Atletismo: Prova de Corta-Mato dos Dez no Barreiro
Barreiro, prova de atletismo "Corta-Mato dos Dez", de características essencialmente coletivas, em que as vitórias individuais foram para os atletas Cipriano Lucas, do Belenenses, e Lucília Soares, do Sport Lisboa e Benfica (SLB).
VER REPORTAGEM AQUI: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/atletismo-prova-de-corta-mato-dos-dez-no-barreiro/
1987/01/05
VER REPORTAGEM AQUI: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/atletismo-prova-de-corta-mato-dos-dez-no-barreiro/
1987/01/05
Portugal Azul
Ezequiel Canário foi campeão nacional de crosse em 1988 e 1989. Um extraordinário corredor, com um estilo de corrida maravilhoso. Destemido, bateu-se com os melhores fundistas da sua geração a nível internacional. Em 1988 venceu à frente de José Regalo e Dionísio Castro. Em 1989 triunfou sobre os irmãos Dionísio e Domingos Castro.
O crosse era a sua área. Terreno onde se sentia mais confortável mas os seus resultados na estrada e na pista mostrarem que a sua polivalência. Na pista, o algarvio treinado por Artur Lara Ramos foi 9.º na final olímpica dos 5000 metros em Los Angeles 1984, “ajudando” António Leitão a chegar ao bronze. Nos 10.000 metros é ainda o sexto português de sempre com 27.50,09 minutos. As lesões atormentaram-no e não terão permitido obter os resultados que naturalmente poderia ter alcançado. Nesta foto, Canário foi 8.º no difícil Mundial de corta mato em Gateshead 1983, onde Carlos Lopes foi 2.º com o mesmo tempo do primeiro, o etíope Bekele Debele, e o terceiro o queniano Some Muge. Mas o que também nos levou a esta publicação foi este inédito equipamento de seleção… azul. As seleções de Portugal no atletismo vestiram de Azul na época de 1983 como patrocinador FPA. Mário Machado, na altura técnico responsável pela marca japonesa representada pela empresa A. Montez, Onitsuka Tiger/ASICS Tiger, recorda-nos que “a opção do azul” foi pensada pelos japoneses que se decidiram pelo azul como forma de melhor promoverem a marca ASICS. Os monárquicos até gostaram do equipamento, mas em 1984 Portugal voltou ao branco, vermelho e verde, da República, equipamento que a seleção vestiu nos Jogos de Los Angeles. A ASICS terá sido a primeira marca, entre as grandes (Nike, Adidas, Puma), com representação direta em Portugal e também a primeira a patrocinar a federação de atletismo (FPA). 08/09/2023 - foto Gettyimages/Mike Powell |
O profissionalismo ou amadorismo de Matos Fernandes
Revista Stadium de 1944, com Matos Fernandes na capa, num artigo técnico assinado por Salazar Carreira
A notícia do Diário Ilustrado de 2 de dezembro de 1956, levanta a questão: Matos Fernandes pode continuar a ser amador? Amadorismo versus profissionalismo hoje não faz qualquer sentido mas em 1956 era tema de notícia e inquérito federativo. O tema do "verdadeiro" amadorismo existiu em Portugal pelo menos até aos anos 80 do seculo XX. A partir de 1970, os requisitos de amadorismo foram gradualmente eliminados da Carta Olímpica. Depois dos Jogos de 1988, o COI decidiu autorizar que atletas profissionais participassem dos Jogos Olímpicos.
Quem foi Matos Fernandes?
“Um dos mais completos atletas portugueses de sempre, Matos Fernandes, de origem angolana mas nascido em Lisboa (a 7-6-1920), teve uma vida inteiramente dedicada ao desporto e ao atletismo em particular, já que os últimos anos viveu-os em Luanda (onde faleceu, em Março de 1991), em altos cargos da hierarquia desportiva angolana.
Foi como barreirista e decatlonista que mais se distinguiu. Foi recordista nacional de 400 m barreiras ao longo de 25 anos, apesar dos 53,7 conseguidos em Barcelona, em 1951, não refletirem todo o seu potencial. Era pouco audacioso, algo timorato, receando a distância. Mas a sua técnica de passagem das barreiras e o seu estilo de corrida empolgavam. Aproveitando a sua habilidade, dedicou-se ao decatlo, disciplina na qual se tornou olímpico, nos Jogos de Helsínquia'1952, e participou no Europeu de Berna'1954.
Terminada a carreira (aos 37 anos), continuou ligado à modalidade e ao Benfica (o único clube que representou) como treinador. A sua filha, Fátima Matos Fernandes, chegou a ser também das melhores atletas nacionais.
Campeão em oito provas
Matos Fernandes continua a ser o atleta português mais vezes campeão nacional de pista, com 37 títulos em oito especialidades diferentes, ao longo de 16 anos (1940 a 1955): 400 m, 110 e 400 m barreiras (12 neste última), altura, comprimento, decatlo (7) e 4x100 e 4x400 m. Bateu (ou igualou) 12 vezes o recorde de 110 m barreiras, cinco vezes o de 400 m barreiras e sete vezes o do decatlo, que manteve ao longo de 18 anos.
RECORD 21/09/2003
MATOS FERNANDES – PRINCIPAIS FEITOS
- Olímpico em Helsínquia’1952 e presente no Europeu de Berna’1954
- Bateu recordes nacionais num total de 40 vezes, com realce para 12 nos 110 m barreiras (9 das quais com 15,3), seis no decatlo e 5 nos 400 m barreiras, estas as suas melhores especialidades
- É o atleta com mais títulos nacionais absolutos (37)
- Na parte final da carreira (1956) passou a exercer as funções de treinador adjunto no Benfica e em 1967 passou a treinador principal.
FICHA DE ATLETA
Nome: Fernando de MATOS FERNANDES
Local/data de nascimento: Lisboa, 7-6-1920 (f. 28-3-1991)
Clubes: SL Benfica (1938 a 1957)
Treinador: Fernando Ferreira
INTERNACIONALIZAÇÕES (11):
- Jogos Olímpicos: 1952 (400 bar. – 4º el.; decatlo – 16º))
- Campeonato da Europa: 1954 (decatlo – 15º)
- 9 encontros com Espanha (5), França do Sul (3) e Bélgica (1), entre 1945 e 1957
ESTATÍSTICA ATLETISMO por Arons de Carvalho
Quem foi Matos Fernandes?
“Um dos mais completos atletas portugueses de sempre, Matos Fernandes, de origem angolana mas nascido em Lisboa (a 7-6-1920), teve uma vida inteiramente dedicada ao desporto e ao atletismo em particular, já que os últimos anos viveu-os em Luanda (onde faleceu, em Março de 1991), em altos cargos da hierarquia desportiva angolana.
Foi como barreirista e decatlonista que mais se distinguiu. Foi recordista nacional de 400 m barreiras ao longo de 25 anos, apesar dos 53,7 conseguidos em Barcelona, em 1951, não refletirem todo o seu potencial. Era pouco audacioso, algo timorato, receando a distância. Mas a sua técnica de passagem das barreiras e o seu estilo de corrida empolgavam. Aproveitando a sua habilidade, dedicou-se ao decatlo, disciplina na qual se tornou olímpico, nos Jogos de Helsínquia'1952, e participou no Europeu de Berna'1954.
Terminada a carreira (aos 37 anos), continuou ligado à modalidade e ao Benfica (o único clube que representou) como treinador. A sua filha, Fátima Matos Fernandes, chegou a ser também das melhores atletas nacionais.
Campeão em oito provas
Matos Fernandes continua a ser o atleta português mais vezes campeão nacional de pista, com 37 títulos em oito especialidades diferentes, ao longo de 16 anos (1940 a 1955): 400 m, 110 e 400 m barreiras (12 neste última), altura, comprimento, decatlo (7) e 4x100 e 4x400 m. Bateu (ou igualou) 12 vezes o recorde de 110 m barreiras, cinco vezes o de 400 m barreiras e sete vezes o do decatlo, que manteve ao longo de 18 anos.
RECORD 21/09/2003
MATOS FERNANDES – PRINCIPAIS FEITOS
- Olímpico em Helsínquia’1952 e presente no Europeu de Berna’1954
- Bateu recordes nacionais num total de 40 vezes, com realce para 12 nos 110 m barreiras (9 das quais com 15,3), seis no decatlo e 5 nos 400 m barreiras, estas as suas melhores especialidades
- É o atleta com mais títulos nacionais absolutos (37)
- Na parte final da carreira (1956) passou a exercer as funções de treinador adjunto no Benfica e em 1967 passou a treinador principal.
FICHA DE ATLETA
Nome: Fernando de MATOS FERNANDES
Local/data de nascimento: Lisboa, 7-6-1920 (f. 28-3-1991)
Clubes: SL Benfica (1938 a 1957)
Treinador: Fernando Ferreira
INTERNACIONALIZAÇÕES (11):
- Jogos Olímpicos: 1952 (400 bar. – 4º el.; decatlo – 16º))
- Campeonato da Europa: 1954 (decatlo – 15º)
- 9 encontros com Espanha (5), França do Sul (3) e Bélgica (1), entre 1945 e 1957
ESTATÍSTICA ATLETISMO por Arons de Carvalho
Os atletas de alta competição e a comunicação social
Quando o professor Pedro Rocha me convidou para realizar um pequeno encontro com os atletas para falarmos sobre o tema “a relação entre os atletas de alta competição e a comunicação social”, aceitei de imediato. Não porque me sinta um especialista na matéria, mas porque é um tema que tem ocupado uma parte substancial da minha vida profissional como jornalista, como assessor de comunicação, mas também um problema que senti como atleta quando tive a felicidade de poder viver uma carreira na alta competição.
Por momentos recordei as dificuldades de comunicação que grandes campeões de Portugal, como Carlos Lopes, Fernando Mamede, Joaquim Agostinho, Eusébio e muitos outros, para fazerem passar a sua mensagem aos jornalistas após uma vitória ou uma derrota.
Mas os tempos eram outros. A formação dos atletas também. O jornalismo desportivo era considerado uma área marginal na comunicação.
Hoje tudo mudou. Os atletas têm outros meios, outra escolaridade. Mais de setenta por cento dos atletas no Rio de Janeiro 2018 tinham frequência universitária. A comunicação social assume um papel incontornável no mundo do Desporto de alta competição cada vez mais espetacular. O jornalismo desportivo passou a ser uma área específica com um peso considerável nos horários e páginas dos jornais, rádios, TV e internet.
Apesar do futebol continuar a monopolizar as atenções dos média, nunca como hoje as modalidades tiveram tanta mediatização. Milhares e milhares de horas em canais temáticos passam as competições, os treinos, mas também as vidas dos atletas.
A internet passou a assumir um papel determinante. Revolucionou a comunicação com os sites dos órgãos de comunicação social, mas também os sites pessoais, os blogues dos atletas, o facebook, o twitter. A comunicação globalizou-se.
Hoje, como sempre, em alta competição o que conta é o resultado..., mas não só.
O resultado de excelência é o mais importante. Para isso os treinos exigentes que todos os dias vocês se submetem.
Mas a comunicação é fundamental. A forma como todos vocês se apresenta antes, durante e depois das competições é determinante para que em casa os vossos fãs vivam, festejem e sofram com as vossas carreiras.
Desde os primeiros encontros internacionais, as primeiras medalhas dos atletas portugueses, muitos anos passaram, mas os problemas de comunicação persistem.
Porém, considero que nos Jogos de Pequim, pela primeira vez, a comunicação teve um impacto nunca visto. Talvez porque terão sido os primeiros jogos verdadeiramente globalizados. Em Lisboa, muitas vezes, as redações sabiam mais do que se passava na aldeia olímpica do que muitos dos dirigentes que aí estavam instalados e dos próprios jornalistas na sala de imprensa. A comunicação voava à velocidade de um simples clique do rato do computador, de um telefonema ou de uma mensagem de sms.
Foi por isso com alguma surpresa que assisti incrédulo às declarações ingénuas, pouco preparadas dos atletas, dirigentes e treinadores antes, durante e depois dos jogos olímpicos. A relação com a comunicação social. As mensagens que se pretendiam enviarem para Portugal e não para os atletas.
A presença de muitos dos jornalistas que aí se encontravam sem qualquer conhecimento da equipa portuguesa. Muitos deles escolhidos para representar os jornais, rádios e canais de televisão não por serem especialistas em modalidades, mas sim como prémio por carreira, na maioria ligados ao futebol… apesar do futebol não ter realizado os mínimos.
Portanto, a “futebolização” dos Jogos. Claro que a forma como foi tratada a informação não poderia escapar a esse estereótipo.
A urgência em enviar “serviço” para Portugal, mas incapazes de contar as verdadeiras “estórias” que se estavam a passar dentro dos campos de jogo e pistas, levou a que a abordagem fosse marcada pelo trivial o caricato o acessório o anedótico.
Isto acompanhado por uma total ausência de acompanhamento ao nível de comunicação de coordenação entre atletas, treinadores, federações e COP.
Claro que as primeiras e grandes vítimas foram os atletas.
Completamente desenquadrados. Apesar da sua cultura e instrução nada ter a ver com a que os atletas dos anos 50, 60 e 70 do século passado, a verdade é que, um após outro, foram caindo nas suas próprias armadilhas de comunicação. O stress competitivo, a pressão das medalhas, as análises antes, durante e depois das competições acabaram por surtir o resultado que todos nós conhecemos. (ver notícias).
O que falhou em Pequim 2008?
Porque é que os atletas tiveram necessidade de justificar o injustificável após os resultados nas competições?
Porque é que os dirigentes fizeram afirmações contraditórias antes, durante e depois dos Jogos?
Porque, pura e simplesmente, não existiu uma estratégia de comunicação na equipa portuguesa?
Porque a comunicação social portuguesa não está minimamente preparada para acompanhar as modalidades e os Jogos Olímpicos?
O que deveria, no meu entender, ter sido feito na área da comunicação e desde logo ser trabalhado junto dos atletas de uma forma permanente.
E aqui dirijo-me especificamente aos atletas.
Sejam genuínos… mas não ingénuos.
Independentemente do resultado, procurem dar o melhor de vocês quando solicitados pelos jornalistas.
Sejam simpáticos. Não é fácil quando se está sobre stress competitivo… ou os resultados não foram positivos.
Não tratem os jornalistas como inimigos… nem como amigos.
Eles estão ali para contar uma “estória” e vão conta-la … por isso que essa seja a vossa “estória”.
Nem todos temos o dom da palavra, mas sejam claros nas afirmações. Procurem a objetividade nas análises dos vossos desempenhos sem cair na crítica ao adversário ou ao árbitro. Ou a desculpa do tempo, do piso, do equipamento ou da piscina… mesmo que seja verdade.
Pensem que a maioria dos jornalistas não conhece a vossa modalidade por isso expliquem de uma forma simples sempre que necessário as regras as técnicas ou os gestos.
