olímpicas para o atletismo. 25 de Abril 2014 |
"Desporto não é construir estádios que ficam às moscas"
"Desporto é construir pistas de bicicleta nas ruas, parques, ringues, libertar as cidades do domínio dos carros, isso é desporto."
DN: O Estado Social precisa de ser reformado? “O Público tem que deixar de sustentar o sector privado”, Raquel Varela, Diário de Notícias http://raquelcardeiravarela.wordpress.com/2014/04/18/o-publico-tem-que-deixar-de-sustentar-o-sector-privado-raquel-varela-diario-de-noticias/ |
As estrelas e o trabalho"Sempre me fixei nos jogadores que tinham melhor rendimento e, ao observá-los, compreendi uma coisa: o que marca a diferença entre os bons jogadores e as estrelas é o trabalho", disse Cristiano Ronaldo.O jogador do Real Madrid admitiu ter jogado "com futebolistas com um talento incrível", mas para ele há um critério que não falha: "a regularidade"."Muitos jogadores são bons durante cinco, dez ou quinze jogos. Mas tem que se ser bom durante 60 jogos numa temporada", explicou. 17 de Abril 2014 |
Quando comecei a praticar atletismo, na década de setenta, existiam em Portugal duas pistas de material sintético, vulgarmente chamadas de tartan: Jamor (1972) e Benfica (1973). O Sporting viria depois a construir a terceira pista nacional (1979). Treinei muito em pistas de cinza e cheguei, inclusive, a participar em campeonatos nacionais de juvenis nesse material. Na altura deveria existir à volta de 30 pistas de cinza em Portugal. 25 anos depois, Portugal estava relativamente bem servido dessa infraestrutura fundamental para a prática do Atletismo.
Em 2005, o antigo atleta Luís Leite, vice presidente da Federação de Atletismo, contabilizou 83 pistas.
Já nesse ano, todavia, Luís Leite lamentava: "salvo raríssimas excepções, as preocupações com a manutenção das instalações nunca ou raramente existiram." No seu trabalho "A construção de instalações para o atletismo em Portugal", o antigo saltador em altura concluía:"Outro dos problemas mais tendentes a agudizar-se no curto prazo prende-se com a degradação progressiva das instalações mais antigas, bem como do seu apetrechamento, sem que exista sensibilidade das entidades proprietárias para a sua manutenção e recuperação."
Esta sexta feira, no jornal "A Bola", Mário Santos, ex-presidente da Federação de Canoagem, regista: "Portugal tem 13 CAR, resultado de um avultado investimento total próximo dos 100 milhões de Euros. As autarquias são quem tem assumido, quase na sua totalidade, os custos de manutenção e financiamento."
O Chefe de Missão Olímpica me Londres 2012 conclui: "Agora que fizemos o mais difícil – construir as infraestruturas - é crime público deixá-las ao abandono. O país não pode dar-se ao luxo destas (in)capacidades dos decisores, nem pode perder oportunidades de potenciar investimentos, tanto na vertente desportiva como na económica."
Ao contrário de muitos comentários que tenho lido e ouvido, não concordo que tenhamos pistas de atletismo "a mais" nem centros de alto rendimento "a mais". Temos é estádios de futebol "a mais".
Em rigor, esses espaços desportivos de "Centros de Alto Rendimento" só tem o nome, não passando de infra-estruturas desportiva de qualidade igual ou inferior às que encontramos na Europa. Só que em vez de estarem centradas em dois ou três locais estão dispersas. Isso é bom? é mau?
Quanto às (muitas) pistas, é óbvio que houve excessos a todos os níveis, podíamos ter gasto menos? claro que sim. Porém, o problema não é existirem pistas "a mais", a questão é muitas delas não serem devidamente utilizadas. Mal regulamentadas, estarem sem apoio técnico, sem condições, sem apetrechamento ou pura e simplesmente fechadas a atletas e cidadãos.
Luís Leite e Mários Santos abordam o tema da "Manutenção" com dez anos de diferença e as conclusões são rigorosamente as mesmas: constrói-se infra-estruturas e depois ficam muitas delas fechadas ou não se faz a manutenção até entrarem em rotura.
A manutenção é um problema nacional que afecta não só nas infra-estruturas desportivas.
