Mamede, Virgin e os etíopes em Madrid 1981
O Mundial Crosse em Madrid 1981 foi um momento de viragem no domínio dos países africanos Etiópia e Quénia no corta mato.
A edição na capital espanhola, realizada a 28 de março de 1981, ficará marcada também por um dos mais espetaculares e inesperados finais com o norte americano Craig Virgin a vencer à frente do etíope Mohamed Kedir e do nosso Fernando Mamede.
A história desta prova é contada nas biografias de Fernando Mamede (“O Recordista”), e de Craig Virgin (“Virgin Territory”).
Mamede iniciava a sua ascensão mundial nos 10.000 metros que o levariam logo nesse ano ao recorde da Europa (27,27,7) que melhorava em Paris 1982 (27.22,95) e ao recorde mundial em 1984 (27.13,81). No corta mato mundial tinha obtido um prometedor 16.º lugar em 1980, em ano que Craig Virgin venceu de forma surpreendente em Paris.
Moniz Pereira, confiante, disse-lhe antes do Mundial de Madrid: «temos de fazer um grande resultado, não tenhas medo que podes chegar às medalhas.»
Se para o campeão de Portugal, quando se colocou na linha de partida no Hipódromo de la Zarzuela, a pressão revelou-se “apenas” motivadora, pelo seu próprio treinador, já Craig Virgin, campeão mundial de 1980, sentia-se um homem marcado pela concorrência europeia, mas também africana que se apresentava pela primeira vez em força com equipas.
A prova, com 250 atletas, foi lançada para um ritmo alucinantes de 2:37 minutos no primeiro quilómetro, era liderado por um grupo de cerca de 20 corredores com os etíopes na frente. “Ser o atual campeão mundial trouxe prestígio, mas também pressão”, disse o americano, aluno da Universidade de Illinois. “Saí numa posição perfeita entre os 5 e 10 primeiros e fiquei lá durante toda a corrida.” Então, na 4.ª das 5 voltas, de repente, 6 corredores etíopes foram para a frente.
“Nenhum de nós jamais viu esse tipo de movimento de uma equipa antes”, disse Virgin que considerou “uma grande jogada tática destinada a intimidar.”
Foi então que o norte-americano decidiu juntar-se aos etíopes! “Fui o único corredor louco o suficiente para ficar no meio deles”, recordou, com Fernando Mamede e o britânico Julian Goater seguindo logo atrás deles.
A onda etíope na penúltima volta pareceu devastadora.
“Não tive escolha a não ser ir com eles”, disse Virgin. “A minha decisão deixou-me de rastos atrás deles, enquanto pensava: “esses tipos têm mais coragem e bolas maiores do que eu!”
“Chegando à reta final da penúltima volta, admiti a derrota e deixei-os ir”, disse Virgin. “Não consegui mais manter o ritmo deles e ainda esperava terminar.”
Mas Virgin sentiu que algo estava estranhamente errado com os etíopes.
O mesmo pensou Mamede: “fiquei totalmente confuso e na minha cabeça apenas existiam duvidas. Onde é que estes gajos vão? o fim está a mais de 2000 metros e não vou aumentar a velocidade. Olhei para o americano e ele abriu os olhos, espantado, e ficamos os dois sem saber o que fazer no meio daquela nuvem africana… vim cá eu para levar um baile destes? estou desgraçado», pensou.
“Os etíopes começaram a acelerar na reta, percebi então que eles estavam convencidos que a meta era já ali”, disse Virgin ao escritor Cliff Temple na Running Magazine de 1981.
Os confusos etíopes pensavam que tinham terminado! Quando passaram pela meta a sineta tocou, com sinal que faltava uma volta para o final e os etíopes abrandaram o ritmo de imediato. Esbracejaram muito, mas não havia nada a fazer… tiveram de correr mais 2000 metros sem o fôlego que gastaram nesse ‘sprinte’ maluco.
Mamede recorda: «Penso que não se enganaram. Foi mais excesso de confiança. Tiveram azar de eu e o Craig Virgin, mesmo tendo aumentado um pouco o ritmo para ver o que aquilo dava, não termos ido na cantiga deles e entramos para a ‘verdadeira’ última volta em recuperação de terreno que tinham ganho com aquela correria louca. Deixamos todos para trás. O único etíope a resistir foi o pequeno Mohamed Kedir [seria campeão mundial no ano seguinte em Roma’82] e fomos os três a disputar o título mundial.”
Num longo ‘sprinte’ final, o norte americano conseguiu superiorizar-se nos derradeiros metros, com 35,05 minutos, apenas dois segundo menos que Kedir e menos quatro que Fernando Mamede, que aqui conquistava a sua medalha em grandes competições internacionais.
«Acabou por ser um resultado positivo, bem melhor do que estava à espera», concluiu Mamede.
23/03/2024
A edição na capital espanhola, realizada a 28 de março de 1981, ficará marcada também por um dos mais espetaculares e inesperados finais com o norte americano Craig Virgin a vencer à frente do etíope Mohamed Kedir e do nosso Fernando Mamede.
A história desta prova é contada nas biografias de Fernando Mamede (“O Recordista”), e de Craig Virgin (“Virgin Territory”).
Mamede iniciava a sua ascensão mundial nos 10.000 metros que o levariam logo nesse ano ao recorde da Europa (27,27,7) que melhorava em Paris 1982 (27.22,95) e ao recorde mundial em 1984 (27.13,81). No corta mato mundial tinha obtido um prometedor 16.º lugar em 1980, em ano que Craig Virgin venceu de forma surpreendente em Paris.
Moniz Pereira, confiante, disse-lhe antes do Mundial de Madrid: «temos de fazer um grande resultado, não tenhas medo que podes chegar às medalhas.»
Se para o campeão de Portugal, quando se colocou na linha de partida no Hipódromo de la Zarzuela, a pressão revelou-se “apenas” motivadora, pelo seu próprio treinador, já Craig Virgin, campeão mundial de 1980, sentia-se um homem marcado pela concorrência europeia, mas também africana que se apresentava pela primeira vez em força com equipas.
A prova, com 250 atletas, foi lançada para um ritmo alucinantes de 2:37 minutos no primeiro quilómetro, era liderado por um grupo de cerca de 20 corredores com os etíopes na frente. “Ser o atual campeão mundial trouxe prestígio, mas também pressão”, disse o americano, aluno da Universidade de Illinois. “Saí numa posição perfeita entre os 5 e 10 primeiros e fiquei lá durante toda a corrida.” Então, na 4.ª das 5 voltas, de repente, 6 corredores etíopes foram para a frente.
“Nenhum de nós jamais viu esse tipo de movimento de uma equipa antes”, disse Virgin que considerou “uma grande jogada tática destinada a intimidar.”
Foi então que o norte-americano decidiu juntar-se aos etíopes! “Fui o único corredor louco o suficiente para ficar no meio deles”, recordou, com Fernando Mamede e o britânico Julian Goater seguindo logo atrás deles.
A onda etíope na penúltima volta pareceu devastadora.
“Não tive escolha a não ser ir com eles”, disse Virgin. “A minha decisão deixou-me de rastos atrás deles, enquanto pensava: “esses tipos têm mais coragem e bolas maiores do que eu!”
“Chegando à reta final da penúltima volta, admiti a derrota e deixei-os ir”, disse Virgin. “Não consegui mais manter o ritmo deles e ainda esperava terminar.”
Mas Virgin sentiu que algo estava estranhamente errado com os etíopes.
O mesmo pensou Mamede: “fiquei totalmente confuso e na minha cabeça apenas existiam duvidas. Onde é que estes gajos vão? o fim está a mais de 2000 metros e não vou aumentar a velocidade. Olhei para o americano e ele abriu os olhos, espantado, e ficamos os dois sem saber o que fazer no meio daquela nuvem africana… vim cá eu para levar um baile destes? estou desgraçado», pensou.
“Os etíopes começaram a acelerar na reta, percebi então que eles estavam convencidos que a meta era já ali”, disse Virgin ao escritor Cliff Temple na Running Magazine de 1981.
Os confusos etíopes pensavam que tinham terminado! Quando passaram pela meta a sineta tocou, com sinal que faltava uma volta para o final e os etíopes abrandaram o ritmo de imediato. Esbracejaram muito, mas não havia nada a fazer… tiveram de correr mais 2000 metros sem o fôlego que gastaram nesse ‘sprinte’ maluco.
Mamede recorda: «Penso que não se enganaram. Foi mais excesso de confiança. Tiveram azar de eu e o Craig Virgin, mesmo tendo aumentado um pouco o ritmo para ver o que aquilo dava, não termos ido na cantiga deles e entramos para a ‘verdadeira’ última volta em recuperação de terreno que tinham ganho com aquela correria louca. Deixamos todos para trás. O único etíope a resistir foi o pequeno Mohamed Kedir [seria campeão mundial no ano seguinte em Roma’82] e fomos os três a disputar o título mundial.”
Num longo ‘sprinte’ final, o norte americano conseguiu superiorizar-se nos derradeiros metros, com 35,05 minutos, apenas dois segundo menos que Kedir e menos quatro que Fernando Mamede, que aqui conquistava a sua medalha em grandes competições internacionais.
«Acabou por ser um resultado positivo, bem melhor do que estava à espera», concluiu Mamede.
23/03/2024
100.º Aniversário do Nascimento de Moniz Pereira
No âmbito das comemorações 100.º Aniversário do nascimento do Professor Moniz Pereira, a FMH – Faculdade de Motricidade Humana tem patente, no átrio principal da faculdade, uma exposição sobre a sua vida e obra.
Mário Moniz Pereira, nasceu a 11 de fevereiro de 1921, foi um dos grandes nomes do desporto português, professor, desportista, atleta, treinador e compositor de vários fados. Foi praticante de várias modalidades desportivas e era conhecido em Portugal como “Senhor Atletismo”
Mário Moniz Pereira foi um "fazedor de campeões" que projetaram Portugal no desporto mundial, como Carlos Lopes, Fernando Mamede, Domingos Castro, Dionísio Castro, entre tantos outros.
Foi aluno e professor desta Faculdade. Aqui conheceu a sua mulher Maria Carlota e deixou ainda o gosto de lecionar, na sua filha e neta, professoras nesta Instituição.
Faleceu no dia 31 de julho de 2016, aos 95 anos de idade.
Fonte: IPDJ
13/01/2022
Mário Moniz Pereira, nasceu a 11 de fevereiro de 1921, foi um dos grandes nomes do desporto português, professor, desportista, atleta, treinador e compositor de vários fados. Foi praticante de várias modalidades desportivas e era conhecido em Portugal como “Senhor Atletismo”
Mário Moniz Pereira foi um "fazedor de campeões" que projetaram Portugal no desporto mundial, como Carlos Lopes, Fernando Mamede, Domingos Castro, Dionísio Castro, entre tantos outros.
Foi aluno e professor desta Faculdade. Aqui conheceu a sua mulher Maria Carlota e deixou ainda o gosto de lecionar, na sua filha e neta, professoras nesta Instituição.
Faleceu no dia 31 de julho de 2016, aos 95 anos de idade.
Fonte: IPDJ
13/01/2022
O centenário Paço de Arcos
O conturbado ano de 1921 foi, em Portugal, rico em acontecimentos políticos, sociais, culturais, mas também desportivos. Ao longo do presente ano, que agora termina, comemoram-se os respetivos centenários de datas que ficarão para a história do desporto no nosso país.
Entre as fundações de clubes e agremiações desportivas – SC Braga, Gondomar, Ovarense, União Ericeirense, entre outros - destaque para o Futebol Clube de Paço de Arcos que viria a estar na génese do atual Clube Desportivo Paço de Arcos (CDPA).
“Os rapazes da praia utilizavam o "campo" das Fontaínhas para os jogos de futebol. Aí fundaram o Futebol Clube de Paço de Arcos, sem sede e sem organização, mas com ânimo e determinação”, conta a história do clube que soma no seu historial oito títulos de campeão nacional de hóquei em patins.
Seria o primeiro de cinco clubes da vila da Linha que viriam a estar na génese do CDPA, fundado em 1944: o Futebol Clube de Paço de Arcos, o Sport Lisboa e Paço de Arcos, o Paço de Arcos Sports Clube, o Desportivo Académico de Paço de Arcos, e o Paço de Arcos Hóquei Clube.
Num ano de 1921 que importa recordar, entre as figuras desportivas, destaque para o nascimento de Mário Moniz Pereira (também jogador de hóquei, para além de voleibol, basquetebol, ténis de mesa e claro... atletismo), a 11 de fevereiro, precisamente no ano de fundação da Federação Portuguesa de Atletismo e da secção de atletismo de “Os Belenenses”.
Marcante também foi o início do primeiro campeonato nacional de Futebol.
Já no plano internacional realiza-se o primeiro encontro desportivo feminino, no Mónaco.
Na política, cinco governos republicanos sucedem-se ao longo de 1921, ano marcado pela conhecida "Noite sangrenta" uma tentativa revolucionária em Lisboa (19 de outubro). Referência para a fundação do PCP (a 6 de março).
Na imprensa inicia-se a publicação do Diário de Lisboa (7 de abril) e sai o primeiro número da revista Seara Nova (15 de outubro).
Fotos - Escolas de hóquei em Patins do CDPA na década de 1970 e de hoje.
20/12/2021
fotos: escolas de hóquei em patins do CD Paço de Arcos nos anos 60/70, liderada pelo carismático Francisco Estevão, e hoje. Créditos - blogue os Bardinos.
Exposição - 100 anos da Federação de Atletismo
A Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) comemora em 2021 o seu centenário. Integrada na comemoração dessa importante data, inaugurou hoje a exposição Centenário da Federação Portuguesa de Atletismo no espaço atmosfera m, na Rua Castilho, n. 5. Destacamos aqui algumas das fotos e objetos que marcaram a história da modalidade em Portugal.
Das intervenções recolhemos um conjunto de frases do presidente da FPA, Jorge Vieira e do secretário de estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Rebelo.
Jorge Vieira:
«Orgulho na história e resultados do Atletismo – 12 medalhas olímpicas, cinco de ouro. Espero que outras modalidades também o consigam. Mas tarda…»
«Não há campeão sem trauma. Não há campeões de vida fácil. Na primeira participação olímpica morreu Francisco Lázaro. Essa participação já revelava os problemas do desporto português. Não havia dirigente médicos ou treinadores na comitiva. Demoramos a descolar dessa primeira participação Olímpica.»
«Qual o segredo do atletismo português para os resultados? Modalidade extremamente popular. Modalidade aberta. Popular. Fácil. (…) Recordo esta da importante -1 de outubro de 1975 apresentação por Moniz Pereira do primeiro plano de preparação olímpica. 652 contos foi quanto custou todo o processo de alta competição. Principal objetivo: dispensar os atletas selecionados da parte da manhã para treinar duas vezes por dia. (…) O trabalho - volume de treino. Se conseguirem trabalhar tanto como os outros conseguimos os mesmos resultados, defendeu Moniz Pereira.»
«Muita da história do treino está desenvolvida por autodidatas e não cientistas. - Luís Aguiar contribuiu também para o progresso do treino em Portugal.»
«Moniz Pereira foi capaz de agregar um conjunto de treinadores que trabalharam para ter resultados.»
«Estamos com o mesmo processo de financiamento dos anos 60. Começou aí a saga e o problema. A desvalorização do financiamento. Algo que marca penosamente e deve ser alterado. Não entendemos a diferença entre o apoio à cultura e ao desporto. Tem que ser ultrapassado. O desporto e absolutamente fundamental. O desporto tem a ver com política.»
João Paulo Rebelo:
«Valorizamos a ‘Estabilidade’ - Após ano e meio de turbulência a palavra estabilidade volta a acontecer. Os apoios mantiveram-se. E houve um aumento de apoia para Tóquio.»
«Quem dá acha que está a dar o que pode, quem recebe acha que deve receber mais. Conseguimos neste período revolucionário (confinamento) garantir estabilidade para os atletas. Foi muito importante quando estávamos todos apreensivos.»
«Há coisas que se tem feito que não se traduzem em dinheiro mas que representam condições como por exemplo - o apoio aos estudantes atletas. Uma mudança de mentalidade. Há cinco anos o IPDJ não tinha um euro para infraestruturais. (…) hoje o desporto é uma ‘prioridade negativa’. A Europa entende que já gastamos nos estádios já não precisam de mais apoios. Hoje temos cinco milhões de euros para recuperação de património.»
«O atraso existe no desporto como em outras áreas. Mas temos razões para estar orgulhosos com a evolução verificada. Mas nem sempre dinheiro é sinónimo de sucesso desporto. Na fábula do ‘colibri’ temos de fazer a nossa parte. Claro que merecíamos mais orçamento.»
«Há algum problema do financiamento de vir dos jogos sociais? Vários ministérios são financiados dessas verbas. Foi o Estado que determinou que essas verbas fossem para o desporto. Não vejo correlação entre desporto e cultura quanto ao financiamento. (…) para sermos rigorosos teríamos que somar o financiamento do desporto escolar e as autarquias ao desporto. Não houve cortes, houve reajustamento.»
20/10/2021
Das intervenções recolhemos um conjunto de frases do presidente da FPA, Jorge Vieira e do secretário de estado do Desporto e da Juventude, João Paulo Rebelo.
Jorge Vieira:
«Orgulho na história e resultados do Atletismo – 12 medalhas olímpicas, cinco de ouro. Espero que outras modalidades também o consigam. Mas tarda…»
«Não há campeão sem trauma. Não há campeões de vida fácil. Na primeira participação olímpica morreu Francisco Lázaro. Essa participação já revelava os problemas do desporto português. Não havia dirigente médicos ou treinadores na comitiva. Demoramos a descolar dessa primeira participação Olímpica.»
«Qual o segredo do atletismo português para os resultados? Modalidade extremamente popular. Modalidade aberta. Popular. Fácil. (…) Recordo esta da importante -1 de outubro de 1975 apresentação por Moniz Pereira do primeiro plano de preparação olímpica. 652 contos foi quanto custou todo o processo de alta competição. Principal objetivo: dispensar os atletas selecionados da parte da manhã para treinar duas vezes por dia. (…) O trabalho - volume de treino. Se conseguirem trabalhar tanto como os outros conseguimos os mesmos resultados, defendeu Moniz Pereira.»
«Muita da história do treino está desenvolvida por autodidatas e não cientistas. - Luís Aguiar contribuiu também para o progresso do treino em Portugal.»
«Moniz Pereira foi capaz de agregar um conjunto de treinadores que trabalharam para ter resultados.»
«Estamos com o mesmo processo de financiamento dos anos 60. Começou aí a saga e o problema. A desvalorização do financiamento. Algo que marca penosamente e deve ser alterado. Não entendemos a diferença entre o apoio à cultura e ao desporto. Tem que ser ultrapassado. O desporto e absolutamente fundamental. O desporto tem a ver com política.»
João Paulo Rebelo:
«Valorizamos a ‘Estabilidade’ - Após ano e meio de turbulência a palavra estabilidade volta a acontecer. Os apoios mantiveram-se. E houve um aumento de apoia para Tóquio.»
«Quem dá acha que está a dar o que pode, quem recebe acha que deve receber mais. Conseguimos neste período revolucionário (confinamento) garantir estabilidade para os atletas. Foi muito importante quando estávamos todos apreensivos.»
«Há coisas que se tem feito que não se traduzem em dinheiro mas que representam condições como por exemplo - o apoio aos estudantes atletas. Uma mudança de mentalidade. Há cinco anos o IPDJ não tinha um euro para infraestruturais. (…) hoje o desporto é uma ‘prioridade negativa’. A Europa entende que já gastamos nos estádios já não precisam de mais apoios. Hoje temos cinco milhões de euros para recuperação de património.»
«O atraso existe no desporto como em outras áreas. Mas temos razões para estar orgulhosos com a evolução verificada. Mas nem sempre dinheiro é sinónimo de sucesso desporto. Na fábula do ‘colibri’ temos de fazer a nossa parte. Claro que merecíamos mais orçamento.»
«Há algum problema do financiamento de vir dos jogos sociais? Vários ministérios são financiados dessas verbas. Foi o Estado que determinou que essas verbas fossem para o desporto. Não vejo correlação entre desporto e cultura quanto ao financiamento. (…) para sermos rigorosos teríamos que somar o financiamento do desporto escolar e as autarquias ao desporto. Não houve cortes, houve reajustamento.»
20/10/2021
O esquecimento a que todos somos votados
O esquecimento a que todos somos votados. Somos importantes, porque somos únicos, mas ao mesmo tempo somos facilmente esquecidos. As novas gerações esquecem as precedentes. Não nos lembramos. Não sabemos quem foram os nossos bisavôs. Mas cada indivíduo é tão importante...
Rejeitava o esquecimento dos homens, que contava na transmissão e na dignidade das imagens, que via na arte uma forma de honrar os mortos. Christian Boltanski, nascido no dia 6 de Setembro de 1944, na Paris libertada da ocupação nazi, morreu ontem, com 76 anos, como noticiava o diário francês Le Monde.
Foto: corrida pedestre, na festa dos 25 anos do Club Internacional de Futebol (CIF), realizada no campo das Laranjeiras, em Lisboa, 18-12-1927
16/07/2021
Rejeitava o esquecimento dos homens, que contava na transmissão e na dignidade das imagens, que via na arte uma forma de honrar os mortos. Christian Boltanski, nascido no dia 6 de Setembro de 1944, na Paris libertada da ocupação nazi, morreu ontem, com 76 anos, como noticiava o diário francês Le Monde.
Foto: corrida pedestre, na festa dos 25 anos do Club Internacional de Futebol (CIF), realizada no campo das Laranjeiras, em Lisboa, 18-12-1927
16/07/2021
A Revolução dos Cravos e o Desporto
No 47 aniversário da Revolução dos Cravos, aqui partilhamos alguns textos sobre o desporto no antes e pós 25 de Abril 1974. Actividade que vive uma alteração profunda, não só na sua prática de base, como no que diz respeito à alta competição: Carlos Lopes recorda a importância do plano de apoio à preparação para os Jogos Olímpicos e o papel decisivo de Melo de Carvalho e Moniz Pereira; Mário Machado aborda as corridas populares antes e depois do 25 de Abril; Melo de Carvalho reflecte sobre a democratização da prática desportiva numa perspetiva abrangente entre o desporto para todos e a alta competição. Gustavo Pires critica as políticas desportivas pós 25 de Abril, as suas virtualidades e contradições. Rahul Kumar conclui que ao Estado Novo "interessava sobretudo o desporto capaz de produzir corpos aptos para o trabalho, obedientes".
Carlos Lopes numa tertúlia organizadas pelo CNID e pela AOP, integradas no Programa Cultural Olímpico 2020, a 10 de fevereiro de 2020: “Salientou a importância de Moniz Pereira e de Alfredo Melo de Carvalho na fase de preparação para os Jogos Olímpicos de 1976, o primeiro como treinador, o segundo como dirigente da antiga Direção Geral dos Desportos, um e outro responsável porque tivesse sido possível fazer treino bidiário três vezes por semana. A primeira consequência dessa novidade foi o primeiro de três títulos mundiais de Carlos Lopes no corta-mato, logo em fevereiro de 1976 (em Chepstow, Reino Unido), a que se seguiria, nesse verão, a medalha de prata nos 10 mil metros dos Jogos Olímpicos. Para Carlos Lopes, esse foi o ano da viragem nos resultados e no desporto. «Não contava ganhar no crosse mas apenas ficar nos 10 primeiros. O prof. Melo de Carvalho deu-nos a possibilidade do treino bidiário três vezes por semana e deu resultado. Começou-se a acreditar no desporto nacional e depois reforçou-se com a prata em Montreal», lembrou, para acrescentar em conclusão: «Criaram-se muitas ilusões, porque não se é campeão de qualquer maneira. É preciso querer e preparar-se para cada momento. E isso não está ao alcance de todos.»
Melo de Carvalho, Director-Geral dos Desportos, entre 1974 e 1976, nas obras Desporto e Revolução (1976) e Cultura Física e Desenvolvimento (1971-1977): “Na verdade duas grandes vias se abrem, actualmente 1976] para o desenvolvimento desportivo português: aquela que defende que o problema básico é de natureza económica (na medida em que ele assenta, antes de tudo, na existência de estruturas materiais a construir pelo Estado, e no pagamento daqueles que tornam possível a prática do desporto) e uma outra via que se lhe opõe, defendendo que a exigência de meios económicos como a única via de solucionar os problemas desportivos é anti-democrática no momento presente.” Por democratização entendia-se, como Melo de Carvalho mais tarde clarificou, “o processo que possibilita, simultaneamente, o acesso do maior número a uma prática, a sua intervenção na gestão desse processo e a elevação da sua capacidade em compreender o significado do que faz.” "O 25 de Abril permitiu que a sociedade portuguesa iniciasse um processo de desbloqueamento geral que consistiu basicamente no reconhecimento do direito dos indivíduos em acederem a uma vida mais digna. (...) O desenvolvimento da alta competição não pode, nem deve ser, como uma finalidade em si própria: aqui, como em tudo que diz respeito ao desporto, , trata-se, antes de mais, de um problema educativo e cultural. O campeão não pode ser isolado da realidade social; na verdade cabe-lhe um papel social a desempenhar porque deve transportar em si a expressão cultural do seu país. (...) A sociedade tem de se preocupar em criar condições para que os seus atletas de maior valor atinjam os níveis mais elevados nas suas especialidades. É indispensável que o Estado democrático que preconizamos e na sociedade socialista que defendemos, se ultrapasse o falso problema do amadorismo-profissionalismo, procurando criar-se um novo estatuto para o atleta de alta competição que o integre, de forma correcta, nesta nova sociedade. (...) Dar a cada um a possibilidade de praticar desporto e de chegar ao mais alto nível que as suas capacidades lhe permitam é o principio fundamental que se defende."
Mário Machado em entrevista à Revista Oeiras: “[Antes do 25 de Abril de 1974] via-se receio em todo o lado. Tudo o que metia aglomerado de pessoas ou organizações fora do governo era, pura e simplesmente, proibido. Nessa altura na faculdade, na FMH, comecei a pensar em organizar uma prova de estrada em Portugal. E lá organizei uma maratona que na altura se chamava Grupo de Estada Nacional – GEN, e era uma prova que ia de Cascais a Lisboa. Fiz umas cartinhas para virem estrangeiros participarem. Na segunda-feira anterior à prova, o engenheiro Correia da Cunha, que era presidente da Federação, e que era deputado na Assembleia Nacional na chamada Ala Esquerda, chamou-me e perguntou-me o que é que eu queria fazer e eu: era uma maratona. E ele disse: quem organiza provas é a federação, portanto, se voltas a organizar uma maratona contactamos a PIDE. Foi um balde de água fria. E quando se dá o 25 de Abril pensei: agora é que é.”