Antes de uma grande competição, da mesma forma que visualizam um resultado positivo, estruturem um discurso para cada tipo de resultado ou situação.
Após a competição procurem não falar logo com os jornalistas. Isso nem sempre é possível. Mas tentem descansar um pouco antes da conferência de imprensa.
No momento de falar após a derrota ou do insucesso é que se ê a verdadeira natureza dos atletas… acreditem. Aí é que se vêm os verdadeiros campeões.
Por isso tentem fazer uma autoanálise sem desvalorizar a vitória dos adversários nem arranjarem desculpas.
Tenham, se possível, já um discurso preparado como já disse há pouco.
Em outras situações, como as entrevistas, conferências de imprensa ou presenças televisivas.
Sejam cuidadosos com a imagem. Por vezes a imagem vale mais que o discurso.
Tenham alguma preocupação com a vossa postura física.
Tentem criar o vosso próprio estilo.
Reparem que todos os grandes campeões, independentemente das marcas desportivas, têm o seu estilo, isso é que os distingue. É a sua imagem de marca.
Perguntem sempre ao jornalista qual é o perfil do programa ou entrevista para se prepararem um pouco. Que tipo de perguntas estão a pensar fazer. Qual o tema.
Muitas vezes os jornalistas utilizam a técnica provocatória. Encarem isso como um desafio e não entrem no jogo que os leva a dizer algo que não queiram. E se o tenham feito podem sempre corrigir o erro.
Quando as perguntas que lhes fazem não são agradáveis, ou entrem pela perspectiva privada, podem pura e simplesmente dizer que não querem responder a essa pergunta. O bom profissional irá entender isso e vocês terão o respeito dos média.
19/12/2018
Apresentação do tema: Os atletas e a comunicação social em estágio de atletismo no Jamor.
FOTO: Atletismo 1946 - jornalista e atleta
Por momentos recordei as dificuldades de comunicação que grandes campeões de Portugal, como Carlos Lopes, Fernando Mamede, Joaquim Agostinho, Eusébio e muitos outros, para fazerem passar a sua mensagem aos jornalistas após uma vitória ou uma derrota.
Mas os tempos eram outros. A formação dos atletas também. O jornalismo desportivo era considerado uma área marginal na comunicação.
Hoje tudo mudou. Os atletas têm outros meios, outra escolaridade. Mais de setenta por cento dos atletas no Rio de Janeiro 2018 tinham frequência universitária. A comunicação social assume um papel incontornável no mundo do Desporto de alta competição cada vez mais espetacular. O jornalismo desportivo passou a ser uma área específica com um peso considerável nos horários e páginas dos jornais, rádios, TV e internet.
Apesar do futebol continuar a monopolizar as atenções dos média, nunca como hoje as modalidades tiveram tanta mediatização. Milhares e milhares de horas em canais temáticos passam as competições, os treinos, mas também as vidas dos atletas.
A internet passou a assumir um papel determinante. Revolucionou a comunicação com os sites dos órgãos de comunicação social, mas também os sites pessoais, os blogues dos atletas, o facebook, o twitter. A comunicação globalizou-se.
Hoje, como sempre, em alta competição o que conta é o resultado..., mas não só.
O resultado de excelência é o mais importante. Para isso os treinos exigentes que todos os dias vocês se submetem.
Mas a comunicação é fundamental. A forma como todos vocês se apresenta antes, durante e depois das competições é determinante para que em casa os vossos fãs vivam, festejem e sofram com as vossas carreiras.
Desde os primeiros encontros internacionais, as primeiras medalhas dos atletas portugueses, muitos anos passaram, mas os problemas de comunicação persistem.
Porém, considero que nos Jogos de Pequim, pela primeira vez, a comunicação teve um impacto nunca visto. Talvez porque terão sido os primeiros jogos verdadeiramente globalizados. Em Lisboa, muitas vezes, as redações sabiam mais do que se passava na aldeia olímpica do que muitos dos dirigentes que aí estavam instalados e dos próprios jornalistas na sala de imprensa. A comunicação voava à velocidade de um simples clique do rato do computador, de um telefonema ou de uma mensagem de sms.
Foi por isso com alguma surpresa que assisti incrédulo às declarações ingénuas, pouco preparadas dos atletas, dirigentes e treinadores antes, durante e depois dos jogos olímpicos. A relação com a comunicação social. As mensagens que se pretendiam enviarem para Portugal e não para os atletas.
A presença de muitos dos jornalistas que aí se encontravam sem qualquer conhecimento da equipa portuguesa. Muitos deles escolhidos para representar os jornais, rádios e canais de televisão não por serem especialistas em modalidades, mas sim como prémio por carreira, na maioria ligados ao futebol… apesar do futebol não ter realizado os mínimos.
Portanto, a “futebolização” dos Jogos. Claro que a forma como foi tratada a informação não poderia escapar a esse estereótipo.
A urgência em enviar “serviço” para Portugal, mas incapazes de contar as verdadeiras “estórias” que se estavam a passar dentro dos campos de jogo e pistas, levou a que a abordagem fosse marcada pelo trivial o caricato o acessório o anedótico.
Isto acompanhado por uma total ausência de acompanhamento ao nível de comunicação de coordenação entre atletas, treinadores, federações e COP.
Claro que as primeiras e grandes vítimas foram os atletas.
Completamente desenquadrados. Apesar da sua cultura e instrução nada ter a ver com a que os atletas dos anos 50, 60 e 70 do século passado, a verdade é que, um após outro, foram caindo nas suas próprias armadilhas de comunicação. O stress competitivo, a pressão das medalhas, as análises antes, durante e depois das competições acabaram por surtir o resultado que todos nós conhecemos. (ver notícias).
O que falhou em Pequim 2008?
Porque é que os atletas tiveram necessidade de justificar o injustificável após os resultados nas competições?
Porque é que os dirigentes fizeram afirmações contraditórias antes, durante e depois dos Jogos?
Porque, pura e simplesmente, não existiu uma estratégia de comunicação na equipa portuguesa?
Porque a comunicação social portuguesa não está minimamente preparada para acompanhar as modalidades e os Jogos Olímpicos?
O que deveria, no meu entender, ter sido feito na área da comunicação e desde logo ser trabalhado junto dos atletas de uma forma permanente.
E aqui dirijo-me especificamente aos atletas.
Sejam genuínos… mas não ingénuos.
Independentemente do resultado, procurem dar o melhor de vocês quando solicitados pelos jornalistas.
Sejam simpáticos. Não é fácil quando se está sobre stress competitivo… ou os resultados não foram positivos.
Não tratem os jornalistas como inimigos… nem como amigos.
Eles estão ali para contar uma “estória” e vão conta-la … por isso que essa seja a vossa “estória”.
Nem todos temos o dom da palavra, mas sejam claros nas afirmações. Procurem a objetividade nas análises dos vossos desempenhos sem cair na crítica ao adversário ou ao árbitro. Ou a desculpa do tempo, do piso, do equipamento ou da piscina… mesmo que seja verdade.
Pensem que a maioria dos jornalistas não conhece a vossa modalidade por isso expliquem de uma forma simples sempre que necessário as regras as técnicas ou os gestos.
Antes de uma grande competição, da mesma forma que visualizam um resultado positivo, estruturem um discurso para cada tipo de resultado ou situação.
Após a competição procurem não falar logo com os jornalistas. Isso nem sempre é possível. Mas tentem descansar um pouco antes da conferência de imprensa.
No momento de falar após a derrota ou do insucesso é que se ê a verdadeira natureza dos atletas… acreditem. Aí é que se vêm os verdadeiros campeões.
Por isso tentem fazer uma autoanálise sem desvalorizar a vitória dos adversários nem arranjarem desculpas.
Tenham, se possível, já um discurso preparado como já disse há pouco.
Em outras situações, como as entrevistas, conferências de imprensa ou presenças televisivas.
Sejam cuidadosos com a imagem. Por vezes a imagem vale mais que o discurso.
Tenham alguma preocupação com a vossa postura física.
Tentem criar o vosso próprio estilo.
Reparem que todos os grandes campeões, independentemente das marcas desportivas, têm o seu estilo, isso é que os distingue. É a sua imagem de marca.
Perguntem sempre ao jornalista qual é o perfil do programa ou entrevista para se prepararem um pouco. Que tipo de perguntas estão a pensar fazer. Qual o tema.
Muitas vezes os jornalistas utilizam a técnica provocatória. Encarem isso como um desafio e não entrem no jogo que os leva a dizer algo que não queiram. E se o tenham feito podem sempre corrigir o erro.
Quando as perguntas que lhes fazem não são agradáveis, ou entrem pela perspectiva privada, podem pura e simplesmente dizer que não querem responder a essa pergunta. O bom profissional irá entender isso e vocês terão o respeito dos média.
19/12/2018
Apresentação do tema: Os atletas e a comunicação social em estágio de atletismo no Jamor.
FOTO: Atletismo 1946 - jornalista e atleta
Moniz Pereira e os jornalistas
02 DE AGOSTO DE 2016
Moniz Pereira foi professor, treinador, mas também escreveu para jornais. Durante anos assinou, no jornal A Bola, notícias, reportagens, crónicas que tinham sempre um denominador comum: a capacidade de ver o lado positivo do "seu" atletismo. Os seus princípios desportivos vinham do seu mestre, José Salazar Carreira, atleta, jornalista e dirigente desportivo, que lhe havia dado a conhecer, ainda muito jovem, o jornal L'Équipe, pelo qual aprendeu a ver o mundo do desporto. Não aceitava o "nosso" negativismo, o complexo de inferioridade, a crítica pouco fundamentada. Isso era, talvez, das coisas que mais o colocavam à beira de um ataque de nervos. Vem isto a propósito da minha relação com Moniz Pereira e a relação do professor com os jornalistas, que tão bem conhecia. Uma relação de admiração e respeito que se iniciou em 1977, era ele diretor do Estádio Nacional. Não passava eu de um promissor fundista e era já ele um consagrado treinador, que acabava de levar Carlos Lopes à prata nos 10 000 metros nos Jogos de Montreal'76. Uma amizade que se reaproximou em 1992 quando iniciei a minha carreira de jornalista no DN. Uma relação que frequentemente entrava em rota de colisão. A chamada telefónica era sempre esperada quando escrevia sobre o "seu" Sporting, como foi o caso da transferência de Francis Obikwelu, em 1996, do Restelo para Alvalade, e que o DN terá dado em primeira mão. Do outro lado da linha, o professor, esbaforido, questionava "onde tinha apurado aquela notícia?". Que não tinha sido "oficializada" pelos leões. "Que nada estava acertado". Eu transpirava agarrado ao telefone, tremia e temia mais uma vez o fim de uma relação de amizade e de admiração. No outro dia, como amiúde acontecia, encontrámo-nos no Jamor. Falámos de atletismo, como sempre, menos da transferência de Francis Obikwelu - que acabaria por correr de leão ao peito -, como se nada, rigorosamente nada, se tivesse passado no dia anterior. Moniz Pereira era assim.
Ex-atleta e ex-jornalista do DN
FOTO: Moniz Pereira presta declarações a Carlos Soares.
https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/moniz-pereira-e-os-jornalistas-5317352.html
"Maratona olímpica foi a mais fácil"
DN - 8 de agosto de 2009
Passados 25 anos sobre a vitória em Los Angeles'84, Carlos Lopes fala das suas actividades actuais, marcadas sempre pela suas estratégias como atleta. Assume que estava predestinado a conquistar o ouro, mas diz que este até foi o mais fácil da longa carreira.
Empresário, dirigente, treinador, organizador de eventos. Aquele que, para muitos, ainda é o melhor atleta português de todos os tempos tem dificuldade em definir a sua actual actividade principal. Carlos Lopes, com 62 anos, ainda é um todo-o-terreno como o era há 25 anos quando se sagrou campeão olímpico da maratona e fez subir pela primeira vez a bandeira portuguesa no mastro mais alto do pódio nos Jogos de Los Angeles'84.
Compreensível para quem nunca foi um especialista como atleta de alta-competição. Lopes foi, como ninguém, capaz de se desdobrar com sucesso em áreas tão diversas como o crosse (tricampeão mundial), pista (recordista da Europa e medalha de prata nos10 000) e estrada (campeão olímpico e recordista mundial da maratona). Um curriculo tão vasto, quase impossível de igualar pelos atletas europeus.
"Hoje, o meu dia normal começa por não querer fazer nada [risos]... mas tenho de fazer", assume o antigo campeão, trocando um olhar cúmplice com a sua mulher, Teresa, antiga atleta do Sporting, quando questionado pelo DN, em sua casa de Torres Vedras, sobre as suas actividades, . "Não me falta o que fazer: tenho responsabilidade na Fundação Carlos Lopes, com os meus filhos; sou solicitado com frequência para palestras e encontros nas escolas; organizo eventos da fundação com a Maratona Carlos Lopes em Lisboa; continuo a manter actividades como treinador; sou vice-presidente do Comité Olímpico de Portugal. ... tudo actividades que procuro conciliar", justifica, interrompido por Teresa, que recorda os tempos em que o marido "não parava quieto" mesmo quando era atleta de alta-competição. "Ele era um autêntico 'bicho carpinteiro'. Ao contrário de outros atletas, mantinha sempre actividades paralelas ao treino. Fazia todos os trabalhos de casa. Para ele era uma forma de se distrair das responsabilidades do stress da alta-competição", recorda a antiga meio-fundista do Sporting.
Lopes foi um dos atletas a beneficiar da dispensa de meio dia de trabalho para poder realizar treinos bidiários, no plano que Moniz Pereira apresentou a seguir ao 25 de Abril de 1974 para prepara os Jogos Olímpicos de Montreal'76. "Mesmo nessa altura procurei manter o meu emprego porque sempre defendi que não era bom para mim só pensar em alta competição. Era um descanso activo", recorda, defendendo que "hoje os atletas devem ter outra actividade, seja o estudo ou o trabalho".
Hoje, saudades dos treinos, das competições, das vitórias, das viagens, de uma vida intensa, exigente mas única de um atleta que competiu até aos 40 anos... "não tenho saudades de coisa nenhuma. A única saudade que tenho é dos tostões que poderia ganhar", atirou rápido, a sorrir. "Mas não me custou nada abandonar as pistas. Não fui nem sou saudosista. Sempre tive na minha mente que há um principio e há um fim em tudo. Quando chegou ao momento de dizer que acabou... acabou. Foi o que aconteceu. Nessas coisas sou muito objectivo. Não sou nada daquele tipo de pessoas que passam uma vida a lamentar não poderem continuar a competir", continua, parafraseando o seu treinador Moniz Pereira, numa a das sua letras para fado quando diz que "valeu a pena". "Foram momento únicos. Entre tantas vitórias, tantos trofeus, tantas homenagens , recorda a festa após a medalha de ouro olímpica nos 'leões' de New Jersey, em Newark."