Vemos isso por todo lado.
Não vou comentar aquilo que não conheço. Mas sobre esta matéria posso dizer que quando um país não consegue preservar, ou manter, aquele que é o mais importante espaço desportivo nacional, agora denominado 'Centro Nacional Desportivo do Jamor', tudo o que possa ser dito sobre outros espaços desportivos não me surpreende.
Aquilo que se passa no Jamor (Abril de 2014) é uma vergonha para todos nós. Poderia especificar ponto por ponto a tal "falta de manutenção" mínima (eu digo mínima) que se exige. O que estamos assistir no Jamor é o exemplo acabado da incapacidade para fazer aquilo que é (repito) o mínimo em tempo de crise - MANUTENÇÃO: limpeza geral, recolha de lixo, corte de relva...
PS: A solução, já encontrada, parece que não resolve o problema: transformar o Jamor numa manta de retalhos e dividir por várias entidades os espaços ai construídos.
4 de Abril de 2014
Em 2005, o antigo atleta Luís Leite, vice presidente da Federação de Atletismo, contabilizou 83 pistas.
Já nesse ano, todavia, Luís Leite lamentava: "salvo raríssimas excepções, as preocupações com a manutenção das instalações nunca ou raramente existiram." No seu trabalho "A construção de instalações para o atletismo em Portugal", o antigo saltador em altura concluía:"Outro dos problemas mais tendentes a agudizar-se no curto prazo prende-se com a degradação progressiva das instalações mais antigas, bem como do seu apetrechamento, sem que exista sensibilidade das entidades proprietárias para a sua manutenção e recuperação."
Esta sexta feira, no jornal "A Bola", Mário Santos, ex-presidente da Federação de Canoagem, regista: "Portugal tem 13 CAR, resultado de um avultado investimento total próximo dos 100 milhões de Euros. As autarquias são quem tem assumido, quase na sua totalidade, os custos de manutenção e financiamento."
O Chefe de Missão Olímpica me Londres 2012 conclui: "Agora que fizemos o mais difícil – construir as infraestruturas - é crime público deixá-las ao abandono. O país não pode dar-se ao luxo destas (in)capacidades dos decisores, nem pode perder oportunidades de potenciar investimentos, tanto na vertente desportiva como na económica."
Ao contrário de muitos comentários que tenho lido e ouvido, não concordo que tenhamos pistas de atletismo "a mais" nem centros de alto rendimento "a mais". Temos é estádios de futebol "a mais".
Em rigor, esses espaços desportivos de "Centros de Alto Rendimento" só tem o nome, não passando de infra-estruturas desportiva de qualidade igual ou inferior às que encontramos na Europa. Só que em vez de estarem centradas em dois ou três locais estão dispersas. Isso é bom? é mau?
Quanto às (muitas) pistas, é óbvio que houve excessos a todos os níveis, podíamos ter gasto menos? claro que sim. Porém, o problema não é existirem pistas "a mais", a questão é muitas delas não serem devidamente utilizadas. Mal regulamentadas, estarem sem apoio técnico, sem condições, sem apetrechamento ou pura e simplesmente fechadas a atletas e cidadãos.
Luís Leite e Mários Santos abordam o tema da "Manutenção" com dez anos de diferença e as conclusões são rigorosamente as mesmas: constrói-se infra-estruturas e depois ficam muitas delas fechadas ou não se faz a manutenção até entrarem em rotura.
A manutenção é um problema nacional que afecta não só nas infra-estruturas desportivas.
Vemos isso por todo lado.
Não vou comentar aquilo que não conheço. Mas sobre esta matéria posso dizer que quando um país não consegue preservar, ou manter, aquele que é o mais importante espaço desportivo nacional, agora denominado 'Centro Nacional Desportivo do Jamor', tudo o que possa ser dito sobre outros espaços desportivos não me surpreende.
Aquilo que se passa no Jamor (Abril de 2014) é uma vergonha para todos nós. Poderia especificar ponto por ponto a tal "falta de manutenção" mínima (eu digo mínima) que se exige. O que estamos assistir no Jamor é o exemplo acabado da incapacidade para fazer aquilo que é (repito) o mínimo em tempo de crise - MANUTENÇÃO: limpeza geral, recolha de lixo, corte de relva...