Dá-se o 25 de Abril e eu penso que tenho de organizar uma meia maratona. Portanto, qual era o sítio mais simples… eu tinha um amigo que era da Nazaré. Pensei que tinha de ter um mínimo de 100 indivíduos, quando as provas organizadas pela federação tinham na altura uns 20 indivíduos e já era muito. Escrevi a toda a gente e consegui reunir 123 pessoas, isto em novembro de 1975. E foi uma prova para quem quisesse correr, sem precisar de ter a 4.ª classe, pertencer à federação… [A partir de 1956 é proibido a entrada em competições desportivas de carácter oficial ou de campeonatos a qualquer indivíduo que não possua o exame da 3.ª classe e da 4.ª classe a partir de 1 de janeiro de 1959.]
Nessa altura sou convidado para a Direção Geral dos Desportos e lá estava o Melo de Carvalho, e a minha missão era fazer um plano de Corrida para Todos. Faço o plano, entrego-o na DGD e fui dois meses para a Alemanha. Venho todo entusiasmado, entro no gabinete onde me entregaram uma carta que diz: dispensamos os seus serviços e volte à escola. E aquilo foi uma bomba para mim e pensei “os cães não querem o plano para todos, então está bem. Eu vou fazer um plano de corrida para todos. (…). Volto para a escola para ensinar, lanço a revista Spiridon. A federação continua a proibir este tipo de provas a que chama piratas (…) Entretanto Melo de Carvalho também é chutado da DGD e vai para a CM de Oeiras como vereador. Passados 3 ou 4 meses, com José Manuel Constantino [actual presidente do COP] diz-me: Mário é agora. Nós não temos muito dinheiro, mas queremos fazer um tipo de provas de corridas que seja para todos que queiram participar (…). Lançamos o Troféu CMO – Corrida das localidades.”
Gustavo Pires, a 22/11/2015 em A BOLA, Espaço Universidade: “(…) Se o desporto ainda preserva alguma ideia de cultura de promoção social, fica-se fundamentalmente a dever a Alfredo Melo de Carvalho e a Manuela Sérgio. Quanto a Melo de Carvalho ele foi o grande responsável pela institucionalização de uma política pública direcionada para a promoção da prática desportiva através dos, ao tempo, designados Planos de Desenvolvimento para várias modalidades desportivas idealizados sob a sua liderança enquanto Diretor-Geral dos Desportos.”
“Mas não foi por ter havido uma opção nítida relativamente à base do Sistema Desportivo que os apoios a nível da alta competição não foram assumidos. Ao tempo já Moniz Pereira estava envolvido num projeto de preparação para os Jogos Olímpicos de Montreal (1976). Os resultados conseguidos por Carlos Lopes no atletismo e, no tiro, por Armando Marques acabaram por provar aos portugueses que, para além da vela, da esgrima e da equitação, eles eram capazes de ganhar medalhas em desportos como o atletismo e o tiro. Por isso, era necessário começar a envolver a população portuguesa nos resultados desportivos, desde que esses resultados, através de políticas públicas apropriadas, fossem capazes de explorar o efeito de ídolo e provocar o desenvolvimento a montante do Sistema Desportivo. Infelizmente, quatro anos depois, os JO Moscovo foram sujeitos a um inapropriado e inútil boicote promovido pelos governos dos países ocidentais. Tal facto, à parte de ter demonstrado uma certa vitalidade do Comité Olímpico de Portugal (COP) que se recusou a aderir ao boicote, acabou tão só por prejudicar os atletas e o desporto. Após a extraordinária fase de arranque das políticas de promoção do desporto protagonizada por Melo de Carvalho o primeiro sinal de que o processo de desenvolvimento estava a evoluir em busca de uma relação virtuosa entre a massa de praticantes e a elite aconteceu em princípios dos anos oitenta quando o IX Governo Constitucional (1983-1985) presidido por Mário Soares, pela primeira vez, fez constar no seu Programa de Governo a necessidade de incrementar o “apoio aos atletas e às equipas portuguesas no domínio de alta competição, especialmente em campeonatos da Europa, do Mundo e Jogos Olímpicos.” Depois, os resultados conseguidos pelas Missões portuguesas nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984) e de Seul (1988) vieram dar um impulso significativo à dinâmica de excelência que, na justa medida, também devia envolver o processo de desenvolvimento do desporto. Em consequência, em 1990 foi publicada a Lei de Bases do Sistema Desportivo (Lei 1/90 de 13 de janeiro) que revogou o famigerado Decreto-lei 32946 que vigorava desde 1943. Ora, a Lei 1/90 para além de passar a considerar a alta competição como um assunto do interesse e da responsabilidade do Estado em articulação com o Movimento Desportivo reconheceu ao COP as atribuições e as competências que decorriam da Carta Olímpica, nomeadamente para “organizar a representação nacional aos jogos olímpicos”. Entretanto, os aspetos relativos à Alta Competição foram regulamentados pelo Decreto-Lei nº 257/90 de 7 de agosto que consubstanciou diversas medidas de apoio do Estado, entre elas, prémios pecuniários aos atletas que obtivessem resultados desportivos em provas desportivas internacionais. E assim, aconteceu um salto qualitativo de um modelo de desenvolvimento desportivo que, de acordo com a “Carta Europeia do Desporto para Todos”, estava fundamentalmente centrado na promoção da prática desportiva de base, para um sistema que passava a integrar a promoção da elite de praticantes através de programas centrados no rendimento desportivo que acabaram consignados na Carta Europeia do Desporto publicada em 1992 que, nesta matéria, não deixou de atribuir ao Estado as suas responsabilidades. Tudo estaria bem se tivesse sido possível, através de um acordo de regime interpartidário, manter em funcionamento um sistema desportivo equilibrado na relação dialética entre, por um lado, um eixo determinado pelo padrão de responsabilidade entre a sociedade e o Estado e, por outro lado, entre o social e o económico. Quer dizer, em que circunstâncias as políticas públicas deviam decorrer do Estado ou da sociedade e serem dirigidas ou para o social ou para o económico. Ora, devido à luta pré-homérica que tem caracterizado as relações interpartidárias, tal nunca foi possível. Em consequência, os partidos do antigo arco da governação limitaram-se a ignorar o social que era muito caro e a privilegiar o mercado que lhes ficava mais barato e proporcionava mais dividendos a nível da cosmética política. Então, a partir de princípios dos anos noventa a economia dos negócios dos eventos desportivos começou a tomar conta do desporto e a provocar transformações aberrantes no próprio Sistema Desportivo.”
Rahul Kumar em Os piratas da corrida (2011), fragmentos para a popularização do atletismo em Portugal. In José Neves e Nuno Domingos (Coords.). Uma História do Desporto em Portugal, Vol. 3, Classes, Associativismo e Estado. Vila do Conde: Quid Novi: “Com a Revolução de Abril a popularização da corrida associa-se a um processo de democratização e massificação da prática desportiva, em que a articulação entre um conjunto de técnicos progressistas, poder autárquico e associativismo popular gerou as condições para divulgação da “corrida aberta a todos” e a emergência dos “piratas da corrida. Em suma, entre meados dos anos sessenta e a revolução de 25 de Abril de 1974 não só o regime não contribuiu para o desenvolvimento do atletismo como reprimiu – através de exigências como a obrigatoriedade de autorização das provas por parte das associações regionais e de exame médico dos participantes – todas as tentativas de organização autónoma de uma prática desportiva, mesmo que se tenha observado uma maior racionalização do campo desportivo e um crescimento do número de atletas federados. Estava-se longe, porém, quer de uma prática desportiva de massas, quer da hipótese de contemplar o sucesso internacional dos atletas portugueses de elite. Se muitas vezes é difícil imputar uma causalidade política ao desenvolvimento do desporto em Portugal dificilmente se pode subestimar os efeitos da transformação política operada com a Revolução de Abril. Melo de Carvalho, Director-Geral dos Desportos, entre 1974 e 1976, sistematiza na obra Desporto e Revolução as opções em causa e o corte com a anterior política desportiva: “Na verdade duas grandes vias se abrem, actualmente para o desenvolvimento desportivo português: aquela que defende que o problema básico é de natureza económica (na medida em que ele assenta, antes de tudo, na existência de estruturas materiais a construir pelo Estado, e no pagamento daqueles que tornam possível a prática do desporto) e uma outra via que se lhe opõe, defendendo que a exigência de meios económicos como a única via de solucionar os problemas desportivos é anti-democrática no momento presente.” (Carvalho, 1976: 31) O corolário político desta leitura foi a procura de uma nova forma de articulação entre o poder político e os clubes populares como estratégia de solução para o eternamente debatido problema da massificação da prática desportiva, arquitectada neste período não somente como meio de regeneração da saúde da nação, mas também enquanto prática lúdica e recreativa – um aspecto até então secundário nos discursos políticos sobre a massificação da prática desportiva – e instrumento de politização da população, através do envolvimento das classes populares e do respectivo movimento associativo num projecto democrático e participativo. O atletismo teve neste novo projecto desportivo uma importância crucial, também pelos reduzidos recursos que eram necessários à instituição da sua prática. Sobretudo a “corrida, pelo seu carácter intuitivo e pela rápida capacidade de mobilização, é encarada como a actividade primordial em prol da massificação desportiva de um povo para quem o «desporto» eram sobretudo os incómodos assentos das bancadas dos estádios” (Cardoso, 2000: 56). À margem das federações e dos grandes clubes, mitigando fronteiras entre profissionais e amadores, a “corrida aberta a todos” transformava as regras que estruturavam o atletismo português e a relação que diferentes grupos sociais estabeleciam com a prática e o consumo do espectáculo desportivo. A ideia das provas populares e da sua auto-organização eram duas das componentes essenciais do movimento desportivo emergente. O movimento da “corrida aberta a todos”, não só colocou em causa a ideologia do recorde e a centralidade da luta pelas medalhas no imaginário 100 congresso de história e desporto 2012 da modalidade, como contribuiu para mitigar as fronteiras entre amadores e profissionais, ao mesmo tempo que retirou às estruturas federativas o monopólio da organização das provas e da definição das suas características. Da distância e trajecto das corridas passando pelos participantes, onde se contavam em grande número as crianças e os jovens, as mulheres e os veteranos – categoriais habitualmente secundarizadas nas provas federadas e nos grandes clubes – os modelos estabelecidos, racionalizados e estandardizados (Bale, 2004) de gestão da prática do atletismo eram colocados em causa pelos “piratas da corrida”. As provas tanto podiam ser na praia ou na montanha, em circuitos urbanos ou em corta-mato. Eram distribuídos prémios de participação e medalhas por todos os participantes. Nas páginas da Spiridon, revista dirigida por Mário Machado, era possível observar, mesmo perante a oposição dos dirigentes federativos, a difusão destas provas um pouco por todo o território português. Da clássica meia maratona da Nazaré , cuja primeira edição remonta a 1975, ao grande prémio especial de Alcobaça (8km), organizado pelo NASA (Núcleo dos Amigos de Spiridon de Alcobaça) passando pela corrida “Manteigas-Penhas Douradas”, ou pelas três léguas do Nabão, prova edificada pelo CALMA (Clube de Actividades de Lazer e Manutenção, sediado em Tomar) a prática do atletismo cresceu de forma impressionante em toda a parte, mas em especial nas periferias dos grandes centros urbanos, algumas regiões do interior e em zonas escassamente dotadas de infra-estruturas e equipamentos desportivos, que nunca até aí haviam tido a possibilidade do acesso à prática desportiva estruturada e recreativa. Curiosamente, e contra boa parte dos discursos que ocupavam o hiperpolitizado espaço público português, foi também a partir de 1975 que se iniciou o financiamento do atletismo de alta competição, que até então apresentava um carácter pontual e errático, assim como o apoio à atividade federativa e associativa. O apoio de 500 contos concedido à preparação dos 4 atletas, orientados por Moniz Pereira, que participaram nos Jogos Olímpicos de Montreal, acabou por dar frutos, contra as opiniões e expectativas de alguns comentadores. Luís Alves publicou n’O Século um artigo intitulado “Presença Olímpica” onde defendeu, alinhado com as posições que consideravam toda a prática desportiva de elite um obstáculo à revolução e à massificação da actividade desportiva, que a participação olímpica fosse “a 101 verdadeira imagem do País, isto é, uma presença modesta e sem ambições. Digamos, mesmo, uma presença pobre, que pode ser pobre e não perder dignidade.” Em oposição a este “desperdício”, que servia para que os atletas portugueses, entre os quais se encontravam Carlos Lopes e Fernando Mamede, pudessem realizar um estágio no Algarve e dessa forma efectuar treinos bi-diários, o comentador defendeu que essas verbas fossem canalizadas para as escolas, “onde se prepara o futuro do desporto e onde se começa a defender a saúde pública”.2 O resultado dessa participação olímpica, apoiada pela imprensa desportiva, seria a primeira medalha da história do atletismo português, consequência do segundo lugar obtido por Carlos Lopes na prova dos 10 mil metros. Os atletas portugueses de alta competição continuaram depois desta estreia a destacar-se no atletismo mundial. Este percurso de vitórias incluiu um número significativo de atletas femininas que assim conquistaram, de forma inédita, as páginas de imprensa e os ecrãs de televisão, ainda que este estatuto de heroínas nacionais tenha sido tão precário quanto à importância que os meios de comunicação iam concedendo às “outras modalidades”. A jusante deste universo do desporto espectacular, mas impulsionado pelas façanhas dos atletas portugueses que ocupavam o seu lugar entre os maiores do atletismo mundial, fruto do trabalho de fundo realizado, por técnicos como Moniz Pereira, Sameiro Araújo ou Pompílio Ferreira, entre muitos outros, fervilhava o movimento de atletismo popular, que levava todos os fins-de-semana milhares de atletas para as estradas de Portugal. O fim do período revolucionário não representou para o emergente campo do atletismo popular uma normalização das suas características nem sequer a sua pacífica integração nos moldes do desporto federado, apesar de boa parte dos atletas portugueses que se notabilizaram internacionalmente terem iniciado a prática do atletismo neste tipo de provas. Os piratas, porém, continuaram a ocupar as estradas do país e a reformular o sentido da corrida e a democratizar o acesso à prática desportiva.
Rahul Kumar, em Correr com a troika: sobre os usos de uma história do atletismo, Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, 14 de fevereiro de 2013: “Entre 1974 e 1975 o corte com a anterior política foi claro. Ao Estado Novo, e apesar do que assegura a caução do senso comum, mais do que o espectáculo desportivo, interessava sobretudo o desporto capaz de produzir corpos aptos para o trabalho, obedientes perante a voz de comando da hierarquia política. Ao desporto competitivo e espectadorizado opôs-se, durante décadas, uma visão higiénica e disciplinar das práticas físicas atléticas. Entre o discurso e a prática do regime encontrava-se, todavia, um hiato intransponível. Mesmo com a criação, na década de 1960, dos planos de fomento gimnodesportivo, financiados por receitas provenientes das apostas mútuas desportivas, não foi possível, até 1970, equipar todas as capitais de distrito com um pavilhão gimnodesportivo e uma piscina. Também no plano do desporto escolar o fracasso foi manifesto. Nessa mesma época, o aumento lento e gradual dos índices de escolarização possibilitava, pela primeira vez, o desenvolvimento de um programa alargado de educação física escolar. A urgência desse desígnio esbarrava, contudo, na inexistência de um número suficiente de “agentes de ensino de educação física”. Apesar do crescimento sustentado do número anual de licenciados pelo INEF. o rácio professor/aluno aumentou sistematicamente desde 1952-53, ano em que existia um professor para 696 estudantes, até 1963-64, quando a cada professor caberiam 938 alunos.
Perante a inexistência de verbas, equipamentos e de técnicos, a solução para o problema passou pela corrida que, para além dos reduzidos custos, “pelo seu carácter intuitivo e pela rápida capacidade de mobilização, é encarada como a actividade primordial em prol da massificação desportiva” [5]. Na Primavera de 1975, um programa como “Atletismo à porta de casa”, desenhado a partir de cima, por um conjunto de técnicos da Direcção Geral dos Desportos (DGD), conseguiu, com recursos limitados e em associação com colectividades populares, multiplicar núcleos de praticantes.
O fim do período revolucionário colocou em causa algumas destas políticas. Os responsáveis por este esboço de popularização do desporto foram substituídos nos cargos que ocupavam na DGD. Contudo, o movimento da “corrida aberta a todos” não consentiu, a partir de baixo, que esse gesto verdadeiramente democratizador do acesso à prática desportiva se desvanecesse. Mário Machado, membro do sector da Corrida para Todos da DGD, fundou em 1978 a revista Spiridon.
Curiosamente, e contra boa parte dos discursos que ocupavam o então hiperpolitizado espaço público português, foi também neste período que se iniciou o financiamento do atletismo de alta competição, que até então apresentava um carácter pontual e errático. O apoio de 500 contos concedido, em 1975, pela mesma DGD, à preparação dos 4 atletas que participaram nos Jogos Olímpicos de Montreal, realizados em 1976, acabou por dar frutos, contra as opiniões e expectativas de alguns comentadores que consideravam, à época, toda a prática desportiva competitiva como um obstáculo à revolução e à massificação da actividade desportiva. O resultado dessa participação olímpica foi a primeira medalha da história do atletismo português, com o segundo lugar obtido por Carlos Lopes na prova dos 10 mil metros. Os atletas portugueses de alta competição continuaram nos anos seguintes a destacar-se no atletismo mundial. Este percurso de vitórias incluiu um número significativo de atletas femininas que assim conquistaram, de forma inédita, as páginas de imprensa e os ecrãs de televisão. Na realidade, entre o atletismo popular e o atletismo de competição criou-se uma intensa interdependência. A expansão das provas abertas a todos possibilitou o alargamento da base social de recrutamento dos atletas de competição. Os campeões, por sua vez, ajudavam a motivar a participação popular nestas provas. A oposição não era então, como não é hoje, entre desporto recreativo e desporto de competição. A linha de clivagem fundamental deve ser traçada entre o desporto de elite, exclusivista, e o desporto de integração, democrático.”
25/04/2021
Carlos Lopes numa tertúlia organizadas pelo CNID e pela AOP, integradas no Programa Cultural Olímpico 2020, a 10 de fevereiro de 2020: “Salientou a importância de Moniz Pereira e de Alfredo Melo de Carvalho na fase de preparação para os Jogos Olímpicos de 1976, o primeiro como treinador, o segundo como dirigente da antiga Direção Geral dos Desportos, um e outro responsável porque tivesse sido possível fazer treino bidiário três vezes por semana. A primeira consequência dessa novidade foi o primeiro de três títulos mundiais de Carlos Lopes no corta-mato, logo em fevereiro de 1976 (em Chepstow, Reino Unido), a que se seguiria, nesse verão, a medalha de prata nos 10 mil metros dos Jogos Olímpicos. Para Carlos Lopes, esse foi o ano da viragem nos resultados e no desporto. «Não contava ganhar no crosse mas apenas ficar nos 10 primeiros. O prof. Melo de Carvalho deu-nos a possibilidade do treino bidiário três vezes por semana e deu resultado. Começou-se a acreditar no desporto nacional e depois reforçou-se com a prata em Montreal», lembrou, para acrescentar em conclusão: «Criaram-se muitas ilusões, porque não se é campeão de qualquer maneira. É preciso querer e preparar-se para cada momento. E isso não está ao alcance de todos.»
Melo de Carvalho, Director-Geral dos Desportos, entre 1974 e 1976, nas obras Desporto e Revolução (1976) e Cultura Física e Desenvolvimento (1971-1977): “Na verdade duas grandes vias se abrem, actualmente 1976] para o desenvolvimento desportivo português: aquela que defende que o problema básico é de natureza económica (na medida em que ele assenta, antes de tudo, na existência de estruturas materiais a construir pelo Estado, e no pagamento daqueles que tornam possível a prática do desporto) e uma outra via que se lhe opõe, defendendo que a exigência de meios económicos como a única via de solucionar os problemas desportivos é anti-democrática no momento presente.” Por democratização entendia-se, como Melo de Carvalho mais tarde clarificou, “o processo que possibilita, simultaneamente, o acesso do maior número a uma prática, a sua intervenção na gestão desse processo e a elevação da sua capacidade em compreender o significado do que faz.” "O 25 de Abril permitiu que a sociedade portuguesa iniciasse um processo de desbloqueamento geral que consistiu basicamente no reconhecimento do direito dos indivíduos em acederem a uma vida mais digna. (...) O desenvolvimento da alta competição não pode, nem deve ser, como uma finalidade em si própria: aqui, como em tudo que diz respeito ao desporto, , trata-se, antes de mais, de um problema educativo e cultural. O campeão não pode ser isolado da realidade social; na verdade cabe-lhe um papel social a desempenhar porque deve transportar em si a expressão cultural do seu país. (...) A sociedade tem de se preocupar em criar condições para que os seus atletas de maior valor atinjam os níveis mais elevados nas suas especialidades. É indispensável que o Estado democrático que preconizamos e na sociedade socialista que defendemos, se ultrapasse o falso problema do amadorismo-profissionalismo, procurando criar-se um novo estatuto para o atleta de alta competição que o integre, de forma correcta, nesta nova sociedade. (...) Dar a cada um a possibilidade de praticar desporto e de chegar ao mais alto nível que as suas capacidades lhe permitam é o principio fundamental que se defende."
Mário Machado em entrevista à Revista Oeiras: “[Antes do 25 de Abril de 1974] via-se receio em todo o lado. Tudo o que metia aglomerado de pessoas ou organizações fora do governo era, pura e simplesmente, proibido. Nessa altura na faculdade, na FMH, comecei a pensar em organizar uma prova de estrada em Portugal. E lá organizei uma maratona que na altura se chamava Grupo de Estada Nacional – GEN, e era uma prova que ia de Cascais a Lisboa. Fiz umas cartinhas para virem estrangeiros participarem. Na segunda-feira anterior à prova, o engenheiro Correia da Cunha, que era presidente da Federação, e que era deputado na Assembleia Nacional na chamada Ala Esquerda, chamou-me e perguntou-me o que é que eu queria fazer e eu: era uma maratona. E ele disse: quem organiza provas é a federação, portanto, se voltas a organizar uma maratona contactamos a PIDE. Foi um balde de água fria. E quando se dá o 25 de Abril pensei: agora é que é.”
Dá-se o 25 de Abril e eu penso que tenho de organizar uma meia maratona. Portanto, qual era o sítio mais simples… eu tinha um amigo que era da Nazaré. Pensei que tinha de ter um mínimo de 100 indivíduos, quando as provas organizadas pela federação tinham na altura uns 20 indivíduos e já era muito. Escrevi a toda a gente e consegui reunir 123 pessoas, isto em novembro de 1975. E foi uma prova para quem quisesse correr, sem precisar de ter a 4.ª classe, pertencer à federação… [A partir de 1956 é proibido a entrada em competições desportivas de carácter oficial ou de campeonatos a qualquer indivíduo que não possua o exame da 3.ª classe e da 4.ª classe a partir de 1 de janeiro de 1959.]
Nessa altura sou convidado para a Direção Geral dos Desportos e lá estava o Melo de Carvalho, e a minha missão era fazer um plano de Corrida para Todos. Faço o plano, entrego-o na DGD e fui dois meses para a Alemanha. Venho todo entusiasmado, entro no gabinete onde me entregaram uma carta que diz: dispensamos os seus serviços e volte à escola. E aquilo foi uma bomba para mim e pensei “os cães não querem o plano para todos, então está bem. Eu vou fazer um plano de corrida para todos. (…). Volto para a escola para ensinar, lanço a revista Spiridon. A federação continua a proibir este tipo de provas a que chama piratas (…) Entretanto Melo de Carvalho também é chutado da DGD e vai para a CM de Oeiras como vereador. Passados 3 ou 4 meses, com José Manuel Constantino [actual presidente do COP] diz-me: Mário é agora. Nós não temos muito dinheiro, mas queremos fazer um tipo de provas de corridas que seja para todos que queiram participar (…). Lançamos o Troféu CMO – Corrida das localidades.”
Gustavo Pires, a 22/11/2015 em A BOLA, Espaço Universidade: “(…) Se o desporto ainda preserva alguma ideia de cultura de promoção social, fica-se fundamentalmente a dever a Alfredo Melo de Carvalho e a Manuela Sérgio. Quanto a Melo de Carvalho ele foi o grande responsável pela institucionalização de uma política pública direcionada para a promoção da prática desportiva através dos, ao tempo, designados Planos de Desenvolvimento para várias modalidades desportivas idealizados sob a sua liderança enquanto Diretor-Geral dos Desportos.”
“Mas não foi por ter havido uma opção nítida relativamente à base do Sistema Desportivo que os apoios a nível da alta competição não foram assumidos. Ao tempo já Moniz Pereira estava envolvido num projeto de preparação para os Jogos Olímpicos de Montreal (1976). Os resultados conseguidos por Carlos Lopes no atletismo e, no tiro, por Armando Marques acabaram por provar aos portugueses que, para além da vela, da esgrima e da equitação, eles eram capazes de ganhar medalhas em desportos como o atletismo e o tiro. Por isso, era necessário começar a envolver a população portuguesa nos resultados desportivos, desde que esses resultados, através de políticas públicas apropriadas, fossem capazes de explorar o efeito de ídolo e provocar o desenvolvimento a montante do Sistema Desportivo. Infelizmente, quatro anos depois, os JO Moscovo foram sujeitos a um inapropriado e inútil boicote promovido pelos governos dos países ocidentais. Tal facto, à parte de ter demonstrado uma certa vitalidade do Comité Olímpico de Portugal (COP) que se recusou a aderir ao boicote, acabou tão só por prejudicar os atletas e o desporto. Após a extraordinária fase de arranque das políticas de promoção do desporto protagonizada por Melo de Carvalho o primeiro sinal de que o processo de desenvolvimento estava a evoluir em busca de uma relação virtuosa entre a massa de praticantes e a elite aconteceu em princípios dos anos oitenta quando o IX Governo Constitucional (1983-1985) presidido por Mário Soares, pela primeira vez, fez constar no seu Programa de Governo a necessidade de incrementar o “apoio aos atletas e às equipas portuguesas no domínio de alta competição, especialmente em campeonatos da Europa, do Mundo e Jogos Olímpicos.” Depois, os resultados conseguidos pelas Missões portuguesas nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984) e de Seul (1988) vieram dar um impulso significativo à dinâmica de excelência que, na justa medida, também devia envolver o processo de desenvolvimento do desporto. Em consequência, em 1990 foi publicada a Lei de Bases do Sistema Desportivo (Lei 1/90 de 13 de janeiro) que revogou o famigerado Decreto-lei 32946 que vigorava desde 1943. Ora, a Lei 1/90 para além de passar a considerar a alta competição como um assunto do interesse e da responsabilidade do Estado em articulação com o Movimento Desportivo reconheceu ao COP as atribuições e as competências que decorriam da Carta Olímpica, nomeadamente para “organizar a representação nacional aos jogos olímpicos”. Entretanto, os aspetos relativos à Alta Competição foram regulamentados pelo Decreto-Lei nº 257/90 de 7 de agosto que consubstanciou diversas medidas de apoio do Estado, entre elas, prémios pecuniários aos atletas que obtivessem resultados desportivos em provas desportivas internacionais. E assim, aconteceu um salto qualitativo de um modelo de desenvolvimento desportivo que, de acordo com a “Carta Europeia do Desporto para Todos”, estava fundamentalmente centrado na promoção da prática desportiva de base, para um sistema que passava a integrar a promoção da elite de praticantes através de programas centrados no rendimento desportivo que acabaram consignados na Carta Europeia do Desporto publicada em 1992 que, nesta matéria, não deixou de atribuir ao Estado as suas responsabilidades. Tudo estaria bem se tivesse sido possível, através de um acordo de regime interpartidário, manter em funcionamento um sistema desportivo equilibrado na relação dialética entre, por um lado, um eixo determinado pelo padrão de responsabilidade entre a sociedade e o Estado e, por outro lado, entre o social e o económico. Quer dizer, em que circunstâncias as políticas públicas deviam decorrer do Estado ou da sociedade e serem dirigidas ou para o social ou para o económico. Ora, devido à luta pré-homérica que tem caracterizado as relações interpartidárias, tal nunca foi possível. Em consequência, os partidos do antigo arco da governação limitaram-se a ignorar o social que era muito caro e a privilegiar o mercado que lhes ficava mais barato e proporcionava mais dividendos a nível da cosmética política. Então, a partir de princípios dos anos noventa a economia dos negócios dos eventos desportivos começou a tomar conta do desporto e a provocar transformações aberrantes no próprio Sistema Desportivo.”