Em sua casa, guarda os troféus conquistados em mais de 20 anos de carreira num espaço ainda fechado que quer organizar como museu, com destaque para a medalha de ouro olímpica.
Visíveis sobre os móveis da sala estão as imagens que recordam muitos desses momentos únicos que viveu. As fotos com os reis de Espanha, com os ex-presidentes Ramalho Eanes e Mário Soares. "Falta ai a foto da visita ao Presidente Ronald Reagan", atira do fundo da sala Carlos Lopes, para a mulher quando esta mostra todas essas fotos onde se destaca os três filhos já crescidos.
"Todas essas recordações", diz Lopes , "fazem-me pensar num tempo em que, mais que tudo, eu ajudei a quebrar barreiras psicológicas. Rasgamos horizontes aos portugueses. No fundo, esta medalha de ouro prova que éramos tão capazes de obter grandes resultados desportivos como qualquer outro povo, desde que tivéssemos condições de treino idênticas", acrescenta. "Andei dois anos e meio a pensar, com convicção, aquilo que queria fazer naquele dia da maratona olímpica. Sabia, com 37 anos, que era a minha última oportunidade para o conseguir e não queria perder essa oportunidade."
"Se tinha confiança? Ter confiança não chega. Estava predestinado ser campeão olímpico", acredita. "Um ano antes tudo se tinha tornado mais claro na minha mente. Apesar de ser o melhor em 5000 e 10 000 metros na época anterior, o facto de não me terem atribuído o titulo de melhor atleta do mundo ...foi um choque. Mas isso acabou por ser um estimulo. Eu quis demonstrar às pessoas que mandavam no atletismo, que era o melhor do mundo" , recorda.
Quase como se tivesse a reviver os momentos daquele que é considerado o ano de ouro para o atletismo português, Lopes quase se ofende quando lhe questionamos que dificuldades encontrou. "Dificuldades, treino, adversários, adaptação, clima. Tudo isso me passou ao lado. Era muito independente o meu maior adversário era os 42 195 metros... esse era o meu problema. Porque não eram os outros que temia." Ainda assim apanhou um susto na segunda circular, em Lisboa, quando foi atropelado a 16 dias da maratona olímpica: "Estava a realizar um treino de 15 km para 43.30 minutos, foi complicado. Consegui partir o vidro do carro. Fiquei todo esfolado, mas não fiquei lesionado."
Chegado o dia da prova, "Eu tinha feito uma excelente preparação para a Maratona e sabia que tinha de resolver o problema e estava preparado para fazer 14 minutos nos últimos 5000 metros. Fiz 14.33 porque não foi preciso fazer melhor. Foi a mais fácil maratona que corri.", atira convicto.
A pressão nunca foi factor limitativo apesar de saber que tinha os portugueses todos a ver a prova de madrugada. "Eu sempre disse que para além de ser uma pessoa muito responsável era, ao mesmo tempo, muito irresponsável, porque sabia o que tinha de fazer mais ao mesmo tempo tinha de me alhear de toda essa pressão. Quando um tipo como eu tem 46 pulsações por minutos, a 45 minutos antes do tiro de partida, acham que está com pressão?", questiona para responder de seguida "faziam da maratona, com como de todas as provas uma festa. Havia um treinador que dizia quando me via antes da prova que parecia que ia para uma festa".
As lesões foram o seu único problema. "Mesmo assim eu não pensava nisso. Mas quanto maior fosse a competição mais descontraído eu estava. Porque no dia-a-dia era uma pessoa nervosa. Melhor, ainda hoje sou." Ainda assim insistimos no que o que mais poderia enervar numa prova? "Que não começasse a horas. Que houvesse atrasos. Se fizesse o aquecimento e a prova se atrasasse ficava todo nervoso, mas mesmo assim concentrava-me logo após o tiro de partida."
Uma paragem abrupta que teve como consequência imediata uma transfiguração na sua imagem. Claro que dos 53 kg de peso em forma para os Jogos de Los Angeles, o antigo fundista solicitado por uma vida de inúmeras obrigações sociais acabou por subir para os "sessenta e tal". "Não, nunca me preocupei com aquilo que os outros diziam. Era normal que quando se deixa de correr em média 36 km por dia iria engordar. É normal que não iria comer como comia e manter esses hábitos para sempre. Passados dois ou três anos passei a ter mais cuidado, principalmente com as bebidas brancas." Justiça, "Vinho? Do Dão e oferecido."
https://www.dn.pt/gente/maratona-olimpica-foi-a-mais-facil-1328937.html
Congresso Internacional da Corrida 2015
Algumas ideias para reflexão numa pequena intervenção sobre: Os 'media' e o fenómeno da corridas Mudança de paradigma A atracção dos ´media´ pelo running O running associado à comunicação O desporto e as corridas nos jornais O negócio do running na imprensa Os critérios da notícia Os novos heróis |
A Prova de Marcha organizada por “Os Sports” (1938)
21 de novembro de 2012
A Prova de Marcha organizada por “Os Sports” (1938)
Foto: Manuel Guerreiro, 4.º classificado, à frente na passagem junto
ao Mosteiro dos Jerónimos. Foto (arquivo) do «Diário de Notícias».
Vem de longa data a tradição de órgãos de imprensa organizarem provas desportivas que ao mesmo tempo divulguem o desporto e promovam a entidade que as leva a cabo. Foi nessa linha que o jornal «Os Sports» organizou uma prova de marcha atlética em que tomaram parte nada menos que 400 participantes.
A prova teve lugar em Lisboa, a 11 de Abril de 1938, e consistiu numa marcha de 25 quilómetros, partindo do Terreiro do Paço e com chegada ao Parque Mayer, num percurso que incluiu a passagem por Alcântara, Algés, Carnaxide e Benfica.
Ao vencedor foi entregue a Taça Djalme Bastos, nome histórico da marcha atlética portuguesa, dominador das provas da disciplina nas (poucas) edições dos Jogos Olímpicos Nacionais do início da década de 1910.
Três dias depois da prova, o «Diário de Notícias» publicava uma reportagem sobre o evento (ainda que se referisse a ele como tendo ocorrido na véspera). Agora, o jornalista e atleta Cipriano Lucas recuperou esta notícia, com a imagem junta. Um contributo muito relevante para o conhecimento histórico da marcha atlética em Portugal, que o blogue «O Marchador» muito agradece a Cipriano Lucas.
A Prova de Marcha organizada por “Os Sports” (1938)
Foto: Manuel Guerreiro, 4.º classificado, à frente na passagem junto
ao Mosteiro dos Jerónimos. Foto (arquivo) do «Diário de Notícias».
Vem de longa data a tradição de órgãos de imprensa organizarem provas desportivas que ao mesmo tempo divulguem o desporto e promovam a entidade que as leva a cabo. Foi nessa linha que o jornal «Os Sports» organizou uma prova de marcha atlética em que tomaram parte nada menos que 400 participantes.
A prova teve lugar em Lisboa, a 11 de Abril de 1938, e consistiu numa marcha de 25 quilómetros, partindo do Terreiro do Paço e com chegada ao Parque Mayer, num percurso que incluiu a passagem por Alcântara, Algés, Carnaxide e Benfica.
Ao vencedor foi entregue a Taça Djalme Bastos, nome histórico da marcha atlética portuguesa, dominador das provas da disciplina nas (poucas) edições dos Jogos Olímpicos Nacionais do início da década de 1910.
Três dias depois da prova, o «Diário de Notícias» publicava uma reportagem sobre o evento (ainda que se referisse a ele como tendo ocorrido na véspera). Agora, o jornalista e atleta Cipriano Lucas recuperou esta notícia, com a imagem junta. Um contributo muito relevante para o conhecimento histórico da marcha atlética em Portugal, que o blogue «O Marchador» muito agradece a Cipriano Lucas.
VIDA DESPORTIVA
A Prova de Marcha organizada por “Os Sports”
reuniu perto de 400 concorrentes, tendo-se classificado mais de metade
Luta magnifica entre os quatro primeiros classificados, da qual saiu vencedor o jovem Alberto de Sousa, em 2 h. 37 m. 51 s.
Constituiu mais um notabilíssimo triunfo, a juntar a tantos outros que “Os Sports” tem conquistado, a organização da “Prova de Marcha”, a que ontem se abalançou aquele nosso brilhante colega, e com a qual proporcionou ao público da capital um espectáculo verdadeiramente empolgante.
Cerca de 400 concorrentes, tantos foram os que partiram do Terreiro do paço para uma marcha de 25 quilómetrosatravés das ruas de Lisboa, que representa um “record” para ter no devido apreço e diz por si só, da força eloquente do desporto e da grande popularidade do jornal organizador.
É certo que uma prova de marcha, pelas suas exigências de ordem técnica, não costuma, mesmo lá fora, reunir tão elevado número de concorrentes: mas “Os Sports”, porque se tratava de fazer ressurgir uma modalidade que em Portugal caíra no esquecimento há mais de quinze anos e constituiu uma novidade para os que responderam à chamada, não quis, ao tentar ressurgir a “Marcha”, exigir dos concorrentes princípios éticos para eles quase desconhecidos.
A grande maioria revelou, porém, aptidões para a prova, em condições de se poder dizer que à modalidade, tão apreciada no estrangeiro, está reservado um futuro muito prometedor em Portugal.
A partida fez-se às 8.30, do Terreiro do Paço, onde já muito antes se tinham reunido os concorrentes e os ciclistas que colaboraram na organização. Os marchadores seguiram a direcção do Cais do Sodré e avenida 24 de Julho, e à passagem em Alcântara-Terra seguia à frente Manuel Guerreiro, que tomara logo de princípio a “cabeça” do pelotão.
Em Algés, e já em Carnaxide, Guerreiro continuava à frente, com mais de um minuto de avanço. Começou nessa altura a perseguição que Alberto Sousa e Ernesto Freitas lhe moveram, e que só teve paragem em Benfica, onde o “leader” foi finalmente alcançado.
A prova decidiu-se de Benfica até ao Parque Mayer. Alberto de Sousa, Ernesto de Freitas e Bernardo Gonçalves, que também se fez notar a certa altura do percurso, chamaram a si os três primeiros lugares, relegando para a quarta posição o homem que já todos julgavam vencedor.
A ordem de chegada dos primeiros 50 foi como segue: 1.º Alberto Sousa, 2 h. 37 m. 51 s.; 2.º Ernesto Freitas, 2 h.38 m. 18 s.; 3.º Armando Gonçalves, 2 h. 38 m. 28 s.; 4.º Manuel Guerreiro, 2 h. 39 m. 4 s.; 5.º José da Silva, 2 h. 39 m. 51 s.; 6.º Joaquim Alvarez, 2 h. 40 m. 26 s.; 7.º Joaquim Carvalho, 2 h. 41 m. 50 s.; 8.º Manuel Pereira, 2 h. 41 m. 59 s.; 9.º Joaquim Tavares, 2 h. 42 m. 30 s.; 10.º António Henriques, 2 h. 42 m. 35 s.; 11.º Manuel Coelho; 12.º, Josefino Nunes; 13.º Alípio Ferreira; 14.º Avelino Pinto; 15.º Viriato Lira; 16.º Luiz Baião; 17.º António Costa; 18.º João Martins; 19.º Guilherme Duarte; 20.º Diógenes Gomes; 21.º Fernando Silva; 22.º André Parente; 23.º José Amorim; 24.ºManuel Lopes; 25.º José Almeida Santos; 26.º José Silva Marques; 27.º Joaquim Augusto; 28.º Urbano Santos; 29.º Luiz Figueiredo; 30.º António Matos; 31.º Artur Barros; 32.º Carlos Figueira; 33.º Joaquim Lourenço; 34.º Augusto Matos Henriques; 35.º Joaquim Carlos Silva; 36.º José Maria Dias; 37.º Francisco Baptista; 38.º Gustavo Henriques Almeida; 39.º Francisco Cunha; 40.º Antunes Silva; 41.º António Santos; 42.º Manuel Ribeiro; 43.º Raul Silva; 44.º Alfredo Rocha; 45.º Eduardo Faria; 46.º João Martins; 47.º Agostinho Silva; 48.º José Carlos da Silva; 49.º Otilio Boliqueime; 50.º Aires Baptista.
Registou-se a chegada de 219 concorrentes. O vencedor ganhou direito à posse da taça “Djalme Bastos”, instituída por “Os Sports”, em homenagem ao antigo marchador português e “recordman” dos cinco quilómetros. O 2.º classificado recebeu também uma taça e os dez seguintes medalhas.
http://omarchador.blogspot.pt/2012/11/
Da glória à depressão num penoso caminho dos jovens campeões
06 DE FEVEREIRO DE 2011 - CIPRIANO LUCAS E SÍLIVIA FRECHES
Vanessa Fernandes interrompeu a sua carreira aos 25 anos. A triatleta é mais um exemplo de jovens que após o sucesso descem ao inferno.
Medo de falhar, dificuldades em lidar com a pressão, perda de confiança, desmotivação, cansaço físico e psicológico são apenas algumas das inúmeras razões que podem explicar o abandono precoce de jovens atletas de alta competição. Os campeões são afinal "pessoas frágeis", como as outras que "lidam com di-ficuldade" com o stress e com o insucesso. "Entram em depressão", quando começam a questionar as razões que os levaram a uma actividade altamente exigente física e psicologicamente e da qual já não tiram prazer, explicam os psicólogos.
Vanessa Fernandes foi a última "vítima" da sua própria vontade, e de todos os que a rodeiam, no treino e na vida, de tudo conquistar. Na sexta-feira, aos 25 anos, anunciou que iria fazer uma interrupção temporária da sua carreira. A benfiquista terá hipotecado a possibilidade de participar nos Jogos de Londres 2012. "Por razões de saúde que me têm impedido nos últimos meses de me dedicar à prática da modalidade que abracei e que tantas alegrias me proporcionou, queria comunicar- -vos a minha intenção de interromper temporariamente a prática desportiva", disse a atleta medalha de prata em Pequim, lançando a toalha ao chão como o fizeram tanto outras jovens campeões (ver outros casos).
Para o psicólogo Sidónio Serpa, quando os jovens entram num processo de alto rendimento, "a especialização ainda é maior, deixa de existir tempo para socializar, para os amigos. Nessa transição tende a existir uma processo de reorganização social. É aqui que acontece a maioria dos abandonos".
O melhor do Diário de Notícias no seu emailAgora pode subscrever gratuitamente as nossas newsletters e receber o melhor da atualidade com a qualidade Diário de Notícias.