PS: A solução, já encontrada, parece que não resolve o problema: transformar o Jamor numa manta de retalhos e dividir por várias entidades os espaços ai construídos.
4 de Abril de 2014
A surpresa do norueguês e a formação dos jovens
Congresso Nacional Olímpico
Duas afirmações que retive para partilhar com os meus amigos do FB que, para mim, ilustram bem o perfil dos nossos dirigentes federativos:
Luis Ahrens Teixeira (presidente da Federação de Remo): "O dinheiro é o problema mais fácil de resolver.Esteve cá recentemente um campeão olímpico norueguês que ficou surpreendido com o valor das nossa bolsas para 1200 euros/mês, é o máximo), pois representam três salários mínimos em Portugal, enquanto no seu país ele ganha uma bolsa que representa metade do salário mínimo nacional."
Jorge Vieira (presidente da Federação de Atletismo): "Ao atletismo falta qualidade na prática dos jovens.É preciso financiar a formação de técnicos."
4 de Março 2014
"El sistema que hay en el atletismo español es una mierda."
"Por un lado, la crisis hace que las ayudas sean ridículas, pero hay crisis para todos menos para el presidente y los directivos de la Federación. ¿Por qué no se reducen el sueldo más del 50% como los atletas?""¡Mucha suerte a todos los atletas que quedáis y a por las migajas que quedan en el atletismo!".Sergio Sánchez, campeão espanhol dos 5.000 metros,com teste positivo (EPO), exactamente no campeonato nacional.
Entrevista na Marca em 10/02/2014
http://www.marca.com/2014/02/10/atletismo/1392035454.html
Entrevista na Marca em 10/02/2014
http://www.marca.com/2014/02/10/atletismo/1392035454.html
O que tem em comum, Carlos Sá, Francisco Lufinha e João Garcia?
São atletas portugueses. Desafiam os limites das suas capacidades físicas. Bateram recordes.
Carlos Sá venceu a Ultramaratona de Badwater na Califórnia num percurso de 135 milhas (cerca de 217 quilómetros). O atleta de Barcelos detém ainda o recorde mundial de ascensão de descida ao Aconcágua, uma montanha com 6962 metros de altitude em 15.42 horas. É o primeiro campeão nacional de Ultra Trail, ao vencer o Madeira Island Ultra Trial.
Francisco Lufinha alcançou um recorde mundial em kitesurf. O ex-campeão nacional da modalidade percorreu mais de 300 milhas náuticas, à volta de 570 quilómetros, entre a Foz do Douro e Lagos, em cerca de 29 horas, sem fazer qualquer paragem.
João Garcia tornou-se o décimo alpinista do mundo a ascender às 14 montanhas com mais de 8000 metros existentes no planeta, todas sem recurso a oxigénio artificial e sem carregadores de altitude.
Carlos Sá, Francisco Lufinha e João Garcia conseguiram, graças ao seu empenho, dedicação e esforço resultados de grande mediatismo na nossa comunicação social.
Todos asseguraram grandes apoios de patrocinadores - como poucos atletas de alta competição -, que lhes permitiram dedicar-se de forma profissional aos seus objectivos. Nenhum deles recebe apoios ou bolsas do Estado português.
Carlos Sá lembrou recentemente que não é “um corredor de estrada” e assume mesmo que nunca fez uma maratona (olímpica) mas correu 217 km seguidos, equivalente a cinco maratonas. O minhoto tem um patrocínio da Berg Outdoor e apoios da Sportzone.
Para cumprir o desafio de bater o recorde do mundo de kitesurf, Francisco Lufinha seguiu um programa rigoroso
de preparação físico e nutricional ao longo de vários meses. "É uma ideia com vários anos, graças ao apoio da
MINI Portugal.
O Millennium bcp e o alpinista João Garcia estiveram juntos "À Conquista dos Picos do Mundo", num conjunto de
expedições a atingir o topo das 14 montanhas existentes com mais de 8 mil metros de altitude, juntando-se ao
clube restrito de 14 alpinistas que já o conseguiram fazer.
Carlos Sá, João Garcia e Francisco Lufinha são três bons exemplos de uma realidade desportiva que há muito
existe, à margem do desporto federado e olímpico de alta competição, mas que nos últimos anos tem levado
milhares de pessoas a praticar desportos ditos "radicais".