Rahul Kumar em Os piratas da corrida (2011), fragmentos para a popularização do atletismo em Portugal. In José Neves e Nuno Domingos (Coords.). Uma História do Desporto em Portugal, Vol. 3, Classes, Associativismo e Estado. Vila do Conde: Quid Novi: “Com a Revolução de Abril a popularização da corrida associa-se a um processo de democratização e massificação da prática desportiva, em que a articulação entre um conjunto de técnicos progressistas, poder autárquico e associativismo popular gerou as condições para divulgação da “corrida aberta a todos” e a emergência dos “piratas da corrida. Em suma, entre meados dos anos sessenta e a revolução de 25 de Abril de 1974 não só o regime não contribuiu para o desenvolvimento do atletismo como reprimiu – através de exigências como a obrigatoriedade de autorização das provas por parte das associações regionais e de exame médico dos participantes – todas as tentativas de organização autónoma de uma prática desportiva, mesmo que se tenha observado uma maior racionalização do campo desportivo e um crescimento do número de atletas federados. Estava-se longe, porém, quer de uma prática desportiva de massas, quer da hipótese de contemplar o sucesso internacional dos atletas portugueses de elite. Se muitas vezes é difícil imputar uma causalidade política ao desenvolvimento do desporto em Portugal dificilmente se pode subestimar os efeitos da transformação política operada com a Revolução de Abril. Melo de Carvalho, Director-Geral dos Desportos, entre 1974 e 1976, sistematiza na obra Desporto e Revolução as opções em causa e o corte com a anterior política desportiva: “Na verdade duas grandes vias se abrem, actualmente para o desenvolvimento desportivo português: aquela que defende que o problema básico é de natureza económica (na medida em que ele assenta, antes de tudo, na existência de estruturas materiais a construir pelo Estado, e no pagamento daqueles que tornam possível a prática do desporto) e uma outra via que se lhe opõe, defendendo que a exigência de meios económicos como a única via de solucionar os problemas desportivos é anti-democrática no momento presente.” (Carvalho, 1976: 31) O corolário político desta leitura foi a procura de uma nova forma de articulação entre o poder político e os clubes populares como estratégia de solução para o eternamente debatido problema da massificação da prática desportiva, arquitectada neste período não somente como meio de regeneração da saúde da nação, mas também enquanto prática lúdica e recreativa – um aspecto até então secundário nos discursos políticos sobre a massificação da prática desportiva – e instrumento de politização da população, através do envolvimento das classes populares e do respectivo movimento associativo num projecto democrático e participativo. O atletismo teve neste novo projecto desportivo uma importância crucial, também pelos reduzidos recursos que eram necessários à instituição da sua prática. Sobretudo a “corrida, pelo seu carácter intuitivo e pela rápida capacidade de mobilização, é encarada como a actividade primordial em prol da massificação desportiva de um povo para quem o «desporto» eram sobretudo os incómodos assentos das bancadas dos estádios” (Cardoso, 2000: 56). À margem das federações e dos grandes clubes, mitigando fronteiras entre profissionais e amadores, a “corrida aberta a todos” transformava as regras que estruturavam o atletismo português e a relação que diferentes grupos sociais estabeleciam com a prática e o consumo do espectáculo desportivo. A ideia das provas populares e da sua auto-organização eram duas das componentes essenciais do movimento desportivo emergente. O movimento da “corrida aberta a todos”, não só colocou em causa a ideologia do recorde e a centralidade da luta pelas medalhas no imaginário 100 congresso de história e desporto 2012 da modalidade, como contribuiu para mitigar as fronteiras entre amadores e profissionais, ao mesmo tempo que retirou às estruturas federativas o monopólio da organização das provas e da definição das suas características. Da distância e trajecto das corridas passando pelos participantes, onde se contavam em grande número as crianças e os jovens, as mulheres e os veteranos – categoriais habitualmente secundarizadas nas provas federadas e nos grandes clubes – os modelos estabelecidos, racionalizados e estandardizados (Bale, 2004) de gestão da prática do atletismo eram colocados em causa pelos “piratas da corrida”. As provas tanto podiam ser na praia ou na montanha, em circuitos urbanos ou em corta-mato. Eram distribuídos prémios de participação e medalhas por todos os participantes. Nas páginas da Spiridon, revista dirigida por Mário Machado, era possível observar, mesmo perante a oposição dos dirigentes federativos, a difusão destas provas um pouco por todo o território português. Da clássica meia maratona da Nazaré , cuja primeira edição remonta a 1975, ao grande prémio especial de Alcobaça (8km), organizado pelo NASA (Núcleo dos Amigos de Spiridon de Alcobaça) passando pela corrida “Manteigas-Penhas Douradas”, ou pelas três léguas do Nabão, prova edificada pelo CALMA (Clube de Actividades de Lazer e Manutenção, sediado em Tomar) a prática do atletismo cresceu de forma impressionante em toda a parte, mas em especial nas periferias dos grandes centros urbanos, algumas regiões do interior e em zonas escassamente dotadas de infra-estruturas e equipamentos desportivos, que nunca até aí haviam tido a possibilidade do acesso à prática desportiva estruturada e recreativa. Curiosamente, e contra boa parte dos discursos que ocupavam o hiperpolitizado espaço público português, foi também a partir de 1975 que se iniciou o financiamento do atletismo de alta competição, que até então apresentava um carácter pontual e errático, assim como o apoio à atividade federativa e associativa. O apoio de 500 contos concedido à preparação dos 4 atletas, orientados por Moniz Pereira, que participaram nos Jogos Olímpicos de Montreal, acabou por dar frutos, contra as opiniões e expectativas de alguns comentadores. Luís Alves publicou n’O Século um artigo intitulado “Presença Olímpica” onde defendeu, alinhado com as posições que consideravam toda a prática desportiva de elite um obstáculo à revolução e à massificação da actividade desportiva, que a participação olímpica fosse “a 101 verdadeira imagem do País, isto é, uma presença modesta e sem ambições. Digamos, mesmo, uma presença pobre, que pode ser pobre e não perder dignidade.” Em oposição a este “desperdício”, que servia para que os atletas portugueses, entre os quais se encontravam Carlos Lopes e Fernando Mamede, pudessem realizar um estágio no Algarve e dessa forma efectuar treinos bi-diários, o comentador defendeu que essas verbas fossem canalizadas para as escolas, “onde se prepara o futuro do desporto e onde se começa a defender a saúde pública”.2 O resultado dessa participação olímpica, apoiada pela imprensa desportiva, seria a primeira medalha da história do atletismo português, consequência do segundo lugar obtido por Carlos Lopes na prova dos 10 mil metros. Os atletas portugueses de alta competição continuaram depois desta estreia a destacar-se no atletismo mundial. Este percurso de vitórias incluiu um número significativo de atletas femininas que assim conquistaram, de forma inédita, as páginas de imprensa e os ecrãs de televisão, ainda que este estatuto de heroínas nacionais tenha sido tão precário quanto à importância que os meios de comunicação iam concedendo às “outras modalidades”. A jusante deste universo do desporto espectacular, mas impulsionado pelas façanhas dos atletas portugueses que ocupavam o seu lugar entre os maiores do atletismo mundial, fruto do trabalho de fundo realizado, por técnicos como Moniz Pereira, Sameiro Araújo ou Pompílio Ferreira, entre muitos outros, fervilhava o movimento de atletismo popular, que levava todos os fins-de-semana milhares de atletas para as estradas de Portugal. O fim do período revolucionário não representou para o emergente campo do atletismo popular uma normalização das suas características nem sequer a sua pacífica integração nos moldes do desporto federado, apesar de boa parte dos atletas portugueses que se notabilizaram internacionalmente terem iniciado a prática do atletismo neste tipo de provas. Os piratas, porém, continuaram a ocupar as estradas do país e a reformular o sentido da corrida e a democratizar o acesso à prática desportiva.
Rahul Kumar, em Correr com a troika: sobre os usos de uma história do atletismo, Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, 14 de fevereiro de 2013: “Entre 1974 e 1975 o corte com a anterior política foi claro. Ao Estado Novo, e apesar do que assegura a caução do senso comum, mais do que o espectáculo desportivo, interessava sobretudo o desporto capaz de produzir corpos aptos para o trabalho, obedientes perante a voz de comando da hierarquia política. Ao desporto competitivo e espectadorizado opôs-se, durante décadas, uma visão higiénica e disciplinar das práticas físicas atléticas. Entre o discurso e a prática do regime encontrava-se, todavia, um hiato intransponível. Mesmo com a criação, na década de 1960, dos planos de fomento gimnodesportivo, financiados por receitas provenientes das apostas mútuas desportivas, não foi possível, até 1970, equipar todas as capitais de distrito com um pavilhão gimnodesportivo e uma piscina. Também no plano do desporto escolar o fracasso foi manifesto. Nessa mesma época, o aumento lento e gradual dos índices de escolarização possibilitava, pela primeira vez, o desenvolvimento de um programa alargado de educação física escolar. A urgência desse desígnio esbarrava, contudo, na inexistência de um número suficiente de “agentes de ensino de educação física”. Apesar do crescimento sustentado do número anual de licenciados pelo INEF. o rácio professor/aluno aumentou sistematicamente desde 1952-53, ano em que existia um professor para 696 estudantes, até 1963-64, quando a cada professor caberiam 938 alunos.
Perante a inexistência de verbas, equipamentos e de técnicos, a solução para o problema passou pela corrida que, para além dos reduzidos custos, “pelo seu carácter intuitivo e pela rápida capacidade de mobilização, é encarada como a actividade primordial em prol da massificação desportiva” [5]. Na Primavera de 1975, um programa como “Atletismo à porta de casa”, desenhado a partir de cima, por um conjunto de técnicos da Direcção Geral dos Desportos (DGD), conseguiu, com recursos limitados e em associação com colectividades populares, multiplicar núcleos de praticantes.
O fim do período revolucionário colocou em causa algumas destas políticas. Os responsáveis por este esboço de popularização do desporto foram substituídos nos cargos que ocupavam na DGD. Contudo, o movimento da “corrida aberta a todos” não consentiu, a partir de baixo, que esse gesto verdadeiramente democratizador do acesso à prática desportiva se desvanecesse. Mário Machado, membro do sector da Corrida para Todos da DGD, fundou em 1978 a revista Spiridon.
Curiosamente, e contra boa parte dos discursos que ocupavam o então hiperpolitizado espaço público português, foi também neste período que se iniciou o financiamento do atletismo de alta competição, que até então apresentava um carácter pontual e errático. O apoio de 500 contos concedido, em 1975, pela mesma DGD, à preparação dos 4 atletas que participaram nos Jogos Olímpicos de Montreal, realizados em 1976, acabou por dar frutos, contra as opiniões e expectativas de alguns comentadores que consideravam, à época, toda a prática desportiva competitiva como um obstáculo à revolução e à massificação da actividade desportiva. O resultado dessa participação olímpica foi a primeira medalha da história do atletismo português, com o segundo lugar obtido por Carlos Lopes na prova dos 10 mil metros. Os atletas portugueses de alta competição continuaram nos anos seguintes a destacar-se no atletismo mundial. Este percurso de vitórias incluiu um número significativo de atletas femininas que assim conquistaram, de forma inédita, as páginas de imprensa e os ecrãs de televisão. Na realidade, entre o atletismo popular e o atletismo de competição criou-se uma intensa interdependência. A expansão das provas abertas a todos possibilitou o alargamento da base social de recrutamento dos atletas de competição. Os campeões, por sua vez, ajudavam a motivar a participação popular nestas provas. A oposição não era então, como não é hoje, entre desporto recreativo e desporto de competição. A linha de clivagem fundamental deve ser traçada entre o desporto de elite, exclusivista, e o desporto de integração, democrático.”
25/04/2021
Duelos em Portugal
Num vídeo em direto no Facebook, o juiz Rui Fonseca e Castro, suspenso pelo Conselho Superior da Magistratura, chama Magina da Silva de "maroto" e acusa a PSP de "vigilância ilegal". Propõe ao diretor-nacional da PSP "resolver isto como homens" desafiando-o para um combate MMA (Mixed Martial Arts): se perder "desaparece" do facebook e da esfera pública. A imprensa deu o devido relevo ao vídeo, mas a coisa não passou daqui. 100 anos depois dos últimos duelos em Portugal, o desafio para um combate (duelo?) entre figuras da esfera pública surge nas redes sociais.
Eça de Queirós escreveu em 1880: “há-de haver sempre duelos. Haverá sempre quem consinta esvair-se em sangue – tendo em redor as aclamações de um circo.”
Nos finais do seculo XIX e princípios do seculo XX, um invulgar conjunto de duelos, à espada, mas também à pistola, colocaria frente a frente homens que, há época, estavam em lugares cimeiros da cultura, jornalismo, da vida politica, militar e social.
O último duelo publico realizou-se a 22 de abril de 1928 entre Beirão da Veiga, praticante de esgrima, e Dias Ferreira, que "não sabia distinguir uma espada de uma faca de talher de mesa". Duelo entre dois professores do Instituto Superior de ciências económicas e financeiras, motivado por ofensas pessoais após uma troca de cartas na imprensa.
Sobre este e outros duelos - Antero de Quental versus Ramalho Ortigão, Conde de Penha Garcia, Afonso Costa, António Osório, Carlos Gonçalves - destaque entre a literatura disponível para dois livros - Os grandes Duelos em Portugal publicado pelo jornalista Artur Portela nos anos 40 do século XX e Duelos e Atentados, de Eduardo Nobre de 2004.
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FOTO: Duelo no Parque das Necessidades, em 2 de Julho de 1924. Por uma questão de honra, o então chefe do Governo, Álvaro de Castro, de camisola branca, defrontou o aviador Ribeiro da Fonseca.
23/04/2021
Eça de Queirós escreveu em 1880: “há-de haver sempre duelos. Haverá sempre quem consinta esvair-se em sangue – tendo em redor as aclamações de um circo.”
Nos finais do seculo XIX e princípios do seculo XX, um invulgar conjunto de duelos, à espada, mas também à pistola, colocaria frente a frente homens que, há época, estavam em lugares cimeiros da cultura, jornalismo, da vida politica, militar e social.
O último duelo publico realizou-se a 22 de abril de 1928 entre Beirão da Veiga, praticante de esgrima, e Dias Ferreira, que "não sabia distinguir uma espada de uma faca de talher de mesa". Duelo entre dois professores do Instituto Superior de ciências económicas e financeiras, motivado por ofensas pessoais após uma troca de cartas na imprensa.
Sobre este e outros duelos - Antero de Quental versus Ramalho Ortigão, Conde de Penha Garcia, Afonso Costa, António Osório, Carlos Gonçalves - destaque entre a literatura disponível para dois livros - Os grandes Duelos em Portugal publicado pelo jornalista Artur Portela nos anos 40 do século XX e Duelos e Atentados, de Eduardo Nobre de 2004.
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FOTO: Duelo no Parque das Necessidades, em 2 de Julho de 1924. Por uma questão de honra, o então chefe do Governo, Álvaro de Castro, de camisola branca, defrontou o aviador Ribeiro da Fonseca.
23/04/2021
O colecionador sem método
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Há uma atração pelo colecionismo que nos leva desde crianças a acumular todo o tipo de objetos. Há quem mantenha essa atividade de uma forma organizada e sistemática até à idade adulta. Não é o meu caso. Colecionei tudo o que havia para colecionar – cromos de futebol, carteiras de fósforos, berlindes, moedas, revistas, banda desenhada, miniaturas … e selos. Mas sem convicção , sem organização, sem métodos. Claro que rapidamente me passava a vontade de acumular e, que me lembre, não completei nenhuma das minhas coleções. Acumular selos (e não colecionar, algo mais complexo) foi um hobby que desenvolvi com muito prazer, porque efetivamente é uma experiência que dá muito prazer, podendo até tornar-se uma obsessão, um vicio. Mesmo sem uma metodologia, uma temática, apenas pelo prazer de juntar os selos e procurar saber algo sobre cada um deles. Por isso, foi com nostalgia que revi a minha pequena coleção de selos usados, da qual partilho alguns alusivos aos jogos olímpicos. Filatelia é o estudo e o colecionismo de selos postais e materiais relacionados.
18/03/2021 |
História do Triatlo: De San Diego ao Havai
Excerto do livro «30 anos de Triatlo», um desafio editorial emocionante em coautoria com a minha amiga e ex-camarada do DN, Elisabete Silva, numa obra da Federação Portuguesa de Triatlo, com data de lançamento prevista para o 2.º trimestre de 2021.
Passaram-se 43 anos de Triatlo desde que se realizou a prova que mudaria todo o panorama da modalidade.
O Triatlo, como o conhecemos hoje, nasceu na década de 70 do século passado no San Diego Track Club, nos EUA. No dia 25 de setembro de 1974, os atletas Jack Johnstone e Don Shanahan organizaram (e participaram) na primeira prova combinada, então, de natação ciclismo e corrida.
O boletim de inscrição da prova informava: “The First Annual Mission Bay Triathlon terá a partida na calçada da Fiesta Island pelas 17h45 de 25 de setembro. O evento será composto por 6 km de corrida, 5 km de bicicleta (todos de uma vez) e 500 metros de natação. Cerca de duas milhas da corrida serão percorridas em relva e areia. Cada participante deve trazer a sua própria bicicleta. Os prémios serão entregues aos cinco primeiros classificados. Para mais detalhes entre em contato com Don Shanahan ou Jack Johnstone.”
Entre os 46 atletas que terminaram, o vencedor foi Bill Phillips.
Todavia, competições semelhantes já haviam sido realizadas no século XIX, em França. Nos anos 20 do século XX foram organizadas provas chamadas de ‘Les Trois Sports’. Em 1920, o jornal francês ‘L’Auto’ relatou uma competição contínua e sem intervalos de 3 km de corrida, 12 km de ciclismo e a travessia a nado do canal de Marne. Outras provas se sucederam nesse período, mas ainda sem a denominação ‘Triathlon’.
Seria a 18 de fevereiro de 1978, com a realização do IRONMAN do Havai, que a modalidade iniciava a sua expansão a nível mundial. John Collins, oficial da marinha americana, teve a ideia de realizar na ilha de Honolulu um triatlo que levasse os atletas ao limite da resistência física. Essa proposta surgiu durante uma discussão, na cerimónia de entrega de prémios de uma outra corrida no Havai, sobre qual seria o atleta mais resistente: nadadores, corredores ou atletas de outras modalidades. Houve então a decisão de combinar três provas já existentes, a “The Waikiki Rothwater Swim” (3,8 km de natação), a “The Around-Oahu Bike Race” (cerca de 180 km de bicicleta e, originalmente, realizada em dois dias) e a Maratona de Honolulu. Collins declarou: “Quem vencer será o ‘Homem de Ferro”. Nessa primeira edição apenas 14 atletas completaram os 3.800 metros a nadar, os 180 km a pedalar e os 42.195 metros de uma maratona.
O vencedor foi Gordon Haller, em 11.46.58 horas. Um artigo publicado no ano seguinte, na revista na ‘Sports Illustrated’, por Barry McDermott, ajudou a projetar o plano internacional para a competição, na altura apenas acessível a uma pequena elite de superatletas e onde esteve a primeira mulher Lyn Lemaire (12.55.38).
Em 1982, o evento ganhou ampla cobertura na cadeia de televisão americana ABC e a participação aumentou para 580 atletas. O concorrido evento deu origem a outras competições. A mais radical é o Deca-Triatlo Duplo, que equivale a 20 vezes a full distance do triatlo. Em 18 dias de prova, são uns inacreditáveis 76 km a nadar, 3.600 km a pedalar e 844 km a correr.
De 1978 até aos nossos dias, o Triatlo percorreu um caminho ímpar no panorama desportivo internacional.
Em apenas 20 anos, deixou de estar ao alcance de uma elite de “loucos” para se tornar uma paixão de vida para milhões de pessoas e ascender ao grupo das modalidades mais praticadas a nível mundial. Cresceu tão rapidamente que o Comité Olímpico Internacional (COI) começou a discutir a sua inclusão no programa olímpico, antes mesmo da fundação da própria federação internacional (ITU), a 1 de abril de 1989, num congresso realizado em Avignon, França, com a participação de 30 associações nacionais.
Nesse mesmo ano, também em Avignon, realizou-se a 6 de agosto o primeiro Campeonato do Mundo, com a participação de 800 atletas de 40 países, tendo ficado estabelecido como distância olímpica 1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida.
Excerto do livro «30 anos de Triatlo» de Cipriano Lucas e Elisabete Silva, com data de lançamento prevista para o 2º trimestre de 2021
https://www.federacao-triatlo.pt/ftp2015/historia-do-triatlo-de-san-diego-ao-havai/?fbclid=IwAR2MFSbk_OjhqdboQ_Tb5EpG1KTX9FZsrrConiOuVEHGyzIn7TEDH2zBpJw
O senhor Domingos e o apoio ao alto rendimento no Jamor
Há figuras no desporto que são determinantes no rendimento do atleta de alta competição: treinador, médico, massagista, psicólogo, nutricionista, etc. etc. etc. O atleta de alta competição integra hoje uma equipa que em cada uma das áreas desempenha um papel importante no resultado final.
Mas há uma figura, agora esquecida, que, em outros tempo, era determinante no equilíbrio do atleta de alta competição: o roupeiro/rececionista. Explico - Quantas vezes, uma palavra amável do senhor Domingos era o tónico determinante para o treino correr melhor. Quantas vezes a simpatia não influência o resultado da competição. A forma como recebia os atletas, a disponibilidade que demonstrava, a forma como nos guardava e tratava os equipamentos faziam-nos sentir mais leves, melhores com a vida. O senhor Domingos foi durante décadas o rececionista da pista número 2 do Jamor. Conviveu com dezenas de atletas que ali treinaram desde os anos 50 até aos anos 80 do século passado. Muito se lembra dele apenas como "senhor domingos" como se lembram do "senhor João" e da "dona Anabela" da pista do Estádio de Honra do Jamor ou do "senhor Manuel" da cabine do Benfica, pessoas maravilhosas que nos marcaram com a sua simplicidade e amizade. |
Fonseca e Costa e os caramelos
Seria muito fácil recordar os inúmeros campeões nacionais, finalistas mundiais e olímpicos treinados por Fonseca e Costa. Carla Sacramento, Aurora Cunha, Manuel Matias, Nédia Semedo, Álvaro Silva e José Sena são apenas alguns dos atletas que atingiram o nível mais alto do atletismo internacional sob a orientação do treinador português.
Mas Fonseca e Costa treinou também dezenas de outros atletas que por uma razão ou outra nunca lograram atingir esse estrelato tão ambicionado. Ele chamava a esses atletas – OS CARAMELOS.
Foram cerca de quatro dezenas de “caramelos” que, domingo, no Restelo se juntaram para conviver com aquele que foi para esses “caramelos” um dos mais marcantes treinadores de atletismo.
Fonseca e Costa dizia tantas vezes com um sorriso quando um desses atletas de segundo plano lhe pedia orientação técnica: “é pá, não tenho tempo para treinar caramelos”. Mas tinha tempo.
Foram dezenas desses atletas que Fonseca e Costa orientou ao longo de mais de 50 anos de carreira como treinador. Hoje são empresários, jornalistas, professores, homens e mulheres na casa dos 40/50 anos que olham para a sua juventude no desporto e reconhecem uma marca profunda nas suas vidas de um treinador que os tratava carinhosamente por “caramelos”.
No domingo, antes da sua breve intervenção, percorreu com o seu olhar a sala cheia, e atirou a sorrir: “Só apareceram os caramelos!!!”
Depois, pensou e acrescentou: “Bem, eu também fui um caramelo. Como atleta a única coisa que fiz foi ser campeão regional.”
Atalhou caminho e criticou, quando recebia das mãos de José Pedras e António Vermelhudo, os organizadores do almoço, uma pequena lembrança a marcar o momento: “se soubesse que me iam entregar uma placa não tinha cá vindo. Isto não é uma homenagem! É um convívio…”, “Eu não recebo placas. Para que é que eu quero uma placa? Eu como treinador estou habituado é a receber cachês!” Gargalhada geral.
PS: claro que no convívio não estavam só Caramelos.
REVISTA ATLETISMO: "António Carvalheiro Fonseca e Costa nasceu em 18 de março de 1936, em Angola. Começou a praticar atletismo no Belenenses aos 19 anos. Destacou-se como treinador, tendo começado no Belenenses em 1964, onde ficaria até 1968. Esteve depois no Benfica e em 1976, foi para o FC Porto. Voltou ao Belenenses e ao Benfica e mais tarde, ao seu primeiro clube. A sua colaboração foi também solicitada por alguns técnicos de pequenos clubes da região de Lisboa que treinavam no Estádio Nacional."
Mas Fonseca e Costa treinou também dezenas de outros atletas que por uma razão ou outra nunca lograram atingir esse estrelato tão ambicionado. Ele chamava a esses atletas – OS CARAMELOS.