SUBSCREVERPara o ex-praticante de ginástica e professor, a gestão da carreira, a forma como o atleta se envolve no alto rendimento e as pressões sociais criadas por familiares e amigos são factores determinantes para um abandono precoce. "Nos atletas de alta competição a origem social pode ser importante. A redução da vida a essa prática é altamente redutora. A inexistência de outras actividades paralelas pode provocar problemas aos atletas que quando falham no desporto falham na vida", acrescenta.
As mesmas razões levam Hugo Sousa, ex-empresário de Vanessa Fernandes, a defender que "as pessoas que existem nas vidas dos atletas criam muita pressão. As famílias projectam-se demasiado. Os pais acabam por ver os filhos como super-heróis. Os atletas não querem desiludir os pais. Por outro lado, pais, treinadores, dirigentes, empresários e patrocinadores, muitas vezes, pensam mais nos seus benefícios que nos problemas dos atletas, levando à falta entendimento na gestão das carreiras. Para o actual empresário de Jessica Augusto, campeã da Europa de crosse, " o atleta não pode existir isolado na alta competição. Tem de estar integrado numa equipa". Ainda assim, continua a existir um equilíbrio muito frágil. Muita pressão. "Falta definir objectivos a longo prazo. Em muitos desses casos os objectivos são atingidos fácil demais. Há atletas que em dez anos conseguem grandes resultados e pouco depois atingem situações de fracasso. Muitos acabam por desistir numa competição e não sabem porquê. As razões podem estar no medo de falhar. Não há verdades absolutas."
https://www.dn.pt/desporto/interior/da-gloria-a-depressao-num-penoso-caminho-dos-jovens-campeoes-1776880.html
Vanessa Fernandes interrompeu a sua carreira aos 25 anos. A triatleta é mais um exemplo de jovens que após o sucesso descem ao inferno.
Medo de falhar, dificuldades em lidar com a pressão, perda de confiança, desmotivação, cansaço físico e psicológico são apenas algumas das inúmeras razões que podem explicar o abandono precoce de jovens atletas de alta competição. Os campeões são afinal "pessoas frágeis", como as outras que "lidam com di-ficuldade" com o stress e com o insucesso. "Entram em depressão", quando começam a questionar as razões que os levaram a uma actividade altamente exigente física e psicologicamente e da qual já não tiram prazer, explicam os psicólogos.
Vanessa Fernandes foi a última "vítima" da sua própria vontade, e de todos os que a rodeiam, no treino e na vida, de tudo conquistar. Na sexta-feira, aos 25 anos, anunciou que iria fazer uma interrupção temporária da sua carreira. A benfiquista terá hipotecado a possibilidade de participar nos Jogos de Londres 2012. "Por razões de saúde que me têm impedido nos últimos meses de me dedicar à prática da modalidade que abracei e que tantas alegrias me proporcionou, queria comunicar- -vos a minha intenção de interromper temporariamente a prática desportiva", disse a atleta medalha de prata em Pequim, lançando a toalha ao chão como o fizeram tanto outras jovens campeões (ver outros casos).
Para o psicólogo Sidónio Serpa, quando os jovens entram num processo de alto rendimento, "a especialização ainda é maior, deixa de existir tempo para socializar, para os amigos. Nessa transição tende a existir uma processo de reorganização social. É aqui que acontece a maioria dos abandonos".
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SUBSCREVERPara o ex-praticante de ginástica e professor, a gestão da carreira, a forma como o atleta se envolve no alto rendimento e as pressões sociais criadas por familiares e amigos são factores determinantes para um abandono precoce. "Nos atletas de alta competição a origem social pode ser importante. A redução da vida a essa prática é altamente redutora. A inexistência de outras actividades paralelas pode provocar problemas aos atletas que quando falham no desporto falham na vida", acrescenta.
As mesmas razões levam Hugo Sousa, ex-empresário de Vanessa Fernandes, a defender que "as pessoas que existem nas vidas dos atletas criam muita pressão. As famílias projectam-se demasiado. Os pais acabam por ver os filhos como super-heróis. Os atletas não querem desiludir os pais. Por outro lado, pais, treinadores, dirigentes, empresários e patrocinadores, muitas vezes, pensam mais nos seus benefícios que nos problemas dos atletas, levando à falta entendimento na gestão das carreiras. Para o actual empresário de Jessica Augusto, campeã da Europa de crosse, " o atleta não pode existir isolado na alta competição. Tem de estar integrado numa equipa". Ainda assim, continua a existir um equilíbrio muito frágil. Muita pressão. "Falta definir objectivos a longo prazo. Em muitos desses casos os objectivos são atingidos fácil demais. Há atletas que em dez anos conseguem grandes resultados e pouco depois atingem situações de fracasso. Muitos acabam por desistir numa competição e não sabem porquê. As razões podem estar no medo de falhar. Não há verdades absolutas."
https://www.dn.pt/desporto/interior/da-gloria-a-depressao-num-penoso-caminho-dos-jovens-campeoes-1776880.html
Os campeões que Portugal esqueceu
1 de Março de 2011
Desde 2006 que os antigos campeões têm, por lei, direito a uma subvenção temporária de reintegração que nunca foi paga. Duas dezenas de ex-atletas candidataram-se a esse apoio pós-carreira. Muitos, sem recursos económicos nem formação, caíram numa situação de precariedade social.
Conquistaram medalhas olímpicas, mundiais e europeias. Bateram recordes. Surgiram com frequência nas televisões e nos jornais. Viajaram pelo mundo. Foram reconhecidos na rua e passaram a ser referência para os mais jovens. Alguns assinaram contratos publicitários e receberam subsídios de clubes e bolsas do Estado. Passaram os anos de juventude numa total dedicação ao desporto. A maioria não estudou. Poucos meses depois de arrumarem os equipamentos caíram no esquecimento. Com pouco mais de 30 anos, sem profissão nem formação, alguns deles investem em pequenos negócios em que só perdem dinheiro. Todas as portas se fecham. Os dirigentes políticos e desportivos esquecem-nos. Muitos passam dificuldades económicas.
Desesperam. Pedem ajuda, mas quem os idolatrou vira-lhes as costas. Hoje, campeões como Albertina Dias, que representou Portugal em três jogos Olímpicos, e a lançadora Teresa Machado, em quatro Jogos, bateram no fundo. Ambas tiveram de recorrer a trabalhos de empregada doméstica para sobreviver. Albertina Dias “Estou cansada de pedir ajuda e de falsas promessas. Decidi colocar as minhas medalhas à venda na Internet”, disse a campeã mundial de crosse em Amorebieta 93, agora com 46 anos. Antes, após o abandono da competições, bateu em inúmeras portas. Chegou a desenvolver um trabalho como monitora de atletismo em Gaia. Foi dispensada.
Apesar de existir um decreto-lei que contempla a integração de atletas no pós-carreira, este nunca foi aplicado (ver peça secundária). A única coisa que o País tem para lhes oferecer é uma colaboração avulso num projecto de Marcha e Corrida, em que poderão receber 120 euros para se deslocarem a escolas ou juntas de freguesia. Rita Borralho, maratonista olímpica em Los Angeles 1984, é outro caso de total indiferença por parte das instituições desportivas. “Bati a inúmeras portas e não tinham nada para mim. Nem nas federações, nem nas câmaras me quiseram receber”, recorda a vencedora da Maratona de Lisboa em 1991. “Quando venci a maratona de New Jersey, nos Estados Unidos, fui convidada para desenvolver actividades na área do atletismo no liceu local. Em Portugal, seria impensável aproveitar os seus ídolos em proveito das comunidades escolares. Nos EUA, todos os campeões estão integrados socialmente, recebendo apoios dos patrocinadores, sendo pagos para dar conferências e promovendo marcas desportivas”, revela para acrescentar de seguida: “Naquele tempo, por questões patrióticas, disse não ao convite americano, mas estou arrependida, até porque tinha a possibilidade de integração na comunidade luso-americana também como comentadora desportiva no jornal de língua portuguesa.” Hoje, revela a tricampeã nacional da maratona, “estou a desenvolver um projecto totalmente privado de assessoria desportiva de atendimento a pessoas que procuram a prática desportiva com atitude e qualidade de vida. Não quero treinar atletas de alto rendimento.” Antes, esteve no Brasil, durante mais de uma década, tendo regressado a Portugal para ser operada a um problema pulmonar. Teresa Machado A única lançadora portuguesa a chegar a uma final olímpica, recorda com amargura: “Antigamente batiam-me nas costas e prometiam mundos e fundos quando chegasse ao fim de carreira. Depois nada.”.
Teresa Machado, recordista de Portugal dos lançamentos do peso e disco, terminou, aos 39 anos, a sua longa ligação de 24 anos ao atletismo. A finalista do lançamento do disco nos Mundiais de Atenas 97, com um sexto lugar confessa: “Já abandonei a ideia de poder continuar ligada ao desporto como treinadora, ou outra actividade qualquer, porque as pessoas pensam que trabalhamos sem ganhar nada. Por outro lado, há muita falta de emprego e nós atletas acabamos por passar ao lado de muita coisa. Se estivesse noutro país, certamente que estaria enquadrada numa escola ou clube. Aqui, toda a gente me conhecia enquanto era campeã mas, agora todos se esquecem”, lamenta a atleta, que já foi mulher-a-dias e agora trabalha em fisioterapia com idosos. Moinhos Segundo estudo da empresa alemã Schips Finanz, 50% dos futebolistas terminam a carreira com dificuldades financeiras. “Cerca de 30% dos jogadores em actividade estão perto da ruína financeira, e 50% deles ficam em sérias dificuldades quando terminam a carreira”, diz esse estudo. Muitos têm vergonha de dar a cara. Em Outubro de 2010, o sindicato dos jogadores ajudou o antigo futebolista Moinhos com cinco mil euros. Tricampeão nacional pelo Benfica na década de 70 foi submetido a um transplante do foro cardíaco.
• Pós-carreira. Decreto-lei Apoio de reintegração de ex-atletas olímpicos “Aos praticantes desportivos de alto rendimento, que tenham integrado de forma seguida ou interpolada o Projecto Olímpico ou Paralímpico por um mínimo de oito anos, é-lhes garantido, após o termo da sua carreira, através do Decreto-Lei n.º 10/2009, de 12 de Janeiro o direito a uma subvenção temporária de reintegração, de montante idêntico ao nível da última bolsa que auferiram no âmbito daqueles projectos, a suportar pelo IDP, com os seguintes limites: a) Atletas medalhados: subvenção mensal correspondente a um mês (1375 euros) por cada semestre, até ao limite de 36 meses (48 600 euros); b) Finalistas (8 primeiros): subvenção mensal correspondente a um mês (1100) por cada semestre, até ao limite de 24 meses (26 400); c) Nos restantes casos: subvenção mensal correspondente a um mês (825) por semestre, até ao limite de 16 meses (13 200).”
Ex-olímpicos esperam apoios há 20 anos Os ex-atletas olímpicos têm direito, desde 2006, a uma verba de reintegração social após terminarem a carreira desportiva. Todavia, passados cinco anos, ainda nenhum atleta beneficiou desse apoio. Neste momento, o DN sabe que cerca de duas dezenas de atletas, em que se incluem António Pinto e Teresa Machado, aguardam a decisão final do Instituto do Desporto (IDP) sobre os dossiês de candidaturas de antigos campeões que completaram os oito anos no projecto olímpico, mínimos exigidos para ter acesso a essa verba (ver quadro). Em 1993, o governo de Cavaco Silva decidiu criar uma lei para compensar os ex-atletas pelos altos serviços prestados ao País com as suas vitórias internacionais. Definiu uma verba de 10 000 contos (50 000 euros), em forma de seguro, para a integração social de todos os atletas que durante 12 anos integrassem a alta competição. Todavia, 18 anos e cinco governos depois (com os primeiros-ministros António Guterres, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e José Sócrates), esse projecto de lei nunca foi efectivado. Finalmente, em 2009 – Decreto-Lei n.º 10/2009, de 12 de Janeiro –, foi consagrado um conjunto de medidas de apoio aos atletas após as suas carreiras, em obediência à Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto. Neste diploma, o número mínimo de anos em alta competição foi reduzido de 12 para oito, mas a verba prevista em 1993 (50 000 euros) foi reduzida e agora é atribuída em função dos níveis alcançados pelos atletas (medalhado, finalista e semifinalista). Assim, na melhor das hipóteses, só os atletas medalhados poderão receber 48 600 euros (1350 euros a multiplicar por 36 meses).
• Internacionais. George best O ex-jogador do Manchester United é considerado um dos melhores futebolistas de todos os tempos. Os excessos, as noitadas e, principalmente, o álcool arruinaram a sua carreira. Em 1983, após a reforma, o problema do alcoolismo piorou. Best continuou a surgir nas páginas dos jornais. Mas agora, as primeiras páginas eram os incidentes na vida privada e violência em bares. Em 1984 foi preso por conduzir embriagado e agredir um polícia. Decretou oficialmente falência. Morreu com apenas 59 anos. Casagrande Ex-jogador do FC Porto, vencedor da Taça dos Campeões em 1987, assumiu a sua dependência das drogas, admitindo que começou a consumir quando ainda era jogador profissional e revelou que teve uma overdose em frente ao filho de 13 anos. O brasileiro faz parte dos 50% dos futebolistas, que terminam a carreira com dificuldades económicas. Glenn Helder O holandês não se destacou particularmente no Benfica. A sua passagem pela Luz representou mesmo o princípio de um declínio abrupto da carreira, que levou o jogador a entrar numa série de problemas psicológicos e, inclusivamente, a ir parar à cadeia. Ray williams O antigo basquetebolista faz parte dos 60% de jogadores da NBA que vão à falência cinco anos depois de abandonarem a competição. Em 1977, Ray Williams foi o 10.º basquetebolista a ser escolhido no draft da NBA. Retirou-se em 1987, numa altura em que ganhava cerca de 3,5 milhões de euros/ano. Distribuiu mansões pela família, comprou carros e deu dinheiro a quem lhe pedia ajuda. Em 1994 estava falido. garrincha “O anjo das pernas tortas” ajudou a conquistar para o Brasil os Mundiais de 1958 e de 1962. Um ano depois a carreira do jogador entra em decadência quando começa a sofrer de uma artrose no joelho. Garrincha enfrenta, a partir daí, uma série de episódios trágicos na sua vida: tentativas de suicídio, acidentes de automóvel e dezenas de internamentos por alcoolismo, que o vitimizam no ano de 1983.
• Marcha/corrida. Formação para antigos campeões O Programa Nacional de Marcha e Corrida promoveu no último fim-de-semana um plano de formação de antigos praticantes com um curso destinado a requalificar a formação técnica destes ex-praticantes. Aurora Cunha, Manuela Machado, António Leitão, Fernando Mamede estão entre os antigos campeões
confirmados nessa acção de requalificação.
cipriano lucas
DN
Desde 2006 que os antigos campeões têm, por lei, direito a uma subvenção temporária de reintegração que nunca foi paga. Duas dezenas de ex-atletas candidataram-se a esse apoio pós-carreira. Muitos, sem recursos económicos nem formação, caíram numa situação de precariedade social.