Atletas que são, para muitos, verdadeiros exemplos de vida. Pessoas "normais" que procuram superar-se em modalidades limite. Em que o primeiro grande objectivo é a superação pessoal.
Ao contrário dos atletas olímpicos, Carlos Sá, Francisco Lufinha e João Garcia tem carreiras desportivas que
são, para o cidadão comum referências a imitar, a seguir como exemplo. Revém-se neles. Todos os anos milhares de cidadão comuns com mais de 30 aos inspiram-se nas suas histórias para correrem uma maratona, subir uma montanha ou fazer uma travessia a nado ou em prancha.
E, por incrível que pareça, isto é incompreensível para a maioria das pessoas ligadas ao desporto dito federado. Como dirigentes, treinadores e atletas que ficam chocados quando se compara o incomparável. Uma medalha num mundial ou jogos olimpicos com um recorde no livro Guinness World Records.
A verdade é que o desporto federado (e não falo só de atletismo) deixou há muito de exercer uma das suas funções básicas para a prática desportiva das populações: "Promover, praticar ou contribuir para o desenvolvimento das respectivas modalidades."
As medalhas como objectivo máximo, as carreiras dos atletas olímpicos fazem esquecer que a existência desses 'campeões' só faz sentido se existirem na base da pirâmide milhares de praticantes que os admirem e acompanhem.
Por isso, para o cidadão comum, para o desportista de pelotão, é tudo muito complicado no desporto federado. Muito inacessível. Há muitas portas fechadas. Muitas barreiras. Muita arrogância. Muito falso vedetismo. Muitos atletas de laboratório. Desumanizados.
O movimento desportivo popular, cresceu à margem do elitista desporto federado, sempre muito criticado e marginalizado por este - lembra-se do tempo em que as corridas de estrada eram chamadas "voltas ao coreto" e as maratonas eram provas para malucos? - , criou o seu próprio espaço nas ruas, no mar, no campo, para milhares de participantes. Hoje um negócio de milhões para os patricinadores e marcas de material desportivo.
As marcas desportivas (e não só) preferem apoiar eventos radicais a provas olímpicas. Atletas de desportos radicais tornaram-se verdadeiros ídolos da juventude. Muitos começaram nos desportos federado mas não atingiram notoriedade acabando por enveredar por modalidades ditas radicais. Outros, muitos, praticaram sempre modalidades de rua associadas aos skates, às bicicletas, às escaladas.
Hoje assistimos a uma meia maratona na Ponte 25 de Abril com 40 mil participantes. No final, a maioria deles nem sequer sabe quem são os atletas de elite que participam, nem quem ganhou.
Nunca se praticou tanta corrida como hoje. Nunca houve tanta prova de estrada como hoje. No entanto, o meio fundo e fundo de alta competição está em profunda crise de valores em Portugal e na Europa.
Nunca se andou tanto de bicicleta em Portugal e nunca a Volta a Portugal esteve tanto em crise.
Nunca vimos tantos surfistas nas praias portuguesas. A maioria deles não tem qualquer vinculo à modalidade
federada. Há semanas assistimos à uma etapa do mundial em Peniche, com os 35 melhores surfistas mundiais. A 500 metros, na mesma praia, dezenas de surfistas praticavam a modalidade indiferentes à elite mundial.
Estou profundamente convencido que a maior dos desportistas populares querem é praticar uma modalidade por puro prazer. Como um desafio pessoal. E não apenas serem espectadores de bancada. Sentem que o desporto de alta competição é tão inacessível como os campeões olímpicos. Endeusados,artificiais e inacessíveis.
Por isso Carlos Sá, Francisco Lufinha e João Garcia tem tanto sucesso. Os patrocinadores perceberam bem isso. Podem chamar-lhes loucos. Que correm riscos de vida desnecessários. Porém, eles são capazes de criar uma empatia e servirem de exemplo. Eles assumiram o papel de verdadeiros heróis, os representantes de uma nova forma de estar e praticar desporto.
Fotos de Jorge Amaral
14 de Novembro 2013
Nasci na Ericeira.