Foram cerca de quatro dezenas de “caramelos” que, domingo, no Restelo se juntaram para conviver com aquele que foi para esses “caramelos” um dos mais marcantes treinadores de atletismo.
Fonseca e Costa dizia tantas vezes com um sorriso quando um desses atletas de segundo plano lhe pedia orientação técnica: “é pá, não tenho tempo para treinar caramelos”. Mas tinha tempo.
Foram dezenas desses atletas que Fonseca e Costa orientou ao longo de mais de 50 anos de carreira como treinador. Hoje são empresários, jornalistas, professores, homens e mulheres na casa dos 40/50 anos que olham para a sua juventude no desporto e reconhecem uma marca profunda nas suas vidas de um treinador que os tratava carinhosamente por “caramelos”.
No domingo, antes da sua breve intervenção, percorreu com o seu olhar a sala cheia, e atirou a sorrir: “Só apareceram os caramelos!!!”
Depois, pensou e acrescentou: “Bem, eu também fui um caramelo. Como atleta a única coisa que fiz foi ser campeão regional.”
Atalhou caminho e criticou, quando recebia das mãos de José Pedras e António Vermelhudo, os organizadores do almoço, uma pequena lembrança a marcar o momento: “se soubesse que me iam entregar uma placa não tinha cá vindo. Isto não é uma homenagem! É um convívio…”, “Eu não recebo placas. Para que é que eu quero uma placa? Eu como treinador estou habituado é a receber cachês!” Gargalhada geral.
PS: claro que no convívio não estavam só Caramelos.
REVISTA ATLETISMO: "António Carvalheiro Fonseca e Costa nasceu em 18 de março de 1936, em Angola. Começou a praticar atletismo no Belenenses aos 19 anos. Destacou-se como treinador, tendo começado no Belenenses em 1964, onde ficaria até 1968. Esteve depois no Benfica e em 1976, foi para o FC Porto. Voltou ao Belenenses e ao Benfica e mais tarde, ao seu primeiro clube. A sua colaboração foi também solicitada por alguns técnicos de pequenos clubes da região de Lisboa que treinavam no Estádio Nacional."
Seleção de juniores entrevistada após Europeu 1977
ATLETISMO
1977-08-23
QUE MARAVILHA!!!
Uma seleção de juniores entrevistada após Europeu 1977
VER AQUI
António Campos, treinador da equipa portuguesa, João Campos, Fernando Miguel, Humberto Sequeira, António Leitão e Nora Araújo, atletas.
Este video é maravilhoso!!! 1. a RTP a fazer reportagem de um seleção de juniores (!!!) à chegada de um Europeu, onde não houve medalhas mas muitos recordes; 2. Todos eles, uns mais que outros, confirmaram resultados de grande nível em seniores; 3. António Campos, o capitão, não, treinador, a demonstrar aqui a sua competência com uma síntese do Europeu; 4. O João Campos, o meu actual director geral na FP Natação, continua igual a ele próprio. Pelo menos na prenuncia. Apenas com menos cabelo; 6. Fernando Miguel, com o seu estilo bem definido, capaz tanto na comunicação como na corrida; 7. Humberto Sequeira ainda juvenil, que corredor fantástico!; 8. António Leitão ainda em Espinho, com o seu estilo característico a revelar já aquilo que viria a confirmar como sénior: um medalha olímpica; 9. Nora Araújo, que rosto mais bonito!, a que mais e melhor falou, fui sempre seu fã. Aqui a brincar com António Leitão. 10. Os jovens são sempre tão bonitos. PS: O dirigente da FPA é Carlos Manuel.
1977-08-23
QUE MARAVILHA!!!
Uma seleção de juniores entrevistada após Europeu 1977
VER AQUI
António Campos, treinador da equipa portuguesa, João Campos, Fernando Miguel, Humberto Sequeira, António Leitão e Nora Araújo, atletas.
Este video é maravilhoso!!! 1. a RTP a fazer reportagem de um seleção de juniores (!!!) à chegada de um Europeu, onde não houve medalhas mas muitos recordes; 2. Todos eles, uns mais que outros, confirmaram resultados de grande nível em seniores; 3. António Campos, o capitão, não, treinador, a demonstrar aqui a sua competência com uma síntese do Europeu; 4. O João Campos, o meu actual director geral na FP Natação, continua igual a ele próprio. Pelo menos na prenuncia. Apenas com menos cabelo; 6. Fernando Miguel, com o seu estilo bem definido, capaz tanto na comunicação como na corrida; 7. Humberto Sequeira ainda juvenil, que corredor fantástico!; 8. António Leitão ainda em Espinho, com o seu estilo característico a revelar já aquilo que viria a confirmar como sénior: um medalha olímpica; 9. Nora Araújo, que rosto mais bonito!, a que mais e melhor falou, fui sempre seu fã. Aqui a brincar com António Leitão. 10. Os jovens são sempre tão bonitos. PS: O dirigente da FPA é Carlos Manuel.
Atletas árbitros ou árbitros atletas
FOTO: Anacleto Pinto, Cidálio Caetano, Tavares da Silva, Vasco Pereira, Hélder Jesus, Celso Pinto, José Abreu e Francisco Assis
Carlos Tavares da Silva foi um dos melhores especialistas portugueses de 3000 metros obstáculos (8.45,6 em 1977), tendo-se sagrado campeão nacional dessa difícil especialidade por quatro vezes na década de setenta do século passado.
Após terminar a carreira atlética, em 1987, o antigo pupilo de António Gromicho e Moniz Pereira, continuou ligado ao desporto tendo enveredado pela arbitragem no futebol até 1997, destacando-se nos anos 80/90 a “fiscal de linha” em importantes jogos nacionais como auxiliar de Vítor Correia.
O fundista do Benfica e Sporting assume que não tinha grande ligação ao futebol apesar de seu pai, Evaristo da Silva, ter sido jogador do Benfica nos anos 20/30 do século passado.
“Entrei na arbitragem por mero acaso, já que nem acompanhava muito o futebol. Acabei por realizar um curso de arbitragem influenciado pelos meus antigos colegas do atletismo no Benfica, os fundistas José Abreu (ex-presidente da Associação de Atletismo de Lisboa) e Vasco Pereira (maratonista) que também realizaram essa formação”, recorda-nos hoje, lembrando alguns desses episódios.
“Eles abandonaram rapidamente essa actividade quando, nos primeiros jogos, sentiram a pressão, para não dizer a violência, quando lhes era arremessada algumas pedradas, vinda das bancadas. Já eu gostei da experiência, dos primeiros jogos, lidava bem com a pressão, e continuei durante cerca de 15 anos”, acrescenta Tavares da Silva.
Após terminar a carreira atlética, em 1987, o antigo pupilo de António Gromicho e Moniz Pereira, continuou ligado ao desporto tendo enveredado pela arbitragem no futebol até 1997, destacando-se nos anos 80/90 a “fiscal de linha” em importantes jogos nacionais como auxiliar de Vítor Correia.
O fundista do Benfica e Sporting assume que não tinha grande ligação ao futebol apesar de seu pai, Evaristo da Silva, ter sido jogador do Benfica nos anos 20/30 do século passado.
“Entrei na arbitragem por mero acaso, já que nem acompanhava muito o futebol. Acabei por realizar um curso de arbitragem influenciado pelos meus antigos colegas do atletismo no Benfica, os fundistas José Abreu (ex-presidente da Associação de Atletismo de Lisboa) e Vasco Pereira (maratonista) que também realizaram essa formação”, recorda-nos hoje, lembrando alguns desses episódios.
“Eles abandonaram rapidamente essa actividade quando, nos primeiros jogos, sentiram a pressão, para não dizer a violência, quando lhes era arremessada algumas pedradas, vinda das bancadas. Já eu gostei da experiência, dos primeiros jogos, lidava bem com a pressão, e continuei durante cerca de 15 anos”, acrescenta Tavares da Silva.
“Para além de ter uma boa preparação física, derivada do atletismo, o que na altura era raro na arbitragem, acabei por tirar uma boa nota no curso o que me permitiu integrar equipas de arbitragem e ascender até à primeira divisão”, justifica.
Entre as inúmeras partidas disputadas pelos três grandes de Portugal, a sua passagem pela arbitragem ficou marcada pelos 7-1 em Alvalade entre Sporting e Benfica, a maior derrota de sempre do clube da Luz no campeonato, a única partida que perdeu nesse ano para o campeonato, logo às mãos do eterno rival.
No mesmo ano integrou a equipa de arbitragem que apitou o último jogo na Luz com o Sporting (2-1), partida que confirmou o titulo do Benfica nessa época.
“O jogo dos 7-1 não foi transmitido em directo. A equipa de arbitragem foi criticada claro, pelo Benfica, mas terminamos a partida convictos que não tivemos influência no resultado. A verdade é que cada vez que a bola ia à grande área do Benfica era golo. Depois de termos visto o jogo na TV confirmamos que não tivemos influência no resultado”, recorda.
“A arbitragem desse tempo pouco, ou nada, tem a ver com o que acontece hoje nos relvados a todos os níveis. Naquela altura ganhávamos 23 contos por jogo… para os três. Com os fiscais de linha a receberem 2.500 contos. Está tudo dito [risos]”, conclui.
Entre as inúmeras partidas disputadas pelos três grandes de Portugal, a sua passagem pela arbitragem ficou marcada pelos 7-1 em Alvalade entre Sporting e Benfica, a maior derrota de sempre do clube da Luz no campeonato, a única partida que perdeu nesse ano para o campeonato, logo às mãos do eterno rival.
No mesmo ano integrou a equipa de arbitragem que apitou o último jogo na Luz com o Sporting (2-1), partida que confirmou o titulo do Benfica nessa época.
“O jogo dos 7-1 não foi transmitido em directo. A equipa de arbitragem foi criticada claro, pelo Benfica, mas terminamos a partida convictos que não tivemos influência no resultado. A verdade é que cada vez que a bola ia à grande área do Benfica era golo. Depois de termos visto o jogo na TV confirmamos que não tivemos influência no resultado”, recorda.
“A arbitragem desse tempo pouco, ou nada, tem a ver com o que acontece hoje nos relvados a todos os níveis. Naquela altura ganhávamos 23 contos por jogo… para os três. Com os fiscais de linha a receberem 2.500 contos. Está tudo dito [risos]”, conclui.
“Decidimos realizámos um estágio na Costa de Caparica”
Shintaro Yokochi, antigo treinador de natação no Sport Algés e Dafundo, FC Porto e Benfica, recordava, recentemente, as dificuldades e os desafios que superou como treinador em Portugal. Uns meses antes dos Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984, os dirigentes federativos, revelando alguma disponibilidade financeira, desafiaram o técnico nipónico a fazer uma preparação mais cuidada com vista a essa importante participação olímpica.
Revela Shintaro Yokochi a sorrir: “Decidimos realizar um estágio na Costa de Caparica”.
No semanário Expresso de 6 de agosto de 2015:
O ano de 1958 mudou por completo a vida de Yokochi. Embora nesse ano fosse candidato aos Jogos Olímpicos de Roma, surgiu oportunidade de treinar uma equipa estrangeira num país distante.
Tudo começou quando o Sport Algés e Dafundo pediu à Embaixada do Japão um técnico de natação para treinar a sua equipa e ministrar cursos de natação. Essa informação chegou à secção cultural do Ministério do Negócios Estrangeiros do Japão que, por sua vez, entrou em contacto com a Federação de Natação. Foi assim que Shintaro Yokochi tomou conhecimento do interesse português num treinador de natação.
Em junho de 1958, com uma licenciatura em Economia Política, muita curiosidade e uma grande vontade de ensinar natação, Shintaro Yokochi, então com apenas 22 anos, chegou a Portugal. Vinha com um contrato provisório de três meses, depois alargado para dois anos. Só que Yokochi foi-se apaixonando por Portugal e quem apenas pretendia uma experiência provisória num lugar desconhecido acabou por constituir família e por cá ficar, já lá vão 42 anos.
LER MAIS:
https://expresso.sapo.pt/internacional/2015-08-06-Yokochi---O-regresso-a-vida#gs.qR1kWlA
FOTO: Alexandre Yokochi e Shintaro Yokochi
Revela Shintaro Yokochi a sorrir: “Decidimos realizar um estágio na Costa de Caparica”.
No semanário Expresso de 6 de agosto de 2015:
O ano de 1958 mudou por completo a vida de Yokochi. Embora nesse ano fosse candidato aos Jogos Olímpicos de Roma, surgiu oportunidade de treinar uma equipa estrangeira num país distante.
Tudo começou quando o Sport Algés e Dafundo pediu à Embaixada do Japão um técnico de natação para treinar a sua equipa e ministrar cursos de natação. Essa informação chegou à secção cultural do Ministério do Negócios Estrangeiros do Japão que, por sua vez, entrou em contacto com a Federação de Natação. Foi assim que Shintaro Yokochi tomou conhecimento do interesse português num treinador de natação.
Em junho de 1958, com uma licenciatura em Economia Política, muita curiosidade e uma grande vontade de ensinar natação, Shintaro Yokochi, então com apenas 22 anos, chegou a Portugal. Vinha com um contrato provisório de três meses, depois alargado para dois anos. Só que Yokochi foi-se apaixonando por Portugal e quem apenas pretendia uma experiência provisória num lugar desconhecido acabou por constituir família e por cá ficar, já lá vão 42 anos.
LER MAIS:
https://expresso.sapo.pt/internacional/2015-08-06-Yokochi---O-regresso-a-vida#gs.qR1kWlA
FOTO: Alexandre Yokochi e Shintaro Yokochi
Moniz Pereira inovador, visionário, rigoroso, profissional
Moniz Pereira é um nome de referência na história do desporto português. Fernando Mamede, Armando Aldegalega, Norberto Santos e Vítor Serpa reuniram-se em tertúlia no Comité Olímpico de Portugal para partilhar histórias sobre o Senhor Atletismo.
Ler mais: http://comiteolimpicoportugal.pt/moniz-pereira-inovador-visionario-rigoroso-profissional/
Ler mais: http://comiteolimpicoportugal.pt/moniz-pereira-inovador-visionario-rigoroso-profissional/
"Ídolo da natação, de Alhandra, de Portugal e do Mundo"
NATAÇÃO - BAPTISTA PEREIRA
"Ídolo da natação, de Alhandra, de Portugal e do Mundo" Joaquim Baptista Pereira (Alhandra, 7 de Março de 1921 - 22 de Junho de 1984) foi um nadador internacional português de fundo. Representava o Alhandra Sporting Club. Em 1936, com 15 anos efectua a primeira Travessia do Tejo ficando em 3.º. Lugar. Os seus êxitos em piscina e nas clássicas travessias rapidamente se foram avolumando, tornando num dos melhores nadadores nacionais da época. Um dia travou conhecimento com um nadador argentino que se tinha deslocado a Lisboa e a sua vida mudou passando a dedicar-se a tempo inteiro às provas de fundo. http://www.jornaltornado.pt/baptista-pereira/ |
Atletismo - os sapatos - 1860 a 1980
José Araújo o primeiro maratonista de nível internacional
José Araújo foi um dos grandes maratonistas portugueses, campeão nacional de 1954 a 1958.
O fundista do benfiquista, entre 1940 e 1960, sob a orientação de Alberto Freitas e, posteriormente, de Fernando Ferreira, foi recordista nacional dos 42.195 metros (2.28.40,6) e em todas as distâncias longas de pista, tendo como melhor resultado internacional o 8.º lugar no Campeonato da Europa de 1954 em Berna. Destacou-se ainda nos 3000 m obstáculos onde foi um dos primeiros especialistas nacionais conquistando ainda o titulo nacional de crosse em 1954. Nesse mesmo ano de 1954, o melhor da sua carreira, estreou-se na maratona, com 30 anos, para conquistar o titulo nacional na distância sucedendo a Manuel Dias com "uma chegada apoteótica perante milhares de espectadores nas Salésias, no Restelo escreve António Fernandes no seu livro 100 anos de Maratona em Portugal. O fundista continuou depois ligado ao atletismo como treinador (na altura chamava-se monitor) durante muitos e muitos anos. Como recorda Arons de Carvalho, “foi, para muitos de nós, um grande treinador e amigo das camadas jovens que passaram pelo atletismo do Benfica”. Conheci pessoalmente, nessas circunstâncias, José Araújo, em 1981, quando passei pelo Benfica. Um “senhor treinador” muito simpático que nos tratava a todos, dos mais jovens aos mais velhos, sempre com palavras simpáticas de incentivo. Só mais tarde percebi que aquele velho treinador tinha sido um grande atleta nos anos 50, sucedendo ao seu colega de equipa Manuel Dias, contribuindo de forma decisiva para a projeção do meio-fundo e fundo nacional. José Araújo 1924/2017 Foto: Crosse das Nações Jamor 1959. Classificações: Manuel Faria (29.º), Hélio Duarte (32.º), José Araújo (41.º), Manuel Marques (42.º), Dias Santos (54.º), Júlio Carmo (62.º), Henrique Inglês (53.º), Joaquim Ferreira (66.º), Natalino Almeida (desistiu). |
"Zatopek é do outro Mundo"
* Texto de Sequeira Andrade
O checo Emil Zatopek tornou-se uma das figuras de maior projecção da história do atletismo mundial. Todavia, até poderemos sorrir ao avaliarmos com os olhos de hoje a expressão cronométrica da maioria das suas proezas. Indiscutivelmente, porém, foi ele o grande revolucionário do meio-fundo mundial, porventura ao nível de famosos antecessores como os finlandeses Paavo Nurmi, Viljo Heino, Ville Ritola e outros dos primeiros impulsionadores das grandes corridas.
Apelidado de «locomotiva checa», também de «locomotiva humana» e de «major galopante», foi Zatopek quem instintivamente - não cientificamente - introduziu a norma do «treino fraccionado», tornando-se recordista de 5.000m, duas vezes recordista de seis milhas (9656,07m), cinco vezes recordista de 10.000m, uma vez recordista de 10 milhas (16.093,60m), duas vezes recordista de 20.000m, duas vezes recordista de Uma Hora, duas vezes recordista de 15 milhas (24.140,40m), duas vezes recordista de 25.000m e uma vez recordista de 30.000m.
Ao todo 18 recordes mundiais, para além de um número indeterminado de triunfos que o projectaram e ilustraram a sua carreira.
Nos Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952, cometeu a proeza, provavelmente irrepetível, de triunfar nas três provas mais longas - os 5000m, os 10.000m e a Maratona - distância esta última que nunca experimentara e à qual se decidiu no derradeiro momento.
Na sua estreia olímpica, em Londres-1948, triunfou nos 10.000m mas perdeu os 5000m para o belga Gaston Reiff. Já em fim de carreira, meses depois de submetido a uma intervenção cirúrgica, perderia para Alain Mimoun a maratona dos Jogos de Melbourne-1956.
Tive o ensejo de durante quatro dias conviver com este trio ilustre no Hotel Internacional de Praga, quando acompanhei Carlos Lopes à sua rotunda vitória na afamada corrida Rudhé Pravo. As refeições que partilhava com aqueles notáveis convidados da organização, bem como o acompanhamento da corrida, deram-me a oportunidade de escutar interessantes evocações e de conhecer muitas das suas histórias, inclusivamente certos posicionamentos de carácter mais ou menos político. Mimoun, sempre amável e menos preparado que Zatopek e Gaston Reiff, insistia naquela sua afirmação de ter sido «o melhor do Mundo» quando nos Jogos de Helsínquia, derrotado por Zatopek, foi segundo classificado nos 10.000m. Alguém lhe terá objectado: «Como, se foi Zatopek o vencedor?». Ao que o francês respondeu: «Sim, mas o Zatopek é do outro Mundo!».
Na mesma altura, confidenciou-me MImoun que por motivos que não interessa referir, Zatopek e sua mulher Dana (campeã olímpica de dardo em 1952) apenas tinham de comum a chave da porta de casa...
Zatopek e Reiff eram dois verdadeiros «senhores». Impressionaram-me pela ponderação das suas conversas. Tal como Mimoun, entusiasmaram-se vivamente com a arrancada vitoriosa de Carlos Lopes, pois seguíamos a prova passo a passo através de um pequeno visor.
Por discordar do regime comunista, Emil Zatopek foi humilhado quando abertamente se aliou à contestação política encabeçada por Dubcek. Destituído da patente de major e obrigado ao desempenho de funções inadequadas ao seu elevado estatuto, foi várias vezes convidado para ilustrar acontecimentos desportivos em países ocidentais.
Num momento em que a meio de uma refeição Zatopek foi chamado ao telefone, comentei com Mimoun que qualquer país receberia o checo de braços abertos. Mas o franco-marroquino esclareceu que já lhe sugerira que deixasse a Checoslováquia, o que ele sempre recusou, alegando que «quero cá estar quando soar a hora da liberdade». Logo que o regime mudou, o presidente Váklav Havel fez gala de pessoalmente reabilitar Emil Zatopek, restituindo-lhe a dignidade, os cargos e as honrarias de que fora destituído.
O grande atleta checo nascido a 19 de Setembro de 1922, faleceu a 22 de Novembro de 2000, aos 78 anos. Em 2012 foi incluído pela Federação Internacional no lote dos 12 atletas distinguidos no «IAAF Hall of Fame». E em Setembro de 2014 foi inaugurada uma sua estátua no Estádio da Juventude, em Zlín, localidade onde o atleta despontou para o atletismo.
* Texto publicado na 152.ª Carta ao Pancrácio a 18 de novembro de 2016
https://www.youtube.com/watch?v=qINaVe0oyx0
Tokyo Olympiad
"Tokyo Olympiad " é considerado um documentário clássico. Talvez, desde o famoso filme de Leni Riefenstahl, sobre Berlim 1936, o mais realista documentário sobre os Jogos Olímpicos.
A preparação do filme começou em 1960, quando o Comité Organizador dos Jogos Tóquio 1964 enviou o famoso realizador japonês, Akira Kurosawa aos Jogos de Roma 1960 para observar a realização do filme sobre os Jogos na capital Italiana. Quando Kurosawa apresentou um orçamento de cerca de 1.5 milhões de dólares, informando ainda o comité organizativo de que as receitas provenientes de distribuição do filme “Roma Olympic” foram de apenas meio milhão de dólares, perceberam que tinham de rever o projeto.
A comissão acabou por seleccionar Kon Ichikawa para ser o realizador do documentário. O historiador do cinema japonês, Donald Richie, escreve no seu livro, " Cem anos de Cinema Japonês “: "Esteticamente, a imagem é excelente - uma obra-prima visual", escreve Richie sobre este documentário de Ichikawa. "Lembro o uso incisivo do movimento lento durante as provas de atletismo; as fotos utilizadas na competição de salto com vara; os zooms rápidos no arremesso do peso; e o longo e brilhante clímax da maratona - o trabalho do realizador e uma equipa de cerca de seis centenas de pessoas, incluindo dezasseis cameramen ".
"Nada disso, no entanto, era o que a organização queria ", continua Richie. "Não só Ichikawa se recusou a 'monumentalizar' os Jogos, quando o que fez foi humanizar o evento. Na versão sem cortes (nunca exibido publicamente), a câmara capturar detalhes: os espectadores; atletas em repouso; aqueles que terminam, não em primeiro lugar, mas terceiro - ou em último. As vitórias japonesas não são favorecidas. No final, as celebrações são ignoradas, o estádio está vazio. Um homem com uma escada atravessa o campo, de longe vem o som das crianças a brincar. Os Jogos eram, afinal, apenas jogos. Terminaram. E a vida continua. Grande parte do " Tokyo Olympiad " nunca foi exibido publicamente.
Maratona, parte final: https://www.youtube.com/watch?v=ttGzomFcCow
Filme completo: https://www.youtube.com/watch?v=WHt0eAdCCns
A preparação do filme começou em 1960, quando o Comité Organizador dos Jogos Tóquio 1964 enviou o famoso realizador japonês, Akira Kurosawa aos Jogos de Roma 1960 para observar a realização do filme sobre os Jogos na capital Italiana. Quando Kurosawa apresentou um orçamento de cerca de 1.5 milhões de dólares, informando ainda o comité organizativo de que as receitas provenientes de distribuição do filme “Roma Olympic” foram de apenas meio milhão de dólares, perceberam que tinham de rever o projeto.
A comissão acabou por seleccionar Kon Ichikawa para ser o realizador do documentário. O historiador do cinema japonês, Donald Richie, escreve no seu livro, " Cem anos de Cinema Japonês “: "Esteticamente, a imagem é excelente - uma obra-prima visual", escreve Richie sobre este documentário de Ichikawa. "Lembro o uso incisivo do movimento lento durante as provas de atletismo; as fotos utilizadas na competição de salto com vara; os zooms rápidos no arremesso do peso; e o longo e brilhante clímax da maratona - o trabalho do realizador e uma equipa de cerca de seis centenas de pessoas, incluindo dezasseis cameramen ".
"Nada disso, no entanto, era o que a organização queria ", continua Richie. "Não só Ichikawa se recusou a 'monumentalizar' os Jogos, quando o que fez foi humanizar o evento. Na versão sem cortes (nunca exibido publicamente), a câmara capturar detalhes: os espectadores; atletas em repouso; aqueles que terminam, não em primeiro lugar, mas terceiro - ou em último. As vitórias japonesas não são favorecidas. No final, as celebrações são ignoradas, o estádio está vazio. Um homem com uma escada atravessa o campo, de longe vem o som das crianças a brincar. Os Jogos eram, afinal, apenas jogos. Terminaram. E a vida continua. Grande parte do " Tokyo Olympiad " nunca foi exibido publicamente.
Maratona, parte final: https://www.youtube.com/watch?v=ttGzomFcCow
Filme completo: https://www.youtube.com/watch?v=WHt0eAdCCns
Manuel Oliveira em Tóquio 1964
Terminaram os Jogos Olímpicos do Rio 2016. Viva os Jogos de Tóquio 2020!!!. Precisamente há 52 anos a capital nipónica recebia pela primeira vez uma edição dos Jogos. Entre a comitiva de 20 atleta esteve Manuel Oliveira o melhor fundista português da década de sessenta do século XX (na foto dorsal 521). Atleta multifacetado, Manuel Oliveira dedicou-se aos 3000 metros obstáculos, tornando-se um dos melhores especialistas, batendo o recorde nacional por cinco vezes, as últimas duas durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, onde ganhou a sua eliminatória e ficou à beira de uma Medalha, ao terminar a Final no 4.º lugar, a melhor classificação de sempre do Atletismo português até à data em Jogos Olímpicos.