Conquistaram medalhas olímpicas, mundiais e europeias. Bateram recordes. Surgiram com frequência nas televisões e nos jornais. Viajaram pelo mundo. Foram reconhecidos na rua e passaram a ser referência para os mais jovens. Alguns assinaram contratos publicitários e receberam subsídios de clubes e bolsas do Estado. Passaram os anos de juventude numa total dedicação ao desporto. A maioria não estudou. Poucos meses depois de arrumarem os equipamentos caíram no esquecimento. Com pouco mais de 30 anos, sem profissão nem formação, alguns deles investem em pequenos negócios em que só perdem dinheiro. Todas as portas se fecham. Os dirigentes políticos e desportivos esquecem-nos. Muitos passam dificuldades económicas.
Desesperam. Pedem ajuda, mas quem os idolatrou vira-lhes as costas. Hoje, campeões como Albertina Dias, que representou Portugal em três jogos Olímpicos, e a lançadora Teresa Machado, em quatro Jogos, bateram no fundo. Ambas tiveram de recorrer a trabalhos de empregada doméstica para sobreviver. Albertina Dias “Estou cansada de pedir ajuda e de falsas promessas. Decidi colocar as minhas medalhas à venda na Internet”, disse a campeã mundial de crosse em Amorebieta 93, agora com 46 anos. Antes, após o abandono da competições, bateu em inúmeras portas. Chegou a desenvolver um trabalho como monitora de atletismo em Gaia. Foi dispensada.
Apesar de existir um decreto-lei que contempla a integração de atletas no pós-carreira, este nunca foi aplicado (ver peça secundária). A única coisa que o País tem para lhes oferecer é uma colaboração avulso num projecto de Marcha e Corrida, em que poderão receber 120 euros para se deslocarem a escolas ou juntas de freguesia. Rita Borralho, maratonista olímpica em Los Angeles 1984, é outro caso de total indiferença por parte das instituições desportivas. “Bati a inúmeras portas e não tinham nada para mim. Nem nas federações, nem nas câmaras me quiseram receber”, recorda a vencedora da Maratona de Lisboa em 1991. “Quando venci a maratona de New Jersey, nos Estados Unidos, fui convidada para desenvolver actividades na área do atletismo no liceu local. Em Portugal, seria impensável aproveitar os seus ídolos em proveito das comunidades escolares. Nos EUA, todos os campeões estão integrados socialmente, recebendo apoios dos patrocinadores, sendo pagos para dar conferências e promovendo marcas desportivas”, revela para acrescentar de seguida: “Naquele tempo, por questões patrióticas, disse não ao convite americano, mas estou arrependida, até porque tinha a possibilidade de integração na comunidade luso-americana também como comentadora desportiva no jornal de língua portuguesa.” Hoje, revela a tricampeã nacional da maratona, “estou a desenvolver um projecto totalmente privado de assessoria desportiva de atendimento a pessoas que procuram a prática desportiva com atitude e qualidade de vida. Não quero treinar atletas de alto rendimento.” Antes, esteve no Brasil, durante mais de uma década, tendo regressado a Portugal para ser operada a um problema pulmonar. Teresa Machado A única lançadora portuguesa a chegar a uma final olímpica, recorda com amargura: “Antigamente batiam-me nas costas e prometiam mundos e fundos quando chegasse ao fim de carreira. Depois nada.”.
Teresa Machado, recordista de Portugal dos lançamentos do peso e disco, terminou, aos 39 anos, a sua longa ligação de 24 anos ao atletismo. A finalista do lançamento do disco nos Mundiais de Atenas 97, com um sexto lugar confessa: “Já abandonei a ideia de poder continuar ligada ao desporto como treinadora, ou outra actividade qualquer, porque as pessoas pensam que trabalhamos sem ganhar nada. Por outro lado, há muita falta de emprego e nós atletas acabamos por passar ao lado de muita coisa. Se estivesse noutro país, certamente que estaria enquadrada numa escola ou clube. Aqui, toda a gente me conhecia enquanto era campeã mas, agora todos se esquecem”, lamenta a atleta, que já foi mulher-a-dias e agora trabalha em fisioterapia com idosos. Moinhos Segundo estudo da empresa alemã Schips Finanz, 50% dos futebolistas terminam a carreira com dificuldades financeiras. “Cerca de 30% dos jogadores em actividade estão perto da ruína financeira, e 50% deles ficam em sérias dificuldades quando terminam a carreira”, diz esse estudo. Muitos têm vergonha de dar a cara. Em Outubro de 2010, o sindicato dos jogadores ajudou o antigo futebolista Moinhos com cinco mil euros. Tricampeão nacional pelo Benfica na década de 70 foi submetido a um transplante do foro cardíaco.
• Pós-carreira. Decreto-lei Apoio de reintegração de ex-atletas olímpicos “Aos praticantes desportivos de alto rendimento, que tenham integrado de forma seguida ou interpolada o Projecto Olímpico ou Paralímpico por um mínimo de oito anos, é-lhes garantido, após o termo da sua carreira, através do Decreto-Lei n.º 10/2009, de 12 de Janeiro o direito a uma subvenção temporária de reintegração, de montante idêntico ao nível da última bolsa que auferiram no âmbito daqueles projectos, a suportar pelo IDP, com os seguintes limites: a) Atletas medalhados: subvenção mensal correspondente a um mês (1375 euros) por cada semestre, até ao limite de 36 meses (48 600 euros); b) Finalistas (8 primeiros): subvenção mensal correspondente a um mês (1100) por cada semestre, até ao limite de 24 meses (26 400); c) Nos restantes casos: subvenção mensal correspondente a um mês (825) por semestre, até ao limite de 16 meses (13 200).”
Ex-olímpicos esperam apoios há 20 anos Os ex-atletas olímpicos têm direito, desde 2006, a uma verba de reintegração social após terminarem a carreira desportiva. Todavia, passados cinco anos, ainda nenhum atleta beneficiou desse apoio. Neste momento, o DN sabe que cerca de duas dezenas de atletas, em que se incluem António Pinto e Teresa Machado, aguardam a decisão final do Instituto do Desporto (IDP) sobre os dossiês de candidaturas de antigos campeões que completaram os oito anos no projecto olímpico, mínimos exigidos para ter acesso a essa verba (ver quadro). Em 1993, o governo de Cavaco Silva decidiu criar uma lei para compensar os ex-atletas pelos altos serviços prestados ao País com as suas vitórias internacionais. Definiu uma verba de 10 000 contos (50 000 euros), em forma de seguro, para a integração social de todos os atletas que durante 12 anos integrassem a alta competição. Todavia, 18 anos e cinco governos depois (com os primeiros-ministros António Guterres, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e José Sócrates), esse projecto de lei nunca foi efectivado. Finalmente, em 2009 – Decreto-Lei n.º 10/2009, de 12 de Janeiro –, foi consagrado um conjunto de medidas de apoio aos atletas após as suas carreiras, em obediência à Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto. Neste diploma, o número mínimo de anos em alta competição foi reduzido de 12 para oito, mas a verba prevista em 1993 (50 000 euros) foi reduzida e agora é atribuída em função dos níveis alcançados pelos atletas (medalhado, finalista e semifinalista). Assim, na melhor das hipóteses, só os atletas medalhados poderão receber 48 600 euros (1350 euros a multiplicar por 36 meses).
• Internacionais. George best O ex-jogador do Manchester United é considerado um dos melhores futebolistas de todos os tempos. Os excessos, as noitadas e, principalmente, o álcool arruinaram a sua carreira. Em 1983, após a reforma, o problema do alcoolismo piorou. Best continuou a surgir nas páginas dos jornais. Mas agora, as primeiras páginas eram os incidentes na vida privada e violência em bares. Em 1984 foi preso por conduzir embriagado e agredir um polícia. Decretou oficialmente falência. Morreu com apenas 59 anos. Casagrande Ex-jogador do FC Porto, vencedor da Taça dos Campeões em 1987, assumiu a sua dependência das drogas, admitindo que começou a consumir quando ainda era jogador profissional e revelou que teve uma overdose em frente ao filho de 13 anos. O brasileiro faz parte dos 50% dos futebolistas, que terminam a carreira com dificuldades económicas. Glenn Helder O holandês não se destacou particularmente no Benfica. A sua passagem pela Luz representou mesmo o princípio de um declínio abrupto da carreira, que levou o jogador a entrar numa série de problemas psicológicos e, inclusivamente, a ir parar à cadeia. Ray williams O antigo basquetebolista faz parte dos 60% de jogadores da NBA que vão à falência cinco anos depois de abandonarem a competição. Em 1977, Ray Williams foi o 10.º basquetebolista a ser escolhido no draft da NBA. Retirou-se em 1987, numa altura em que ganhava cerca de 3,5 milhões de euros/ano. Distribuiu mansões pela família, comprou carros e deu dinheiro a quem lhe pedia ajuda. Em 1994 estava falido. garrincha “O anjo das pernas tortas” ajudou a conquistar para o Brasil os Mundiais de 1958 e de 1962. Um ano depois a carreira do jogador entra em decadência quando começa a sofrer de uma artrose no joelho. Garrincha enfrenta, a partir daí, uma série de episódios trágicos na sua vida: tentativas de suicídio, acidentes de automóvel e dezenas de internamentos por alcoolismo, que o vitimizam no ano de 1983.
• Marcha/corrida. Formação para antigos campeões O Programa Nacional de Marcha e Corrida promoveu no último fim-de-semana um plano de formação de antigos praticantes com um curso destinado a requalificar a formação técnica destes ex-praticantes. Aurora Cunha, Manuela Machado, António Leitão, Fernando Mamede estão entre os antigos campeões
confirmados nessa acção de requalificação.
cipriano lucas
DN
As Drogas Na Vida E Morte Dos 'Wrestlers' Americanos
April 18, 2010
O número de mortes dos lutadores é assustadoramente alta. Excesso de anabolizantes e drogas estão na origem dos óbitos.
O recente suicídio de Chris Kanyon não surpreendeu o mundo do wrestling. A morte do lutador norte-americano é a mais recente de uma lista de 40 casos nos últimos dez anos associados ao consumo de substâncias farmacológicas que provocaram paragens cardíaca aos atletas.
Um amigo do lutador nova-iorquino, de 40 anos, antiga estrela da World Wrestling Entertainment (WWE), em que foi campeão por equipas, revelou que no passado dia 3 foi encontrado junto ao corpo do lutador um frasco de comprimidos e "várias notas" escritas pelo próprio, que sofria ainda de doença bipolar (maniacodepressivo). Os problemas associados à sua identidade começaram durante a sua carreira na WWE. E aumentaram depois de ter revelado a sua homossexualidade.
Nos últimos cinco anos, sete das maiores vedetas do wrestling profissional (ver últimas mortes), todos com menos de 45 anos, morreram vítimas de excesso de esteróides anabolizantes, drogas sociais e álcool, que estão associados a paragens cardíacas, perturbações de personalidade e psicológicas como depressão e doença bipolar.
O caso mais mediático aconteceu em Julho de 2007. Chris Benoit, lutador de wrestling, estrangulou a mulher e sufocou o filho de sete anos antes de se enforcar na roldana de uma máquina de pesos na Florida. Os investigadores concluíram que Benoit matou a mulher e o filho no fim-de-semana, tendo deixado junto aos corpos uma Bíblia, e que depois se suicidou na segunda-feira.
O cerco apertar na luta contra as substâncias ilícitas no seio da WWE. A direcção, liderada por Vince McMahon, promoveu uma série de testes obrigatórios ao sangue e urina dos atletas assim como planos de desintoxicação. Todavia, a cultura dos esteróides anabolizantes no wrestling, assim como no futebol americano, era muito permissiva até ao princípio da década de 90 do século passado, procurando agora, após sucessivas mortes, enquadrar-se nos controlo que hoje são exigidos pela Agência Mundial Antidopagem (AMA), que pratica testes-surpresa e obriga a um código de conduta.
Apesar de os resultados dos combates serem predeterminados, a taxa de mortalidade entre os lutadores com mais de 30 anos continua, assim, assustadoramente alta. O esforço, a agressividade e os impactes que colocam no espectáculo obrigam a treinos diários ao nível dos atletas de alta competição, provocando sucessivas e graves lesões traumáticas que rapidamente os viciam em analgésicos consumidos para enganar as dores. Estes medicamentos provocam apatia, por isso, passam a consumir drogas para aumentar a agressividade. Esta mistura mortal leva rapidamente à dependência de drogas, com que muitos lutadores têm de lidar mesmo após a reforma. Por outro lado, esses artistas tem níveis de exigência fora dos ringues que não lhes dão descanso, passando todo ano de cidade em cidade, muitos com mais de 300 espectáculos. É certo que as compensações económicas são altas, mas o abandono precoce deixa muitos com problema económicos. São todos esses factores que criam condições para transformar atletas em potenciais suicidas.
O número de mortes dos lutadores é assustadoramente alta. Excesso de anabolizantes e drogas estão na origem dos óbitos.
O recente suicídio de Chris Kanyon não surpreendeu o mundo do wrestling. A morte do lutador norte-americano é a mais recente de uma lista de 40 casos nos últimos dez anos associados ao consumo de substâncias farmacológicas que provocaram paragens cardíaca aos atletas.
Um amigo do lutador nova-iorquino, de 40 anos, antiga estrela da World Wrestling Entertainment (WWE), em que foi campeão por equipas, revelou que no passado dia 3 foi encontrado junto ao corpo do lutador um frasco de comprimidos e "várias notas" escritas pelo próprio, que sofria ainda de doença bipolar (maniacodepressivo). Os problemas associados à sua identidade começaram durante a sua carreira na WWE. E aumentaram depois de ter revelado a sua homossexualidade.
Nos últimos cinco anos, sete das maiores vedetas do wrestling profissional (ver últimas mortes), todos com menos de 45 anos, morreram vítimas de excesso de esteróides anabolizantes, drogas sociais e álcool, que estão associados a paragens cardíacas, perturbações de personalidade e psicológicas como depressão e doença bipolar.
O caso mais mediático aconteceu em Julho de 2007. Chris Benoit, lutador de wrestling, estrangulou a mulher e sufocou o filho de sete anos antes de se enforcar na roldana de uma máquina de pesos na Florida. Os investigadores concluíram que Benoit matou a mulher e o filho no fim-de-semana, tendo deixado junto aos corpos uma Bíblia, e que depois se suicidou na segunda-feira.
O cerco apertar na luta contra as substâncias ilícitas no seio da WWE. A direcção, liderada por Vince McMahon, promoveu uma série de testes obrigatórios ao sangue e urina dos atletas assim como planos de desintoxicação. Todavia, a cultura dos esteróides anabolizantes no wrestling, assim como no futebol americano, era muito permissiva até ao princípio da década de 90 do século passado, procurando agora, após sucessivas mortes, enquadrar-se nos controlo que hoje são exigidos pela Agência Mundial Antidopagem (AMA), que pratica testes-surpresa e obriga a um código de conduta.