Passei férias junto a Ribeira D'Ilhas
Para os "entendidos", a primeira reserva de surf da Europa e a segunda do Mundo.
Cresci na linha de Cascais.
Frequento há 30 anos a praia de Carcavelos.
Dizem os mais velhos, "o berço" do desenvolvimento do surf em Portugal.
Sempre me fascinou a liberdade, o estilo de vida dos surfistas, associado ao mar, vivido por todos aqueles que diariamente tem a possibilidade de deixar por momentos os problemas do trabalho e 'curtir' umas ondas.
Por vezes, quando numa esplanada via grupos de surfistas em Carcavelos, à espera da melhor onda, dizia, a brincar, para os meus amigos: "um dia compro uma prancha e vou lá para o meio deles".
Eu podia ser surfista.
A verdade é que nunca tentei equilibrar-me sequer sobre uma prancha.
Tecnicamente, pouco sei de uma modalidade que tem uma linguagem muito própria. Que é muito mais que um desporto. Um espectáculo. É um estilo de vida. Uma filosofia.
A minha prática desportiva foi, desde muito cedo, direccionada não para as ondas mas para as pistas do Jamor, hoje ainda a minha segunda casa. Ai cresci... às voltas no tartan de 400 metros.
Nos últimos anos, como jornalistas, acompanhei competições de surf na Ribeira D'Ilhas e em Carcavelos.
Todavia, só há uma semana tive a possibilidade de conviver de perto com a "tribo do surf".
Durante o Moche Rip Curl Pro Portugal 2013, etapa do mundial, assisti fascinado às manobras dos melhores surfistas mundiais na praia dos supertubos, em Peniche. Mas também aos bastidores dessa tribo.
Não diria que foi uma revelação mas foi um novo universo desportivo que se abriu para mim.
Posso estar errado, mas os atletas são todos muito parecidos. No fundo são pessoas como as outras. Com virtudes e defeitos. Tenistas, fundistas, canoistas, ciclistas, ou ginastas de alta competição tem todos muitos aspectos em comum. Diria que o sonho, a ambição, a disciplina, o treino, a competição, até mesmo a frustração e a glória são encarados e vividos de forma muito idêntica pelos melhores.
Ainda assim, diria, que há diferenças no surf. Talvez pela magia do mar, das ondas, do sol, das marés, dos ventos. No
fundo, o contacto direto com a natureza produz uma realidade que destingue o surfista de todos os outros desportistas.A linguagem, os códigos, as técnicas, as regras, a competição são naturalmente diferentes.
Há competição. Há rivalidades. Há profissionalismo. Mas as tonalidades são diversas de outras modalidades.
Recordo, o campeão mundial de surf Joel Parkinson a levar estalo de um 'bodyboarder', por lhe ter ''roubado'' uma onda antes da competição começar. "Quando há poucas ondas e alguém chega e rouba a vez... são coisas que acontecem'', explicou o australiano.
Imaginem o que seria isto em outra modalidade... para não falar no futebol.
Recordo, o jovem Frederico Morais a eliminar o veterano Kelly Slater, 11 vezes campeão mundial, na segunda ronda da etapa portuguesa do mundial. o americano disse: “Não consegui apanhar ondas boas, senti que estava a surfar mal e nos últimos minutos, enquanto a distância pontual aumentava, já sentia que ia perder. O Frederico surfou bem, apanhou as melhores ondas e acabou por ser melhor.”
Discurso de 'humildade' impensável em outros campeões de outras modalidades.
Recordo, estupefacto, as dezenas de surfistas amadores nas ondas da praia de supertubos quando há mesma hora, a 100 metros, estava a decorrer os 'heats' com os 34 melhores surfistas mundiais.
"O importante é aproveitar as ondas", disseram-me
Recordo as palavras de Miguel Pedreira, um dos grandes conhecedores da modalidade, com quem aprendi muito:"Não conheço nenhum futebolista, tenista, ou outro qualquer desportista que fique a olhar para o campo, para o relvado, após a competição, como o surfista fica a olhar para o mar, as ondas, após ter surfado. Isso faz toda a diferença."
25 de Outubro de 2013
https://www.facebook.com/notes/arlindo-camacho/rip-curl-pro-portugal-2013/668974529788197
Passei férias junto a Ribeira D'Ilhas
Para os "entendidos", a primeira reserva de surf da Europa e a segunda do Mundo.