Moniz Pereira, em Vida e Obra do Senhor Atletismo, biografia de Fernando Correia: "Manuel de Oliveira teve uma actuação extraordinária em Tóquio 1964. Correu os 3000 metros obstáculos e ganhou a primeira meia-final com 8.40,08 minutos, recorde nacional. Na final foi quarto com 8.36,02, melhorando o recorde de Portugal. Ficou, portanto, à beira do pódio. Foi uma actuação brilhante, que me deixou muito feliz, tanto mais que, pela primeira vez vi o nome de Portugal e de um atleta nosso no quadro electrónico. (...) Só digo que, se Manuel de Oliveira tivesse um pouco mais tarde, teria sido uma atleta sensacional. Aliás, como foi. Mas ainda mais. Foi o primeiro atleta português a fazer menos de 14 minutos aos 5000 metros. É bom não esquecer."
“Manuel de Oliveira chegou ao Sporting Clube de Portugal em Outubro de 1959, com 19 anos de idade. Queria ser ciclista mas como não levava bicicleta, acabou por experimentar o Atletismo. Inscreveram-no nos 700 metros do torneio "Primeiro Passo", uma competição organizada pelo Sporting com o objectivo de descobrir novos atletas, e ele não só ganhou a corrida, como bateu o recorde da prova. Os dirigentes do Sporting resolveram logo arranjar-lhe um emprego em Lisboa, para que pudesse treinar com o Professor Moniz Pereira, e os resultados não se fizeram esperar. Poucos meses depois foi Campeão Nacional de Juniores em Corta Mato e bateu o Recorde Nacional de Juniores, dos 5000 metros, com a marca de 14,23,8m, ficando a poucos segundos do Recorde absoluto que pertencia a Manuel Faria, a quem viria a suceder como a grande figura do Atletismo português”, em WikiSporting.
First round, heat 1
1 Manuel Oliveira Portugal 8:40.8
2 Ivan Belyayev Soviet Union 8:42.0
3 Ben Assou El Ghazi Morocco 8:42.8
4 Victor Zwolak United States 8:43.6
5 Okuzawa Zenji Japan 8:50.0
6 Slavko Span Yugoslavia 8:57.6
7 Jozsef Macsar Hungary 9:08.8
8 Dieter Hartmann United Team of Germany 9:09.2
9 Jean Ekonian Toffey Ivory Coast 9:47.4
Final
1 Gaston Roelants Belgium 8:30.8 OR
2 Maurice Herriott Great Britain 8:32.4
3 Ivan Belyayev Soviet Union 8:33.8
4 Manuel Oliveira Portugal 8:36.2
5 George L. Young United States 8:38.2
6 Guy Texereau France 8:38.6
7 Adolf Alexeiunas Soviet Union 8:39.0
8 Lars-Erik Gustafsson Sweden 8:41.8
9 Ben Assou El Ghazi Morocco 8:43.6
10 Ernest Pomfret Great Britain 8:43.8
Videos da prova 3000 obstáculos Tóquio 1964:
https://www.youtube.com/watch?v=83dRyNR_ouE
https://www.youtube.com/watch?v=3cLGZHe4UmE
2 de Setembro de 2016
Moniz Pereira, em Vida e Obra do Senhor Atletismo, biografia de Fernando Correia: "Manuel de Oliveira teve uma actuação extraordinária em Tóquio 1964. Correu os 3000 metros obstáculos e ganhou a primeira meia-final com 8.40,08 minutos, recorde nacional. Na final foi quarto com 8.36,02, melhorando o recorde de Portugal. Ficou, portanto, à beira do pódio. Foi uma actuação brilhante, que me deixou muito feliz, tanto mais que, pela primeira vez vi o nome de Portugal e de um atleta nosso no quadro electrónico. (...) Só digo que, se Manuel de Oliveira tivesse um pouco mais tarde, teria sido uma atleta sensacional. Aliás, como foi. Mas ainda mais. Foi o primeiro atleta português a fazer menos de 14 minutos aos 5000 metros. É bom não esquecer."
“Manuel de Oliveira chegou ao Sporting Clube de Portugal em Outubro de 1959, com 19 anos de idade. Queria ser ciclista mas como não levava bicicleta, acabou por experimentar o Atletismo. Inscreveram-no nos 700 metros do torneio "Primeiro Passo", uma competição organizada pelo Sporting com o objectivo de descobrir novos atletas, e ele não só ganhou a corrida, como bateu o recorde da prova. Os dirigentes do Sporting resolveram logo arranjar-lhe um emprego em Lisboa, para que pudesse treinar com o Professor Moniz Pereira, e os resultados não se fizeram esperar. Poucos meses depois foi Campeão Nacional de Juniores em Corta Mato e bateu o Recorde Nacional de Juniores, dos 5000 metros, com a marca de 14,23,8m, ficando a poucos segundos do Recorde absoluto que pertencia a Manuel Faria, a quem viria a suceder como a grande figura do Atletismo português”, em WikiSporting.
First round, heat 1
1 Manuel Oliveira Portugal 8:40.8
2 Ivan Belyayev Soviet Union 8:42.0
3 Ben Assou El Ghazi Morocco 8:42.8
4 Victor Zwolak United States 8:43.6
5 Okuzawa Zenji Japan 8:50.0
6 Slavko Span Yugoslavia 8:57.6
7 Jozsef Macsar Hungary 9:08.8
8 Dieter Hartmann United Team of Germany 9:09.2
9 Jean Ekonian Toffey Ivory Coast 9:47.4
Final
1 Gaston Roelants Belgium 8:30.8 OR
2 Maurice Herriott Great Britain 8:32.4
3 Ivan Belyayev Soviet Union 8:33.8
4 Manuel Oliveira Portugal 8:36.2
5 George L. Young United States 8:38.2
6 Guy Texereau France 8:38.6
7 Adolf Alexeiunas Soviet Union 8:39.0
8 Lars-Erik Gustafsson Sweden 8:41.8
9 Ben Assou El Ghazi Morocco 8:43.6
10 Ernest Pomfret Great Britain 8:43.8
Videos da prova 3000 obstáculos Tóquio 1964:
https://www.youtube.com/watch?v=83dRyNR_ouE
https://www.youtube.com/watch?v=3cLGZHe4UmE
2 de Setembro de 2016
Regresso às Salésias
Foto: Campeonato de Juniores de Atletismo, no campo das Salésias. Atleta Manuel Costa Macedo. 24-06-34.
Quando foi inaugurado, a 29 de janeiro de 1928, logo o Estádio das Salésias ganhou o estatuto de um dos melhores recintos desportivos do país. Em 1937, depois de obras de remodelação, tornou-se o melhor estádio português da época, com capacidade para 21 mil pessoas, bancadas cobertas, campo relvado e duches quentes, verdadeiras preciosidades naquele tempo. Foi também nesta altura que o recinto passou a chamar-se Estádio José Manuel Soares, em homenagem ao mítico jogador dos azuis Pepe, falecido em 1931, com apenas 23 anos. DN na inauguração das novas Salésias .
Quando foi inaugurado, a 29 de janeiro de 1928, logo o Estádio das Salésias ganhou o estatuto de um dos melhores recintos desportivos do país. Em 1937, depois de obras de remodelação, tornou-se o melhor estádio português da época, com capacidade para 21 mil pessoas, bancadas cobertas, campo relvado e duches quentes, verdadeiras preciosidades naquele tempo. Foi também nesta altura que o recinto passou a chamar-se Estádio José Manuel Soares, em homenagem ao mítico jogador dos azuis Pepe, falecido em 1931, com apenas 23 anos. DN na inauguração das novas Salésias .
Uma grande noite de Fado ou uma corrida pedestre?
A ideia de realizar uma corrida na Amadora surgiu na passagem do ano de 1974 quando António Manuel Simões assistiu pela televisão à São Silvestre de São Paulo. A corrida paulista realiza-se desde 1925 e fazia parte do imaginário nacional. Carlos Lopes havia sido terceiro em 1971 e 1973 e ainda estava na memória dos portugueses os êxitos de Manuel Faria na popular corrida paulista, onde foi campeão em 1956 e 1957, na altura considerado o maior feito individual do desporto português.
O jovem dirigente do Desportivo Operário do Rangel, na altura com 32 anos, procurava ideias para atividades desportivas, recreativas ou culturais.
“O clube precisava de maior dinamismo. Então, pensei, porque não uma corrida pedestre na Amadora? Apresentei a ideia ao presidente da direção na altura, Ramiro Guimarães, que recebeu o projeto com agrado”, recorda o dirigente do Rangel que ocupou todos os cargos no popular clube da Venda Nova.
A verdade é que no Desportivo Operário do Rangel “ninguém percebia nada” de Atletismo. “No meu caso, apenas fiz umas corridas em 1964, mas forçado, durante o serviço militar. Na altura, como diretor das atividades culturais e recreativas, gostávamos de desporto mas o clube tinha também uma forte componente social: apoio médico, biblioteca, projeções de filmes, teatro, colóquios, palestras. Tinha proposto, inclusive, a realização de uma Gala, uma grande noite de Fado. O que acabou por não se realizar. Já a corrida pedestre essa foi mesmo para a frente. Nesta fase, começamos por lhe chamar Primeiro Grande Prémio da Amadora mas quando pensamos numa data é que surgiu o dia 31 de Dezembro e o nome de Corrida São Silvestre da Amadora”, acrescenta o dirigente.
António Manuel Simões começou a desenvolver as primeiras iniciativas para colocar a prova de pé em Julho de 1975. “Batemos à porta da Associação de Atletismo de Lisboa (AAL) para recolhermos informação e apoio. Reunimos as primeiras indicações do secretário da AAL, João Azevedo”. Com a primeira comissão organizativa composta por Gentil de Oliveira, Carlos Jesus e Alberto Seabra, o clube deu os primeiros passos levar para a frente a prova mas “com muita dificuldade”. Enviaram cerca de 300 pedidos de patrocínios a estabelecimentos comerciais e industriais na Amadora. Só oito ou nove responderam. Valeu a ajuda da Junta de Freguesia, de algumas comissões de moradores, da Polícia, dos Bombeiros e da Soculama, Sociedade Coordenadora das Coletividades da Amadora. Na altura, em pleno período pós Revolução 25 de Abril, a prova “tinha que ter” o parecer da Comissão de Moradores, que acabaram por emitir uma medalha. Quanto a apoios, “o comércio local ofereceu as taças”.
O clube e os seus sócios – na altura cerca de 200 a pagar uma cota cinco escudos – “é que arcaram com grande parte das despesas. Cerca de 10 contos”.
No primeiro boletim de divulgação da prova, para além da AAL surge em destaque a Junta de freguesia da Amadora, Comissão de Moradores, Estabelecimento Pão de Açúcar, Sorefame, Cel-Cat, Stand Queiroz, Edifer, Instaladora da Amadora, Estores Vítor Carmo, Restaurante Churrasqueira da Amadora, Fogões Odacla e Jalber Lda.
São Silvestre da Amadora 40 anos
O jovem dirigente do Desportivo Operário do Rangel, na altura com 32 anos, procurava ideias para atividades desportivas, recreativas ou culturais.
“O clube precisava de maior dinamismo. Então, pensei, porque não uma corrida pedestre na Amadora? Apresentei a ideia ao presidente da direção na altura, Ramiro Guimarães, que recebeu o projeto com agrado”, recorda o dirigente do Rangel que ocupou todos os cargos no popular clube da Venda Nova.
A verdade é que no Desportivo Operário do Rangel “ninguém percebia nada” de Atletismo. “No meu caso, apenas fiz umas corridas em 1964, mas forçado, durante o serviço militar. Na altura, como diretor das atividades culturais e recreativas, gostávamos de desporto mas o clube tinha também uma forte componente social: apoio médico, biblioteca, projeções de filmes, teatro, colóquios, palestras. Tinha proposto, inclusive, a realização de uma Gala, uma grande noite de Fado. O que acabou por não se realizar. Já a corrida pedestre essa foi mesmo para a frente. Nesta fase, começamos por lhe chamar Primeiro Grande Prémio da Amadora mas quando pensamos numa data é que surgiu o dia 31 de Dezembro e o nome de Corrida São Silvestre da Amadora”, acrescenta o dirigente.
António Manuel Simões começou a desenvolver as primeiras iniciativas para colocar a prova de pé em Julho de 1975. “Batemos à porta da Associação de Atletismo de Lisboa (AAL) para recolhermos informação e apoio. Reunimos as primeiras indicações do secretário da AAL, João Azevedo”. Com a primeira comissão organizativa composta por Gentil de Oliveira, Carlos Jesus e Alberto Seabra, o clube deu os primeiros passos levar para a frente a prova mas “com muita dificuldade”. Enviaram cerca de 300 pedidos de patrocínios a estabelecimentos comerciais e industriais na Amadora. Só oito ou nove responderam. Valeu a ajuda da Junta de Freguesia, de algumas comissões de moradores, da Polícia, dos Bombeiros e da Soculama, Sociedade Coordenadora das Coletividades da Amadora. Na altura, em pleno período pós Revolução 25 de Abril, a prova “tinha que ter” o parecer da Comissão de Moradores, que acabaram por emitir uma medalha. Quanto a apoios, “o comércio local ofereceu as taças”.
O clube e os seus sócios – na altura cerca de 200 a pagar uma cota cinco escudos – “é que arcaram com grande parte das despesas. Cerca de 10 contos”.
No primeiro boletim de divulgação da prova, para além da AAL surge em destaque a Junta de freguesia da Amadora, Comissão de Moradores, Estabelecimento Pão de Açúcar, Sorefame, Cel-Cat, Stand Queiroz, Edifer, Instaladora da Amadora, Estores Vítor Carmo, Restaurante Churrasqueira da Amadora, Fogões Odacla e Jalber Lda.
São Silvestre da Amadora 40 anos
O percurso dos campeões
Regresso ao Parque Florestal de Monsanto
"O cross-country é uma das primeiras formas de democratização do desporto e a melhor e mais agradável forma de trabalhar a 'endurance'", Moniz Pereira.
Se há lugares ou percursos emblemáticos para o atletismo português um deles é o Parque Florestal de Monsanto. Durante décadas, sucessivas gerações de atletas treinaram naquela que é maior zona verde de Lisboa. Carlos Lopes, Fernando Mamede, Domingos Castro e Paulo Guerra construiriam ali muitas das suas vitórias no crosse e na pista. Por isso, regressámos ao Monsanto esta semana para recordar o percurso dos campeões.
Perdeu-se no tempo quem foram os primeiros fundistas a correr nos selectivos percursos daquela sinuosa mancha verde de 900 hectares mas todos os atletas de primeiro plano ai treinaram nos seus melhores tempos. Mesmo os inúmeros atletas da província quando vinham a Lisboa para realizar estágios e competições ai realizavam alguns treinos no Inverno.
A par do Complexo do Jamor, da Serra de Sintra, assim como da praia de Carcavelos e da Costa da Caparica, o percurso do Monsanto está directamente associado aos sucessos dos nosso melhores atletas na década de 80 e 90 do século passado.
O Parque Florestal do Monsanto está assim intimamente ligado à importância do corta mato no atletismo e a o seu papel determinante na formação, no treino e nos resultados dos atletas. Um papel estruturante e criador de bases para toda a preparação dos atletas que nos últimos anos tem, aparentemente, vindo a ser abandonado no plano nacional e internacional, como bem defende o actual presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Sebastian Coe.
Moniz Pereira, no seu livro "Carlos Lopes e a Escola Portuguesa de Meio Fundo" revela em 1981: "Após dois meses de trabalho de 'endurance' bidiário, variando o mais possível os locais de treino - Serra de Monsanto, Hipódromo do EN, Praia de Carcavelos, Estrada Marginal, Praia do Guincho, Parque 25 de Abril, Lumiar, Alvalade e Estádio Nacional. - começamos o primeiro ciclo de treino na pista (...)."
O corta mato sempre fez parte da história do atletismo luso. Francisco Lázaro venceu a primeira edição do campeonato nacional em 1911. Portugal entrou na história dos “Mundiais” de Corta-Mato através das vitórias de Carlos Lopes (1976, 1984 e 1985) e Albertina Dias (1993) e do título colectivo da selecção feminina em 1994, na sequência dos terceiros lugares da equipa masculina em 1984 e 1993 e da feminina em 1990.
Inspirado na "Escola Finlandesa", Moniz Pereira defende que "o cross-country é uma das primeiras formas de democratização do desporto e a melhor e mais agradável forma de trabalhar a 'endurance'". E regista, de forma repetida uma vez por semana, em 1975/76: "1/12/1975 - Serra de Monsanto, 10 horas, uma hora de corta mato". Treino de preparação de Lopes para o Crosse das Nações, que Lopes vence pela primeira vez em Chepstwon, País de Gales, e os Jogos de Montreal de 1976, onde o fundista conquistou a medalha de prata nos 10 000 metros.
Quase uma década mais tarde, em 1983/84, época de ouro do atletismo português, no seu diário de treino Moniz Pereira regista às terças-feiras entre Outubro e Março, um treino de uma hora para Lopes, Mamede assim como para um numero de atletas que chegava a atingir duas dezena de elementos entre fundistas, masculinos e femininos assim como atletas das disciplinas técnicas.
"Monsanto, 1/11/83: C. Lopes, H. Jesus, Pinheiro, Aniceto Simões, Mário Gomes, Joaq. Carvalho, Artur Pinto, B. Manuel, Rog. Azevedo, L. Pires, J. Santos, O. Santos, C. Jesus, Daniel Martins; Paula X., Isabel Ferreira, Eduarda, Cristina Santos, Ana Carvalho, Laura."
A estes nomes juntavam-se ainda nesta época com regularidade: Mamede, Rafael Marques, Domingos Castro, Aldegalega, Orlando Barbosa (altura), António Silva (110 m barreiras), Canário, Luís Costa, Alberto Silva, Teresa Lopes.
Um percurso de terra batida, com zonas de muita lama, de cerca de 4800 metros, percorrido em três voltas com acentuadas descidas e subidas com a mais longa delas a totalizar mais de 200 metros. Sem registos de Moniz Pereira, apesar de sabermos que o fazia como forma de controlo de ritmo, há atletas que se recordam de ai ter totalizado 53 minutos como "recorde" pessoal, iniciando a primeira volta a 19 minutos, como é o caso de Rafael Marques, para terminarem a última a ritmo a baixo dos 3 minutos por km.
Ai, nesse parque, realizavam-se ainda competições, fartlek's, treinos de rampas e treinos por intervalos assim como uma boa parte dos treinos de endurance, quando atletas do Sporting e Benfica vinham dos respectivos estádios e pela segunda circular entravam no verde do Monsanto.
Foi com emoção que esta semana regressamos ao percurso de Monsanto, respondendo ao desafio de José Carvalho - um barreirista de nível mundial que integrou o grupo de Moniz Pereira e chegou a fazer competições de corta mato "para não especialistas" - acompanhado de Mário de Sousa - fundista que venceu a Maratona de Lisboa'91 e correu os 42.195 metros em 2.12.12 em 1994 -, e Alberto Silva, um dos melhores especialistas nacionais de 3000 metros obstáculos na década de setenta do século XX.
Sem saudosismos, quisemos prestar uma pequena homenagem a Moniz Pereira, às gerações que ajudou a formar, assim como recordar esse mítico percurso mas também perceber como se encontrava a sua conservação, no fundo, desfrutar do seu ambiente. Verificamos que está em excelente estado, perdendo todavia aquele seu piso de corta mato puro que tanto apreciamos. Sentimos que as passadas de muitos campeões ainda ali estão marcadas. Que o seu esforço e a respiração ainda se sente por entre os difíceis caminhos. Todavia, não será revelador, mas escusado será dizer, que nenhum atleta se cruzou connosco ao longo de uma boa parte da manhã que ai passámos.
Fizemos uma promessa: regressar mais vezes a Monsanto.
19 de Setembro de 2015
..............................................
"O cross-country é uma das primeiras formas de democratização do desporto e a melhor e mais agradável forma de trabalhar a 'endurance'", Moniz Pereira.
Se há lugares ou percursos emblemáticos para o atletismo português um deles é o Parque Florestal de Monsanto. Durante décadas, sucessivas gerações de atletas treinaram naquela que é maior zona verde de Lisboa. Carlos Lopes, Fernando Mamede, Domingos Castro e Paulo Guerra construiriam ali muitas das suas vitórias no crosse e na pista. Por isso, regressámos ao Monsanto esta semana para recordar o percurso dos campeões.
Perdeu-se no tempo quem foram os primeiros fundistas a correr nos selectivos percursos daquela sinuosa mancha verde de 900 hectares mas todos os atletas de primeiro plano ai treinaram nos seus melhores tempos. Mesmo os inúmeros atletas da província quando vinham a Lisboa para realizar estágios e competições ai realizavam alguns treinos no Inverno.
A par do Complexo do Jamor, da Serra de Sintra, assim como da praia de Carcavelos e da Costa da Caparica, o percurso do Monsanto está directamente associado aos sucessos dos nosso melhores atletas na década de 80 e 90 do século passado.
O Parque Florestal do Monsanto está assim intimamente ligado à importância do corta mato no atletismo e a o seu papel determinante na formação, no treino e nos resultados dos atletas. Um papel estruturante e criador de bases para toda a preparação dos atletas que nos últimos anos tem, aparentemente, vindo a ser abandonado no plano nacional e internacional, como bem defende o actual presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Sebastian Coe.
Moniz Pereira, no seu livro "Carlos Lopes e a Escola Portuguesa de Meio Fundo" revela em 1981: "Após dois meses de trabalho de 'endurance' bidiário, variando o mais possível os locais de treino - Serra de Monsanto, Hipódromo do EN, Praia de Carcavelos, Estrada Marginal, Praia do Guincho, Parque 25 de Abril, Lumiar, Alvalade e Estádio Nacional. - começamos o primeiro ciclo de treino na pista (...)."
O corta mato sempre fez parte da história do atletismo luso. Francisco Lázaro venceu a primeira edição do campeonato nacional em 1911. Portugal entrou na história dos “Mundiais” de Corta-Mato através das vitórias de Carlos Lopes (1976, 1984 e 1985) e Albertina Dias (1993) e do título colectivo da selecção feminina em 1994, na sequência dos terceiros lugares da equipa masculina em 1984 e 1993 e da feminina em 1990.
Inspirado na "Escola Finlandesa", Moniz Pereira defende que "o cross-country é uma das primeiras formas de democratização do desporto e a melhor e mais agradável forma de trabalhar a 'endurance'". E regista, de forma repetida uma vez por semana, em 1975/76: "1/12/1975 - Serra de Monsanto, 10 horas, uma hora de corta mato". Treino de preparação de Lopes para o Crosse das Nações, que Lopes vence pela primeira vez em Chepstwon, País de Gales, e os Jogos de Montreal de 1976, onde o fundista conquistou a medalha de prata nos 10 000 metros.
Quase uma década mais tarde, em 1983/84, época de ouro do atletismo português, no seu diário de treino Moniz Pereira regista às terças-feiras entre Outubro e Março, um treino de uma hora para Lopes, Mamede assim como para um numero de atletas que chegava a atingir duas dezena de elementos entre fundistas, masculinos e femininos assim como atletas das disciplinas técnicas.
"Monsanto, 1/11/83: C. Lopes, H. Jesus, Pinheiro, Aniceto Simões, Mário Gomes, Joaq. Carvalho, Artur Pinto, B. Manuel, Rog. Azevedo, L. Pires, J. Santos, O. Santos, C. Jesus, Daniel Martins; Paula X., Isabel Ferreira, Eduarda, Cristina Santos, Ana Carvalho, Laura."
A estes nomes juntavam-se ainda nesta época com regularidade: Mamede, Rafael Marques, Domingos Castro, Aldegalega, Orlando Barbosa (altura), António Silva (110 m barreiras), Canário, Luís Costa, Alberto Silva, Teresa Lopes.
Um percurso de terra batida, com zonas de muita lama, de cerca de 4800 metros, percorrido em três voltas com acentuadas descidas e subidas com a mais longa delas a totalizar mais de 200 metros. Sem registos de Moniz Pereira, apesar de sabermos que o fazia como forma de controlo de ritmo, há atletas que se recordam de ai ter totalizado 53 minutos como "recorde" pessoal, iniciando a primeira volta a 19 minutos, como é o caso de Rafael Marques, para terminarem a última a ritmo a baixo dos 3 minutos por km.
Ai, nesse parque, realizavam-se ainda competições, fartlek's, treinos de rampas e treinos por intervalos assim como uma boa parte dos treinos de endurance, quando atletas do Sporting e Benfica vinham dos respectivos estádios e pela segunda circular entravam no verde do Monsanto.
Foi com emoção que esta semana regressamos ao percurso de Monsanto, respondendo ao desafio de José Carvalho - um barreirista de nível mundial que integrou o grupo de Moniz Pereira e chegou a fazer competições de corta mato "para não especialistas" - acompanhado de Mário de Sousa - fundista que venceu a Maratona de Lisboa'91 e correu os 42.195 metros em 2.12.12 em 1994 -, e Alberto Silva, um dos melhores especialistas nacionais de 3000 metros obstáculos na década de setenta do século XX.
Sem saudosismos, quisemos prestar uma pequena homenagem a Moniz Pereira, às gerações que ajudou a formar, assim como recordar esse mítico percurso mas também perceber como se encontrava a sua conservação, no fundo, desfrutar do seu ambiente. Verificamos que está em excelente estado, perdendo todavia aquele seu piso de corta mato puro que tanto apreciamos. Sentimos que as passadas de muitos campeões ainda ali estão marcadas. Que o seu esforço e a respiração ainda se sente por entre os difíceis caminhos. Todavia, não será revelador, mas escusado será dizer, que nenhum atleta se cruzou connosco ao longo de uma boa parte da manhã que ai passámos.
Fizemos uma promessa: regressar mais vezes a Monsanto.