Apesar de os resultados dos combates serem predeterminados, a taxa de mortalidade entre os lutadores com mais de 30 anos continua, assim, assustadoramente alta. O esforço, a agressividade e os impactes que colocam no espectáculo obrigam a treinos diários ao nível dos atletas de alta competição, provocando sucessivas e graves lesões traumáticas que rapidamente os viciam em analgésicos consumidos para enganar as dores. Estes medicamentos provocam apatia, por isso, passam a consumir drogas para aumentar a agressividade. Esta mistura mortal leva rapidamente à dependência de drogas, com que muitos lutadores têm de lidar mesmo após a reforma. Por outro lado, esses artistas tem níveis de exigência fora dos ringues que não lhes dão descanso, passando todo ano de cidade em cidade, muitos com mais de 300 espectáculos. É certo que as compensações económicas são altas, mas o abandono precoce deixa muitos com problema económicos. São todos esses factores que criam condições para transformar atletas em potenciais suicidas.
De refugiado da guerra em Angola para o topo europeu
DN - 21 de dezembro de 2009
Eduardo Mbengani vive em Portugal desde os seis anos. Sofreu na pele a guerra de Angola, de onde fugiu com a família. Refugiado em Portugal, obteve a nacionalidade portuguesa. Hoje, com 24 anos, é o melhor fundista da sua geração.
Eduardo Mbengani tinha apenas dois anos, mas na sua memória ficaram gravados os gritos da mãe pedindo para se esconderem quando os tiros e os rebentamentos de bombas os surpreendiam na guerra do Norte de Angola, entre o MPLA e a UNITA. "Acho estranho, era ainda bebé, mas lembro-me perfeitamente de ouvir a minha mãe, aflita, gritar para eu e o meu irmão mais velho nos escondermos quando tivemos de fugir, apenas com a roupa que tínhamos no corpo, da nossa terra, a Makela do Zombo, na província do Uíje", recorda Mbengani, o jovem de 24 anos considerado a grande revelação da nova geração de fundistas portugueses, e um dos favoritos na São Silvestre da Amadora.
Resistência de fundista que consolidou com o espírito de sacrifício e a herança genética de pai e mãe. "Os meus pais, quando fugiram da guerra, passaram grandes dificuldades. Quando a guerra começou a aproximar-se da nossa terra, tivemos de fugir a pé cerca de 150 km por uma zona completamente deserta, até ao local onde havia transporte para Luanda", afirma. "Sofremos até chegarmos a Portugal, onde acabámos por beneficiar do estatuto de refugiados políticos, recebendo apoio escolar e alimentar", já que o seu pais congolês, casado com uma angolana, quis que o filho também tivesse a sua nacionalidade.
Em Portugal, descobriu o atletismo na escola em Algés. "Tinha colegas que gostavam de correr . Um dia, com 17 anos, fui com eles e fiz um teste no Desportivo de Monte Real. Fiquei. Muitos desistiram, mas eu fui gostando cada vez mais de correr. Treinava todos os dias. Ganhei o crosse de juniores, mas como era estrangeiro não era considerado campeão de Portugal". A nacionalidade portuguesa obteve-a apenas após os 20 anos, depois de conseguir os papéis necessários na República do Con-go. "Foi complicado. A minha mãe teve de lá ir. Estive para desistir várias vezes. Estava no 12.º ano e a tirar um curso de técnico de electrónica e telecomunicações. Pensei seriamente abandonar o atletismo. A luz ao fundo do túnel só surgiu quando o Grupo Confor-limpa decidiu apostar em mim", assume. Sob orientação técnica de Eduardo Henriques, os resultados começaram a surgir: 12.º, 11.º e 3.º nos nacionais de crosse nos últimos três anos. Há poucas semanas, "perturbou" o campeão do mundo, o etíope Gebre Gebremariam, no Crosse de Oeiras. Perdeu apenas na recta da meta, ao sprint. Quinze dias depois, no Europeu de crosse, no dia 13 em Dublim, voltou a surpreender a concorrência para ser o segundo português, com um sétimo lugar. Para Mbengani "não há segredos, mas é muito difícil chegar ao topo.
Temos bons atletas, mas muitos ficaram pelo caminho. Somos abandonados. O sucesso só se atinge com capacidades físicas, psicológicas e muita perseverança".
Eduardo Mbengani vive em Portugal desde os seis anos. Sofreu na pele a guerra de Angola, de onde fugiu com a família. Refugiado em Portugal, obteve a nacionalidade portuguesa. Hoje, com 24 anos, é o melhor fundista da sua geração.
Eduardo Mbengani tinha apenas dois anos, mas na sua memória ficaram gravados os gritos da mãe pedindo para se esconderem quando os tiros e os rebentamentos de bombas os surpreendiam na guerra do Norte de Angola, entre o MPLA e a UNITA. "Acho estranho, era ainda bebé, mas lembro-me perfeitamente de ouvir a minha mãe, aflita, gritar para eu e o meu irmão mais velho nos escondermos quando tivemos de fugir, apenas com a roupa que tínhamos no corpo, da nossa terra, a Makela do Zombo, na província do Uíje", recorda Mbengani, o jovem de 24 anos considerado a grande revelação da nova geração de fundistas portugueses, e um dos favoritos na São Silvestre da Amadora.
Resistência de fundista que consolidou com o espírito de sacrifício e a herança genética de pai e mãe. "Os meus pais, quando fugiram da guerra, passaram grandes dificuldades. Quando a guerra começou a aproximar-se da nossa terra, tivemos de fugir a pé cerca de 150 km por uma zona completamente deserta, até ao local onde havia transporte para Luanda", afirma. "Sofremos até chegarmos a Portugal, onde acabámos por beneficiar do estatuto de refugiados políticos, recebendo apoio escolar e alimentar", já que o seu pais congolês, casado com uma angolana, quis que o filho também tivesse a sua nacionalidade.
Em Portugal, descobriu o atletismo na escola em Algés. "Tinha colegas que gostavam de correr . Um dia, com 17 anos, fui com eles e fiz um teste no Desportivo de Monte Real. Fiquei. Muitos desistiram, mas eu fui gostando cada vez mais de correr. Treinava todos os dias. Ganhei o crosse de juniores, mas como era estrangeiro não era considerado campeão de Portugal". A nacionalidade portuguesa obteve-a apenas após os 20 anos, depois de conseguir os papéis necessários na República do Con-go. "Foi complicado. A minha mãe teve de lá ir. Estive para desistir várias vezes. Estava no 12.º ano e a tirar um curso de técnico de electrónica e telecomunicações. Pensei seriamente abandonar o atletismo. A luz ao fundo do túnel só surgiu quando o Grupo Confor-limpa decidiu apostar em mim", assume. Sob orientação técnica de Eduardo Henriques, os resultados começaram a surgir: 12.º, 11.º e 3.º nos nacionais de crosse nos últimos três anos. Há poucas semanas, "perturbou" o campeão do mundo, o etíope Gebre Gebremariam, no Crosse de Oeiras. Perdeu apenas na recta da meta, ao sprint. Quinze dias depois, no Europeu de crosse, no dia 13 em Dublim, voltou a surpreender a concorrência para ser o segundo português, com um sétimo lugar. Para Mbengani "não há segredos, mas é muito difícil chegar ao topo.
Temos bons atletas, mas muitos ficaram pelo caminho. Somos abandonados. O sucesso só se atinge com capacidades físicas, psicológicas e muita perseverança".
Francisco Lázaro: a primeira das vítimas do 'doping'
DN - 15 de Julho de 2009
Atleta morreu há 97 anos após sucumbir na maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo. Ingestão de estupefacientes foi fatal
O maratonista Francisco Lázaro morreu faz hoje 97 anos, durante a primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos, em Estocolmo 1912 (Suécia). A primeira morte de um atleta durante os Jogos deixou Portugal de luto e impressionou o mundo, como registou a imprensa da época. A autópsia apontou a desidratação e insolação como causas da morte.
Todavia, para Gustavo Pires , professor responsável pela cadeira de Gestão do Desporto da Faculdade de Motricidade Humana e coordenador do Forum Olímpico, "o maratonista não morreu por insolação, inexperiência ou por ter coberto o corpo de sebo antes da corrida, como defedenderam os colegas de comitiva nos Jogos da Suécia". O benfiquista de 24 anos, campeão de Portugal nos 42 195 metros, "foi vítima de uma cultura que aconselhava a prática comum naquela altura, entre os atletas e os ciclistas, uma mistura a que chamava 'emborcação' - essência de terebintina (anastésico) e o ácido acético (vinagre) - como um complemento do treino", recorda.
À sua volta foi criada uma lenda. Lázaro teve um funeral com honras de herói nacional e desencadeou um processo que, decorridos quase cem anos, ainda está por resolver. "Nunca se investigou a sério esta morte. Foi aceite até aos nosso dias a tese, defendida pelos seu colegas em Estocolmo, que o atleta tinha morrido por ter coberto o corpo com sebo, tapando os poros e impedindo a tanspiração. Assim como foi aceite que o Comité Olimpico de Portugal comemerora este anos o 100.º aniversário ,quando os documentos dizem que só o fará em 2012", recorda Gustavo Pires. "Lázaro era um experiente fundista. Tinha triunfado em várias corridas nacionais. Estava acompanhado por pessoas cultas ", acrescenta. "Não existia o conceito de doping de hoje, portanto era natural recorrer a todos os métodos e produtos que melhorassem e aumentassem as capacidades", mas que acabaram por ser fatais para Francisco Lázaro", segundo Gustavo Pires.
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1308210
Atleta morreu há 97 anos após sucumbir na maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo. Ingestão de estupefacientes foi fatal
O maratonista Francisco Lázaro morreu faz hoje 97 anos, durante a primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos, em Estocolmo 1912 (Suécia). A primeira morte de um atleta durante os Jogos deixou Portugal de luto e impressionou o mundo, como registou a imprensa da época. A autópsia apontou a desidratação e insolação como causas da morte.
Todavia, para Gustavo Pires , professor responsável pela cadeira de Gestão do Desporto da Faculdade de Motricidade Humana e coordenador do Forum Olímpico, "o maratonista não morreu por insolação, inexperiência ou por ter coberto o corpo de sebo antes da corrida, como defedenderam os colegas de comitiva nos Jogos da Suécia". O benfiquista de 24 anos, campeão de Portugal nos 42 195 metros, "foi vítima de uma cultura que aconselhava a prática comum naquela altura, entre os atletas e os ciclistas, uma mistura a que chamava 'emborcação' - essência de terebintina (anastésico) e o ácido acético (vinagre) - como um complemento do treino", recorda.
À sua volta foi criada uma lenda. Lázaro teve um funeral com honras de herói nacional e desencadeou um processo que, decorridos quase cem anos, ainda está por resolver. "Nunca se investigou a sério esta morte. Foi aceite até aos nosso dias a tese, defendida pelos seu colegas em Estocolmo, que o atleta tinha morrido por ter coberto o corpo com sebo, tapando os poros e impedindo a tanspiração. Assim como foi aceite que o Comité Olimpico de Portugal comemerora este anos o 100.º aniversário ,quando os documentos dizem que só o fará em 2012", recorda Gustavo Pires. "Lázaro era um experiente fundista. Tinha triunfado em várias corridas nacionais. Estava acompanhado por pessoas cultas ", acrescenta. "Não existia o conceito de doping de hoje, portanto era natural recorrer a todos os métodos e produtos que melhorassem e aumentassem as capacidades", mas que acabaram por ser fatais para Francisco Lázaro", segundo Gustavo Pires.
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1308210
"Lázaro morreu porque utilizou produtos nocivos"
DN - 15 julho 2009
Gustavo Pires
Professor catedrático na Universidade Técnica de Lisboa
Francisco Lázaro morreu faz hoje 97 anos, um dia após participar na maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo. Segundo a sua investigação, o português não morreu de insolação, como diz a autópsia, mas foi sim vítima de utilização de substância hoje consideradas doping?
Na época não havia controlo nenhum. Vivia-se um tempo de tecnologia, de descoberta. Recordo que o primeiro vencedor da maratona, o grego Spiridon Louis, era um precursor desses produtos. Era considerado normal na época.
O que é a "emborcação"?
A ideia era utilizar produtos que pudessem, segundos os dados técnicos da altura, atingir o aumento da resistência, controlo do esforço da fadiga através do cérebro. A "emborcação" era muito comum entre os atletas não só do pedestrianismo como do ciclismo. Este tipo de substâncias fazia parte da cultura do tempo pelo que não pode ser visto aos olhos dos nossos dias.
Que substâncias eram essas?
Num artigo intitulado "A Emborcação no Treino", da revista Tiro e Sport de 15 de Setembro de 1910, é descrito que a emborcação assegura a elasticidade e perfeita maleabilidade dos músculos de que se exigem os esforços mais efectivos, tornando-os insensíveis à dor e à fadiga. A receita: quatro claras de ovo; uma gema de ovo; água destilada; essência de terebentina rectificada e acido acético. Ao tempo, a emborcação ia bem mais longe. De facto, a comunicação social informou que Lázaro abusava da estricnina: "kola" (sterculia acuminata), que "estimulava o sistema nervoso, era também usado na época..
Mas o relatório dos Jogos diz que Francisco Lázaro morreu de insolação por causa de ter ensebado o corpo antes da corrida.
Lázaro não era estúpido. Não acredito que tenha morrido de insolação. Sabemos que se hidratou durante a prova. Ele estava preparado para o calor que na Suécia não era pior que em Portugal .A tese de se ter ensebado também não colhe, até porque ensebar as articulações era algo perfeitamente normal como forma de aquecimento.
Segundo a autópsia realizada ao atleta, este tinha o fígado completamente mirrado...
Do tamanho de um punho fechado e rijo, a tal ponto que só se conseguira partir a escopro, como se fosse uma pedra. Lázaro foi vítima de práticas que hoje continuam a ser utilizadas por muitos atletas. Só que hoje chamam-lhe doping.
DN
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1308210
Ler mais em http://forumolimpico.org/content/francisco-lazaro
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1520981&page=-1
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1520975
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1521311
Gustavo Pires
Professor catedrático na Universidade Técnica de Lisboa
Francisco Lázaro morreu faz hoje 97 anos, um dia após participar na maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo. Segundo a sua investigação, o português não morreu de insolação, como diz a autópsia, mas foi sim vítima de utilização de substância hoje consideradas doping?
Na época não havia controlo nenhum. Vivia-se um tempo de tecnologia, de descoberta. Recordo que o primeiro vencedor da maratona, o grego Spiridon Louis, era um precursor desses produtos. Era considerado normal na época.