Cresci na linha de Cascais.
Frequento há 30 anos a praia de Carcavelos.
Dizem os mais velhos, "o berço" do desenvolvimento do surf em Portugal.
Sempre me fascinou a liberdade, o estilo de vida dos surfistas, associado ao mar, vivido por todos aqueles que diariamente tem a possibilidade de deixar por momentos os problemas do trabalho e 'curtir' umas ondas.
Por vezes, quando numa esplanada via grupos de surfistas em Carcavelos, à espera da melhor onda, dizia, a brincar, para os meus amigos: "um dia compro uma prancha e vou lá para o meio deles".
Eu podia ser surfista.
A verdade é que nunca tentei equilibrar-me sequer sobre uma prancha.
Tecnicamente, pouco sei de uma modalidade que tem uma linguagem muito própria. Que é muito mais que um desporto. Um espectáculo. É um estilo de vida. Uma filosofia.
A minha prática desportiva foi, desde muito cedo, direccionada não para as ondas mas para as pistas do Jamor, hoje ainda a minha segunda casa. Ai cresci... às voltas no tartan de 400 metros.
Nos últimos anos, como jornalistas, acompanhei competições de surf na Ribeira D'Ilhas e em Carcavelos.
Todavia, só há uma semana tive a possibilidade de conviver de perto com a "tribo do surf".
Durante o Moche Rip Curl Pro Portugal 2013, etapa do mundial, assisti fascinado às manobras dos melhores surfistas mundiais na praia dos supertubos, em Peniche. Mas também aos bastidores dessa tribo.
Não diria que foi uma revelação mas foi um novo universo desportivo que se abriu para mim.
Posso estar errado, mas os atletas são todos muito parecidos. No fundo são pessoas como as outras. Com virtudes e defeitos. Tenistas, fundistas, canoistas, ciclistas, ou ginastas de alta competição tem todos muitos aspectos em comum. Diria que o sonho, a ambição, a disciplina, o treino, a competição, até mesmo a frustração e a glória são encarados e vividos de forma muito idêntica pelos melhores.
Ainda assim, diria, que há diferenças no surf. Talvez pela magia do mar, das ondas, do sol, das marés, dos ventos. No
fundo, o contacto direto com a natureza produz uma realidade que destingue o surfista de todos os outros desportistas.A linguagem, os códigos, as técnicas, as regras, a competição são naturalmente diferentes.
Há competição. Há rivalidades. Há profissionalismo. Mas as tonalidades são diversas de outras modalidades.
Recordo, o campeão mundial de surf Joel Parkinson a levar estalo de um 'bodyboarder', por lhe ter ''roubado'' uma onda antes da competição começar. "Quando há poucas ondas e alguém chega e rouba a vez... são coisas que acontecem'', explicou o australiano.
Imaginem o que seria isto em outra modalidade... para não falar no futebol.
Recordo, o jovem Frederico Morais a eliminar o veterano Kelly Slater, 11 vezes campeão mundial, na segunda ronda da etapa portuguesa do mundial. o americano disse: “Não consegui apanhar ondas boas, senti que estava a surfar mal e nos últimos minutos, enquanto a distância pontual aumentava, já sentia que ia perder. O Frederico surfou bem, apanhou as melhores ondas e acabou por ser melhor.”
Discurso de 'humildade' impensável em outros campeões de outras modalidades.
Recordo, estupefacto, as dezenas de surfistas amadores nas ondas da praia de supertubos quando há mesma hora, a 100 metros, estava a decorrer os 'heats' com os 34 melhores surfistas mundiais.
"O importante é aproveitar as ondas", disseram-me
Recordo as palavras de Miguel Pedreira, um dos grandes conhecedores da modalidade, com quem aprendi muito:"Não conheço nenhum futebolista, tenista, ou outro qualquer desportista que fique a olhar para o campo, para o relvado, após a competição, como o surfista fica a olhar para o mar, as ondas, após ter surfado. Isso faz toda a diferença."
25 de Outubro de 2013
https://www.facebook.com/notes/arlindo-camacho/rip-curl-pro-portugal-2013/668974529788197