19 de Setembro de 2015
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O principal pulmão da capital
situa-se na Serra de Monsanto, no concelho de Lisboa. Tem uma área de 900 hectares, cerca de 10% do concelho de Lisboa. Em 1868 surge a ideia de arborizar o que seria o Parque Florestal de Monsanto, para, a exemplo do Bosque de Bolonha, em Paris, ser um grande parque de passeio dos Lisboetas. Mas só em 1929 foi criada a primeira comissão para elaborar plano de arborização da Serra de Monsanto.Em 1934 foi promulgado o Decreto-Lei nº 24625, pelo então Ministro das Obras Públicas Engenheiro Duarte Pacheco, lei que propõe a criação do Parque Florestal de Monsanto estabelecendo um prazo de seis meses para a elaboração do projecto. As ideias iniciais de Carlos Ribeiro e Nery Delgado (1868) de florestação da serra e de Eugénio MacBrid (1926) para a criação de um Parque com estes objetivos, viam-se assim concretizadas. |
Sebastian Coe,
recentemente empossado presidente da IAAF (Federação Internacional de Atletismo), no seu discurso referiu que, na politica para o desenvolvimento da modalidade, um dos seus objectivos é a aposta no desenvolvimento do corta mato. O antigo bi-campeão olímpico dos 1500 metros, recordista mundial de 1500 e 800 metros, voltou a defender que esta especialidade do atletismo, que já integrou os Jogos de Verão, entre 1912 e 1924, deveria no futuro integrar os Jogos de Inverno. "Uma das coisas que realmente me tem preocupado nos últimos anos é verificar que os treinadores mais jovens não percebem o quão importante é o cross country", disse Coe. "Se conquistei medalhas e bati recordes mundiais muito devo ao corta mato, uma das bases de formação como atleta", concluiu. |
A primeira corrida cross country
internacional foi organizada em 1898 em Ville d'Avray, França. Os primeiros 'Cross Country Championships' internacionais (o precursor do Mundial de Cross) foi realizada cinco anos depois em Hamilton Park Racecourse, na Escócia. O corta-mato é um desporto originariamente inglês criado no início do século XIX e que está na raiz do desporto moderno e do atletismo em particular. Os registos das primeiras competições, entre estudantes da Inglaterra, remontam ao começo do Século XIX. As corridas de cross country entraram no programa olímpico em três edições: Estocolmo 1912, Antuérpia 1920 e Paris 1924. O finlandês Paavo Nurmi, bicampeão em 1920 e 1924, é o grande nome dessa época. Apenas nos anos das duas Grandes Guerras sua disputa foi suspensa (de 1915 a 1919 e de 1940 a 1945). |
Tracção à corda quer voltar a ser modalidade olímpica
O Jogo da Corda ou Cabo de Guerra, modalidade que integrou os Jogos Olímpicos de 1900, 1904, 1906, 1908, 1912, 1920, está entre as vinte e seis federações internacionais desportivas que apresentaram pedidos para serem incluídas no programa dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, anunciou hoje o comité organizador, acrescentando que fará uma pré-seleção a 22 de junho.
Cabo de guerra, jogos da corda ou tracção à corda é uma actividade desportiva na qual duas equipas competem entre si num teste de força, puxando uma corda. Cada equipa é composta por oito elementos, cujo peso total definirá a classe em que competirão. Os atletas competem separados por sexo ou misto (quatro homens e quatro mulheres). As competições podem ser realizadas em campo (outdoor) ou ginásios (indoor).
O beisebol, o softbol, o pólo ou o jogo da corda, mas também outras em ascensão nos últimos anos, como o surf, desportos subaquáticos e desportos aéreos apresentaram a s suas candidaturas assim como o squash, o xadrez, o bridge e o bilhar.
Outras antigas modalidades Olímpicas afastadas dos Jogos:
Mergulho à Distancia (1904); Tiro ao Veado (1908, 1912, 1920, 1924, 1952, 1956); Natação com Obstáculos (1900); Cavalos de Carga (1900).
12 de Junho de 2015
Cabo de guerra, jogos da corda ou tracção à corda é uma actividade desportiva na qual duas equipas competem entre si num teste de força, puxando uma corda. Cada equipa é composta por oito elementos, cujo peso total definirá a classe em que competirão. Os atletas competem separados por sexo ou misto (quatro homens e quatro mulheres). As competições podem ser realizadas em campo (outdoor) ou ginásios (indoor).
O beisebol, o softbol, o pólo ou o jogo da corda, mas também outras em ascensão nos últimos anos, como o surf, desportos subaquáticos e desportos aéreos apresentaram a s suas candidaturas assim como o squash, o xadrez, o bridge e o bilhar.
Outras antigas modalidades Olímpicas afastadas dos Jogos:
Mergulho à Distancia (1904); Tiro ao Veado (1908, 1912, 1920, 1924, 1952, 1956); Natação com Obstáculos (1900); Cavalos de Carga (1900).
12 de Junho de 2015
O que aprendemos com quatro décadas de corrida em Portugal?
Breve História da Corrida para Todos
1975 - 2015
Evolução organizativa
Cipriano Lucas – Grupo Corre Portugal
II Seminário para Diretores de Provas de Atletismo Fora de Estádio.*
As organizações das corridas em Portugal procuram hoje acompanhar aquilo que de melhor se realiza nas grandes competições internacionais. A paixão pela Corrida e pelo Atletismo, a nossa forma de sermos portugueses, a nossa criatividade, a capacidade de ‘desenrascanço’ permite-nos superar muitas outras limitações traduzindo essas qualidades num nível elevado de muitas das nossas organizações.
Para chegar aqui, as organizações de pequenos e grandes eventos, cometeram muitos erros. Temos muito ainda para aprender e melhorar, mas é inegável para aqueles que acompanharam desde o início este fenómeno da “Corrida para Todos” que as organizações de hoje são muito melhores. Os participantes tem muito maior cultura desportiva e cívica. No fundo, orgulhamos-nos de sermos um exemplo para a maioria das ativadas organizativas do nosso país.
1975 - 2015
Evolução organizativa
Cipriano Lucas – Grupo Corre Portugal
II Seminário para Diretores de Provas de Atletismo Fora de Estádio.*
As organizações das corridas em Portugal procuram hoje acompanhar aquilo que de melhor se realiza nas grandes competições internacionais. A paixão pela Corrida e pelo Atletismo, a nossa forma de sermos portugueses, a nossa criatividade, a capacidade de ‘desenrascanço’ permite-nos superar muitas outras limitações traduzindo essas qualidades num nível elevado de muitas das nossas organizações.
Para chegar aqui, as organizações de pequenos e grandes eventos, cometeram muitos erros. Temos muito ainda para aprender e melhorar, mas é inegável para aqueles que acompanharam desde o início este fenómeno da “Corrida para Todos” que as organizações de hoje são muito melhores. Os participantes tem muito maior cultura desportiva e cívica. No fundo, orgulhamos-nos de sermos um exemplo para a maioria das ativadas organizativas do nosso país.
Aquela prova Pirata!
"16 de Novembro de Novembro de 1975. 11.00 horas. 151 atletas apresentaram-se na partida da primeira edição da meia maratona da Nazaré. Nascia uma prova de fundo como nunca se vira em Portugal." Anacleto Pinto vencia com 1.11.59 à frente de 145 atletas. "Se isto não é Atletismo onde está o Atletismo?", questionava o jornalista do jornal desportivo Record, Norberto Santos. 40 anos depois, Portugal apresenta 58 provas acima de um milhar de participantes. Trinta delas acima dos 2000. Com a Meia Maratona de Lisboa a registar em 2015 9.735 chegados. A São Silvestre do Porto 2014 (8785) e a São Silvestre de Lisboa (8577) seguem nos lugares imediatos. Entre a primeira edição daquela que é considerada "a mãe das meias maratonas" e a última a edição da Meia de Lisboa ou das São Silvestres de Lisboa e Porto as organizações percorreram um longo e difícil caminho. Um caminho de muitas dificuldades que passou pela profissionalização de muitos sectores dos seus eventos capazes de dar respostas aos naturalmente mais exigentes participantes. |
Convido-vos a regressar ao passado para recordar aquela que foi a organização da primeira edição da Maratona de Lisboa em 1984.
Vivíamos o ano de Ouro do atletismo português. O jornalista Arons de Carvalho escrevia na edição de Dezembro desse ano na revista Atletismo: "Houve medalhas olímpicas, houve o recorde mundial e (finalmente) progrediu-se nas restantes especialidades e começou a 'arejar-se' a Federação.”
Este otimismo e esta melhoria na qualidade competitiva não era, todavia, acompanhada pela qualidade organizativa nas competições em estrada e crosse.
A primeira edição da Maratona de Lisboa tinha tudo para ser um sucesso:
- Uma organização da Portugal Turismo e Serviços em parceria técnica com a Associação de Lisboa;
- Um bom percurso, todo plano entre a Praça do Comércio e Algés;
- Numero recorde de inscritos (317 terminaram a maratona e 962 a meia);
- Bom nível de atletas de elite;
- Elevados prémios monetários (800 contos para o vencedor);
Então o que falhou?
Falhou quase tudo:
- Confusão na partida que foi dada 70 a 80 metros adiante do local programado na Praça do Comércio;
- O percurso foi mal medido, e mal sinalizado: a meia tinha 20.304 metros e a maratona 41.071;
- Os abastecimentos não chegaram para todos os atletas;
- As indicações dos quilómetros mal colocadas;
- Tempos de passagem inexistentes;
- Local de meta no Rossio mal sinalizado;
- Entrega de prémio para todos - diplomas e medalhas - não foram distribuídos.
Com as distâncias erradas, confirmadas pela AAL dez dias depois em comunicado,
Cidálio Caetano igualou o recorde mundial de Steve Jones (2.08.05) obtido em Chicago.
Rafael Marques fez a melhor marca nacional na meia maratona (1.01.20).
"Aquela que se esperava fosse uma verdadeira festa da modalidade acabou por redundar numa vergonha para o atletismo nacional."
Com reflexo na imprensa internacional que procurava, surpreendida, saber “quem era aquele desconhecido Cidálio Caetano?”
Todavia - e aqui recordo a minha experiência como atleta nesta década de oitenta do século passado -, o que aqui houve de inédito na Maratona de Lisboa 1984 foi a existência de tantos erros na mesma competição.
Nestes tempos era "normal" as falsas partidas, os erros de medição dos percursos, a inexistência de abastecimentos, a tardia divulgação de resultados.
Vivíamos o ano de Ouro do atletismo português. O jornalista Arons de Carvalho escrevia na edição de Dezembro desse ano na revista Atletismo: "Houve medalhas olímpicas, houve o recorde mundial e (finalmente) progrediu-se nas restantes especialidades e começou a 'arejar-se' a Federação.”
Este otimismo e esta melhoria na qualidade competitiva não era, todavia, acompanhada pela qualidade organizativa nas competições em estrada e crosse.
A primeira edição da Maratona de Lisboa tinha tudo para ser um sucesso:
- Uma organização da Portugal Turismo e Serviços em parceria técnica com a Associação de Lisboa;
- Um bom percurso, todo plano entre a Praça do Comércio e Algés;
- Numero recorde de inscritos (317 terminaram a maratona e 962 a meia);
- Bom nível de atletas de elite;
- Elevados prémios monetários (800 contos para o vencedor);
Então o que falhou?
Falhou quase tudo:
- Confusão na partida que foi dada 70 a 80 metros adiante do local programado na Praça do Comércio;
- O percurso foi mal medido, e mal sinalizado: a meia tinha 20.304 metros e a maratona 41.071;
- Os abastecimentos não chegaram para todos os atletas;
- As indicações dos quilómetros mal colocadas;
- Tempos de passagem inexistentes;
- Local de meta no Rossio mal sinalizado;
- Entrega de prémio para todos - diplomas e medalhas - não foram distribuídos.
Com as distâncias erradas, confirmadas pela AAL dez dias depois em comunicado,
Cidálio Caetano igualou o recorde mundial de Steve Jones (2.08.05) obtido em Chicago.
Rafael Marques fez a melhor marca nacional na meia maratona (1.01.20).
"Aquela que se esperava fosse uma verdadeira festa da modalidade acabou por redundar numa vergonha para o atletismo nacional."
Com reflexo na imprensa internacional que procurava, surpreendida, saber “quem era aquele desconhecido Cidálio Caetano?”
Todavia - e aqui recordo a minha experiência como atleta nesta década de oitenta do século passado -, o que aqui houve de inédito na Maratona de Lisboa 1984 foi a existência de tantos erros na mesma competição.
Nestes tempos era "normal" as falsas partidas, os erros de medição dos percursos, a inexistência de abastecimentos, a tardia divulgação de resultados.
Foi lenta a evolução organizativa das competições em estrada
Poderíamos aqui apontar inúmeros fatores para justificar essa lenta evolução.
Registamos aqui:
- O amadorismo e inexperiência;
- As dificuldades económicas;
- Os entraves burocráticos
- A indisciplina dos atletas.
Em meados dos anos oitenta, o treinador Pompílio Ferreira considerava que o fenómeno da corrida se devia a três fatores:
- O movimento da popular que se gerou logo a seguir ao 25 de Abril;
- A quantidade de provas e corredores que se encontravam ligados ao movimento Spiridon;
- E a existência de atletas de alto nível que mobilizaram os meios de informação de maior impacto.
Para além das cinquentenárias, Volta a Paranhos, Volta ao Funchal, GP Natal, SS Ponta Delgada e GP São Mateus, e do GP dos Reis, Faro, que nasceram ainda antes do 25 de Abril de 1974, é neste ambiente dos primeiros anos de Democracia em Portugal que se desenvolvem e nascem muitas das mais importantes organizações nacionais como é o caso:
- 20 km de Cascais (31 edições).
- Corrida dos Sinos (32).
- Corrida Internacional 1.º de maio (33).
- Corrida do Tejo (34).
- Corrida das Fogueiras - Peniche (35).
- São Silvestre de Braga (37).
- São Silvestre da Amadora (40).
Como nasceu a São Silvestre da Amadora
António Manuel Simões "lembrou-se" de organizar uma corrida quando viu a noturna paulista na passagem do ano de 1974, confessou-nos recentemente que "no Desportivo Operário do Rangel ninguém percebia nada” de Atletismo.
"No meu caso, apenas fiz umas corridas em 1964, mas forçado, durante o serviço militar. Na altura, como diretor das atividades culturais e recreativas, gostávamos de desporto mas o clube tinha também uma forte componente social. Tinha proposto, inclusive, a realização de uma Gala, uma grande noite de Fado. O que acabou por não se realizar. Já a corrida pedestre essa foi mesmo para a frente.
Em termos organizativos, a AAL “apenas” homologou a prova, enquanto António Manuel Simões formou a equipa organizativa: “Profissionalmente era programador fabril na Sorefame e essa atividade laboral obrigava-me a ter uma boa noção do ‘espaço e tempo’. Acabei por utilizar essa minha experiência organizativa profissional na prova de atletismo. Na primeira edição, o ‘staff’ não tinha mais de uma dezena de pessoas fixas a colaborar e mais meia dúzia que davam uma ajuda.”
“Estávamos todos a aprender”
Eram assim muitas das organizações. Apesar das boas vontades, de algum apoio de juntas de freguesia, de câmaras municipais e do comércio local a inexperiência era quase total.
Por outro lado, não bastava ter as ideias para organizar um evento para centenas de pessoas na rua. Era preciso ter meio económicos, matérias e humanos para colocar esses eventos na rua. A crise que o país atravessava, intervencionado pelo FMI, não permitia grandes euforias. A criatividade era total. No bom e mau sentido.
Recordamos que entidades organizativas com um caris profissional como hoje é exigível não existiam. O Troféu Spiridon, o Torneio das Localidades em Oeiras viviam nos primeiros anos de um voluntariado quase total.
A Xistarca, a primeira empresa vocacionada para a organização de eventos desportivos de forma profissional, surge apenas em 1986.
Não podemos deixar de referir que as dificuldades organizativas passavam pela aprovação das provas pelo Governo Civil mas também pela colaboração das entidades envolvidas como as forças de segurança.
O fim da GP Cidade de Lisboa “Ponte a Pé” ao fim de três edições (duas delas na Ponte 25 de Abril em 1982/83) sem uma justificação técnica credível é apenas um exemplo. Ou a dificuldade de cortes de trânsito ou colaboração das forças de segurança condicionavam ou inviabilizavam mesma a necessária qualidade organizativa.
Poderíamos aqui apontar inúmeros fatores para justificar essa lenta evolução.
Registamos aqui:
- O amadorismo e inexperiência;
- As dificuldades económicas;
- Os entraves burocráticos
- A indisciplina dos atletas.
Em meados dos anos oitenta, o treinador Pompílio Ferreira considerava que o fenómeno da corrida se devia a três fatores:
- O movimento da popular que se gerou logo a seguir ao 25 de Abril;
- A quantidade de provas e corredores que se encontravam ligados ao movimento Spiridon;
- E a existência de atletas de alto nível que mobilizaram os meios de informação de maior impacto.
Para além das cinquentenárias, Volta a Paranhos, Volta ao Funchal, GP Natal, SS Ponta Delgada e GP São Mateus, e do GP dos Reis, Faro, que nasceram ainda antes do 25 de Abril de 1974, é neste ambiente dos primeiros anos de Democracia em Portugal que se desenvolvem e nascem muitas das mais importantes organizações nacionais como é o caso:
- 20 km de Cascais (31 edições).
- Corrida dos Sinos (32).
- Corrida Internacional 1.º de maio (33).
- Corrida do Tejo (34).
- Corrida das Fogueiras - Peniche (35).
- São Silvestre de Braga (37).
- São Silvestre da Amadora (40).
Como nasceu a São Silvestre da Amadora
António Manuel Simões "lembrou-se" de organizar uma corrida quando viu a noturna paulista na passagem do ano de 1974, confessou-nos recentemente que "no Desportivo Operário do Rangel ninguém percebia nada” de Atletismo.
"No meu caso, apenas fiz umas corridas em 1964, mas forçado, durante o serviço militar. Na altura, como diretor das atividades culturais e recreativas, gostávamos de desporto mas o clube tinha também uma forte componente social. Tinha proposto, inclusive, a realização de uma Gala, uma grande noite de Fado. O que acabou por não se realizar. Já a corrida pedestre essa foi mesmo para a frente.
Em termos organizativos, a AAL “apenas” homologou a prova, enquanto António Manuel Simões formou a equipa organizativa: “Profissionalmente era programador fabril na Sorefame e essa atividade laboral obrigava-me a ter uma boa noção do ‘espaço e tempo’. Acabei por utilizar essa minha experiência organizativa profissional na prova de atletismo. Na primeira edição, o ‘staff’ não tinha mais de uma dezena de pessoas fixas a colaborar e mais meia dúzia que davam uma ajuda.”
“Estávamos todos a aprender”
Eram assim muitas das organizações. Apesar das boas vontades, de algum apoio de juntas de freguesia, de câmaras municipais e do comércio local a inexperiência era quase total.
Por outro lado, não bastava ter as ideias para organizar um evento para centenas de pessoas na rua. Era preciso ter meio económicos, matérias e humanos para colocar esses eventos na rua. A crise que o país atravessava, intervencionado pelo FMI, não permitia grandes euforias. A criatividade era total. No bom e mau sentido.
Recordamos que entidades organizativas com um caris profissional como hoje é exigível não existiam. O Troféu Spiridon, o Torneio das Localidades em Oeiras viviam nos primeiros anos de um voluntariado quase total.
A Xistarca, a primeira empresa vocacionada para a organização de eventos desportivos de forma profissional, surge apenas em 1986.
Não podemos deixar de referir que as dificuldades organizativas passavam pela aprovação das provas pelo Governo Civil mas também pela colaboração das entidades envolvidas como as forças de segurança.
O fim da GP Cidade de Lisboa “Ponte a Pé” ao fim de três edições (duas delas na Ponte 25 de Abril em 1982/83) sem uma justificação técnica credível é apenas um exemplo. Ou a dificuldade de cortes de trânsito ou colaboração das forças de segurança condicionavam ou inviabilizavam mesma a necessária qualidade organizativa.
Refiro ainda aqui a indisciplina dos atletas porque há distância tenho consciência que era extraordinariamente difícil organizar prova com atletas tão indisciplinados. Apesar de continuarem a existir muitos problemas, hoje tudo é diferente. Os participantes tem uma consciência cívica que facilita as organizações, mas até aos anos 90, raro era não existirem falsas partidas; cortes de caminho, trocas de identidade e de dorsais, inscrições em duplicado.
Recentemente, Lara Ramos, presidente da Associação do Algarve, revelou-nos alguns aspetos organizativos do Crosse Internacional das Amendoeiras que vai na sua 38.ª edição que revelam bem a atual complexidade organizativa. O organizador do mais prestigiado crosse nacional aponta "57 itens a não esquecer" no seu memorando, numa organização que vão desde a data do evento até ao relatório final, passando pelo orçamento, conferência de imprensa, controle antidoping, dorsais, montagem do percurso, medalhas, segurança... 57 aspetos que “não podem de forma alguma ser esquecidos”.
Recentemente, Lara Ramos, presidente da Associação do Algarve, revelou-nos alguns aspetos organizativos do Crosse Internacional das Amendoeiras que vai na sua 38.ª edição que revelam bem a atual complexidade organizativa. O organizador do mais prestigiado crosse nacional aponta "57 itens a não esquecer" no seu memorando, numa organização que vão desde a data do evento até ao relatório final, passando pelo orçamento, conferência de imprensa, controle antidoping, dorsais, montagem do percurso, medalhas, segurança... 57 aspetos que “não podem de forma alguma ser esquecidos”.
Para concluir, e em jeito de síntese, entre estes importantes sectores organizativos, determinantes para uma boa organização, comparamos as práticas utilizadas entre as organizações dos anos 80/90 e a atualidade utilizando como ponto de partida alguns dos principais pontos do regulamento da Corrida do Tejo:
Data e hora de realização
Hoje, com os meios de divulgação tudo é claro quanto há data e hora. Há 40 anos, quando as comunicações era por correio, fax e telefone fixo as incertezas mantinham-se até ao tiro de partida que era raro ser dado à hora prevista.
Corridas, caminhadas e percursos
Os percursos eram uma das dores de cabeça dos organizadores. Mal medidos, mal sinalizados. Com inexistente policiamento e trânsito a decorrer. Umas setas pintadas no chão eram a salvação dos atletas. Hoje, apesar das tecnologias, os problemas nesta área ainda existem mas são pontuais e assumidos pelas organizações.
Data e hora de realização
Hoje, com os meios de divulgação tudo é claro quanto há data e hora. Há 40 anos, quando as comunicações era por correio, fax e telefone fixo as incertezas mantinham-se até ao tiro de partida que era raro ser dado à hora prevista.
Corridas, caminhadas e percursos
Os percursos eram uma das dores de cabeça dos organizadores. Mal medidos, mal sinalizados. Com inexistente policiamento e trânsito a decorrer. Umas setas pintadas no chão eram a salvação dos atletas. Hoje, apesar das tecnologias, os problemas nesta área ainda existem mas são pontuais e assumidos pelas organizações.
Organização/Informação
Hoje estão identificados os organizadores dos eventos. Há 40 anos, muitas das organizações/entidades passavam uma imagem discreta. As conferências de imprensa, os cartazes, os sites, são meios de divulgação obrigatórios que, ou não existiam, ou eram ignorados.
Inscrições: preços e locais de inscrição
Hoje tudo é claro quanto a esta matéria. Ninguém questiona o pagamento de inscrição. Recordo que em 1985, a organização das 10 milhas Philippe Martin teve a “ousadia” de cobrar 100 escudos por inscrição quando por exemplo a “Ponte a Pé” cobrava 20 escudos.
“Se comercializam as provas acabam com elas”, criticavam alguns atletas. A justificação foi dada pela organização: “A taxa de inscrição foi criada para combater as inscrições feitas sem consciência (em duplicado) e sem o menor respeito pelos organizadores….”
Escalões/Classificações
Outra área sensível que com frequência provocava problemas. Falsificações de identidades e de dorsais. Cortes de percurso. Dificuldades em elaborar e apresentar atempadamente as classificações. Muitas nunca chegavam a surgir. Hoje, este problema persiste mas com os novos meios tecnológicos dos atletas e dos organizadores permitem aceder a esta informação com qualidade.
Prémios/ Kit Medalha/Diploma
Primeiro os prémios em géneros. Para além das medalhas e taças, havia de tudo, em função da região ou entidade. Desde um frigorífico, televisor, viagens, cortes de fazenda, presuntos, calçado... Depois, os prémios monetários que chegaram a atingir níveis avultados para a realidade do país são hoje muito restritos. Os problemas eram frequentes e afetavam a imagem das organizações. Hoje, os prémios monetários tem pouca expressão na maioria das corridas.
Terminamos repetindo a pergunta inicial: O que aprendemos com quatro décadas de corrida em Portugal?
2 de Maio de 2015
*A Federação Portuguesa de Atletismo promove, nos dias 02 e 03 de Maio, em Lisboa, o II Seminário para Diretores de Provas de Atletismo Fora de Estádio.
É objetivo do Seminário definir padrões mínimos de qualidade para a certificação de provas de atletismo fora do estádio, de modo a proporcionar aos participantes a qualidade organizativa, o apoio médico e a segurança necessárias na participação de um evento deste género.
Desde do início deste ano, a Federação Portuguesa de Atletismo só certifica e autoriza, provas de atletismo fora do estádio (estrada, corta-mato, trail, montanha e outras) que tenham diretor técnico certificado, através de frequência destes seminários.
Hoje estão identificados os organizadores dos eventos. Há 40 anos, muitas das organizações/entidades passavam uma imagem discreta. As conferências de imprensa, os cartazes, os sites, são meios de divulgação obrigatórios que, ou não existiam, ou eram ignorados.
Inscrições: preços e locais de inscrição
Hoje tudo é claro quanto a esta matéria. Ninguém questiona o pagamento de inscrição. Recordo que em 1985, a organização das 10 milhas Philippe Martin teve a “ousadia” de cobrar 100 escudos por inscrição quando por exemplo a “Ponte a Pé” cobrava 20 escudos.
“Se comercializam as provas acabam com elas”, criticavam alguns atletas. A justificação foi dada pela organização: “A taxa de inscrição foi criada para combater as inscrições feitas sem consciência (em duplicado) e sem o menor respeito pelos organizadores….”
Escalões/Classificações
Outra área sensível que com frequência provocava problemas. Falsificações de identidades e de dorsais. Cortes de percurso. Dificuldades em elaborar e apresentar atempadamente as classificações. Muitas nunca chegavam a surgir. Hoje, este problema persiste mas com os novos meios tecnológicos dos atletas e dos organizadores permitem aceder a esta informação com qualidade.
Prémios/ Kit Medalha/Diploma
Primeiro os prémios em géneros. Para além das medalhas e taças, havia de tudo, em função da região ou entidade. Desde um frigorífico, televisor, viagens, cortes de fazenda, presuntos, calçado... Depois, os prémios monetários que chegaram a atingir níveis avultados para a realidade do país são hoje muito restritos. Os problemas eram frequentes e afetavam a imagem das organizações. Hoje, os prémios monetários tem pouca expressão na maioria das corridas.
Terminamos repetindo a pergunta inicial: O que aprendemos com quatro décadas de corrida em Portugal?
2 de Maio de 2015
*A Federação Portuguesa de Atletismo promove, nos dias 02 e 03 de Maio, em Lisboa, o II Seminário para Diretores de Provas de Atletismo Fora de Estádio.
É objetivo do Seminário definir padrões mínimos de qualidade para a certificação de provas de atletismo fora do estádio, de modo a proporcionar aos participantes a qualidade organizativa, o apoio médico e a segurança necessárias na participação de um evento deste género.