O que é a "emborcação"?
A ideia era utilizar produtos que pudessem, segundos os dados técnicos da altura, atingir o aumento da resistência, controlo do esforço da fadiga através do cérebro. A "emborcação" era muito comum entre os atletas não só do pedestrianismo como do ciclismo. Este tipo de substâncias fazia parte da cultura do tempo pelo que não pode ser visto aos olhos dos nossos dias.
Que substâncias eram essas?
Num artigo intitulado "A Emborcação no Treino", da revista Tiro e Sport de 15 de Setembro de 1910, é descrito que a emborcação assegura a elasticidade e perfeita maleabilidade dos músculos de que se exigem os esforços mais efectivos, tornando-os insensíveis à dor e à fadiga. A receita: quatro claras de ovo; uma gema de ovo; água destilada; essência de terebentina rectificada e acido acético. Ao tempo, a emborcação ia bem mais longe. De facto, a comunicação social informou que Lázaro abusava da estricnina: "kola" (sterculia acuminata), que "estimulava o sistema nervoso, era também usado na época..
Mas o relatório dos Jogos diz que Francisco Lázaro morreu de insolação por causa de ter ensebado o corpo antes da corrida.
Lázaro não era estúpido. Não acredito que tenha morrido de insolação. Sabemos que se hidratou durante a prova. Ele estava preparado para o calor que na Suécia não era pior que em Portugal .A tese de se ter ensebado também não colhe, até porque ensebar as articulações era algo perfeitamente normal como forma de aquecimento.
Segundo a autópsia realizada ao atleta, este tinha o fígado completamente mirrado...
Do tamanho de um punho fechado e rijo, a tal ponto que só se conseguira partir a escopro, como se fosse uma pedra. Lázaro foi vítima de práticas que hoje continuam a ser utilizadas por muitos atletas. Só que hoje chamam-lhe doping.
DN
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1308210
Ler mais em http://forumolimpico.org/content/francisco-lazaro
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1520981&page=-1
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1520975
http://www.dn.pt/desporto/antidoping/interior.aspx?content_id=1521311
José Moreira: "Em alta competição não se cometem os erros de Lázaro"
17 março 2010
"Por vezes, na maratona, tenho passado por adversários, já depois dos 30km, que vão com os olhos vidrados e completamente esgotados e que acabam por desistir", afirmou ao DN o atleta português, segundo maratonista europeu nos Mundiais 2009.
Francisco Lázaro faleceu há 98 anos após a maratona dos Jogos Olímpicos de 1912 em Estocolmo, mas ainda hoje as causas da sua morte são controversas. É possível repetirem-se casos como o do malogrado maratonista português?
Não é impossível, mas é difícil. Felizmente nunca fui ao limite, ao ponto de desfalecer, mas por vezes tenho passado por adversários, já depois dos 30 km, que vão com os olhos vidrados e completamente esgotados que acabam por desistir. Por outro lado, hoje, em alta competição, não se cometem erros que Francisco Lázaro poderá ter cometido, desde as suspeitas de se besuntar com sebo, ter tomado alguma mesinha, o pouco cuidado com a protecção solar ou a desidratação. Ainda assim, vejo muitos atletas do pelotão fazerem erros graves .
Que métodos utilizam os maratonistas para evitar chegar a uma desidratação ou a um estado de esgotamento?
Hoje há muitos produtos em forma de gel que são ingeridos, antes da prova, durante os abastecimentos e depois da competição que permitem repor muitas das elevadas perdas de líquidos, sais minerais e açúcares durante os 42 195 metros da maratona. Existem ainda alimentos como a marmelada e as laranjas durante os abastecimentos que também ajudam a repor os açúcares. Neste momento, estou a procurar soluções com o meu treinador e os médicos da federação de atletismo para uma nova forma de hidratação na próxima maratona do Europeu, apesar de, felizmente, na maratona do Mundial de Berlim [segundo classificado europeu e nono mundial], assim como nas outras três que corri, nunca ter tido problemas. Senti dificuldades entre os 37 e 39 km, mas nunca atingi as reservas e depois consegui recuperar e terminar rápido.
E durante a preparação?
No período de preparação específica para a maratona realizamos testes para verificarmos as nossas capacidades. Três semanas antes da corrida faço um teste de 30 km ao ritmo de competição, no qual também procuro ingerir os produtos que vou utilizar numa competição. Mas cada atleta tem os seus métodos pessoais - eu, praticamente, só me hidrato com água.
Mas há atletas que exageram nos ritmos e depois pagam caro no final...
Penso que a gestão dos ritmos é um dos elementos fundamentais, para não dizer determinante. Em Berlim passei à meia maratona em 1.05.58 horas, um bocadinho rápido para os meus objectivos. Depois acabei por quebrar, para terminar em 2.14.05 horas. Esse poderá ter sido também um facto importante para explicar o que aconteceu a Francisco Lázaro.
"Por vezes, na maratona, tenho passado por adversários, já depois dos 30km, que vão com os olhos vidrados e completamente esgotados e que acabam por desistir", afirmou ao DN o atleta português, segundo maratonista europeu nos Mundiais 2009.
Francisco Lázaro faleceu há 98 anos após a maratona dos Jogos Olímpicos de 1912 em Estocolmo, mas ainda hoje as causas da sua morte são controversas. É possível repetirem-se casos como o do malogrado maratonista português?
Não é impossível, mas é difícil. Felizmente nunca fui ao limite, ao ponto de desfalecer, mas por vezes tenho passado por adversários, já depois dos 30 km, que vão com os olhos vidrados e completamente esgotados que acabam por desistir. Por outro lado, hoje, em alta competição, não se cometem erros que Francisco Lázaro poderá ter cometido, desde as suspeitas de se besuntar com sebo, ter tomado alguma mesinha, o pouco cuidado com a protecção solar ou a desidratação. Ainda assim, vejo muitos atletas do pelotão fazerem erros graves .
Que métodos utilizam os maratonistas para evitar chegar a uma desidratação ou a um estado de esgotamento?
Hoje há muitos produtos em forma de gel que são ingeridos, antes da prova, durante os abastecimentos e depois da competição que permitem repor muitas das elevadas perdas de líquidos, sais minerais e açúcares durante os 42 195 metros da maratona. Existem ainda alimentos como a marmelada e as laranjas durante os abastecimentos que também ajudam a repor os açúcares. Neste momento, estou a procurar soluções com o meu treinador e os médicos da federação de atletismo para uma nova forma de hidratação na próxima maratona do Europeu, apesar de, felizmente, na maratona do Mundial de Berlim [segundo classificado europeu e nono mundial], assim como nas outras três que corri, nunca ter tido problemas. Senti dificuldades entre os 37 e 39 km, mas nunca atingi as reservas e depois consegui recuperar e terminar rápido.
E durante a preparação?
No período de preparação específica para a maratona realizamos testes para verificarmos as nossas capacidades. Três semanas antes da corrida faço um teste de 30 km ao ritmo de competição, no qual também procuro ingerir os produtos que vou utilizar numa competição. Mas cada atleta tem os seus métodos pessoais - eu, praticamente, só me hidrato com água.
Mas há atletas que exageram nos ritmos e depois pagam caro no final...
Penso que a gestão dos ritmos é um dos elementos fundamentais, para não dizer determinante. Em Berlim passei à meia maratona em 1.05.58 horas, um bocadinho rápido para os meus objectivos. Depois acabei por quebrar, para terminar em 2.14.05 horas. Esse poderá ter sido também um facto importante para explicar o que aconteceu a Francisco Lázaro.
Antigas glórias regressam para promover o desporto
"Pós-carreira" - Associação de Atletas aguarda diploma que integre antigos atletas
DN - 3 de Dezembro de 2008
Carlos Lopes, António Leitão e Aurora Cunha voltaram a vestir os fatos de treino para promover a actividade física junto de jovens em clubes, escolas, juntas de freguesia e câmaras municipais.
Os antigos campeões voltam a colaborar com o Instituto do Desporto de Portugal (IDP) após terem visto essa instituição suspender um contrato que durava há vários anos. O organismo pretendia criar "novos critérios, procurando uma prestação de serviços mais activa e robusta".
"Estamos novamente a colaborar com o IDP. Houve uma reavaliação dos nossos contratos e dos serviços que nós estávamos a desenvolver. Este processo arrastou-se demasiado tempo, mas o que é importante é que o problema está resolvido", disse ao DN António Leitão, medalha de bronze nos 5000 metros de Los Angeles'84. "Vimos as nossas avenças reduzidas [recebiam 1250 euros mensais], mas o importante é que continuamos a desenvolver uma actividade que gostamos não só junto dos jovens como da população em geral", acrescentou o antigo atleta.
A Associação de Atletas de Alta Competição do Atletismo (AAACA) congratula-se com esta "particular" decisão do IDP, mas relembrou ao DN que o próximo decreto-lei sobre o desporto não contempla qualquer ponto sobre o "pós-carreira" de ex-campeões. "Laurentino Dias [secretário de Estado da Juventude e Desporto] garantiu-nos que seria elaborado um novo diploma específico para estes caso o mais breve possível", disse Paulo Bernardo, presidente da AAAC. "Recordo que em 1993 foi criada a Lei que previa um esquema de apoio mais alargado a favor dos praticantes de alta competição em que se pretendia não só medidas de natureza seguradora mas também de apoio social. Todavia, nunca foi aplicada", acrescentou. "Esse Decreto-Lei [n.º 146/93, de 26 de Abril] previa a criação de um seguro, garantindo aos atletas de alta competição o pagamento de um montante ao fim de 12 anos de alta competição ou antecipado essa verba em caso de invalidez. Ainda assim, a AAACA acredita que as futuras medidas de apoio concedidas pelo Estado, serão no sentido de "criar um melhor enquadramento dos atletas no seu pós-carreira e na sua integração social, acautelando assim um melhor futuro."
Aurora Cunha, campeã mundial de estrada, foi reintegrada na secção do IDP no Porto onde continuará a desenvolver actividades relacionadas com o atletismo. Carlos Lopes, campeão Olímpico da maratona em Los Angeles'84, está a exercer funções na região de Lisboa, mais precisamente no Estádio Nacional . Enquanto António Leitão está integrado na região de Aveiro.
DN
http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1136860&page=-1
Carlos Lopes, António Leitão e Aurora Cunha voltaram a vestir os fatos de treino para promover a actividade física junto de jovens em clubes, escolas, juntas de freguesia e câmaras municipais.
Os antigos campeões voltam a colaborar com o Instituto do Desporto de Portugal (IDP) após terem visto essa instituição suspender um contrato que durava há vários anos. O organismo pretendia criar "novos critérios, procurando uma prestação de serviços mais activa e robusta".
"Estamos novamente a colaborar com o IDP. Houve uma reavaliação dos nossos contratos e dos serviços que nós estávamos a desenvolver. Este processo arrastou-se demasiado tempo, mas o que é importante é que o problema está resolvido", disse ao DN António Leitão, medalha de bronze nos 5000 metros de Los Angeles'84. "Vimos as nossas avenças reduzidas [recebiam 1250 euros mensais], mas o importante é que continuamos a desenvolver uma actividade que gostamos não só junto dos jovens como da população em geral", acrescentou o antigo atleta.
A Associação de Atletas de Alta Competição do Atletismo (AAACA) congratula-se com esta "particular" decisão do IDP, mas relembrou ao DN que o próximo decreto-lei sobre o desporto não contempla qualquer ponto sobre o "pós-carreira" de ex-campeões. "Laurentino Dias [secretário de Estado da Juventude e Desporto] garantiu-nos que seria elaborado um novo diploma específico para estes caso o mais breve possível", disse Paulo Bernardo, presidente da AAAC. "Recordo que em 1993 foi criada a Lei que previa um esquema de apoio mais alargado a favor dos praticantes de alta competição em que se pretendia não só medidas de natureza seguradora mas também de apoio social. Todavia, nunca foi aplicada", acrescentou. "Esse Decreto-Lei [n.º 146/93, de 26 de Abril] previa a criação de um seguro, garantindo aos atletas de alta competição o pagamento de um montante ao fim de 12 anos de alta competição ou antecipado essa verba em caso de invalidez. Ainda assim, a AAACA acredita que as futuras medidas de apoio concedidas pelo Estado, serão no sentido de "criar um melhor enquadramento dos atletas no seu pós-carreira e na sua integração social, acautelando assim um melhor futuro."
Aurora Cunha, campeã mundial de estrada, foi reintegrada na secção do IDP no Porto onde continuará a desenvolver actividades relacionadas com o atletismo. Carlos Lopes, campeão Olímpico da maratona em Los Angeles'84, está a exercer funções na região de Lisboa, mais precisamente no Estádio Nacional . Enquanto António Leitão está integrado na região de Aveiro.
DN
http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1136860&page=-1
O 'doping' inteligente para jogadores de xadrez
DN - 24 janeiro 2006
Os controlos antidoping chegaram ao xadrez. Betabloqueantes, moléculas, hormonas, esteróides, tranquilizantes, antidepressivos são apenas são algumas das substâncias que os médicos das agências antidopagem procuram na urina dos jogadores de xadrez.
Quando se questionam os xadrezistas sobre a existência de substâncias proibidas na modalidade estes respondem "O xadrez é um desporto mental e não físico. A mente não tem nada a ver com produtos químicos."
"Todavia, os produtos químicos podem alterar - para o bem e para o mal - as capacidades intelectuais, como demonstram os inúmeros estudos médicos com psicofármacos e drogas inteligentes", defende o espanhol Juan Carlos Ruiz no livro Drogas Inteligentes, o primeiro trabalho publicado em Espanha sobre este tema. Um jogador de xadrez precisa apenas de realizar alguns movimentos físicos, com uma das mãos, para mover uma peça ou accionar o relógio que regula o tempo da jogada. É um actividade puramente intelectual. Os processos de pensamento são realizados no cérebro, um órgão composto por milhões de neurónios interligados por sinapses. A actividade do cérebro consiste nas neurotransmissões que tem lugar entre elas. Por sua vez, os neurotransmissores são substâncias químicas internas e os seus processos podem ser alterados por produtos químicos introduzidos no corpo desde o exterior. Desta forma, "os processos cognitivos podem ser modificados com suplementos variados, naturais e de síntese, assim como vitaminas e aminoácidos, entre outros", defende Juan Carlos Ruiz.
Portugal é pioneiro
Portugal foi o primeiro país a implementar o controlo antidoping nas competições de xadrez, após a Federação Internacional (FIDE) assumir que queria integrar esta disciplina nos Jogos Olímpicos de Verão. Para isso aderiu aos regulamentos da Agência Mundial Antidopagem (AMA).