Desde do início deste ano, a Federação Portuguesa de Atletismo só certifica e autoriza, provas de atletismo fora do estádio (estrada, corta-mato, trail, montanha e outras) que tenham diretor técnico certificado, através de frequência destes seminários.
A edição zero da Estafeta Cascais - Lisboa
A Estafeta Cascais - Lisboa realizou-se pela primeira vez a 24 de Abril de 1932. A primeira edição da mais antiga prova portuguesa ainda hoje disputada passou a ser considerada uma 'pré-edição' porque o último dos cinco percursos não foi concluído. As autoridades decidiram proibir, à última hora, a sua realização porque, alegadamente, verificava-se um intenso trânsito entre a Avenida da Índia e a Praça do Comércio, onde estava instalada a meta.
Essa primeira edição que não foi assumida pelo Conselho Técnico da Associação de Lisboa (AAL), estava projectada com cinco percursos totalizando 27.800 metros: Cascais-Parede; Parede-Paço de Arcos; Paço de Arcos-Algés; Algés-Av. da Índia; Av. da Índia-Praça do Comércio.
A corrida terminou na Av. da Índia sem que no outro dia os jornais dessem qualquer justificação para o facto.
O ideólogo do evento, o jornalista e técnico Alberto Freitas justificou na altura a realização de uma estafeta: "a divisão da corrida em estafetas simplifica a tarefa dos corredores, dá mais animação há prova e obriga os clubes a trabalhar, porque necessitam apresentar cinco homens".
A concentração dos atletas deu-se na Praça do Comércio pelas 13.30, tendo a AAL feito um apelo aos automobilistas presentes que ajudassem a transportar os atletas ao longo do percurso até Cascais. Recordo que a Estrada Marginal, como hoje a conhecemos, só viria a ser inaugurada dez anos depois.
A partida foi dada com 20 minutos de atraso, pelas 14.50, para as oito equipas presentes em representação de quatro clubes: Três do Benfica, duas do Sporting e dos Vendedores de Jornais e uma do Probidade.
"Os milhares de espectadores ao longo do percurso, assim como os adeptos que acompanhavam a prova de carro e bicicleta complicaram a organização e o desempenho dos atletas", recorda a AAL.
O Benfica composto por Armando Silva, João Miguel, Armindo Farinha e Manuel Dias foram considerados os vencedores com 1.16.30 horas à frente do Sporting.
Realiza-se no Domingo, dia 12 de Abril, a 76.ª edição da Estafeta entre os Concelhos de Cascais, Oeiras e Lisboa.
O evento é composto por duas corridas com a extensão de 20.000 metros, sendo uma por estafetas e outra em corrida em linha.
O inicio da prova dos 20 Kms em linha está marcado para as 9.30 e a estafeta às 10.00, com a partida instalada junto ao Casino do Estoril e a Meta na Praça do Império.
9 de Abril de 2015
Essa primeira edição que não foi assumida pelo Conselho Técnico da Associação de Lisboa (AAL), estava projectada com cinco percursos totalizando 27.800 metros: Cascais-Parede; Parede-Paço de Arcos; Paço de Arcos-Algés; Algés-Av. da Índia; Av. da Índia-Praça do Comércio.
A corrida terminou na Av. da Índia sem que no outro dia os jornais dessem qualquer justificação para o facto.
O ideólogo do evento, o jornalista e técnico Alberto Freitas justificou na altura a realização de uma estafeta: "a divisão da corrida em estafetas simplifica a tarefa dos corredores, dá mais animação há prova e obriga os clubes a trabalhar, porque necessitam apresentar cinco homens".
A concentração dos atletas deu-se na Praça do Comércio pelas 13.30, tendo a AAL feito um apelo aos automobilistas presentes que ajudassem a transportar os atletas ao longo do percurso até Cascais. Recordo que a Estrada Marginal, como hoje a conhecemos, só viria a ser inaugurada dez anos depois.
A partida foi dada com 20 minutos de atraso, pelas 14.50, para as oito equipas presentes em representação de quatro clubes: Três do Benfica, duas do Sporting e dos Vendedores de Jornais e uma do Probidade.
"Os milhares de espectadores ao longo do percurso, assim como os adeptos que acompanhavam a prova de carro e bicicleta complicaram a organização e o desempenho dos atletas", recorda a AAL.
O Benfica composto por Armando Silva, João Miguel, Armindo Farinha e Manuel Dias foram considerados os vencedores com 1.16.30 horas à frente do Sporting.
Realiza-se no Domingo, dia 12 de Abril, a 76.ª edição da Estafeta entre os Concelhos de Cascais, Oeiras e Lisboa.
O evento é composto por duas corridas com a extensão de 20.000 metros, sendo uma por estafetas e outra em corrida em linha.
O inicio da prova dos 20 Kms em linha está marcado para as 9.30 e a estafeta às 10.00, com a partida instalada junto ao Casino do Estoril e a Meta na Praça do Império.
9 de Abril de 2015
"Desporto e língua portuguesa são os elos mais fortes na comunidade lusófona"
"Vários países, a mesma identidade: o desporto é um diálogo de culturas e ponte entre os povos na comunidade lusófona."
Vítor Serpa, na palestra realizada na sede do Comité Olímpico de Portugal (COP), em Lisboa, a propósito do Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz, que a Organização das Nações Unidas, por resolução, instituiu a 6 de abril.
O papel do desporto no combate ao racismo e na aproximação de Portugal às antigas colónias mereceu longa viagem no tempo por parte do diretor de A BOLA. O jornalista recordou a integração do primeiro negro (Guilherme Espírito Santo), em 1937, na Seleção Nacional, enquanto a Inglaterra, apenas em 1977, com Cunningham, nos sub-21, deu idêntico passo.
Ler mais em: http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=541256
6 de Abril de 2015
Vítor Serpa, na palestra realizada na sede do Comité Olímpico de Portugal (COP), em Lisboa, a propósito do Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz, que a Organização das Nações Unidas, por resolução, instituiu a 6 de abril.
O papel do desporto no combate ao racismo e na aproximação de Portugal às antigas colónias mereceu longa viagem no tempo por parte do diretor de A BOLA. O jornalista recordou a integração do primeiro negro (Guilherme Espírito Santo), em 1937, na Seleção Nacional, enquanto a Inglaterra, apenas em 1977, com Cunningham, nos sub-21, deu idêntico passo.
Ler mais em: http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=541256
6 de Abril de 2015
"Futebolista-atleta"Espírito Santo entrou na história do desporto nacional ao ser o primeiro futebolista negro a representar Portugal. A sua estreia deu-se num jogo frente a selecção espanhola e logo na primeira vitória conseguida pelas cores portuguesas a 28 de Novembro de 1937.
De ascendência angolano-santomense, nascido em Lisboa a 30 de Outubro de 1919, estreou-se com o futebolista no Benfica com 17 anos, clube que representaria até ao final de carreira, depois de regressar de Luanda para onde fora com oito anos de idade. "Foi por acaso" que o jovem futebolista do Benfica descobriu em 1938 que também tinha jeito para outra modalidade. Conta Sequeira Andrade no seu livro "Recordes Nacionais de Atletismo e Outras Histórias": "No rectângulo do campo das Amoreiras decorria o treino de futebol ao mesmo tempo que numa das cabeceiras se exercitavam os saltadores em altura do clube. A bola escapou-se para a zona do salto e, no trajecto para a recuperar, o futebolista Guilherme transpôs despreocupadamente a fasquia colocada a 1,70 metros sem dar conta do espanto causado aos atletas em treino )futuros companheiros de equipa) que imediatamente reagiram." Guilherme Espírito Santo foi então convidado para representar o Benfica no salto em altura, comprimento e triplo salto.Um ano depois foi considerado o melhor atleta nacional da temporada. Sagrou-se campeão e recordista nacional em todas estas as disciplinas. No salto em altura, a sua marca de 1.88 metros foi mesmo recorde ibérico e manteve-se como o máximo nacional durante 20 anos. |
Manoel de Oliveira recordista de Portugal de salto com vara
Piloto aéreo de acrobacia, actor, piloto de automóveis com vitórias em Portugal e no estrangeiro, nadador, praticante de remo, trapezista. O atleta do Sport Club do Porto foi campeão (1929 e 1931) e recordista de Portugal de salto com vara (3,35 metros a 9 de Agosto de 1931), registo obtido precisamente no ano que rodou uma curta-metragem sobre a faina no Rio Douro, o seu primeiro filme o Douro, Faina Fluvial. Como realizador dirigiu 32 longas-metragens.
Manoel de Oliveira nasceu no Porto a 11 de Dezembro de 1908 e faleceu hoje com 106 anos. 2 de Abril de 2015 |
Manoel Oliveira:
Camões põe o Velho do Restelo a dizer "cuidado com as vitórias, porque podem redundar em derrotas". E isso tem acontecido. Tudo o que a gente faz é um prenúncio de derrota. Houve um filósofo que disse que a História acabou, porque agora se escrevem romances. E num filme histórico ninguém conta o que se passou exactamente como se passou.
A vida é uma derrota. A gente vive na derrota. Nasce contra vontade, e não é senhor do seu destino.
O meu público é aquele que vai ver os meus filmes. O cinema dá-nos uma visão da vida. E a vida é um mistério.
O mundo é complexo, incompreensível, talvez não tanto para quem tem uma crença nalguma coisa firme, mas para aqueles onde a dúvida prevalece. E o que proponho é a dúvida. A dúvida é uma maneira de ser.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/manoel-de-oliveira-a-vida-e-uma-derrota=f918209#ixzz3WAI6fO4v
Camões põe o Velho do Restelo a dizer "cuidado com as vitórias, porque podem redundar em derrotas". E isso tem acontecido. Tudo o que a gente faz é um prenúncio de derrota. Houve um filósofo que disse que a História acabou, porque agora se escrevem romances. E num filme histórico ninguém conta o que se passou exactamente como se passou.
A vida é uma derrota. A gente vive na derrota. Nasce contra vontade, e não é senhor do seu destino.
O meu público é aquele que vai ver os meus filmes. O cinema dá-nos uma visão da vida. E a vida é um mistério.
O mundo é complexo, incompreensível, talvez não tanto para quem tem uma crença nalguma coisa firme, mas para aqueles onde a dúvida prevalece. E o que proponho é a dúvida. A dúvida é uma maneira de ser.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/manoel-de-oliveira-a-vida-e-uma-derrota=f918209#ixzz3WAI6fO4v
Projecto náutico de Duarte Pacheco para o Jamor
ou... mais uma oportunidade perdida
Duarte Pacheco, no seu projecto náutico para o Jamor, pretendia expandir o complexo desportivo do Estádio Nacional até ao rio Tejo. A sua morte, em 1943, acabou por condicionar essa ambição. Com o encerramento das fábricas de Lusalite e Fermentos essa ideia poderia ser recuperada mas o já aprovado plano de pormenor para a margem direita do rio Jamor tem outras ideias para o espaço: a construção de cinco torres, uma delas com 20 pisos, destinadas a habitação, comércio e serviços e um viaduto sobre a Avenida Marginal.
O plano inicial de 1939 para o Estádio Nacional, hoje denominado Complexo Desportivo Nacional do Jamor (CDNJ), previa a reconversão para fins desportivos do espaço ocupado pela antiga Lusalite e Fábrica de Fermento Holandeses, na Cruz Quebrada.
Ai, nesses terrenos entre a Avenida Marginal e o rio Tejo, Duarte Pacheco, o ministro das obras publicas e comunicações do Estado Novo, projectava uma zona reservada para desportos náuticos, marinas, cais fluviais, áreas florestais, de circulação e parque de estacionamento.
Na edição de 1943 das Memórias da Linha de Cascais, as autoras Branca de Conta Colaço e Maria Archer recordam o que ai existia: "na margem direita do Jamor pouco há que ver nesta altura da Cruz Quebrada. No local agora ocupado pela Fábrica da Lusalite, a fábrica de fermentos holandeses alongava-se, antigamente, o campo desportivo dos ingleses, mais antigo que as duas fábricas."
Desmanteladas as fábricas da Lusalite e dos Fermentos holandeses, há mais de 15 anos, todas as condições estavam reunidas para que o plano inicial para o CDNJ pudesse ser concretizado: num projecto de marina, ou outro projecto de âmbito recreativo e turístico neste local pode restaurar a ligação com a praia da Cruz Quebrada e o passeio marítimo Cruz Quebrada-Caxias e constituir uma ampliação do CDNJ.
Mas, não.
Isso seria a concretização do sonho de Duarte Pacheco e dos arquitectos Caldeira Cabral e Konrad Wiesner. O visionário político pretendia realizar a construção de um pulmão verde no coração de Lisboa, que apelasse "à quietude e à interioridade. Um lugar para atletas, famílias ou simples amantes do desporto e da mãe-natureza".
Fiel à ideia original do politico, o primeiro Regulamento de Exploração do Estádio Nacional, de 1948, defendia que a gestão do Estádio devia ser feita, "tendo sempre em atenção o propósito de fazer do Estádio Nacional uma escola de educação física e de desporto para todos os portugueses".
Ao contrário, foi aprovado já em 2014 o Plano de Pormenor da Margem Direita da Foz do Rio Jamor que contempla a construção de um viaduto sobre a Avenida Marginal e pela empresa proprietária dos terrenos, o Grupo SIL, um investimentos de 300 milhões de euros em de cinco torres, uma delas com 20 pisos, destinadas a habitação, comércio e serviços para uma área de 15 hectares junto ao rio Tejo, na freguesia da Cruz Quebrada.
O engenheiro, que deixou o seu nome ligado, entre outras obras, à construção do Estádio Nacional, a marginal Lisboa-Cascais, a Fonte Luminosa, em Lisboa, Parque de Monsanto, viria a falecer aos 43 anos em 16 de Novembro de 1943 num acidente automóvel, ainda antes da inauguração do Estádio Nacional que decorreu perto de meio ano depois, a 10 de Junho de 1944. A sua morte vira a comprometer a politica de obras publicas de Oliveira Salazar e a continuidade de alguns dos projecto, nomeadamente o plano inicial para o Estádio Nacional.
Quando foi extinta, em 1948, a Comissão Administrativa das Obras do Estádio de Lisboa, instituída para dirigir e administrar a sua construção, ficaram por concretizar numerosas instalações previstas no plano geral inicial, nomeadamente: as piscinas e o tanque para saltos, o hipódromo com as pistas de corridas, bancadas e picadeiros, courts de ténis, campos de futebol, voleibol, basquetebol e um ringue de patinagem, e balneários. Também não se construiram os campos de futebol, voleibol, ténis e tiro para a Mocidade Portuguesa, um albergue e a Escola de Graduados, tudo a realizar na Quinta do Balteiro. E ficou por regularizar o curso do Rio Jamor e o acesso do complexo desportivo ao rio Tejo.
Do controverso estadista Duarte Pacheco e da sua personalidade conta-se que durante o vasto processo de expropriações que permitiam viabilizar as vias de comunicação, assim como o Parque Monsanto e o Estádio Nacional, teria entrado com a sua comitiva na Quinta da Graça, no Jamor, sem autorização para inspeccionar os terrenos. A sua proprietária foi avisada pelos trabalhadores quando estava a acompanhar as culturas agrícolas. Montada a cavalo, não esteve com meias medidas: esporeou o cavalo e expulsou os invasores sem quaisquer contemplações. Essa ousadia saiu-lhe cara. O ministro de Salazar deu-lhe apenas três meses para deixar a quinta e, como não o conseguiu fazer, teve de pagar renda na sua própria casa durante vários meses até conseguir arrendar uma outra propriedade na Cruz Quebrada. Esta história exemplifica bem o poder de Duarte Pacheco, apoiada numa politica ditatorial do Estado Novo.
Hoje, felizmente, em democracia tudo é diferente. Já não é um regime ditatorial que impõem expropriações forçadas para a construção de infraestruturas publicas desportivas e redes viárias.
Hoje, tudo em democracia, são os interesses privados que se impõem, com todos os pareceres necessários e o voto da maioria dos partidos municipais, para decidir sobre terrenos públicos e privados, subordinando os primeiros aos últimos e permitindo a apropriação e instrumentalização de terrenos públicos para fins privados.
Quando se deveriam aproveitar todas as oportunidade para melhorar e aumentar aquele que é um património arquitectónico desportivo, nas palavras de Paulino Pereira em "Estádio Nacional - Um paradigma da Arquitectura do Desporto e do Lazer -, "talvez a única estrutura desportiva, de grande dimensão e com carácter nacional, que o País possui e constitui um primeiro marco na história das infra-estruturas desportivas de Portugal" , os poderes autárquicos e nacionais optam pela politica do betão.
Numa politica que tem vindo a pressionar o CDNJ com projectos imobiliários de grande dimensão no seu interior como a Cidade do Futebol, ou nas suas margens como é o Alto da Boa Viagem ou este junto à Praia da Cruz Quebrada, o plano de pormenor da Câmara de Oeiras que abrange uma área de 27,6 hectares na Margem Direita da Foz do Rio Jamor, foi aprovado pela Assembleia Municipal de Oeiras. Cinco edifícios destinados a habitação, comércio e serviços, um hotel e estacionamento. Contempla ainda construção de um viaduto sobre a marginal. Implantadas quase em cima da foz do Jamor, a escassos metros do rio Tejo, em zona de elevadíssimos riscos naturais, vulnerável aos riscos de cheia (fluvial), inundação (marinha) ou erosão costeira.
21 de Março de 2015
O plano inicial de 1939 para o Estádio Nacional, hoje denominado Complexo Desportivo Nacional do Jamor (CDNJ), previa a reconversão para fins desportivos do espaço ocupado pela antiga Lusalite e Fábrica de Fermento Holandeses, na Cruz Quebrada.
Ai, nesses terrenos entre a Avenida Marginal e o rio Tejo, Duarte Pacheco, o ministro das obras publicas e comunicações do Estado Novo, projectava uma zona reservada para desportos náuticos, marinas, cais fluviais, áreas florestais, de circulação e parque de estacionamento.
Na edição de 1943 das Memórias da Linha de Cascais, as autoras Branca de Conta Colaço e Maria Archer recordam o que ai existia: "na margem direita do Jamor pouco há que ver nesta altura da Cruz Quebrada. No local agora ocupado pela Fábrica da Lusalite, a fábrica de fermentos holandeses alongava-se, antigamente, o campo desportivo dos ingleses, mais antigo que as duas fábricas."
Desmanteladas as fábricas da Lusalite e dos Fermentos holandeses, há mais de 15 anos, todas as condições estavam reunidas para que o plano inicial para o CDNJ pudesse ser concretizado: num projecto de marina, ou outro projecto de âmbito recreativo e turístico neste local pode restaurar a ligação com a praia da Cruz Quebrada e o passeio marítimo Cruz Quebrada-Caxias e constituir uma ampliação do CDNJ.
Mas, não.
Isso seria a concretização do sonho de Duarte Pacheco e dos arquitectos Caldeira Cabral e Konrad Wiesner. O visionário político pretendia realizar a construção de um pulmão verde no coração de Lisboa, que apelasse "à quietude e à interioridade. Um lugar para atletas, famílias ou simples amantes do desporto e da mãe-natureza".
Fiel à ideia original do politico, o primeiro Regulamento de Exploração do Estádio Nacional, de 1948, defendia que a gestão do Estádio devia ser feita, "tendo sempre em atenção o propósito de fazer do Estádio Nacional uma escola de educação física e de desporto para todos os portugueses".
Ao contrário, foi aprovado já em 2014 o Plano de Pormenor da Margem Direita da Foz do Rio Jamor que contempla a construção de um viaduto sobre a Avenida Marginal e pela empresa proprietária dos terrenos, o Grupo SIL, um investimentos de 300 milhões de euros em de cinco torres, uma delas com 20 pisos, destinadas a habitação, comércio e serviços para uma área de 15 hectares junto ao rio Tejo, na freguesia da Cruz Quebrada.
O engenheiro, que deixou o seu nome ligado, entre outras obras, à construção do Estádio Nacional, a marginal Lisboa-Cascais, a Fonte Luminosa, em Lisboa, Parque de Monsanto, viria a falecer aos 43 anos em 16 de Novembro de 1943 num acidente automóvel, ainda antes da inauguração do Estádio Nacional que decorreu perto de meio ano depois, a 10 de Junho de 1944. A sua morte vira a comprometer a politica de obras publicas de Oliveira Salazar e a continuidade de alguns dos projecto, nomeadamente o plano inicial para o Estádio Nacional.
Quando foi extinta, em 1948, a Comissão Administrativa das Obras do Estádio de Lisboa, instituída para dirigir e administrar a sua construção, ficaram por concretizar numerosas instalações previstas no plano geral inicial, nomeadamente: as piscinas e o tanque para saltos, o hipódromo com as pistas de corridas, bancadas e picadeiros, courts de ténis, campos de futebol, voleibol, basquetebol e um ringue de patinagem, e balneários. Também não se construiram os campos de futebol, voleibol, ténis e tiro para a Mocidade Portuguesa, um albergue e a Escola de Graduados, tudo a realizar na Quinta do Balteiro. E ficou por regularizar o curso do Rio Jamor e o acesso do complexo desportivo ao rio Tejo.
Do controverso estadista Duarte Pacheco e da sua personalidade conta-se que durante o vasto processo de expropriações que permitiam viabilizar as vias de comunicação, assim como o Parque Monsanto e o Estádio Nacional, teria entrado com a sua comitiva na Quinta da Graça, no Jamor, sem autorização para inspeccionar os terrenos. A sua proprietária foi avisada pelos trabalhadores quando estava a acompanhar as culturas agrícolas. Montada a cavalo, não esteve com meias medidas: esporeou o cavalo e expulsou os invasores sem quaisquer contemplações. Essa ousadia saiu-lhe cara. O ministro de Salazar deu-lhe apenas três meses para deixar a quinta e, como não o conseguiu fazer, teve de pagar renda na sua própria casa durante vários meses até conseguir arrendar uma outra propriedade na Cruz Quebrada. Esta história exemplifica bem o poder de Duarte Pacheco, apoiada numa politica ditatorial do Estado Novo.
Hoje, felizmente, em democracia tudo é diferente. Já não é um regime ditatorial que impõem expropriações forçadas para a construção de infraestruturas publicas desportivas e redes viárias.
Hoje, tudo em democracia, são os interesses privados que se impõem, com todos os pareceres necessários e o voto da maioria dos partidos municipais, para decidir sobre terrenos públicos e privados, subordinando os primeiros aos últimos e permitindo a apropriação e instrumentalização de terrenos públicos para fins privados.
Quando se deveriam aproveitar todas as oportunidade para melhorar e aumentar aquele que é um património arquitectónico desportivo, nas palavras de Paulino Pereira em "Estádio Nacional - Um paradigma da Arquitectura do Desporto e do Lazer -, "talvez a única estrutura desportiva, de grande dimensão e com carácter nacional, que o País possui e constitui um primeiro marco na história das infra-estruturas desportivas de Portugal" , os poderes autárquicos e nacionais optam pela politica do betão.
Numa politica que tem vindo a pressionar o CDNJ com projectos imobiliários de grande dimensão no seu interior como a Cidade do Futebol, ou nas suas margens como é o Alto da Boa Viagem ou este junto à Praia da Cruz Quebrada, o plano de pormenor da Câmara de Oeiras que abrange uma área de 27,6 hectares na Margem Direita da Foz do Rio Jamor, foi aprovado pela Assembleia Municipal de Oeiras. Cinco edifícios destinados a habitação, comércio e serviços, um hotel e estacionamento. Contempla ainda construção de um viaduto sobre a marginal. Implantadas quase em cima da foz do Jamor, a escassos metros do rio Tejo, em zona de elevadíssimos riscos naturais, vulnerável aos riscos de cheia (fluvial), inundação (marinha) ou erosão costeira.
21 de Março de 2015
O primeiro herói 'perdedor' da maratona
Hoje, quando recordamos a história da maratona olímpica masculina, quando destacamos os heróis nos 42.195 metros, lembramos-nos do grego Spiridon Louis, o primeiro vencedor da mais longa corrida olímpica, em Atenas 1896; Do Etíope Abebe Bikila campeão descalço em Roma 1960; Para nós portugueses, de Carlos Lopes campeão e recordista olímpico em Los Angeles 1984, aos 37 anos; E do italiano Dorando Pietri... o primeiro grande derrotado olímpico.
Dorando protagonizou um dos mais dramáticos momentos da história olímpica. Nos Jogos de Londres 1908, após liderar solitário os últimos quilómetros da maratona, entrou no Estádio White City esgotado e desorientado. O jovem italiano de 23 anos, começou a caminhar e caiu cinco vezes nos últimos 400 metros. Próximo da meta desfaleceu, levando cerca de dez minutos para completar a volta final na pista. Ajudado pelos juízes de prova a cruzar a linha de chegada, irregularidade que acabou por ser apontada no protesto do norte-americano Johnny Hayes, 19 anos, segundo classificado. Começava ai o mito do fundista italiano.
A imagem do pequeno corredor, de 1,59 metros, ajudado pelos juízes, é considerada um ícone da fotografia e a primeira grande foto clássica do desporto, especialmente da maratona, o que deu uma grande carga dramática à lendária e desgastante prova. Foi também o primeiro dos grandes heróis "não-campeão" da história olímpica que ajudariam a escrever o drama da mais longa corrida do atletismo.
No dia seguinte, Sir Arthur Conan Doyle, famoso por criar o detective Sherlock Holmes, na altura um dos juízes de chegada que ajudou Dorando, escrevia no Daily Mail. "o grande feito do italiano não poderá jamais ser apagado dos arquivos do desporto, seja qual for a decisão dos juízes."
Dorando foi posteriormente reconhecido como um grande herói olímpico, e recebeu um troféu de consolação por seu esforço das mãos da própria Rainha da Inglaterra.
Mais de setenta anos depois, a maratonista suíça Gabriela Andersen-Scheiss emocionou o mundo ao arrastar-se até a linha de chegada da primeira maratona feminina em Los Angeles 1984.
A imagem do pequeno corredor, de 1,59 metros, ajudado pelos juízes, é considerada um ícone da fotografia e a primeira grande foto clássica do desporto, especialmente da maratona, o que deu uma grande carga dramática à lendária e desgastante prova. Foi também o primeiro dos grandes heróis "não-campeão" da história olímpica que ajudariam a escrever o drama da mais longa corrida do atletismo.
No dia seguinte, Sir Arthur Conan Doyle, famoso por criar o detective Sherlock Holmes, na altura um dos juízes de chegada que ajudou Dorando, escrevia no Daily Mail. "o grande feito do italiano não poderá jamais ser apagado dos arquivos do desporto, seja qual for a decisão dos juízes."
Dorando foi posteriormente reconhecido como um grande herói olímpico, e recebeu um troféu de consolação por seu esforço das mãos da própria Rainha da Inglaterra.