Os especialistas da modalidade estranhavam o rendimento de mestres como Kasparov e Karpov. Nunca se provou nada porque eles nunca foram controlados, mas as dúvidas persistem. Todavia, apesar de ser um desporto intelectual, ninguém tem dúvida que é difícil manter a frescura física e intelectual num torneio de 15 dias, com partidas diárias que podem chegar às seis horas.
"Hoje é muito difícil um jogador com mais de 50 anos chegar ao título mundial... muito mais por culpa da preparação física do que por questões intelectuais", defende o mestre António Pereira dos Santos. "Kasparov, com apenas 22 anos, já era campeão, mas abandonou com 41 anos." acrescenta, defendendo que "a memória no xadrez é importante ... mas não é determinante".
O mestre Joaquim Durão, presidente da Federação Portuguesa de Xadrez, está convencido que há substâncias que podem ajudar a melhorar a capacidade intelectual. "Uma partida é um teste. Como tal, é possível que alguns produtos ajudem na concentração". O antigo campeão português recorda que, "quando competia no estrangeiro, surgiam jogadores com comportamento estranhos". E na altura já se questionava "Se calhar estão dopados?"
DN
http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=634748&page=-1
Os controlos antidoping chegaram ao xadrez. Betabloqueantes, moléculas, hormonas, esteróides, tranquilizantes, antidepressivos são apenas são algumas das substâncias que os médicos das agências antidopagem procuram na urina dos jogadores de xadrez.
Quando se questionam os xadrezistas sobre a existência de substâncias proibidas na modalidade estes respondem "O xadrez é um desporto mental e não físico. A mente não tem nada a ver com produtos químicos."
"Todavia, os produtos químicos podem alterar - para o bem e para o mal - as capacidades intelectuais, como demonstram os inúmeros estudos médicos com psicofármacos e drogas inteligentes", defende o espanhol Juan Carlos Ruiz no livro Drogas Inteligentes, o primeiro trabalho publicado em Espanha sobre este tema. Um jogador de xadrez precisa apenas de realizar alguns movimentos físicos, com uma das mãos, para mover uma peça ou accionar o relógio que regula o tempo da jogada. É um actividade puramente intelectual. Os processos de pensamento são realizados no cérebro, um órgão composto por milhões de neurónios interligados por sinapses. A actividade do cérebro consiste nas neurotransmissões que tem lugar entre elas. Por sua vez, os neurotransmissores são substâncias químicas internas e os seus processos podem ser alterados por produtos químicos introduzidos no corpo desde o exterior. Desta forma, "os processos cognitivos podem ser modificados com suplementos variados, naturais e de síntese, assim como vitaminas e aminoácidos, entre outros", defende Juan Carlos Ruiz.
Portugal é pioneiro
Portugal foi o primeiro país a implementar o controlo antidoping nas competições de xadrez, após a Federação Internacional (FIDE) assumir que queria integrar esta disciplina nos Jogos Olímpicos de Verão. Para isso aderiu aos regulamentos da Agência Mundial Antidopagem (AMA).
Os especialistas da modalidade estranhavam o rendimento de mestres como Kasparov e Karpov. Nunca se provou nada porque eles nunca foram controlados, mas as dúvidas persistem. Todavia, apesar de ser um desporto intelectual, ninguém tem dúvida que é difícil manter a frescura física e intelectual num torneio de 15 dias, com partidas diárias que podem chegar às seis horas.
"Hoje é muito difícil um jogador com mais de 50 anos chegar ao título mundial... muito mais por culpa da preparação física do que por questões intelectuais", defende o mestre António Pereira dos Santos. "Kasparov, com apenas 22 anos, já era campeão, mas abandonou com 41 anos." acrescenta, defendendo que "a memória no xadrez é importante ... mas não é determinante".
O mestre Joaquim Durão, presidente da Federação Portuguesa de Xadrez, está convencido que há substâncias que podem ajudar a melhorar a capacidade intelectual. "Uma partida é um teste. Como tal, é possível que alguns produtos ajudem na concentração". O antigo campeão português recorda que, "quando competia no estrangeiro, surgiam jogadores com comportamento estranhos". E na altura já se questionava "Se calhar estão dopados?"
DN
http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=634748&page=-1
Desporto Escolar está à deriva
cipriano lucas
rita bravo
29 novembro 2005
"O Estado não sabe o que fazer com o Desporto Escolar ", acusam as associações representantes dos professores de Educação Física, criticando o silêncio que o Governo mantém relativamente a esta área escolar.
Esses dirigentes temem ainda a desvalorização da disciplina de Educação Física e as tentativas do movimento associativo federado para se "apropriar" do desporto praticado nas escolas.
Essa foi uma das inúmeras críticas ouvidas num emotivo e participado colóquio organizado pela Universidade Lusófona (UL) sobre o tema "Desporto Escolar em debate".
Acção que contou com a presença de Jorge Proença, director do curso de Educação Física, Desporto e Lazer da UL, José Dinis, presidente da Sociedade Portuguesa de Educação Física, Rui Petrucci, presidente do Conselho Nacional da Associação de Professores de Educação Física, e de Manuel Brito, ex-director do Gabinete do Desporto Escolar entre 1999 e 2002.
"O Desporto Escolar (DE) deve continuar a fazer parte integrante da escola e não sair da tutela do Ministério da Educação para passar para o da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, como alguns dos actuais responsáveis do desporto federado (DF) há muito procuram", defendeu Manuel Brito, em clara resposta a anteriores afirmações à imprensa de Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal, que entende o DE como "um viveiro" para o DF.
Manuel Brito ficou ainda chocado com as declarações de Luís Sardinha, presidente do Instituto do Desporto de Portugal (IDP), que "veio trazer ruído de fundo sem competência institucional para isso. Tem pouca maturidade num assunto que está em queda e que os governos nada fizeram para melhorar nos últimos anos".
Numa recente entrevista ao diário desportivo A Bola, Luís Sardinha afirmou que "uma das ideias muito simples que temos é a de que até a uma determinada faixa etária, nomeadamente até juvenis, se deve desenvolver um modelo que dê condições para que o DE possa estar integrado no movimento associativo. É uma solução muito simples e que visa criar condições para o alargamenbto da prática desportiva num sistema mais organizado, como o associativo".
Jorge Proença rejeita o conceito "O DE não pode ser entendido como um alfobre de campeões, um espaço de recrutamento para o DF. Este é um dos maiores equívocos que tem existido em Portugal." E acrescentou: "A primeira machadada no DE foi permitir que os atletas federados pudessem competir no DE." O director da UL questionou: "Porque é que o DF tem de estar, sistematicamente, a opinar sobre o DE?" Para Jorge Proença"os alunos têm direito ao DE nas escolas; deve ser uma prática para todos e não para uma elite".
Manuel Brito não discorda desta abordagem e acredita que "o DE é apetecível para o DF, para as empresas e para as autarquias. Há um claro aproveitamento do poder político. Mas, por outro lado, não consegue agarrar um modelo de desenvolvimento para o DE". A razão que deve levar o Desporto Escolar a permanecer na escola prende-se com o facto de esta ser "a única instituição por onde todos os cidadãos passam", restando apenas ao poder político "construir e estabilizar o modelo do DE". E isso passa "pela criação da Federação Portuguesa do Desporto Escolar", defende Manuel Brito.
Para este ex-dirigente " o melhor contributo que o DE pode dar ao DF é enviar para os clubes bons candidatos a praticantes", como entende Teotónio Lima, professor de Ética Desportiva.
DN
rita bravo
29 novembro 2005
"O Estado não sabe o que fazer com o Desporto Escolar ", acusam as associações representantes dos professores de Educação Física, criticando o silêncio que o Governo mantém relativamente a esta área escolar.
Esses dirigentes temem ainda a desvalorização da disciplina de Educação Física e as tentativas do movimento associativo federado para se "apropriar" do desporto praticado nas escolas.
Essa foi uma das inúmeras críticas ouvidas num emotivo e participado colóquio organizado pela Universidade Lusófona (UL) sobre o tema "Desporto Escolar em debate".
Acção que contou com a presença de Jorge Proença, director do curso de Educação Física, Desporto e Lazer da UL, José Dinis, presidente da Sociedade Portuguesa de Educação Física, Rui Petrucci, presidente do Conselho Nacional da Associação de Professores de Educação Física, e de Manuel Brito, ex-director do Gabinete do Desporto Escolar entre 1999 e 2002.
"O Desporto Escolar (DE) deve continuar a fazer parte integrante da escola e não sair da tutela do Ministério da Educação para passar para o da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, como alguns dos actuais responsáveis do desporto federado (DF) há muito procuram", defendeu Manuel Brito, em clara resposta a anteriores afirmações à imprensa de Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal, que entende o DE como "um viveiro" para o DF.
Manuel Brito ficou ainda chocado com as declarações de Luís Sardinha, presidente do Instituto do Desporto de Portugal (IDP), que "veio trazer ruído de fundo sem competência institucional para isso. Tem pouca maturidade num assunto que está em queda e que os governos nada fizeram para melhorar nos últimos anos".
Numa recente entrevista ao diário desportivo A Bola, Luís Sardinha afirmou que "uma das ideias muito simples que temos é a de que até a uma determinada faixa etária, nomeadamente até juvenis, se deve desenvolver um modelo que dê condições para que o DE possa estar integrado no movimento associativo. É uma solução muito simples e que visa criar condições para o alargamenbto da prática desportiva num sistema mais organizado, como o associativo".
Jorge Proença rejeita o conceito "O DE não pode ser entendido como um alfobre de campeões, um espaço de recrutamento para o DF. Este é um dos maiores equívocos que tem existido em Portugal." E acrescentou: "A primeira machadada no DE foi permitir que os atletas federados pudessem competir no DE." O director da UL questionou: "Porque é que o DF tem de estar, sistematicamente, a opinar sobre o DE?" Para Jorge Proença"os alunos têm direito ao DE nas escolas; deve ser uma prática para todos e não para uma elite".
Manuel Brito não discorda desta abordagem e acredita que "o DE é apetecível para o DF, para as empresas e para as autarquias. Há um claro aproveitamento do poder político. Mas, por outro lado, não consegue agarrar um modelo de desenvolvimento para o DE". A razão que deve levar o Desporto Escolar a permanecer na escola prende-se com o facto de esta ser "a única instituição por onde todos os cidadãos passam", restando apenas ao poder político "construir e estabilizar o modelo do DE". E isso passa "pela criação da Federação Portuguesa do Desporto Escolar", defende Manuel Brito.
Para este ex-dirigente " o melhor contributo que o DE pode dar ao DF é enviar para os clubes bons candidatos a praticantes", como entende Teotónio Lima, professor de Ética Desportiva.
DN
"Há sinais ameaçadores para o futuro"
DN - 28 de Abril de 2005
António Nobre
Ex-vice presidente da Federação Portuguesa de Atletismo
Quando surgiu a ideia de escrever o livro Atletismo Português, Gestão da Crise de Valores?
Inicialmente não era um livro. Mas, alguém que está ligado à modalidade há 20 anos rapidamente chegou à conclusão que havia aspectos que poderiam funcionar melhor. Apesar de considerar que o atletismo de hoje - conta 60 pistas e um orçamento de 3,5 milhões de euros - nada tem a ver com o atletismo de há 20 anos e isso deve-se em parte à FPA.
Então como surge o conceito crise no atletismo que procura analisar no seu livro?
Quando se fala em crise de valores, pensa-se automaticamente nos resultados desportivos. E nesta matéria o atletismo ainda continua a ser uma das poucas modalidades que têm vindo a apresentar grandes resultados a nível internacional. Mas... claramente vem-se notando, em especial no último ciclo olímpico, uma quebra significativa, tomando por comparação o que aconteceu ao longo da década de 90, muito em especial no sector de meio-fundo. No entanto, quando nos referimos aos sintomas de crise, pretendemos ir mais além e basta avaliar um conjunto de indicadores para constatar com alguma preocupação que os sinais são ameaçadores para o futuro da modalidade.
Então, essa crise é evidente onde?
Veja-se a ausência de uma estratégia de desenvolvimento e de objectivos bem definidos; a exageradíssima dependência do financiamento público; a ausência de espectadores nas principais competições de pista; a praticamente inexistente estratégia de marketing; a falta de uma definição clara de um diagnóstico das necessidades de formação e do respectivo plano global; a estagnação e até mesmo retrocesso do número de atletas e clubes filiados desde o final da década passada. Enfim, um conjunto de sintomas que urgem ser tratados, pensando no desenvolvimento sustentável da modalidade, fazendo face aos desafios do futuro.
O que se pode fazer para inverter essa tendência de estagnação?
A sociedade evoluiu muito. Não é fácil atrair os jovens para uma modalidade com exigências de treino intenso. Por isso é uma realidade que tem de ser estudada. Há uma clara ausência de estratégia. Uma apatia geral. Uma falta de planeamento capaz de actuar nessa realidade exterior à FPA. Há muito que apontámos esse problema em relatórios. Que seria cada vez mais difícil o atletismo português obter resultados. Mas a FPA manteve-se apática... não prevendo esse futuro.
A FPA não pode fazer tudo. Qual o papel dos clubes?
Com o aparecimentos das SAD a ditadura do futebol a agravar-se, e o desinvestimento da competição interna, parece-me que algo havia a fazer. Maior agressividade na angariação de apoios; Uma lógica diferente na organização das competições. Um calendário mais atractivo. Uma nova dinâmica. Temos o bom exemplo alemão que conseguiu inverter essa tendência de crise.
Verificamos uma secundarização dos clubes, dos treinadores e mesmo dos atletas nas decisões...
Se os atletas são a mola real da modalidade porque não deverão ter uma palavra a dizer sobre o futuro. Eles deveriam estar muito mais representados nas assembleias gerais e nos órgãos executivos. Na vizinha Espanha numa representação de 146 elementos existem 36 atletas. Em Portugal não tem expressão. Em 26 votos tem um.
Uma associação, um voto. O modelo não contribui para a estagnação?
Não ponho em causa esse modelo. Mas não sei se é a melhor opção... merecia uma reflexão. A sociedade evoluiu. Hoje existe uma nova dinâmica.
Você afirma que modalidade vive fechada sobre si própria. Promove mal os seus resultados. Perdeu visibilidade mediática. Perdeu público...
A televisão pública há muito que não transmite um campeonato de Portugal em directo. A FPA não pode ficar refém dos 90% do financiamento. Deveria que criar um departamento de marketing profissional e suficientemente agressivo, capaz de captar apoios e promover as medalhas do atletismo. Hoje os valores dos patrocínios são irrisórios para uma modalidade que tem grandes nomes. A modalidade tem de ser também espectáculo.
https://www.dn.pt/arquivo/2005/ha-sinais-ameacadores-para-o-futuro-597352.html
foto - Comemorações do VIII Centenário da Tomada de Lisboa aos Mouros - provas de Atletismo, corrida dos 1500 metros entre portugueses e belgas.