Mais de setenta anos depois, a maratonista suíça Gabriela Andersen-Scheiss emocionou o mundo ao arrastar-se até a linha de chegada da primeira maratona feminina em Los Angeles 1984.
Após os Jogos de Londres 1908, Dorando e Johnny Hayes reencontraram-se em duas corridas em Nova Iorque. Dorando Pietri venceu as duas. Depois disso foi transformado numa grande celebridade internacional. O compositor Irving Berlin escreveu uma canção com o seu nome. Numa grande digressão de corridas nos Estados Unidos, ganhou 17 das 22 provas que disputou.
Em 1910, na sua última maratona, corrida em Buenos Aires, América do Sul, realizou o seu melhor tempo para a prova (2.38 horas).
Em 1910, na sua última maratona, corrida em Buenos Aires, América do Sul, realizou o seu melhor tempo para a prova (2.38 horas).
Recentemente, a 18 de Fevereiro, Hyvon Ngetich, de 29 anos, protagonizou um momento perturbador no final da Maratona de Austin (EUA). A queniana liderava a prova no Texas quando exausta caiu a 50 metros da linha de chegada. A organização tomou uma decisão controversa ao deixar a atleta continuar a prova de joelhos. Hyvon recusou o auxílio dos elementos da organização e concluiu em terceiro lugar, com o tempo de 3.04.02 horas. A campeão foi a compatriota Cynthia Jerop, com o tempo de 2.54.21, seguida pela americana Hannah Steffan, com 3.03.59.
Outros finais dramáticos no atletismo em:
https://www.youtube.com/watch?v=ffHGcQVPIG8
Final feminino no limite. Ironman 1997:
https://www.youtube.com/watch?v=MTn1v5TGK_w#t=63
26 de Fevereiro de 2015
https://www.youtube.com/watch?v=ffHGcQVPIG8
Final feminino no limite. Ironman 1997:
https://www.youtube.com/watch?v=MTn1v5TGK_w#t=63
26 de Fevereiro de 2015
Uma corrida de resistência
Angelina Jolie "capta em "Invencível" a endurance de um filme que, também para ela, não trouxe assunto fácil nem deixou de ser uma prova de resistência".
Angelina Jolie: "A decisão mais exigente que este filme me obrigou a tomar foi convencer-me que eu poderia ser a pessoa certa para contar esta história. Tive que encontrar em mim essa fé, essa força interior. O que é que isso implica? saber filmar uma corrida de 5000 metros, por exemplo..."
Drama “Unbroken” by Angelina Jolie
Director: Angelina Jolie
Screenwriter: Joel Coen, Ethan Coen, Richard LaGravenese, William Nicholson
Stars: Jack O’Connell, Miyavi, Garrett Hedlund, and Domhnall Gleeson
26 de Fevereiro de 2015
Angelina Jolie: "A decisão mais exigente que este filme me obrigou a tomar foi convencer-me que eu poderia ser a pessoa certa para contar esta história. Tive que encontrar em mim essa fé, essa força interior. O que é que isso implica? saber filmar uma corrida de 5000 metros, por exemplo..."
Drama “Unbroken” by Angelina Jolie
Director: Angelina Jolie
Screenwriter: Joel Coen, Ethan Coen, Richard LaGravenese, William Nicholson
Stars: Jack O’Connell, Miyavi, Garrett Hedlund, and Domhnall Gleeson
26 de Fevereiro de 2015
O campeão
"Tropecei hoje numa fotografia de 1925, com uma bancada de gente de chapéu a aplaudir três homens que saltavam obstáculos, numa pista semelhante a um campo lavrado que o fastio das ovelhas desertara: era o primeiro Espanha-Portugal em atletismo, e o retrato referia-se à prova de 110 metros barreiras. Foi o meu tio Eloy o vencedor.
Se é verdade o que diz o romancista, «O coração tem imensos quartos como uma casa de putas», o tio Eloy não ocupa, no meu, um cubículo das traseiras, mas uma suite completa com vista para o rio. Eu herdava-lhe as camisas de monograma, um F e um E cuidadosamente bordados, camisas adaptadas pela minha mãe ao meu tronco de rãzinha adolescente, F e E que, ao despir-me para a ginástica, no liceu, apareciam, de pernas para o ar, na fralda, nas costas, nos sovacos, devido às cirurgias de tesoura e agulha da autora da minha existência.
Às segundas e quintas-feiras uma assembleia de colegas rodeava-me no vestiário, fazendo apostas sobre a localização das letras. O Cavaco recolhia o dinheiro. Lembro-me da manhã em que ganhou um diabético albino que jogara dez tostões na nuca. A minha mãe, infelizmente, nunca se lembrou de fazer fortuna com este totoloto de popeline. E o tio Eloy tornou-se, sem o saber, o ídolo do 4º A.
A mãe do tio Eloy era a avó Gui, que possuía duas particularidades únicas: não era minha avó e comia grelos com uma boca tão elástica que o espectáculo daqueles molares de plasticina constituía o mais espantoso número de contorcionismo dentário que alguma vez observei. Além disso era uma senhora de tal modo notável em Pombal que o merceeiro, ao somar-lhe as compras, em voa alta, com um resto de lápis, lhe anunciava respeitosamente:
- Quatro e cinco nove e três doze e vai um, mas como é para Vossa Excelência vão dois; dois e sete nove e nove dezoito e sete vinte e cinco e vão dois, mas como é para Vossa Excelência vão três.
E a avó Gui pagava, com orgulhosa pompa, o peso da sua importância.
O tio Eloy vestia como nenhum homem se vestia: sem uma prega, com uma elegância discreta desde o colarinho aos sapatos magníficos, capazes de fazerem uma bola (o tio Eloy tinha sido extremo-esquerdo da Académica) atravessar a Praia das Maçãs inteira com um único remate, saltar a lagoa e perder-se para além do Alto da Vigia Mariscos & Bebidas, que era uma ruína de cervejaria no topo da falésia. Bola em que o tio Eloy tocasse em Benfica podia ser encontrada, na melhor das hipóteses, a flutuar no Guadiana no meio de pescadores estupefactos. Esta proeza fazia com que o meu irmão João e eu tentássemos imitar, promovendo torneios de corridas nas áleas de saibro do jardim do nosso avô, e lêssemos, no sótão da Calçada do Tojal, exemplares muito antigos do Très-Sport, onde Georges Carpentier mostrava os punhos na solenidade um pouco cómica de um deus em ceroulas.
Além disso o tio Eloy cheirava bem. Tinha sentido de humor. Era inteligente. A educação, segundo o catecismo familiar, revelava-se à mesa de jantar e à mesa de jogo, e o tio Eloy era imbatível em ambas: comia com gestos precisos de relojoeiro e, se perdia às cartas, deixava cair, com um suspiro leve, uma frase que ainda hoje escuto quando me lembro dele:
- Há muitos anos que sou beleguim e nunca vi uma coisa assim.
Às quintas-feiras nós, os sobrinhos, jantávamos em sua casa. À sobremesa oferecia-nos anis del mono em copinhos azuis, acertava os relógios de parede, deixava-nos na Travessa dos Arneiros e partia, oficialmente para o serão nos Correios. Claro que não ia para o serão nos Correios. Quando ele estava já muito doente (e manteve, na doença, a mesma dignidade afectuosa que lhe conheci na saúde), visitava-o no hospital e o seu pijama era o mais bonito e de melhor gosto que o meu casaco novo. Impecavelmente penteado e barbeado parecia que era ele que me vinha ver a mim. Uma noite não estava na clínica. Compreendi, pela cara da minha tia, que tinha ido fazer serão aos Correios. Não me preocupei muito: quando passar na Calçada do Tojal, hei-de encontrá-lo, como de costume, à janela, de tronco nu, acenando lá de cima como um campeão de 110 metros barreiras no final de uma prova. De uma prova que ganhou, porque o filho da avó Gui («E vão dois, mas como é para Vossa Excelência vão três») não era homem para perder fosse o que fosse."
António Lobo Antunes
Livro de Crónicas
Se é verdade o que diz o romancista, «O coração tem imensos quartos como uma casa de putas», o tio Eloy não ocupa, no meu, um cubículo das traseiras, mas uma suite completa com vista para o rio. Eu herdava-lhe as camisas de monograma, um F e um E cuidadosamente bordados, camisas adaptadas pela minha mãe ao meu tronco de rãzinha adolescente, F e E que, ao despir-me para a ginástica, no liceu, apareciam, de pernas para o ar, na fralda, nas costas, nos sovacos, devido às cirurgias de tesoura e agulha da autora da minha existência.
Às segundas e quintas-feiras uma assembleia de colegas rodeava-me no vestiário, fazendo apostas sobre a localização das letras. O Cavaco recolhia o dinheiro. Lembro-me da manhã em que ganhou um diabético albino que jogara dez tostões na nuca. A minha mãe, infelizmente, nunca se lembrou de fazer fortuna com este totoloto de popeline. E o tio Eloy tornou-se, sem o saber, o ídolo do 4º A.
A mãe do tio Eloy era a avó Gui, que possuía duas particularidades únicas: não era minha avó e comia grelos com uma boca tão elástica que o espectáculo daqueles molares de plasticina constituía o mais espantoso número de contorcionismo dentário que alguma vez observei. Além disso era uma senhora de tal modo notável em Pombal que o merceeiro, ao somar-lhe as compras, em voa alta, com um resto de lápis, lhe anunciava respeitosamente:
- Quatro e cinco nove e três doze e vai um, mas como é para Vossa Excelência vão dois; dois e sete nove e nove dezoito e sete vinte e cinco e vão dois, mas como é para Vossa Excelência vão três.
E a avó Gui pagava, com orgulhosa pompa, o peso da sua importância.
O tio Eloy vestia como nenhum homem se vestia: sem uma prega, com uma elegância discreta desde o colarinho aos sapatos magníficos, capazes de fazerem uma bola (o tio Eloy tinha sido extremo-esquerdo da Académica) atravessar a Praia das Maçãs inteira com um único remate, saltar a lagoa e perder-se para além do Alto da Vigia Mariscos & Bebidas, que era uma ruína de cervejaria no topo da falésia. Bola em que o tio Eloy tocasse em Benfica podia ser encontrada, na melhor das hipóteses, a flutuar no Guadiana no meio de pescadores estupefactos. Esta proeza fazia com que o meu irmão João e eu tentássemos imitar, promovendo torneios de corridas nas áleas de saibro do jardim do nosso avô, e lêssemos, no sótão da Calçada do Tojal, exemplares muito antigos do Très-Sport, onde Georges Carpentier mostrava os punhos na solenidade um pouco cómica de um deus em ceroulas.
Além disso o tio Eloy cheirava bem. Tinha sentido de humor. Era inteligente. A educação, segundo o catecismo familiar, revelava-se à mesa de jantar e à mesa de jogo, e o tio Eloy era imbatível em ambas: comia com gestos precisos de relojoeiro e, se perdia às cartas, deixava cair, com um suspiro leve, uma frase que ainda hoje escuto quando me lembro dele:
- Há muitos anos que sou beleguim e nunca vi uma coisa assim.
Às quintas-feiras nós, os sobrinhos, jantávamos em sua casa. À sobremesa oferecia-nos anis del mono em copinhos azuis, acertava os relógios de parede, deixava-nos na Travessa dos Arneiros e partia, oficialmente para o serão nos Correios. Claro que não ia para o serão nos Correios. Quando ele estava já muito doente (e manteve, na doença, a mesma dignidade afectuosa que lhe conheci na saúde), visitava-o no hospital e o seu pijama era o mais bonito e de melhor gosto que o meu casaco novo. Impecavelmente penteado e barbeado parecia que era ele que me vinha ver a mim. Uma noite não estava na clínica. Compreendi, pela cara da minha tia, que tinha ido fazer serão aos Correios. Não me preocupei muito: quando passar na Calçada do Tojal, hei-de encontrá-lo, como de costume, à janela, de tronco nu, acenando lá de cima como um campeão de 110 metros barreiras no final de uma prova. De uma prova que ganhou, porque o filho da avó Gui («E vão dois, mas como é para Vossa Excelência vão três») não era homem para perder fosse o que fosse."
António Lobo Antunes
Livro de Crónicas
Levantamento do peso... com uma mão
Várias modalidades curiosas já fizeram parte dos jogos olímpicos: Doze Horas de Ciclismo (1896), Cabo de Guerra (1900 a 1920), Tiro ao pombo (1920) , Voo livre de planador (1936), Jogo da Palma (1908), Motonáutica (1908), arremesso de dardo e disco com as duas mãos (1912) e Levantamento de peso com apenas uma mão (1896 a 1904). Nesta última competição, apenas três atletas, todos do Estados Unidos , competiram nos Jogos de St. Luis 1904:
Ouro, Oscar Osthoff Prata, Frederick Winters Bronze, Frank Kugler Modalidades que já não fazem parte do programa olímpico: Pelota basca: Jogos em que foi disputado: Paris-1900 Raquetes: Jogos em que foi disputado: Londres-1908 (Semelhante ao squash) Jeu de palme: Jogos em que foi disputado: Londres-1908 Criado em França, significa algo como “jogo com a palma (da mão) Críquete: Jogos em que foi disputado: Paris-1900 Cróquete: Jogos em que foi disputado: Paris.1900 Os competidores usam um taco (parecido com um martelo) para golpear uma bola Roque: Jogos em que foi disputado: St. Louis-1904 Popular no começo do século XX nos Estados Unidos, é uma variação do cróquete Pólo: Jogos em que foi disputado: Paris-1900, Londres-1908, Antuérpia-1920, Paris-1924, Berlim-1936 Lacrosse: Jogos em que foi disputado: St. Louis-1904, Londres-1908 Os competidores usam um taco com uma rede na extremidade, que serve para segurar uma bola de borracha. Cabo-de-guerra: Jogos em que foi disputado: Paris-1900, St.Louis-1904, Londres-1908, Estocolmo-1912, Antuérpia-1920 Duas equipes de oito seguram extremidades de uma corda e puxam o adversário para o seu lado. Motonáutica: Jogos em que foi disputado: Londres-1908 Basebol: Jogos em que foi disputado: Barcelona-1992, Atlanta-1996, Sidney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008 Softbol: Jogos em que foi disputado: Atlanta-1996, Sidney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008 Idêntico ao basebol. |
As últimas modalidades a sair do programa foram o basebol e o softbol. Por outro lado, o golfe o râguebi de sevens já têm inclusão garantida para os próximos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, em 2016.
As modalidades que fazem atualmente parte do programa olímpico são a natação, canoagem, ciclismo, hipismo, ginástica, voleibol, luta greco-romana, atletismo, andebol, tiro com arco, badminton, basquetebol, pugilismo, esgrima, futebol, hóquei em campo, judo, pentatlo moderno, remo, vela, tiro, ténis, ténis de mesa, taekwondo, triatlo e halterofilismo. |
O futebol e propaganda em Theresienstadt
No campo de concentração Theresienstadt realizou-se um campeonato de futebol, disputado pelos detidos e usado pelos nazis como propaganda.
Campo "modelo"
Os nazis usaram Theresienstadt, perto de Praga, como campo de passagem, antes de os prisioneiros serem enviados para os campos de extermínio, como Auschwitz. No final de 1943, 450 judeus foram deportados, vindos da Dinamarca. O governo dinamarquês fez questão que inspectores avaliassem o local. Antes disso, os presos tiveram que renovar as casas.
Em 23 de junho de 1944, uma delegação da Cruz Vermelha Internacional visitou o gueto, e foi ludibriada pelas "medidas de embelezamento". O comandante do campo ordenou que fosse realizado um filme de propaganda, mostrando os detidos a trabalhar em jardinagem, famílias a jogar às cartas e um jogo de futebol entre os trabalhadores da "câmara de roupas" e da "assistência à juventude". A maioria dos jogadores e espectadores morreu algumas semanas mais tarde em Auschwitz. Das 157 mil pessoas que passaram por Theresienstadt, só 4 mil sobreviveram.
"O último dos injustos"
Claude Lanzmann recuperou as entrevistas filmadas de Benjamin Murmelstein, antigo presidente do conselho judeu do gueto Theresienstadt, na ex-Checoslováquia, em 1975 e realizou o documentário "O último dos Injustos". Um velho testemunho com quase quarenta anos que ajuda a esclarecer o Holocausto.
Há 70 anos foi libertado pelos soviéticos o campo de concentração de Auschwitz. 28 de Janeiro de 2015
Campo "modelo"
Os nazis usaram Theresienstadt, perto de Praga, como campo de passagem, antes de os prisioneiros serem enviados para os campos de extermínio, como Auschwitz. No final de 1943, 450 judeus foram deportados, vindos da Dinamarca. O governo dinamarquês fez questão que inspectores avaliassem o local. Antes disso, os presos tiveram que renovar as casas.
Em 23 de junho de 1944, uma delegação da Cruz Vermelha Internacional visitou o gueto, e foi ludibriada pelas "medidas de embelezamento". O comandante do campo ordenou que fosse realizado um filme de propaganda, mostrando os detidos a trabalhar em jardinagem, famílias a jogar às cartas e um jogo de futebol entre os trabalhadores da "câmara de roupas" e da "assistência à juventude". A maioria dos jogadores e espectadores morreu algumas semanas mais tarde em Auschwitz. Das 157 mil pessoas que passaram por Theresienstadt, só 4 mil sobreviveram.
"O último dos injustos"
Claude Lanzmann recuperou as entrevistas filmadas de Benjamin Murmelstein, antigo presidente do conselho judeu do gueto Theresienstadt, na ex-Checoslováquia, em 1975 e realizou o documentário "O último dos Injustos". Um velho testemunho com quase quarenta anos que ajuda a esclarecer o Holocausto.
Há 70 anos foi libertado pelos soviéticos o campo de concentração de Auschwitz. 28 de Janeiro de 2015
Emil Zatopek e o treino
"Muitos atletas copiaram os meus métodos e falharam. Então dizia-lhes: 'Este é o meu método. Funciona para mim. Descubram um que funcione para vocês."
O treino específico para os jogos de Londres 1948 consistiu quase exclusivamente de repetições diárias de 5x200 m, seguidas de 20x400 m e mais 5x200 m, sempre com intervalos de 200 m trotando. Nos dez dias anteriores ao embarque para Londres, a carga diária de trabalho aumentou para 60x400 m.
Zatopek é uma referência no treino desportivo (no período pré-cientifico) por utilizar o "interval training" fornecendo bases empíricas para as futuras pesquisas cientificas sobre esse método.
foto: Dois meses após os Jogos Olímpicos de Londres 1948, Zatopek casou com lançadora de dardo tcheca Dana Ingrova, ouro nos jogos de Helsinquia 1952
O treino específico para os jogos de Londres 1948 consistiu quase exclusivamente de repetições diárias de 5x200 m, seguidas de 20x400 m e mais 5x200 m, sempre com intervalos de 200 m trotando. Nos dez dias anteriores ao embarque para Londres, a carga diária de trabalho aumentou para 60x400 m.
Zatopek é uma referência no treino desportivo (no período pré-cientifico) por utilizar o "interval training" fornecendo bases empíricas para as futuras pesquisas cientificas sobre esse método.
foto: Dois meses após os Jogos Olímpicos de Londres 1948, Zatopek casou com lançadora de dardo tcheca Dana Ingrova, ouro nos jogos de Helsinquia 1952
Paavo Nurmi e o crosse nos Jogos Olímpicos
A partir de 1924, o corta-mato deixou de fazer parte do calendário dos Jogos Olímpicos por não ser uma modalidade que se adaptasse bem às características do verão. Os campeonatos de corta-mato disputam-se normalmente entre o outono e o inverno.
Em 2014, a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) considerou prioritário incluir o corta mato nos Jogos Olímpicos. O antigo campeão,Sebastian Coe defendeu a organização desta vertente para promover a modalidade.
Na prova de Cross Country dos Jogos de Antuérpia 1920 Paavo Nurmi completou os 8.000 metros em 27:15.00 derrotando o sueco Erck Backman com 27:17.6
Na competição de Cross por equipas a Finlândia de Paavo Nurmi conquistou a medalha de outro com 10 pontos seguindo da Grã Bretanha com 21
Nurmi foi o grande herói dos Jogos de Antuérpia. O finlandês apenas perdeu a sua primeira prova a estreia em Jogos Olímpicos quando conquistou a prata, mas depois ganhou medalha de outro em Cross Individual e por equipes e ainda nos 10.000 metros.
http://www.youtube.com/watch?v=vnbYn6LBnKY
Em 2014, a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) considerou prioritário incluir o corta mato nos Jogos Olímpicos. O antigo campeão,Sebastian Coe defendeu a organização desta vertente para promover a modalidade.
Na prova de Cross Country dos Jogos de Antuérpia 1920 Paavo Nurmi completou os 8.000 metros em 27:15.00 derrotando o sueco Erck Backman com 27:17.6
Na competição de Cross por equipas a Finlândia de Paavo Nurmi conquistou a medalha de outro com 10 pontos seguindo da Grã Bretanha com 21
Nurmi foi o grande herói dos Jogos de Antuérpia. O finlandês apenas perdeu a sua primeira prova a estreia em Jogos Olímpicos quando conquistou a prata, mas depois ganhou medalha de outro em Cross Individual e por equipes e ainda nos 10.000 metros.
http://www.youtube.com/watch?v=vnbYn6LBnKY
Jesse Owens e o "esquecimento" de Franklin Roosevelt
Jesse Owens desafiou Hitler que não viu cumprida a sua teoria sobre a superioridade da raça ariana. No entanto, o atleta lembra na sua biografia que a sua maior mágoa não está relacionada com a atitude do Hitler - que não o cumprimentou - mas de o presidente Franklin Roosevelt não lhe ter mandado sequer um telegrama a felicitá-lo.
Franklin Roosevelt não o quis receber na Casa Branca depois dos Jogos Olímpicos. Owens recorda a segregação racial nos Estados Unidos e referiu que de volta ao seu país, apesar de ser um campeão, não podia sentar-se nos bancos da frente do autocarro e não podia viver onde queria.
http://www.youtube.com/watch?v=gn-Xg158TcQ
http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=3593349&seccao=Cinema
Franklin Roosevelt não o quis receber na Casa Branca depois dos Jogos Olímpicos. Owens recorda a segregação racial nos Estados Unidos e referiu que de volta ao seu país, apesar de ser um campeão, não podia sentar-se nos bancos da frente do autocarro e não podia viver onde queria.
http://www.youtube.com/watch?v=gn-Xg158TcQ
http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=3593349&seccao=Cinema
José Carvalho e Victor Mendes, Alvalade, campeonatos regionais de 1980.
Na meia final dos 400m barreiras de Montreal'76 José Carvalho foi segundo. Na afinal (video) seria 5.º classificado. |
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Joaquim Agostinho, em 1969: "É mentira, nunca tomei nada. Não tirei as mãos do guiador, não bebi nada durante a corrida. Só uma laranjada, quando cheguei". Mais exactamente, uma "Sumol". http://expresso.sapo.pt/joaquim-agostinho-o-doping-que-nunca-assumiu-e-as-quedas-de-sempre=f511652. Na foto Agostinho durante uma fuga do pelotão. 1969-07-13.
"Ultramaratonistas"
Quando os 'vendedores de jornais' eram campeões "A nossa capa de hoje é composta por dois dos nossos mais fortes atletas pedestrianistas: António Pinto, ex-campeão de 1500 e 5000 metros e António d'Almeida, actual campeão dos 10 000 metros e 'recordman' da mesma prova. Os dois fortes e simpáticos vendedores de jornais vão fazer em Setembro próximo, como Eco dos Sports anunciou em primeira mão, a grande prova pedestre Porto - Lisboa, 364 quilómetros que contam cobrir em 55 horas. A inclusão desta capa no Eco dos Sports é do mesmo modo uma homenagem ao Vendedores de Jornais Football Club, a que pertence os dois atletas." Revista Eco dos Sports, 11 de Julho de 1926 PS: não consegui confirmar se concluíram os 364 km... |
Benfica, Belenenses e Sporting no Monsanto
Em finais de 1939, o presidente da Direcção do Benfica foi chamado ao Ministério das Obras Públicas, sendo informado pelo Ministro Eng.º Duarte Pacheco que os três clubes de Lisboa - Benfica, Belenenses e Sporting - teriam de abandonar os seus campos, para se instalarem no Parque Florestal de Monsanto, onde a Câmara Municipal de Lisboa (CML) faria construir três estádios.
O primeiro Ouro “Se foi dura a Maratona? Não, foram os 42 km do costume. Nunca tive medo de ser derrotado. Nervoso estava Moniz Pereira. Nunca o vi assim. Nervoso de mais. Estou feliz, o professor merecia esta medalha. Decidi não me preocupar antes dos 37 km, a partir daí sabia que tinha de dar forte e feio, foi o que fiz.”
O dia 12 de Agosto de 1984 ficará para sempre marcado como a primeira página de ouro do desporto português, com a vitória de Carlos Lopes na Maratona masculina, em Los Angeles. 12 de Agosto de 2014 |
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Amigos do atletismo vejam esta corrida fantástica de Aniceto Simões na final olímpica dos 5000 m em Montreal'76 onde foi 8.º classificado, batendo o Recorde Nacional em 13.21.93.
http://www.youtube.com/watch?v=YzXfmaiMYnY — em foto Alvalade 10 - 05 -80. |
"Galgar" a rampa"Gloria" para assistir à competição velocipedista de 1926, recordava o jornal 'Os Sports'.
"Depois de vedada pela policia, a entrada na calçada da Glória, só foi permitida mediante o pagamento de 1$00 escudos por cada bilhete. o produto , que se aproximou de dois mil escudos, reverteu a favor de dos cofres das viúvas e órfãos da polícia, deduzidas as despesas do recinto", acrescentava 'Os Sports' "Às 14.00, hora marcada para o inicio da prova, era já dificílimo o transito, não obstante o bom serviço da policia cívica, que para ali destacou cerca de 300 guardas", acrescenta o mesmo jornal. "O povo impacientava-se porque a prova não teve início a hora marcada. Ondas humanas rompem, por vezes, o cordão da policia, que não tem outro remédio senão dar passagem", "Uma multidão de fotógrafos, espalhados pela calçada, fazem fotografias, e , no topo, junto ao gradeamento da rua das taipas, um operador cinematográfico prepara-se para fazer a reportagem do acontecimento desportivo do dia." "Alfredo Luís Piedade, foi o primeiro a "galgar" a rampa. O ciclista do Sport Lisboa e Benfica terminou com um tempo magnifico de 55 segundos batendo desde logo o anterior 'record' que se encontrava na posse de João Santos Borges, também do Benfica, com 1.04 minutos." |
Homenagem em Alvalade 1976
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Aniceto Simões: "Um abraço e obrigada pela foto que não sabia que existia. Velhos tempos."